Prezados leitores,
 
Periodicamente, a mídia volta a insistir na mentira do milênio passado, de que o Papa Pio XII foi omisso e insensível frente ao massacre nazista promovido contra os judeus. Há vários livros que tentam difundir essa mentira, como "O Papa de Hitler", do embusteiro John Cornwell, um best-seller de anos atrás. Livros sérios, que desmentem a calúnia contra Pio XII, como "The Myth of the Hitler Pope", do rabino David Dalin, e "The Defamation of Pius XII", do filósofo Ralph McInnerny, continuam inacessíveis ao público em geral e nunca foram mencionados pela mídia ideologicamente comprometida com o anticlericalismo. Também nada se diz sobre o livro "A Santa Sé e a questão judaica (1933-1945)", de Alessandro Duce, professor extraordinário de História das Relações Internacionais nas Faculdades de Ciências Políticas e de Jurisprudência da Universidade de Parma.
Atualmente, com o andamento do processo de beatificação de Pio XII, muitas vozes, inclusive judaicas, continuam a propalar a mentira. O Papa Bento XVI, com a força moral e intelectual de que está investido, está reagindo à altura contra as calúnias, refutando didática e enfaticamente as falsas acusações que pesam contra Pio XII.
 
Por isso, para reconduzir a verdade para o lugar que ela merece, estou postando, abaixo, uma espécie de "Dossiê Pio XII", com o fim de ajudar a derrubar o mito do século passado, que vem a ser o mito da Lenda Negra contra Pio XII (veja o significado do verbete "Lenda Negra" no final desta postagem).
 
Atenciosamente,
 
Félix Maier
 
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Pio XII é exemplo de abandono nas mãos de Deus, diz Bento XVI
 
Homilia do Papa no 50° aniversário da morte de Pacelli

CIDADE DO VATICANO, quinta-feira, 9 de outubro de 2008
 
ZENIT.org
 
Com ocasião do 50° aniversário da morte de Pio XII, Bento XVI recordou esta quinta-feira o testemunho de Pacelli.
 
Segundo o Papa, o pontificado de seu antecessor «desenvolveu-se nos anos difíceis da Segunda Guerra Mundial e no período subsequente, não menos complexo, da reconstrução e das difíceis relações internacionais que passaram à história com o nome significativo de ‘guerra fria’».
 
A postura cultivada «constantemente» por Pio XII, recordou o Papa durante a homilia da missa celebrada na Basílica vaticana, foi a de «abandonar-se nas mãos misericordiosas de Deus», com a consciência de que «só Cristo é a verdadeira esperança do homem» e «apenas confinado nele, o coração humano pode abrir-se ao amor que vence o ódio».
 
Esta consciência, acrescentou, «acompanhou Pio XII em seu ministério de Sucessor de Pedro, ministério iniciado precisamente quando pairavam sobre a Europa e o restante do mundo as nuvens ameaçadoras de um novo conflito mundial, o qual ele tentou evitar de toda forma».
 
Durante a guerra, o Papa Pacelli levou adiante «uma intensa obra de caridade que promoveu em defesa dos perseguidos, sem distinção de religião, de etnia, de nacionalidade de pertença política», observou o pontífice.
 
Decidido a não abandonar nunca Roma, também quando, ocupada a cidade, lhe foi aconselhado repetidamente deixar o Vaticano para colocar-se a salvo, submeteu-se voluntariamente a «privações quanto à comida, calefação, vestes, comodidades», para compartilhar a condição da população duramente provada pelos bombardeios e pelas consequências da guerra».
 
Pio XII, declarou Bento XVI, «atuou frequentemente de forma secreta e silenciosa, precisamente porque, à luz das situações concretas daquele momento histórico complexo, intuía que apenas desta forma podia evitar o pior e salvar o maior número possível de judeus».
 
Por estas intervenções, ao término do conflito se dirigiram «muitas vítimas e unânimes reconhecimentos de gratidão», como o da ministra do Exterior de Israel, Golda Meir, que em sua morte afirmou: «Choramos pela perda de um grande servidor da paz».
 
Em sua homilia, Bento XVI reconheceu que, «infelizmente, o debate histórico sobre a figura do Servo de Deus Pio XII, não sempre sereno, evitou que se colocassem à luz todos os aspectos de seu polivalente pontificado».
 
Por isso, quis sublinhar alguns documentos importantes do Papa Pacelli, entre eles a encíclica Divino Afflante Spiritu, de 20 de setembro de 1943, que «estabelecia as normas doutrinais para o estudo da Sagrada Escritura, manifestando sua importância e seu papel na vida cristã».
«Como não recordar esta encíclica, enquanto se desenvolvem os trabalhos do Sínodo que tem como tema precisamente ‘A Palavra de Deus na vida e na missão da Igreja’?», perguntou o pontífice.
 
