Juliano Vilmar dos SANTOS
Elizete dos Santos Mendes VARGAS
Universidade do Vale do Itajaí - UNIVALI

Resumo

O objetivo deste artigo é mostrar a escrita como um processo contínuo de aprendizagem, no qual a prática de ler e escrever, juntamente com técnicas de composição textual, darão gradativamente ao indivíduo um domínio plausível da escrita. Com isso, destruir estereótipos como o "dom da escrita", ou "eu não sei escrever", tão comuns no dia-a-dia. Será visto que a leitura enriquece o sistema cognitivo do leitor e instiga o sujeito a pensar, contribuindo deste modo para formação de seu senso crítico. È importante ainda porque nas leituras o leitor verá como se compõem as diversas tipologias textuais, o modo peculiar que cada escritor tem de escrever, observando aspectos coesivos, coerentes ou gramaticais que servirão como base para a construção do eu/ escritor. Entretanto, como já foi mencionado o bom desempenho da escrita também dependerá de técnicas de composição textual. Serão demonstrados estudos realizados por conceituados cientistas lingüistas na área da escrita como os escritores considerados experts, além de lerem muito, produzem seus textos. Técnicas usadas como: planejamento, rascunho, correção e recursos utilizados como material de apoio para a elaboração do texto, serão abordados neste trabalho.

Palavras - chave: Leitura; Processo de Composição; Escrita


RESUMEN

El objetivo de este articulo es mostrar la escritura como un proceso continuado de aprendizaje, en el cual la práctica de leer y escribir, juntamente con técnicas de composición textual, darán gradualmente al individuo un dominio plausible de la escritura. Con eso, destruir estereotipos como el "don de la escritura" o "yo no sé escribir", comunes en la vida cotidiana. Será visto que la lectura enriquece el sistema cognitivo del lector e instiga al sujeto a pensar, contribuyendo de esta manera para la formación de su sentido crítico. Es importante aún porque es en las lecturas que el lector verá como se componen las diversas tipologías textuales, el modo peculiar que cada escritor tiene de escribir, observando aspectos cohesivos, coherentes o gramaticales que servirán como base para la construcción del yo/escritor. Sin embargo, como ya fue mencionado, el buen desempeño de la escritura también dependerá de las técnicas de composición textual. Serán mostrados estudios realizados por conceptuados lingüistas en el área de la escritura, mostrando como estos escritores, considerados experts, además de leer mucho, producen sus textos. Técnicas usadas como: planeamiento, borradores, corrección y recursos utilizados como material de apoyo para la elaboración del texto, serán abordadas en este trabajo.

Palabras - clave: Lectura, Proceso de Composición, Escritura


1 INTRODUÇÃO

Atenuar os mitos que se tem a respeito da produção textual é sem dúvida o papel fundamental do professor em sala. Pesquisas feitas por cientistas lingüistas, demonstram que o dom para a escrita não é uma qualidade inata, existente somente em algumas pessoas, mas sim que é nada mais nada menos que o reflexo das leituras que o indivíduo faz ao longo de sua vida, juntamente com processos de Composição Textual.
Quanto mais a pessoa ler, desde a sua infância, confrontando-se com diversos tipos de textos, maior será o seu nível de letramento, ou seja, esse indivíduo terá maiores probabilidades de se expressar satisfatoriamente através do código escrito, entendendo o que está lendo e sabendo se posicionar de uma forma crítica sobre tudo o que lê. Na leitura, o indivíduo está debatendo com o escritor, dialogando com a obra e adquirindo os mais variados conceitos em seu subconsciente que posteriormente servirão como argumentos para seus textos. Porém ver-se-á que a leitura deverá ser feita de modo apreciativo, para que tais argumentos possam ser significativos para o sujeito, fazendo-se deste modo como leitor/escritor. Os argumentos adquiridos nas leituras serão representados por Van Dijk como macroestrutura do texto que será analisada posteriormente no decorrer desse trabalho.
Entretanto, por mais que leramos ou escrevamos, sabendo utilizar a linguagem escrita nas diferentes formas de tipologias textuais e tendo inúmeros conceitos sobre os mais variados assuntos, adquiridos através da leitura, existem processos de composição que auxiliam a produção textual. Estes processos de produção textual são tidos como uma espécie de roteiro que os bons escritores utilizam para produzirem seus textos, os quais foram observados pelos cientistas lingüistas, trazendo à tona suas particularidades e sua real eficácia para suprir as deficiências que tanto permeiam a produção textual dos alunos e dos interessados da área.
Ao encontro do que foi citado, Cassany (1999) defende que um escritor competente além de ser um bom leitor deve planejar o seu texto antes de o torná-lo como produto final e os estudos de Rohman (1965), dizem que o texto constitui-se no pré-escrever, no escrever e no re-escrever.
Serão também trabalhadas as teorias de Hayes e Flower (1980), as quais têm como planejamento de um texto os itens como: (a) geração, (b) sistema operacional, (c) Memória de longo prazo, (d) monitor e por último a revisão.


