Leitura crítica do poema “Havemos de voltar” de Agostinho Neto

 

A leitura crítica do poema “Havemos de voltar” de Agostinho Neto apresentada abaixo foi feita a partir da seguinte passagem de Albert Memmi, em Retrato do colonizado precedido do retrato do colonizador:

 

“A libertação do colonizado deve ser efetuada por meio da reconquista de si mesmo e de uma dignidade autônoma. O impulso na direção do colonizador exigia, no limite, a auto-recusa do colonizador será o prelúdio indispensável à retomada de si mesmo. É preciso se livrar dessa imagem acusadora e aniquiladora.” p.170

 

 

Havemos de voltar

 

 

Às casas, às nossas lavras

às praias,

aos nossos campos

havemos de voltar

 

Às nossas terras vermelhas do café

brancas de algodão

verdes dos milharais

havemos de voltar

 

Às nossas minas de diamantes

ouro, cobre, de petróleo

havemos de voltar

 

Aos nossos rios, nossos lagos

às montanhas, às florestas

havemos de voltar

 

 

À frescura da mulemba

às nossas tradições

aos ritmos e às fogueiras

havemos de voltar

 

À marimba e ao quissange

ao nosso carnaval

havemos de voltar

 

À bela pátria angolana nossa terra,

nossa mãe havemos de voltar

havemos de voltar

 

À Angola libertada

Angola independente

 

(Agostinho Neto)

 

 

 

A partir da leitura da passagem de Albert Memmi, em “Retrato do colonizado precedido do retrato do colonizador” e do poema “Havemos de voltar”, de Agostinho Neto, podemos chegar a seguinte conclusão, conforme a análise crítica de ambos os textos: Albert nessa passagem diz que para haver totalmente a libertação do colonizado, é necessário voltar às origens, aos costumes, às tradições. Toda a cultura africana é necessária ser retomada e apagar a assimilação (a cultura do outro) feita pelo colonizador. É na busca dos rituais, da oralidade, da dança, da própria identidade como pátria e nação. É importante a auto-recusa, a recusa do que lembra o colonizador, o opressor, o ditador de regras.

Em “Havemos de voltar”, Agostinho exemplifica em todas as palavras o que Memmi citou nessa passagem. Agostinho emprega bem as palavras, fazendo um jogo rítmico que lembra uma canção, um hino. O autor demonstra no poema, a vontade de voltar às origens, das tradições e inclusive utiliza termos próprios do vocabulário africano, como: marimba, quissange, mulemba e etc. E ao finalizar cita “A Angola libertada, Angola Independente”, não seria somente a liberdade no papel, em um contrato estatal, mas é a liberdade que Albert M. se refere, é a liberdade da cultura do outro, inclusive da língua do outro, do colonizador.