O Papa recordou também o «impulso notável» imprimido por Pio XII na atividade missionária da Igreja, confirmando o amor pelas missões demonstrado desde o início de seu pontificado, ordenando pessoalmente --em outubro de 1939-- doze bispos de países de missão, entre eles um chinês, um japonês, o primeiro bispo africano e o primeiro bispo de Madagascar.
 
Também, sublinhou, uma das «constantes preocupações pastorais» do pontífice foi «a promoção do papel dos leigos, para que a comunidade eclesial pudesse valer-se de todas as energias e recursos disponíveis».
 
«A santidade foi seu ideal, um ideal que não deixou de propor a todos --acrescentou. Por isso, deu impulso às causas de beatificação e canonização de diferentes pessoas, representantes de todos os estados de vida, funções e profissões, reservando amplo espaço às mulheres.»
 
À propósito disso, durante o Ano Santo 1950, proclamou o dogma da Assunção, indicando à humanidade a Virgem «como sinal de segura esperança».
 
«Neste nosso mundo que, como então, está assaltado por preocupações e angústias por seu futuro; desta forma, onde, talvez mais que então, o distanciamento de muitos da verdade e da virtude dá lugar a cenários sem esperança, Pio XII nos convida a voltar o olha para Maria assunta em glória celeste», disse Bento XVI.
 
«Convida-nos a invocá-la com confiança, para que nos faça apreciar cada vez mais o valor da vida na terra e nos ajude a pôr o olhar na meta à qual todos estamos destinados: a da vida eterna, que, como assegura Jesus, quem escuta e segue sua palavra já possui.

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Lenda negra contra Pio XII, segundo cardeal Bertone (I)
 
Intervenção do secretário de Estado
 
CIDADE DO VATICANO, quarta-feira, 6 de junho de 2007
 
ZENIT.org
 
Publicamos as palavras que o cardeal Tarcisio Bertone, secretário de Estado, pronunciou ao apresentar na tarde desta terça-feira o livro do jornalista italiano Andrea Tornielli, «Pio XII, Eugenio Pacelli -- Um homem no trono de Pedro» («Pio XII, Eugenio Pacelli. Um uomo sul trono di Pietro»). Apresentamos a primeira parte da intervenção.

1. Uma «lenda negra»
 
A figura de Eugenio Pacelli, Papa Pio XII, se encontra já há décadas no centro de agudas polêmicas. O pontífice romano que guiou a Igreja nos terríveis anos da segunda guerra mundial e depois na guerra fria é vítima de um lenda negra que acabou por afirmar-se até o ponto de que é difícil inclusive de esboçar, ainda que os documentos e testemunhos tenham provado sua total inconsistência.
 
Um dos desagradáveis efeitos «secundários», por chamá-los de algum modo, dessa lenda negra, que apresenta falsamente o Papa Pacelli como indulgente com o nazismo e insensível ante a sorte das vítimas da perseguição, consiste em ter feito esquecer totalmente o extraordinário magistério desse Papa, que foi o precursor do Concílio Vaticano II. Como aconteceu com as figuras de outros dois Papas com o mesmo nome -- o beato Pio IX, do qual só se fala em relação a temas ligados à políticas do Ressurgimento italiano; e São Pio X, recordado com freqüência unicamente por sua valente batalha contra o modernismo --, também se corre o risco de reduzir todo o pontificado de Pacelli à questão dos supostos «silêncios».

2. A atividade pastoral de Pio XII
 
Estou aqui, portanto, nesta tarde, para oferecer um breve testemunho de um homem de Igreja que, por sua santidade pessoal, resplandece como um luminoso testemunho do sacerdócio católico e do supremo pontificado. Certamente, já havia lido muitos ensaios interessantes sobre a figura e a obra do Papa Pio XII, das sumamente conhecidas «Actes et Documents du Saint Siège», às biografias de Nazareno Padellaro, da Irmã Margherita Marchione, do Pe. Pierre Blet, entre as primeiras que me vêm à mente. Isso sem falar dos «Discursos de guerra» do Papa Pacelli, se o desejam, estão disponíveis em formato eletrônico, e que me resultam totalmente interessantes também hoje por doutrina, por inspiração pastoral, por finura de linguagem literária, por força humana e civil.
 