2 LEITURA E PENSAMENTO

A leitura para muitas pessoas é vista como algo impossível de decifrar, como se necessitasse de órgãos especiais para entendê-la, e que os atos praticados na leitura fossem existentes somente nela. Seguindo este pensamento o lingüista Smith (1989, p.213) deixa claro que:
O pensamento que realizamos quando lemos, a fim de ler, não é diferente do pensamento que realizamos em outras ocasiões. Exatamente como não podemos falar sem pensar, ou compreender o que alguém esta dizendo sem que pensamos, ou extrair o sentido do mundo sem pensarmos, também é impossível ler sem pensar. Se algumas vezes dizemos que falamos sem pensar, queremos dizer que não consideramos todas as informações daquilo que íamos dizer. A leitura é pensamento que esta em parte focalizado sobre a informação visual impressa.

Analisando a citação acima se vê que a leitura é sem dúvida motivada pelo sistema cerebral, ao qual decodifica os signos e a torna algo significativo. Do mesmo modo que se compreende aquilo que é exposto na TV, usando a visão para detectar, mandando informações para o cérebro a fim que ele processe e dê o significado, da mesma maneira ocorre com a leitura, porém o que falta, é interesse em pensar quando se lê, dificultando, neste caso, a compreensão do texto.
Todavia, se cada vez que ler um texto o leitor buscar pensar sobre aquilo que está sendo exposto, acarretará um desenvolvimento de raciocínio e conhecimento de mundo muito grande para ele. Este saberá avaliar as mais variadas situações, tendo um pensamento crítico e se fazendo presente numa sociedade que cada dia exige mais o desenvolvimento de potencialidades.



3 O ATO DA LEITURA COMO DESENVLOVIMENTO DA ESCRITA

Como foi demonstrado uma boa leitura está intimamente ligada a manifestações de pensamento, pois faz o sujeito pensar e, conseqüentemente, contribui para o enriquecimento de seu sistema cognitivo. Porém, será que estas contribuições da leitura favorecem também a escrita? Ou será que na escrita há um dom inato independente de qualquer tipo de leitura, havendo por causa disso a distinção entre bons escritores e maus escritores. São inúmeras perguntas, que têm levado lingüistas do mundo todo a se conscientizarem e analisarem as particularidades que permeiam a produção textual. Começa-se esta resposta pela seguinte citação de Silva (1995 p.25-26): "Leitura e escrita são partes integrantes da comunicação verbal, uma vez que ambas sujeitam-se as mesmas leis que regem a interação lingüística". Desta forma vê-se o quão é importante a leitura para um bom desempenho na arte de escrever, pois ambas têm como única finalidade a comunicação, sendo assim, ao presenciar aspectos coesivos, coerentes ou até mesmo gramaticais em um texto, acabarão influenciando na maneira de escrever do leitor, porque a escrita, sendo verbal também necessita desses mesmos itens para que haja uma comunicação compreensível e, conforme há uma prática de leitura constante, maior será a probabilidade de absorção desses itens. Reafirmando a hipótese do inexistente dom para a escrita Kock (2003, p.57) afirma:
A escrita é um processo contínuo, em que o sujeito em todo o seu desenvolvimento deve se comparar com vários estilos textuais, seja narrativo, descritivo ou expositivo, porque ao passo disso conseguira suprir as lacunas que habitam o seu subconsciente.
A autora traz à tona a importância do indivíduo, em todo o seu crescimento intelectual, confrontar-se com diferentes estilos textuais. É neste relacionamento que o leitor conhecerá a linguagem verbal nas mais variadas formas, aspectos semânticos, objetivos de cada gênero, temas dos mais variados, sendo uma rica fonte de informações relevantes que contribuirão para a formação do eu-escritor. Verifica-se segundo (Cassany, 1999), da mesma maneira que se consegue falar corretamente através do contato com a linguagem oral, somente conseguir-se-á produzir textos complexos, coesos e coerentes através do contato visual, sendo que, como se verifica no dia-a-dia a criança primeiro aprende a falar através do contado expositivo com seus pais e somente aos poucos aperfeiçoa sua linguagem oral. Da mesma maneira, a criança aprenderá a escrever plausivelmente, mas agora através do contato com o livro, indo aos poucos aprimorando a técnica da arte de escrever, através da leitura. Percebe-se que o dom de escritor jamais é referido nas análises dos lingüistas, porque como foi citado, a escrita será um reflexo permanente da leitura, conforme há um aprimoramento nas atividades de leitura do indivíduo, textos mais complexos, tendo um forte engajamento pelo aluno, atendo-se às idéias que o autor quer mostrar, lendo como se estivesse ao mesmo tempo escrevendo, ajudará para a formação de um processo cognitivo rico de informações de como se constitui um texto, que num futuro próximo o auxiliará na produção de vários outros textos. Vem ao encontro dessa idéia a seguinte citação de Cassany (1999 p.72):
Para lermos como escritor, comprometemo-nos engajamento com o autor do texto e lendo-o reescrevemos com ele. Em cada passo, em cada nova frase ou em cada novo parágrafo antecipamos o que dirá o texto, de forma que o autor não só nos está ensinando como se usa a língua escrita, mas que precisamos está escrevendo pra nós tudo aquilo que queríamos escrever.

