LENDA E HISTÓRIA - A ASCENSÃO DO JUDÔ COMO A ARTE SUAVE
Inicialmente deixamos claro aos leitores a completa ausência de pretensões ao elaborar este artigo, até porque, com certeza, no país existem pessoas muito mais capacitadas que o autor para repassar aos atletas aprofundamentos consistentes relativos ao esporte em questão, porém, sem saber o motivo exato, em alguns anos de pesquisa sobre o esporte que temos como perfeito em todos os aspectos podemos perceber que a bibliografia não é muito extensa, e poucos autores se arriscaram a escrever do assunto. Motivo pelo qual ocorreu maior interesse em explorá-lo, principalmente no tocante à História e lendas que poucos conhecem, além de alguns praticantes, é claro. O objetivo real é de motivar e incentivar a prática do Judô como meio de extravaso psicológico, repassando um pouco da filosofia oriental e divulgando os valores éticos e morais do esporte.
Começamos com a história do médico Shirobei Akiama, de origem japonesa, que esteve na China em meados do século XVI, aperfeiçoando conhecimentos inerentes à sua profissão e também, estudando WU-CHU. (luta chinesa cujo professor foi Pao-Chuan.) Ao terminar seu estágio, regressou ao Japão e decepcionado com o que havia aprendido, e até mesmo tendo insucesso e frustração perante alguns alunos por carência de absorção de técnicas, este resolveu retirar-se para meditação durante cem dias. Passou então a revisar o aprendizado de filosofia Ying e Yang, luta, Taoísmo medicina e acupuntura. Desenvolveu golpes de projeção, luxação, estrangulamento e restabelecimento, e fundou uma Escola de Arte Marcial denominada “CORAÇÃO DE SALGUEIRO” em japonês “YOSHIN RYU”. O nome da escola fundamenta-se na seguinte doutrina: O mestre estava desmotivado, apático, sem a devida impulsão para esquadrinhar suas pesquisas e seu senso de observação encontrava-se definhando no espaço mental, quando ao contemplar uma nevasca notou que as cerejeiras tinham seus galhos rompidos com o peso da neve, enquanto os salgueiros se adequavam, suportavam o peso, envergavam e usavam o próprio peso da neve para livrar-se dela, arremessando-a longe, voltando assim à disposição original! Assim percebeu a importância da sua observação: “Ao positivo, interpõe-se o negativo, à força interpõe-se a esquiva, a finta e assim por diante.” Desde então, Akiama aprimorou seus recursos de luta e nasceu o YOSHIN RYU.
Há uma história, de um Bonzo (sacerdote ou homem místico) chinês chamado Shen Yung Pin que residiu por algum tempo em um templo na região de Edo, atualmente a cidade de Tóquio, que ensinava filosofia e caligrafia chinesa aos dignitários e membros de famílias nobres japonesas. Uma noite, ao regressar ao templo teve sua carruagem e escolta atacados por mercenários. Os homens de sua segurança pessoal foram derrotados pelos bandidos, porém, o pacato e humilde Bonzo se alterou, transformando-se no lutador mais exímio visto em todos os tempos, e com golpes ágeis e incisivos, levou a quadrilha ao total desbaratamento. Tanto que grupos de kachis (samurais inferiores) ficaram deslumbrados com tamanha eficiência, e com muitos pedidos e pernoites à porta da instalação do Bonzo, acabaram conseguindo seu intento. O mestre aceitou ensinar uma técnica apenas para cada um dos samurais: Para um ensinou técnicas de Luxação, para outro de projeção, outro estrangulamento e para o último o atemi (ataque a pontos vitais). Conta a lenda que após o aprendizado, cada um teve a missão de partir para regiões diferentes do globo, para repassar sua especialidade, fundando diversas escolas por todo o Japão e consequentemente por todo o mundo. 
Há também outro fato interessante, de um lutador de nome Takenuchi Hizamor, que extenuado após grande treinamento, adormentou vindo a vislumbrar contatos com seres espirituais que lhe instruíram como refinar sua arte em velocidade e justeza precisa, passando a expandir técnicas de retenção (osae-komi-waza). Partindo da instrução obtida nas visões, o jovem Takenuchi criou uma nova arte de luta para samurais, sem armadura, com varapau e espada menores, mais precisa e rápida, o Gokusoku da qual se originou o Aiki-do, o Tambô, o Ju-jitsu (variante do jiu-jitsu) e ainda diversas lutas. Menor peso, mais mobilidade ao samurai. A partir da metade do século XVI, há relatos de profundo desenvolvimento e inovações nas técnicas de combate. Isso veio a engrandecer e estabilizar o que seria chamado "jiu-jitsu japonês". 