Em definitivo, já sabia bastante sobre o «Pastor Angelicus et Defensor Civitatis». Contudo, deve-se dar graças ao senhor Andrea Tornielli, pois nesta volumosa e documentada biografia, recorrendo a muitos escritos inéditos, ele nos restitui a grandeza da figura de Pio XII, nos permite aprofundar em sua humanidade, nos faz redescobrir seu magistério. Ele nos recorda, por exemplo, sua encíclica sobre a liturgia, sobre a reforma dos ritos da Semana Santa, o grande trabalho preparatório que desembocaria na reforma litúrgica conciliar.
 
Pio XII abre o caminho à aplicação do método histórico-crítico à Sagrada Escritura, e na encíclica «Divino afflante Spiritu» estabelece as normas doutrinais para o estudo da Sagrada Escritura, sublinhando sua importância e papel para a vida cristã. Na Encíclica «Humani generis» leva em consideração, ainda que com cautela, a teoria da evolução. Pio XII imprime também um notável impulso à atividade missionária com as encíclicas «Evangelii Praecones» (1951) e «Fidei donum» (1957), da qual se celebra o qüinquagésimo ano, sublinhando o dever da Igreja de anunciar o Evangelho aos povos, como fará depois o Concílio Vaticano II. O Papa se nega a fazer coincidir o cristianismo com a cultura ocidental, assim como com um determinado sistema político.
Pio XII continua sendo, ainda hoje, o Papa que deu mais espaço às mulheres em suas canonizações e beatificações: 54,4% nas canonizações, e 62,5%%. De fato, em várias ocasiões, esse pontífice havia falado dos direitos femininos, afirmando, por exemplo, na rádio-mensagem ao Congresso CIF de Loreto de outubro de 1957, que a mulher está chamada a desempenhar «uma ação decisiva» também no campo político e jurídico.

3. Acusações injustificadas
 
Estes não são mais do que exemplos que mostram o que resta ainda por descobrir, e mais ainda, por redescobrir, do magistério do servo de Deus Eugenio Pacelli. Impressionaram-me, também, muitos detalhes do livro de Tornielli dos que emerge tanto a lucidez e sabedoria do futuro pontífice, nos anos que foi núncio apostólico em Munique e em Berlim, como muitos traços de sua humanidade. Graças à correspondência inédita com o irmão Francesco, podemos conhecer alguns juízos firmes sobre o nascente movimento nacionalista, assim como o grave drama interior vivido pelo pontífice durante o tempo da guerra por ocasião da atitude que era preciso adotar ante a perseguição nazista.
 
Pio XII falou disso em várias ocasiões em sua rádio-mensagem e, portanto, está totalmente fora de cogitação acusá-lo de «silêncios», assumindo contudo um tom prudente. Falando dos silêncios, quero citar um artigo bem documentado do professor Gian Maria Vian publicado no ano 2004, na revista «Archivum historiae pontificiae», que tem como título «O silêncio de Pio XII: às origens da lenda negra» («Il Silenzio di Pio XII: alle origini della leggenda nera»). Entre outras coisas, diz que o primeiro que questionou os «silêncios de Pio XII» foi Emmanuel Mounier, em 1939, poucas semanas depois de sua eleição como sumo pontífice e por ocasião da agressão italiana na Albânia. Sobre estas questões se desencadeará a seguir uma dura polêmica, inclusive de origem soviética e comunista que, como veremos, seria retomada por expoentes da Igreja Ortodoxa russa. Rolf Hocchuth, autor de «O Vigário», a obra teatral que contribuiu a desatar a lenda «negra» contra Pio XII, em dias passados definiu o Papa Pacelli em uma entrevista como «covarde demoníaco», enquanto há historiadores que promovem o pensamento único contra Pio XII e chegam a insultar de «extremista pacelliano» quem não pensa como eles e se atreve a manifestar um ponto de vista diferente sobre estas questões. Portanto, não é possível deixar de denunciar este estrago do senso comum e da razão perpetrado com freqüência desde as páginas dos jornais.
 
[Tradução realizada por Zenit]

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Lenda negra contra Pio XII, segundo cardeal Bertone (II)
 
Intervenção do secretário de Estado
 
CIDADE DO VATICANO, quinta-feira, 7 de junho de 2007
 
ZENIT.org
 
Publicamos a segunda parte da intervenção do cardeal Tarcisio Bertone, secretário de Estado, ao apresentar na tarde desta terça-feira o livro do jornalista italiano Andréa Tornielli «Pio XII, Eugenio Pacelli – Um homem no trono de Pedro» («Pio XII, Eugenio Pacelli. Un uomo sul trono di Pietro»). A primeira parte foi publicada no serviço de Zenit de 6 de junho de 2007.