O lingüista Cassany aborda um ponto crucial para o bom desempenho da leitura, ler como escritor, ou seja, com prazer, lendo como se fosse algo que o leitor gostaria de escrever, pois através de uma leitura prazerosa, atendo-se nas características do autor, seu jeito peculiar de escrever, seu modo de constituir as frases, a intenção que o autor quer passar nas entre linhas, adquirir-se-ão subsídios para um futuro processo cognitivo que posteriormente utilizar-se-á para a produção de um texto. Verifica-se a diferença entre leitor eficiente e mau leitor, sendo que, mau leitor às vezes lê um texto e nem sequer sabe qual a intenção que o autor quis dizer com isto ou aquilo, não se indaga sobre as questões que talvez o escritor dirá no próximo capítulo, não há enfim um relacionamento entre leitor e escritor. Rosing argumenta em seu artigo "Senão Lêem ou Lêem pouco, como esperar que escrevam", (1997, p.75) que:

Cada pessoa, ao entrar em contato com o texto escrito, deve-se preocupar, portanto, não apenas com o que é dito, com o que não é dito, com quem é o autor, mas ainda de forma especial, perceber a estrutura organizacional do texto, identificar os recursos empregados pelo autor. Tais recursos poderão ser utilizados, mais ou menos, eficiente, no momento da produção de seus textos, ampliando desta, a sua competência para o trabalho em questão.

Nota-se mais uma vez a importância de ler uma obra não apenas como um mero leitor, mas sim engajado na essência que o autor quer passar, pois segundo a autora esta reflexão acerca do entendimento da obra, resultará para o leitor uma reflexão crítica sobre o mundo, um posicionamento consciente sobre vários assuntos, os quais mais tarde ele poderá utilizar para suas escrituras. Ainda, a leitura feita de modo apreciativo, em que se tenha o entendimento da obra segundo a autora, também ajudará o leitor a perceber a estrutura de um texto, quais as técnicas que o escritor utilizou em seu texto, como aspectos coesivos e coerentes, com isso, tendo uma escrita convincente, apto a opinar nos mais variados assuntos, concordando, ou discordando e, como conseqüência, fazendo-se um cidadão participativo na sociedade. Vários são os estudos que demonstram o quão é importante o sentido que a palavra representa na sociedade. Fazenda, (2001), diz que é através da leitura que o homem aumenta o seu universo de discussão e, com isso, a possibilidade de multiplicar suas visões e aspirações. Comenta ainda que a palavra revela o homem ao mundo, o homem sai de si, interfere no mundo e deixa que o mundo interfira nele. Há uma troca de conhecimentos, em que o homem tem por necessidade essencial se comunicar, seja o eu com o livro, ou o eu com o mundo, adquirindo os conhecimentos anexados dos livros e se comunicando com o mundo.
Porém, além da importância que desempenha a leitura para que consigamos aos poucos a obtenção de um bom texto, o lingüista Smith (in Cassany, 1999, p.73), afirma que: "Não poderá ser somente um produto acabado o responsável para a boa produção de textos". A leitura é muito importante, é claro, para identificar como os bons escritores escrevem, aguçar o senso crítico, mas, além disso, existem estratégias de composição de texto que estes mesmos autores que lemos, utilizam para produzir seus textos, sendo que para o escritor inexperiente será mais um artifício em busca de uma boa escrita. Passando do visual, leitura, passarar-se-á para um modo concreto e demonstrativo de como se compõe um bom texto, ou seja, a produção textual está subdividida em duas partes: uma do conhecimento de mundo adquirido através das leituras, tendo visualização também de como os bons escritores escrevem, outra através dos processos de composição textual.