Da idade média, avançamos ao século XIX quando Jigoro Kano, homem comum de família humilde, não tradicional, nascido em 1860 no distrito de Hyogo foi morar em Kyoto com onze anos de idade, a fim de aprender inglês. Tornou-se professor e tradutor da língua. Faleceu em quatro de maio de 1938, aos setenta e sete anos, ao retornar da Assembleia Geral do Comitê Internacional dos jogos Olímpicos. Foi considerado o precursor do Judô. Devido à sua dedicação ao esporte galgou os degraus da escala Imperial Japonesa, tendo em homenagem póstuma ascendido ao segundo grau da realeza.
O mestre media apenas 1, 55 de altura, média de 55 kg, mas compensava seu pequeno porte com tenacidade, vigor físico, inteligência atípica e grande força de vontade. Aos dezessete anos iniciou Jiu-Jitsu na Escola Coração de Salgueiro com o Mestre Fukuda, posteriormente os mestres Iso e Likugo. Buscou conhecimento em várias escolas trocando informações com diversos atletas. O estudo prático levou ao teórico, o que fez com que criasse o conjunto de técnicas, regras e princípios que constituem o Judô olímpico que conhecemos hoje. Formou-se em 1882, pela Universidade Imperial de Tóquio em filosofia, Economia e Ciência Política e fundou sua escola, o KODOKAN. É considerado o “pai da Educação Física no Japão”.
No ano de 1879, Jigoro Kano iniciava um estudo meticuloso de artes marciais, no interesse do aprimoramento para montar seu próprio DOJÔ. Ele percebia e não gostava da rotina das escolas de Jiu-Jitsu, preocupadas em manter segredos, e desvalorizar outros mestres. Buscou então expandir-se em busca da perfeição técnica e conduta moral ilibada. As técnicas também eram pobres, sem princípios pedagógicos científicos, e colocavam os instruídos em perigo de morte. Devido à rivalidade das escolas na época, uma tentava destruir a outra a qualquer custo sem ética, desprezando e desrespeitando a todos. O Jiu-Jitsu estava fadado à decadência. Pensando nisso, o mestre Kano colocou a disciplina e a retidão moral como base de sustentação do Judô. Também o Quimono (judogui) nasceu da mente inventiva de Kano! Havia uma necessidade de uma roupa forte, que suportasse arremessos sem rasgar. A partir da confecção dessa roupa, o mestre teve a possibilidade de preparar golpes que enriqueceram a cultura de uma nação - Técnicas poderosas como o Kata-Guruma, Tai-Otoshi, Harai-Goshi, Tsuri-Komi-Goshi entre outras puderam ser aperfeiçoadas a partir do uniforme perfeito, que aguentasse os “trancos e solavancos” do treino.
Com todas as vicissitudes desde o século XVI até a atualidade, apesar de toda a discriminação, pois as escolas de artes marciais eram consideradas redutos de marginais percebemos o idealismo do mestre, que lecionava no Colégio Gakushuin, e mantinha sua escola de inglês, o Kobukan. Para cobrir as despesas com seus alunos em Eishosi (templo Budista) passava noite adentro fazendo traduções. Um grande exemplo de perseverança e solidariedade aos mais humildes. Criou normas que faziam seus alunos empenharem sua palavra: Se fosse admitido no Kodokan não ensinaria nem divulgaria os conhecimentos, salvo com a autorização de seus mestres; não faria demonstrações públicas com o fim de lucro; sua conduta nunca poderia desacreditar ou comprometer o Kodokan; que não abusaria nem faria uso indevido dos conhecimentos adquiridos no Judô. Nasceu a filosofia do Judô.
Artigo publicado no WEBARTIGOS
Prof. Octaviano Augusto.

Bibliografia:

Judô Kodokan, Kano, Jigoro, Ed. Cultrix,1973.
Judô Infantil, Roza, Antônio Francisco C., Ed. Phorte, 1999.
Judô - golpes extra gokio, Virgilio, Stanlei, Ed. Átomo 1992.
O que é Judô? Freitas, Armando, Ed. Casa da Palavra 2005.
A arte do Judô, Virgilio, Stanlei, Ed. Rigel 1994.