4. Uma data histórica muito precisa
 
Parece-me útil sublinhar como o livro de Tornielli volta a trazer à luz volumes já conhecidos pelos historiadores sérios. É um dos méritos que considero fundamentais da obra da qual hoje estamos falando, levando em conta os tristíssimos tempos nos quais viveu o Papa Pacelli, cuja voz na confusão do segundo conflito mundial e da sucessiva contraposição de blocos não gozava de favor entre os poderes «de fato».
 
Quantas vezes «faltava eletricidade» à «Rádio Vaticano» para que fizesse escutar a palavra do pontífice; quantas vezes «faltava papel» para reproduzir seus pensamentos e ensinamentos incômodos; quantas vezes algum acidente provocava a «perda» dos exemplares de «L’Osservatore Romano» que referiam intervenções, esclarecimentos, atualizações, notas políticas... Hoje, contudo, graças aos modernos meios, essas fontes são amplamente reproduzidas e disponíveis.
Torielli as buscou e as encontrou; testemunha isso o grande volume de notas que acompanha a publicação. Quero, nesse sentido, chamar a atenção sobre uma data importante. A figura e a obra de Pio XII, elogiada e reconhecida antes, durante e imediatamente depois da segunda guerra mundial, começa a ser analisada desde outro ponto de vista em um período histórico muito preciso, que vai de agosto de 1946 a outubro de 1948.
 
Era compreensível o desejo do martirizado povo de Israel de ter uma terra própria, um porto seguro próprio, depois das «perseguições de um anti-semitismo fanático, desencadeadas contra o povo judeu» (alocução de 3 de agosto de 1946), mas eram também compreensíveis os direitos daqueles que já viviam na Palestina e que por sua vez mereciam respeito, atenção, justiça e proteção. Os jornais da época referem amplamente o nível de tensão que nessa região se estava manifestando, mas, dado que não quiseram valorizar os raciocínios e propostas de Pio XII, começaram a tomar posição, uns de uma parte e outros de outra, ideologizando assim uma reflexão que se desenvolvia de maneira articulada e que prestava atenção aos critérios de justiça, eqüidade, respeito e legalidade.
 
Pio XII não foi só o Papa da segunda guerra mundial, mas um pastor que, de 2 de março de 1939 a 9 de outubro de 1958, teve de enfrentar um mundo de paixões violentas e irracionais. Desde então, começou a tomar corpo uma incompreensível acusação contra o Papa por não ter intervindo como devia a favor dos judeus perseguidos.
 
Neste sentido, parece-me importante reconhecer que de qualquer forma, quem não tem fins ideológicos e ama a verdade está bem disposto a compreender mais a fundo, com plena sinceridade, um papado longo, fecundo, e desde meu ponto de vista, heróico. É um exemplo a recente mudança de atitude, no grande santuário da memória, o Yad Vashem em Jerusalém, para reconsiderar a figura e a obra do Papa Pacelli não desde um ponto de vista polêmico, mas desde uma perspectiva objetivamente histórica. É de desejar profundamente que esta boa vontade manifestada publicamente possa ter um seguimento adequado.

5. O dever da caridade para com todos
 
Em 2 de junho de 1943, por ocasião da festa de Santo Eugênio, Pio XII expõe publicamente as razões de sua atitude. Antes de tudo, o Papa Pacelli fala novamente dos judeus: «Não esquecem os que regem os povos que quem tem a espada -- usando a linguagem da Sagrada Escritura -- não pode dispor da vida e da morte dos homens dos quais, segundo a lei de Deus, procede toda potestade».
 
«Nem espereis, segue dizendo Pio XII, que exponhamos aqui tudo o que tentamos fazer para mitigar seus sofrimentos, melhorar suas condições morais e jurídicas, tutelar seus imprescindíveis direitos religiosos, aliviar suas tristezas e necessidades. Toda palavra que dirigimos com este objetivo às autoridades competentes e toda menção pública deveriam ser ponderadas e medidas pelo interesse dos mesmos que sofriam, para não tornar, sem querer, mais grave e insuportável sua situação. Infelizmente, as melhorias visivelmente alcançadas não correspondem à solicitude materna da Igreja a favor destes grupos particulares, submetidos às mais acerbas desventuras... E o Vigário, apesar de pedir só compaixão e respeitar as mais elementares normas do direito e da humanidade, encontrou-se, em ocasiões, ante portas que nenhuma chave era capaz de abrir.»
Encontramos aqui exposta, já a meados do ano 1943, a razão da prudência com a qual Pacelli se move no âmbito das denúncias públicas: «Pelo interesse dos mesmos que sofrem, para não tornar mais grave sua situação». Palavras cujo eco parece ser ouvido no breve discurso pronunciado por Paulo VI em 12 de setembro de 1964, nas Catacumbas de Santa Domitila. Nessa ocasião, o Papa Montini disse: «A Santa Sé se abstém de levantar com mais freqüência e veemência a voz legítima do protesto e da condenação, não porque ignore a realidade ou a desatenda, mas por um pensamento reflexo de cristã paciência e para não provocar males piores.
 