4 O QUE É PROCESSO DE COMPOSIÇÃO?

O Processo é muito parecido ao que utiliza uma criança para desenvolver um jogo de construção.Como sabe o que quer construir, acrescenta e retoca peças até que consegue exatamente a forma que tem no seu pensamento. Picket y Laster (in Cassany, 1999).


Inúmeros lingüistas há quinze anos vêm estudando o processo que utilizam os bons escritores para a produção de seus textos. Verifica-se que os bons escritores utilizam uma gama de estratégias para a produção: fazem esquemas, escrevem rascunhos prévios, relêem, etc. Ao contrário dos escritores ineficientes que apesar de às vezes serem bons leitores não possuem esta micro habilidade tão importante. Não vêem seu texto com um processo contínuo, que precisa ser lapidado, não seguem o que diz o nosso grande poeta brasileiro Carlos Drumond de Andrade, "Use a sua melhor palavra". Poético, mas é afim com os estudos lingüísticos, em que o texto é como um quebra cabeças, nas mãos de uma criança, uma tarefa difícil, por vezes demorada, mas que ao final, o seu produto será certamente eficaz. Contudo, certamente não é deste jeito que é feito nas escolas, pois na escola, os textos são tidos como mera produção para obtenção de uma nota, não há uma continuidade do texto que a criança faz na sala de aula, ou sequer uma preparação como será visto a seguir.


4.1 Planejar

Apropria-se da citação de Cassany (1999, p.109) "Os bons escritores, escritores experientes fazem mais planos que os medíocres e dedicam mais tempo a esta atividade antes de redigir um texto". Esta é a parte principal que muitos escritores iniciantes não têm como hábito, ou seja, planejar quais serão as diretrizes ao longo de seu texto, qual será o objetivo do texto, o que pretende impressionar o leitor, para tornar uma leitura mais atrativa. Vasconcellos (2001, p.97), acrescenta ainda que:

O produtor do texto deve fazer uso e planejamento, de produção e de uma série complexa de relações lógicas que articulam os elementos de seu discurso, e ainda que ele deve ser entendido, porque será desta forma que conseguirá produzir um bom texto.


Observa-se que a escrita, não se inicia propriamente através dos primeiros rascunhos e sim bem antes. O escritor, em cima de seu tema, planeja diferentes situações, investiga, busca se informar sobre o seu conteúdo para poder formalizar um texto dentro de princípios lógicos, compreensíveis. Segundo a autora, um planejamento visa, antes de tudo, ao entendimento do leitor, pois um texto que não haja um entendimento, jamais poderá ser considerado como um bom texto.
Kato (1990, p.86), acrescenta que:

Há muito não se acredita mais que escrever seja uma simples questão de inspiração, que pode ser expressa pela fórmula mágica pensou-escreveu. Sabe-se que hoje até mesmo os produtos mais criativos envolvem uma fase de pré-escritura e também uma fase de pós-escritura. O termo pré-escritura pode ser entendido como tudo aquilo que antecede a execução propriamente dita, isto é, o planejamento, que pode envolver anotações, listas, estruturas e esquemas.


