RESUMO:

O artigo discute a problemática da leitura em seu âmbito escolar e familiar, sugerindo uma visão mais ampla da noção de leitura, abrindo questões que são colocadas como um desafio e compromisso de todos, visando assim formar leitores ativos que compreenda o texto e reflita sobre ele para agir com autonomia na sociedade letrada.
Tanto a escola quanto a família são conhecedores dos pontos em que cada uma das partes tem falhado, ou seja, as insatisfações são demonstradas por ambas as partes: escola e família. Mas é importante lembrar que uma gestão democrática da escola e um ensino de qualidade devem ser compromisso de todos da instituição. A família e a escola devem compartilhar a responsabilidade pela educação dos indivíduos de um modo geral.



Palavras-chave: Dificuldade de aprendizagem; família; escola e responsabilidade.


INTRODUÇÃO


Ao iniciar o livro "Texto e leitor: aspectos cognitivos da leitura", Kleiman (1995) alerta para o fato de a aprendizagem da criança, principalmente em fase escolar, estar baseada, na sua maior parte, na leitura, e atenta, ainda, para uma questão fundamental: esse ensino deve ensejar ao aprendiz a compreensão dos textos escritos que lhe são propostos pela escola em todos os componentes curriculares, pois disso advirá todo o sucesso ou insucesso do aluno ao longo de sua escolarização (op.cit, p. 7).

De fato, considerando-se a leitura como essencial a todo cidadão e está como um dos fatores mais importantes de todo o processo de letramento de uma sociedade, tem de se levar em conta, também, todo o sistema cognitivo da criança. Os alunos chegam à escola com o conhecimento adquirido no convívio com outras pessoas e instituições como: igreja, clube, cinema, internet, brincadeiras na rua com colegas, e outros, cabendo a escola, na pessoa do professor, expandir esses conhecimentos e habilidades intelectuais por meio da leitura. Para que isso aconteça, a leitura deve ser trabalhada desde os primeiros anos da educação infantil, preparando assim a criança para a sociedade em que vive, mostrando que desenvolvendo a leitura, também a sociedade será desenvolvida.


LEITURA

Em sua maioria, os alunos dos primeiros anos do ensino fundamental apresentam dificuldades na leitura e interpretação de texto. Isto é conseqüência de um trabalho feito a partir de reproduções, deixando de lado a leitura e fazendo uso de textos já prontos, por achar menos trabalhoso, com isso os alunos ficam com limitações no discernimento das palavras. Em geral esses alunos ao fazerem uma leitura, a fazem lentamente, trocam ou acrescentam letras ou palavras, deixando as frases incompletas, dificultando assim, a interpretação do texto lido. Na verdade a leitura e a interpretação se complementam, acontece de forma articulada, a leitura pode limitar-se a simples decodificação ( leitura compreensiva) ? ou seja, à passagem do código escrito para oralidade, a interpretação requer, além da compreensão do que está escrito, também a interpretação do conteúdo das idéias do texto e a interpretação das intenções do autor do texto. Os alunos que possui tais dificuldades possuem vocabulários pobre, pois quase não tem contato com materiais impressos, deixando muito a desejar quando escrevem textos simples ou até mesmo um pequeno bilhete. As escolas, em sua maioria, dispõe como fonte de informação , o livro didático, tal fato resulta numa leitura meramente decorativa, e por conseqüência uma má interpretação. Algo simples como atividades de reforço poderia ajudar nessa deficiência, claro que muito bem planejada e envolvendo toda equipe pedagógica da escola.
Assim sentimos a necessidade de levar nossos alunos a ler e a produzir textos espontaneamente, tentamos oferecer como ferramenta para os educando a leitura. O prazer de ler, não querer dizer ler por ler, mas sim ler para conhecer, descobrir a leitura, não como a conhecemos, na qual o professor entrega um texto desconhecido para o aluno e o faz ler em voz alta e sem o prazer de ler, descobrir, conhecer, informar-se através da mesma.

As propostas pedagógicas adotadas pela escola não são colocadas em prática por alguns professores, muitas vezes dificultando e gerando desinteresse por parte dos alunos. Sugere-se então que os professores adotem técnicas e tecnologias que sejam atrativas e que chame a atenção dos alunos. Por que não levarem para sala de aula algo que despertaria a curiosidade, algo desafiador, onde a aprendizagem aconteceria de forma prazerosa para o aluno e divertido até mesmo para o educador.

È preciso dizer também que nem todos os problemas de leitura estão centrados na problemática didático-metodológica da prática educativa dentro da escola, a tarefa de educar tem que ser responsabilidade de todos e cada professor deve possuir seu próprio método de ensino na prática da leitura, deixando de lado a definição de "métodos" como um caminho único para atingir certos objetivos da situação de aprendizagem.
Um artigo de uma revista fez o seguinte questionamento; de quem é a culpa quando uma criança não é alfabetizada"?.
Segundo Teberosky (revista Nova Escola, 2005, p. 24):

"A responsabilidade é de todo o sistema, não apenas do professor. Quando a escola acredita que a alfabetização se dá em etapas e primeiro ensina as letras e os sons e mais tarde induz à compreensão do texto, faz o processo errado. Se há separação entre ler e dar sentido, fica difícil depois para juntar os dois".