Paulo VI, a meados dos anos sessenta, referia-se aos países que estavam do outro lado da cortina de ferro, governados pelo comunismo totalitário. Ele, que havia sido um próximo colaborador do cardeal Pacelli e depois do Papa Pio XII, aduz, portanto, aos mesmos motivos.
 
Os papas não falam pensando em pré-confeccionar uma imagem favorável para a posteridade; sabem que de cada uma de suas palavras pode depender a sorte de milhões de cristãos, levam no coração a sorte dos homens e mulheres de carne e osso, e não o aplauso dos historiadores.
 
De fato, Robert Kempner, magistrado judeu e fiscal no processo de Nuremberg, escreveu em janeiro de 1964, depois da apresentação de «O Vigário» de Hocchuth: «Qualquer tomada de posição propagandista da Igreja contra o governo de Hitler não só teria sido um suicídio premeditado... mas também teria acelerado o assassinato de um número muito maior de judeus e sacerdotes».
 
[Tradução realizada por Zenit]

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Lenda negra contra Pio XII, segundo cardeal Bertone (III)
 
Intervenção do secretário de Estado
 
CIDADE DO VATICANO, sexta-feira, 8 de junho de 2007
 
ZENIT.org
 
Publicamos a terceira parte da intervenção do cardeal Tarcísio Bertone, secretário de Estado, ao apresentar em 5 de junho o livro do jornalista italiano Andrea Tornielli, «Pio XII, Eugenio Pacelli -- um homem no trono de Pedro» («Pio XII, Eugenio Pacelli. Un uomo sul trono di Pietro»). A primeira parte foi publicada no serviço de Zenit de 6 de junho de 2007 e a segunda no dia 7 de junho.

6. «Não lamentação, mas ação é o preceito do agora»
 
Dito isso, depois de ter visto os onze volumes (em doze tomos) das «Actes et Documents du Saint Siège» sobre a segunda guerra mundial; depois de ter lido dezenas de dossiês com centenas de documentos sobre os pensamentos e os atos da Santa Sé durante o segundo conflito mundial; experimentadas as violentas polêmicas partidistas (inumeráveis volumes, cheios de ideologia violenta e falsa), parece-me que a obra das «Actes», impressa por ordem de Paulo VI (substituto da Secretaria de Estado nos anos terríveis de 1939 a 1945), poderia ser utilmente completada pelos documentos do arquivo dos «Estados eclesiásticos», que compreendem documentos sobre a obrigação da Santa Sé e da Igreja Católica de assumir o dever da caridade para com todos.
É um setor de arquivo que não se explorou suficientemente, dado que se trata de milhares de casos pessoais. A cada um deles, o menor Estado do mundo, neutro em sentido absoluto, escutou individualmente, atendendo a cada voz que pedia ajuda ou audiência. Trata-se de uma documentação imensa, infelizmente ainda não disponível, porque não está ordenada. Oxalá fosse possível, com a ajuda de alguma fundação benemérita «ad hoc», catalogar em breve estes documentos custodiados nos arquivos da Santa Sé! Era clara a diretiva dada através da rádio, da imprensa, da diplomacia, pelo Papa Pio XII em 1942. Disse a todos naquele trágico ano de 1942: «Não lamentação, mas ação é o preceito do agora». A sabedoria dessa afirmação fica testemunhada por uma enorme quantidade de documentos: notas diplomáticas, consistórios urgentes, assinalações específicas (por exemplo, o cardeal Bertram, cardeal Innitzer, cardeal, Schuster, etc.) nas quais pedia fazer o possível para salvar as pessoas, mantendo a neutralidade da Sé Apostólica.
 
Esta situação de neutralidade permitia ao Papa salvar não só europeus, mas também prisioneiros que não pertenciam ao Eixo. Pensemos na tristíssima situação da Polônia ou nas intervenções humanitárias no Sudeste asiático. Pio XII nunca escreveu circulares. Disse com a voz o que precisava ser feito. E bispos, sacerdotes, religiosos e leigos compreenderam muito bem a mente do Papa e o que havia de ser feito urgentemente. Como testemunho, há inumeráveis documentos de audiência do cardeal Maglione e Tardini, com os relativos comentários. Também estavam os protestos ou os «nãos» ante os pedidos humanitário da Santa Sé.