Verifica-se mais uma vez o quão é importante a tarefa do planejamento para a boa produção textual. Se ao produzir um texto o escritor antes de começar a escrever delimita o seu objetivo, elabora tópicos aos quais pretende trabalhar, reordenando-os conforme a sua relevância, isso é considerado como planejamento e ajudará o escritor para a melhor apresentação de seu manuscrito.
Não há segundo a autora, textos que não exijam um planejamento prévio, que consigam alcançar um formato ideal. Todo texto, por mais criativo que seja, ou por mais leitura que o autor tenha, sempre envolverá um processo de produção textual.





4.2 A importância da leitura dos primeiros rascunhos

A leitura dos primeiros rascunhos no ato da escrita é de suma importância para que não nos percamos do objetivo pretendido no desenvolver do texto. É através da leitura que poderemos ver se o texto possui uma coerência entre os dados informados nos parágrafos. Conforme afirma Cassany (1999, p.57), sobre coerência "Há informações relevantes que são apropriados para um texto, e outras irrelevantes, que são supérfluas, desnecessárias".Se o leitor não ler o que escreve, ou se não rascunhar, trabalhar as idéias conforme achar conveniente através da leitura, estará correndo o risco de escrever algo que não condiz com a lógica que este pretende alcançar. Seu texto poderá tornar-se ambíguo, dizer coisas ou sugerir coisas que o escritor nem ao menos pensou, mas que por causa de uma palavra, ou de uma frase mal formulada poderá mudar toda a semântica da frase.
Para Souza (2003, p.150), "Coerência está ligada à possibilidade de se estabelecer um sentido para o texto; ela é que faz que o texto faça sentido para os usuários".Portanto, nota-se mais uma vez, baseado no autor, o elo existente entre coerência e um texto que faça sentido. Muitas vezes o que parece óbvio para o escritor, para o leitor poderá faltar subsídios importantes que completam o texto, seja uma palavra, complementação de um parágrafo que ficou meio confuso, retirada de uma palavra, etc. Deve-se sempre ocupar o lugar do leitor, lendo e relendo por inúmeras vezes, pois através da leitura que se está fazendo, ou do que fez é que o escritor poderá perceber se há lacunas que precisam ser preenchidas para um melhor entendimento do leitor que posteriormente lerá o seu texto.
Outro ponto importante que poderemos verificar através da leitura, é referente à coesão, para Cassany (1999, p.57), coesão é a forma de como:
As frases que compõem o texto se ligam entre si, formando uma rede de relações. Os mecanismos de que se utilizam para conectá-las são denominadas formas de coesão e podem ser de diferentes tipos: repetições ou anáforas (a aparição recorrente de um mesmo elemento no texto, através da sinonímia, pronominalização ou a elipse), relações semânticas entre palavras (Antonímia, hiponímia), ligações ou conectores (entonação e pontuação, conjunções) etc.

Os aspectos mostrados acima sobre formas de coesão, ajudarão a tornar o texto mais agradável, tornando-o mais atrativo para quem ler. Segundo Cassany (1999), será muito difícil para escritores leigos aplicarem essas regras coesivas nos primeiros rascunhos de seu texto. Por exemplo, no fragmento "Maria foi ao bar e comprou um refrigerante. Já tinha um outro em casa".Percebe-se uma elipse no sujeito, em que o nome Maria não está explícito na frase, mas subtende-se como sendo ela o agente da ação, mostrada na frase seguinte e "um outro" subtende o refrigerante. Além disso, os sinais de pontuação ajudarão na compreensão das frases, sendo que a leitura poderá detectar possíveis erros gramaticais.
Quanto mais vezes houver leituras dos primeiros rascunhos e quanto mais ele for revisado, melhor será a qualidade do texto, pois o sujeito irá torná-lo coesivo, coerente e verificará possíveis erros gramaticais. Cassany (1999), aborda que os escritores ineficientes revisam apenas questões gramaticais, achando que um simples ajuste de uma palavra poderá melhorar seu texto. Deste modo, embasado no autor, está a razão da dificuldade dos escritores ineficientes, a falta de revisão nas estruturas das frases.


4.3 Estratégias de Apoio

As estratégias de apoio segundo o autor Souza (2003), servem para auxiliar as deficiências textuais em três níveis."Quanto à gramática, ou léxico, quanto à textualização, quanto ao conteúdo". Em relação à gramática o autor comenta que são lapsos que ocorrem na hora da escrita. Por exemplo, escrevo "pretensão" ou "pretencão".Para o autor pode-se recorrer a duas alternativas: ou se recorre à memória virtual, escrevendo várias vezes até que o subconsciente entenda como certo, devido ao fato de o escritor já o ter visto em uma leitura que este fizera anteriormente, ou até mesmo por ele já havê-la escrita. Poderá-se também recorrer o escritor à estratégia do preenchimento das lacunas gramaticais através da consulta ao dicionário, ou através de uma gramática, quanto à regência, concordância, etc.
As deficiências textuais são as mais complicadas para resolver. Novamente entra o aspecto coesivo e o referente à coerência. O coesivo segundo o autor Souza (2003), pode ter como apoio na gramática, sendo deste modo, mais simples a sua aplicação como apoio. Por exemplo, o uso de conjunções para ligarem as orações, ou se uso este ou esse ou aquele, etc. A coerência,como já foi vista é a mais complexa das estratégias de apoio, porque como já foi dito, exige-se um exame detalhado do texto. Também entra sobre deficiência textual, segundo o autor Souza (2003), o termo adequação, que é o uso também correto de lexicais, saber usar a norma culta, acrescido do domínio que o escritor deve ter sobre as particularidades que cada tipo de produção textual possui, seja uma dissertação, uma narrativa, um artigo científico, um bilhete etc. Refere-se à importância de o escritor saber se portar nos mais variados recursos lingüísticos, não se ater somente a um estilo textual, pois conforme cita Cassany(1999, p.30):

Os escritores competentes valem-se da adequação e conhecem os recursos lingüísticos próprios de cada situação. Sabem quando há que se utilizar o modelo padrão, mas também dominam os diferentes gêneros da língua pelo menos os mais usuais e os que têm de usar com freqüência.

Outra estratégia de apoio que se encontram nos textos pode ser que esteja relacionada ao conteúdo, como uma data, um nome, como algo mais complexo, a fundamentação teórica. Naturalmente que o ideal a fazer é pesquisar em livros sobre o assunto que o escritor irá fazer seu texto, a fim de suprir as lacunas que o permeiam.
Souza (2003,) reflete sobre a maneira equivocada de ensino repetitivo nas escolas, que não desenvolvem capacidades como as citadas acima que servem para o convívio social, possuindo uma real eficácia. Traz ainda que o aprendizado que vise ao desenvolvimento de potencialidades da escrita é lento, parecido com uma pesquisa ao qual somente após dez anos é que se vai ter resultados, mas o importante é que o aluno, com leituras em busca de conteúdo, possa desde cedo produzir esquemas do que leu, fazer resumos do que leu e , após os esquemas , relevar as informações mais importantes para a conclusão de seu trabalho. Seguindo este conceito, de o aluno analisar um texto e extraí-lo o mais importante, veremos duas teorias a respeito de como se processa a linguagem escrita no subconsciente do indivíduo.


5 O MODELO DE PROCESSADOR DE TEXTO

Van Dijk (1978) elabora o chamado Modelo de Processador de Textos, tendo interesse pelos processos mentais das habilidades receptoras. O indivíduo ao ler um texto, ou escutar, se engajando com a leitura, ou com o que será dito posteriormente pelo locutor, elaborará um conceito significativo em sua mente.
O autor ao escrever, segundo a teoria de Processador de Textos, escreve a partir de idéias que se lembra, escreve sobre o qual já tem um conhecimento internalizado sobre o tema, ao passo que apenas remodelará este conhecimento de acordo com o que é pedido no texto proposto, apoiado em seu conhecimento de mundo. Souza (2003) explana que por mais que o aluno ao produzir um determinado texto se refira a um determinado texto de um autor qualquer, ou que se utilize citações para compor o seu texto, sempre haverá um princípio de autoria, visto que, por mais que uma pessoa se refira a um texto, este será composto a partir de seus conhecimentos internalizados, seu jeito peculiar de escrever. O autor Van Dijk (2003), refere-se ao conhecimento internalizado como macroestrutura e para elaborar e desenvolver as macroestruturas, o indivíduo utiliza macro-regras lingüísticas de compreensão e de produção. A primeira permite elaborar a macroestrutura de um texto já escrito: extrair as informações mais relevantes, generalizando-as. A seguinte permite desenvolver uma macroestrutura memorizada para construir um novo texto: concretizar idéias gerais; complementar uma idéia básica com detalhes e exemplos.
Segundo Souza (2003), o processo de compreensão de um texto se forma da seguinte forma: Ao ler um livro, seja por obrigação ou por prazer, primeiramente nosso mecanismo irá tirar as coisas supérfluas do texto, como informações ilustrativas. Em seguida, coletadas as informações mais importantes do texto lido, feito a macroestrutura do texto, elas serão generalizadas em nosso consciente, ou seja, associadas aos conceitos que já temos internalizado, contribuindo para o aumento de nossa estrutura cognitiva. O processo de composição se dá do modo inverso. O primeiro passo é unir as leituras que temos em nosso subconsciente em prol do tema que é proposto, em seguida pegar as que são mais relevantes e particularizar com explicações e exemplos.
Uma mudança operada por Van Dijk (1983) é a substituição de regras por estratégias. Entende o autor que estratégias são operações mentais mais flexíveis para conseguir um objetivo. Estratégias são descobertas que se fazem ao longo dos dois processos, Compreensão e Produção, e dependerão da formação textual-discursiva de cada usuário.