7. Denunciar ou atuar?
 
Permitam-me contar-lhes um pequeno episódio, ocorrido precisamente no Vaticano em outubro de 1943. Naquela época, além da Gendarmeria (aproximadamente 150 pessoas) e da Guarda Suíça (cerca de 110 pessoas), havia uma Guarda Palatina. Nessa data, para proteger o Vaticano (não mais de 300 pessoas) e os edifícios extra-territoriais [edifícios do Vaticano em território italiano, ndr.] havia 575 membros da Guarda Palatina. Pois bem, a Secretaria de Estado pediu à potência que ocupava a Itália a possibilidade de contratar outras 4.425 pessoas para que pudessem passar a fazer parte da Guarda palatina. O gueto judeu estava a dois passos.
 
Os redatores dos «Actes et Documents» não podiam imprimir todos os milhares de casos pessoais. O Papa, nessa época, tinha outras prioridades: não podia dar a conhecer seus desejos, mas queria atuar, dentro dos limites que lhe impunham as circunstâncias, segundo um programa claro. Às pessoas honestas, contudo, surgem perguntas legítimas: quando Pio XII encontrou Mussolini? Como cardeal secretário de Estado, em 1932, mas como Papa, nunca! Se isso nunca aconteceu, poderia significar que se os dois Estados não queriam falar com o Papa, o pontífice, o que devia fazer? Fazer declarações de denúncia ou atuar?
 
Pio XII preferiu a segunda opção, testemunhada por muitos israelenses de toda a Europa. Talvez seria necessário entregar cópias destas abundantes adesões judaicas de agradecimento e de estima pelo ministério humano e espiritual desse grande Papa.
 
O livro que hoje podemos ler acrescenta novos elementos não só à figura de um grande pontífice, mas também a toda a obra silenciosa, ainda que eficaz, da Igreja através da existência (a de Eugenio Pacelli) de um pastor que passou através das tormentas dos dois conflitos mundiais (foi núncio na Baviera desde 1917) e a trágica edificação da cortina de ferro dentro da qual morreram milhões de filhos de Deus. Herdeira da Igreja dos apóstolos, a Igreja de Pio XII continuou oferecendo não só uma palavra profética, mas sobretudo uma ação profética diária.

8. Nota conclusiva
 
Quero agradecer a Andrea Tornelli por esta obra, que ajuda a compreender melhor a luminosa ação apostólica e a figura do servo de Deus Pio XII. É um serviço útil à Igreja, um serviço útil à verdade. É justo discutir, aprofundar, debater, confrontar-se. Mas é preciso evitar o erro mais grave para um historiador, o anacronismo, julgando a realidade de então com os olhos e a mentalidade de hoje.
 
Assim como é profundamente injusto julgar a obra de Pio XII durante a guerra com o véu do preconceito, esquecendo não só o contexto histórico, mas também a enorme obra de caridade que o Papa promoveu, abrindo as portas dos seminários e dos institutos religiosos, acolhendo refugiados e perseguidos, ajudando todos.

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Santa Sé e questão judaica: ressurge debate sobre beatificação de Pio XII
 
Entrevista ao professor Alessandro Duce, que escreveu sobre o tema

ROMA, quinta-feira, 16 de novembro de 2006
 
ZENIT.org
 
A publicação e apresentação do livro em italiano «A Santa Sé e a questão judaica (1933-1945)», da editora italiana Studium, fez ressurgir o debate sobre o processo de beatificação do Papa Pio XII.
 
O livro, escrito pelo professor Alessandro Duce, professor extraordinário de História das Relações Internacionais nas Faculdades de Ciências Políticas e de Jurisprudência da Universidade de Parma, pretende oferecer uma reconstrução detalhada da obra diplomática e humanitária desenvolvida pela Santa Sé frente às perseguições sofridas pelas populações judaicas nos anos mais dramáticos da história do século XX, a partir da subida ao poder na Alemanha de Adolf Hitler até o final da Segunda Guerra Mundial.
 
O livro do professor Duce se distingue pela amplitude das fontes diplomáticas vaticanas e internacionais usadas e consultadas. Graças aos arquivos vaticanos relativos à atividade da Santa Sé nos anos trinta, e às pouco conhecidas fontes diplomáticas italianas, o autor foi capaz de reconstruir momentos cruciais das relações entre a Alemanha e o Vaticano, desvelando inéditas situações de fundo.
 