6 O MODELO DE FLOWER E HAYES

O modelo de Flower e Hayes está praticamente firmado na produção textual, a que está inicialmente submetida, a que público a obra que o escritor pretende escrever quer alcançar, ao conhecimento que o indivíduo tem sobre o mundo através de leituras, que facilitarão na hora de o sujeito escrever sobre um determinado tema, apoiado em um processo de composição textual que contribuirá para a formação do texto. Kato (1990, p.87), reforça o pensamento acima argumentando como se inicia o processo de composição textual, tendo início com os mecanismos de geração:

A meta ou função da geração é extrair informações relevantes da memória de longo prazo para a tarefa dada.A primeira busca é provocada pelo tópico e adequada ao leitor pretendido.A informação extraída é avaliada pela memória operacional, que vai determinar se ela vai ou na ser usada.

Compreende-se segundo a autora que ao se conhecer o assunto, qual a temática abordada, o escritor automaticamente se remeterá ao seu subconsciente, buscando informações na memória de longo prazo a respeito de seu tema. Quando o autor pede alguma informação para a formação do seu texto, obtém-se estruturada a forma como que foi gravada: deve reformá-la e elaborar segundo as características da situação comunicativa. Será na memória de longo prazo que o autor também terá um norteador a respeito da audiência que pretende alcançar e, também, é nessa memória que o autor guardará diferentes estilos, seja: infantil, adulto, seja uma narrativa, um artigo, etc. Entretanto, esses gêneros farão parte do sistema cognitivo somente através das leituras, quanto maior for o conhecimento cognitivo do escritor, melhores serão seus conhecimentos sobre os temas e inúmeras serão as idéias que virão ao se delimitar um tema para escrever.
Ao buscar informações sobre o tema pedido, o sistema responsável se as informações são relevantes ou não para a elaboração do texto é a memória operacional, ou seja, o nosso sistema cognitivo. Será ela que ajudará a seguir uma lógica de idéias para o texto: se alguém está escrevendo sobre vacinas, o sistema operacional irá buscar informações que condizem com este assunto, idéias que falem do tema. Segundo Kato (1980), as idéias retiradas da memória de longo prazo devem ser ordenadas em forma de texto. Para facilitar se deve esquematizar os dados retirados conforme uma ordem de relevância, em que haja uma introdução, desenvolvimento e uma conclusão, e que um mecanismo chamado monitor ,intrínseco da pessoa, policie o escritor para que não haja uma fuga do proposto pelo autor. Este mecanismo monitor dependerá em muito das leituras que o escritor fez em toda sua vida, porque o monitor é o mecanismo que manipula o texto desde o início até o seu fim. O leitor inexperiente que ao ler uma obra verifica os artifícios que o autor utilizou, as idéias, como já foi mencionado, ler como se estivesse compondo a obra, adiantando-se nos fatos que o autor quer demonstrar, com certeza, tornará o monitor mais eficaz e sua bagagem cultural será maior e saberá diferenciar entre o bom e o mau texto.
Após a conclusão do texto, é a vez do componente revisão analisar o que o redator produziu.Kato (1980, p.89) destaca da seguinte forma:
A - falha de convenção de escrita, ou seja, se não houve qualquer palavra escrita incorretamente causando uma dificuldade para o entendimento da frase.
B - imprecisão de significado: O significado não condiz com aquilo que o escritor está tentando demonstrar em seu texto, quer dizer uma coisa, mas a semântica para o leitor diz outra.
C - acessibilidade para o leitor: dependendo do público-alvo, o escritor terá que usar uma linguagem que não seja tão diferente da linguagem usada pelo destinatário. Se o público-alvo são crianças, não há porque o vocabulário conter palavras esdrúxulas, de difícil entendimento.
D - aceitabilidade para o leitor: Mais uma vez o texto está intimamente ligado com o público-alvo. As idéias deverão seguir um raciocínio lógico perante aqueles ao qual o texto se destina. Deverá enquadrar-se naquilo com o que o leitor considera como aceitável, para que não haja nenhum constrangimento por quem esteja lendo, atrapalhando deste modo a leitura. Se é do conhecimento dos professores que a educação é um processo contínuo de aprendizagem, um texto que se destine a este público, diga o contrário, poderá ser tido como inaceitável pelos professores que porventura lerem o texto, automaticamente o texto caíra no descaso.
Kato conclui que o componente monitor tem como prioridade gerar e editar a qualquer momento o texto, mais que a revisão caminhará sempre junto com estes processos, monitoradas pelo monitor. O monitor será o conhecimento que a pessoa adquire através dos anos, toda a sua bagagem cultural, seus preceitos a respeito do que vem a ser um bom texto.
Matêncio (1994) ressalta a importância da criança em conhecer os processos de produção textual; como plano de organização, rascunho, reestruturação e revisão, dando à criança a oportunidade de refletir sobre o seu próprio processo de escrita. Desta forma, segundo o autor a ênfase do trabalho estaria no processo de produção e não no produto.
Portanto, a escola precisa deixar de passar para os alunos a falsa idéia de que um bom texto surge por inspiração. Como ressalta Souza (1991, p.13), "um texto tem muito mais de transpiração do que inspiração".


7 CONSIDERAÇÕES FINAIS

O papel da leitura é muito importante para a constituição do ser humano, pois é através da leitura que o ser humano irá formar o seu consciente crítico e conseqüentemente enriquecer a sua memória de longo prazo. Esta por sua vez, rica de argumentos e conceitos, ajudará na hora em que o sujeito for constituir o seu texto.
Porém, foi comprovado, além da leitura existem processos de composição textual que auxiliam para a obtenção de um bom texto. Processos como pré - escrever e reescrever contribuem em muito para que o texto seja plausível na hora da comunicação. Dessa forma foi desmistificado que exista um dom para a escrita, o que há é um aperfeiçoamento através de leituras juntamente com técnicas de composição textual.
Pensa-se com este trabalho a forma que os professores trabalham os textos em sala de aula, compromissados somente com a obtenção da nota e não como formação de um sujeito hábil, escrevendo de uma forma coerente e coesiva, fazendo-se participativo na sociedade que cada dia exige essas potencialidades. O importante é ver o texto que o aluno produz em sala como um trabalho importante, e que em vez de trabalharmos apenas uma aula com produção textual, sem nenhum planejamento prévio,ou sem um reescrever, deve-se, se for preciso, utilizar até mais aulas, pois deste modo, o aluno evidenciará os processos que os lingüistas demonstraram.
Esta reflexão apresentada neste trabalho sobre a escrita também serve para profissionais de outras áreas, porque explica as causas de uma provável boa escrita, tão indispensável ao nosso dia a dia, sendo um referencial para quem almeja progressos em seu trabalho e em seus estudos.

8 REFERÊNCIAS

CASSANY, Daniel: Descrever o Escrever: como se aprende a escrever.Trad. Osmar de Souza.Itajaí: Univali, 1999.

FAZENDA, Ivani Catarina Arantes. Interdisciplinaridade: história, teoria e pesquisa.
8.ed. Campinas : Papirus, 2001.

FOUCAMBERT, Jean. A leitura em questão.Trad. Bruno Charles Magne-Porto Alegre: Artes Médicas, 1994.

KATO, A, Mary.No Mundo da Escrita: uma perspectiva psicolingüística. 3 ed.São Paulo:Editora Àtica , 1990.

KOCH, L. V. Desenvolvendo os segredos dos textos. São Paulo: Cortez, 2003.

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