Conhecem-se, por exemplo, as inumeráveis iniciativas relativas à questão judaica, empreendidas pela diplomacia vaticana e pelos pontífices nos diversos países europeus. Em particular, destacam-se os esforços vaticanos para facilitar a emigração dos judeus europeus ao continente americano e a ação da Santa Sé para opor-se à emanação de legislações antijudaicas na Europa centro-oriental.
 
A apresentação do volume, que aconteceu em Roma em 25 de outubro, despertou a atenção também sobre polêmicas relativas à causa de beatificação de Pio XII. Numerosos meios de comunicação deram a notícia de que o cardeal José Saraiva Martins, prefeito da Congregação para as Causas dos Santos, teria declarado que a causa de Pio XII estaria «parada».
 
Questionado por Zenit, o apresentador da causa de beatificação de Pio XII, o Pe. Peter Gumpel, revela que o cardeal Saraiva Martins lhe pediu para declarar que ele «não fez nunca uma declaração na qual sustentava que a causa de Pio XII está parada».
 
O Pe. Gumpel criticou também o artigo do «Corriere della Sera», de 26 de outubro, no qual «se informa de maneira parcial sobre o livro de Duce, apresentando-o como crítico com respeito ao Papa Pio XII, quando, ao contrário, é evidente que há centenas de páginas com muitas provas documentais que demonstram como e quanto os pontífices Pio XI, e sobretudo Pio XII, fizeram a favor dos judeus».
 
Para ter uma idéia mais ampla e articulada da questão, Zenit entrevistou o professor Alessandro Duce.
 
--Foram necessários cinco anos de investigação nos Arquivos para escrever este livro. Quais são as razões que o impulsionaram a aprofundar nas relações entre a Santa Sé e a questão judaica?
 
--Duce: De um exame dos numerosos escritos existentes e dos arquivos disponíveis, cheguei a uma convicção: não havia um trabalho sistemático e integral que examinasse a atuação da Santa sé e de suas estruturas diplomáticas em todo o arco temporal (1933-1945) e geográfico no qual se manifestou a violência nazista e antijudaica. Tentei preencher este vazio; não me corresponde dizer se consegui.
 
--Quais são as conclusões de sua pesquisa? Como foram as relações dos papas Pio XI e Pio XII com os judeus? Como se comportaram frente às leis raciais e às perseguições do povo judeu?
 
--Duce: Durante os anos da perseguição, as relações entre os vértices das comunidades judaicas e o Vaticano se tornaram cada vez mais freqüentes e intensas. Os dois pontífices do período não podem ser acusados de indiferença, de instigação, de cumplicidade com os perseguidores.
 
--Em um artigo publicado em 26 de outubro por «Corriere dela Sera», afirma-se que seu livro sustenta a tese de um Papa Pio XII «dubitativo, isolado» inclusive imóvel, «incapaz de tutelar nem os crentes nem os religiosos da perseguição e do martírio». É este o resultado de suas pesquisas?
 
--Duce: A observação do jornalista é precisa e pertinente em substância; mas necessita de interpretação, ou seja, de uma leitura específica, situada no contexto dos acontecimentos. A impossibilidade de Pio XII de tutelar da violência nacional socialista aos próprios crentes e ao clero deve fazer refletir. Pode-se pretender de quem não tem a força de tutelar «o próprio rebanho» que salve o dos «vizinhos»? O contexto do período é o de uma dupla perseguição: anticatólica (em geral anti-religiosa) e antijudaica. Creio que é inútil precisar que a segunda é muito mais violenta e cruel que a primeira.
 
--Por ocasião da apresentação de seu livro em Roma, elevaram-se algumas vozes para deter o processo de beatificação de Pio XII. Qual é sua opinião ao respeito?
 
--Duce: Minha pesquisa não tinha o objetivo de influir sobre o processo de beatificação de Pio XII. Devo confessar que eu mesmo não conheço os termos precisos deste procedimento, nem em que ponto está hoje. Destaquei centenas de documentos (muitos até agora ignorados); não excluo que alguns deles possam ser úteis ao trabalho da comissão encarregada da beatificação. Para mim, já é muito desgastante o trabalho «histórico»; não tenho nenhuma intenção de encarregar-me também da comissão.
 
--Ao final de seu livro, há um capítulo titulado «A cruzada da caridade». Pode explicar-nos de que se trata?
 
--Duce: A «cruzada da caridade» é uma expressão eficaz e feliz usada em várias ocasiões por autorizados representantes vaticanos. Ela pretende destacar a atividade desenvolvida pela Santa Sé durante o conflito a favor de todos os que sofriam (busca de desaparecidos, informações, ajuda aos detidos, apoio às imigrações, assistência econômica às famílias, prisioneiros, deportados, etc.). É evidente um esforço enorme e duradouro sustentado pelas estruturas vaticanas e pelas nunciaturas que, contudo, não estavam constituídas com estes objetivos. A Igreja de Roma quis proporcionar assistência em todas as direções, sem distinção de religião, nacionalidade ou estirpe. Naquela multidão de doentes estão também os judeus.

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Circular de Pio XII para salvar judeus:
 
http://www.doutrinacatolica.com/modules/news/article.php?storyid=2758
 
Defesa da Fé : A DATA DA CIRCULAR DO PAPA PIO XII QUE SALVOU MILHARES DE JUDEUS!
 
Enviado por doutrina em 24/03/2008 07:01:00 (393 leituras)
Autor: Agência Zenit
Fonte: http://www.zenit.org/article-14720?l=portuguese

ROMA, quinta-feira, 19 de abril de 2007 (ZENIT.org)- A circular, citada pelo cardeal Tarcisio Bertone, secretário de Estado, assinada por Pio XII para salvar os judeus perseguidos pelos nazistas é de 25 de outubro de 1943 não de 1945, como havíamos escrito por um erro de transcrição.
 
Publicamos a notícia corrigida. Obrigado por sua compreensão.
 
Pio XII deu indicação de acolher a judeus perseguidos, revela o cardeal Bertone

Em uma circular de 25 de outubro de 1943
 
ROMA, quarta-feira, 18 de abril de 2007 (ZENIT.org).- O cardeal Tarcisio Bertone, secretário de Estado, revelou nesta terça-feira que Pio XII assinou uma carta na qual pedia a todos os institutos religiosos que abrissem suas portas para acolher os judeus perseguidos pelo nazismo.
 
O Papa Eugenio Pacelli, em 25 de outubro de 1943, assinou «uma circular da Secretaria de Estado com a qual se dava a orientação de acolher os judeus perseguidos pelos nazistas em todos os institutos religiosos, de abrir os institutos e inclusive as catacumbas», explicou.
 
Com suas palavras, o purpurado salesiano comentou a crise que surgiu na semana passada por causa da exposição de um painel sobre Pio XII no Yad Vashem, o Mausoléu do Holocausto em Jerusalém, no qual aparece uma explicação que indica Pio XII como responsável do «silêncio» e «da ausência de orientações» para denunciar o Holocausto.
 
O presidente do Yad Vashem, Avner Shalev, prometeu reconsiderar a maneira na qual se apresenta o Papa.
 
Ao participar da apresentação do livro de Maria Franca Mellano, «A obra salesiana de Pio XII no Apio Tuscolano de Roma», no Instituto Pio XI de Roma, no qual se documenta a salvação de centenas de judeus nesse centro, o cardeal Bertone definiu aqueles fatos como «uma história luminosa de generosidade».
 
«Mas esta obra foi possível, não só aqui, mas por toda parte, por uma circular da Secretaria de Estado com a assinatura de Pio XII», acrescentou o cardeal. «É impossível que Pio XII, que assinou aquela circular, não aprovasse esta decisão.»

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Conheça, no texto abaixo, a origem da expressão "Lenda Negra" (F.Maier).

A “Lenda Negra”
 
http://www.jornalinfinito.com.br/series.asp?cod=76
 
Quantos foram mortos ou torturados?
 
No perverso marketing da Inquisição este número foi aumentado para aterrorizar os dissidentes criando-se com este procedimento o que se chamou de "A Lenda Negra" da Inquisição: uma história um tanto exagerada. Estima-se que, pelo menos, no século 17, 5 ou 6% das centenas de mortes e torturas que foram divulgadas e cujo número chegou até nós, foi exagerado. "Houve um certo exagero neste montante", dizem os historiadores modernos.
 
AS SEMENTES DA INQUISIÇÃO
 
A ameaça da Inquisição não foi extirpada da mente dos seres humanos. Todas as vezes as quais se levanta o PODER, seja ele de crenças, político, racial, forma de pensar ou de conduta , etc., que tenta impor-se como autoridade no "motus vivendi" de um povo, organizando-se e ditando normas, tentando banir ou desmascarar os seus opositores, reinventamos a “Sagrada” Inquisição! O Taleban, agora, não jurou a sua “guerra santa” para impor ao Ocidente as suas crenças?
O hábito maléfico da intransigência indica o renascimento do MONSTRO da Inquisição. Há que se tomar cuidado, temos modelos expostos nas guerras religiosas da Irlanda, nas atividades anti-americanas em certa época da história moderna dos Estados Unidos (anos 50) e na advertência contida no livro de George Orwell – "1984".