No contexto das dificuldades de aprendizagem da leitura e escrita, acreditamos que o aluno deva compreender que a leitura vai além da decodificação das letras, e que o ato de ler vai além da escrita, só assim irá começar a estabelecer uma ligação afetiva entre criança e as coisas ao seu redor. Em primeiro lugar precisamos descobrir o gosto dos alunos. A leitura que escolhemos será que vai ser interessante a eles? Será que vai falar de sua vida, seu espírito e seus anseios? Com esta leitura o que ganhará o aluno? É necessário nos preocuparmos com estas questões se realmente quisermos que nossos alunos aprendam a ler e principalmente gostem de ler. Para que isso aconteça devemos saber como o aluno se encontra com referencia ao conhecimento de mundo.
Para Joana Cavalcante (1999:17) ser leitor implica uma série de coisas com relação a experiência vivida, não somente em relação ao livro, mas também em relação a tudo que nos remete a formular uma visão do mundo. O olhar que procura cores, formas, imagens, também aprende os sons, cheiros, texturas, enfim tudo é percepção e a função do olhar esta por todos os lugares procurando sentido e significado. Sendo assim, a formação do leitor deve levar em conta o aprimoramento da experiência de vida. Para que isso aconteça podemos utilizar: quadrinhos, revistas, jornais, anúncios, bilhetes, cartas, rótulos, bulas, avisos, classificados, poemas, contos e outros. Com isso estamos facilitando o acesso desses alunos ao mundo da leitura. O hábito da leitura dispensa a sistematização do ensino e de regras gramaticais e faz o aluno depreendê-las do contexto de maneira mais agradável. A informação do que se vai ler, parte do professor de maneira clara, mas sempre deixando algo que deve ser descoberto pelo educando, e logo será discutido e debatido em sala, quando sabe que será ouvido, o aluno sente que faz parte do processo educativo e é muito mais fácil motiva-lo desta maneira fazendo dele nosso interlocutor, trocando idéias de verdade. Este já deveria ser um hábito rotineiro do professor, que é também um aprendiz em sua prática diária. O afeto é uma das melhores formas de chegarmos a um bom resultado. Palavras de encorajamento e de apoio só fazem melhorar o desempenho de nossos alunos.


A IMPORTÂNCIA DA INTERAÇÃO DA FAMÍIA NO AMBITO ESCOLAR
Em seu lar a criança experimenta o primeiro contato social de sua vida, convivendo com sua família e os entes queridos. As pessoas que cuidam das crianças, em suas casas, naturalmente possuem laços afetivos e obrigações específicas, bem como diversas das obrigações dos educadores nas escolas. Porém, esses dois aspectos se complementam na formação do caráter e na educação de nossas crianças.
A participação dos pais na educação dos filhos deve ser constante e consciente. A vida familiar e escolar se completa. Muitas vezes , infelizmente a família tem deixado somente a cargo da escola a educação de seus filhos, sabe-se que quando pais, alunos, e professores caminham junto o resultado é mais satisfatório . Algumas famílias pecam ao procurar a escola somente quando seus filhos apresentam notas baixas, sendo que a responsabilidade pela educação dos alunos deve ser partilhada entre família e escola.
Os pais e educadores não podem perder de vista que, apesar das transformações pelas quais passa a família, esta continua sendo a primeira fonte de influência no comportamento, nas emoções e na ética da criança.
Vimos que quando acontece a interação entre pais e escola, o docente sente-se mais assistido, com isso apresenta uma melhora significativa em seu rendimento escolar. Observa-se que cada família possui uma identidade própria, há famílias que apresentam grau de escolaridade um pouco mais avançado, com isso os filhos tendem a serem mais críticos, participativos e com nível de leitura e interpretação de textos mais satisfatórios, do que os apresentados por alunos oriundos das camadas populacionais com maiores problemas socioeconômicos, onde em seus lares nunca presenciaram os pais com um livro nas mãos. Cabe à escola então, reconhecer a necessidade de integração da família no processo pedagógico. Como fonte podemos citar: Estatuto da Criança e do Adolescente (Lei 8069/90), nos artigos 4º e 55; Lei de Diretrizes e Bases da Educação (Lei 9394/96), artigos 1º, 2º, 6º e 12; Plano Nacional de Educação (aprovado pela Lei nº 10172/2007), que define como uma de suas diretrizes a implantação de conselhos escolares e outras formas de participação da comunidade escolar (composta também pela família) e local na melhoria do funcionamento das instituições de educação e no enriquecimento das oportunidades educativas e dos recursos pedagógicos. Citamos ainda, a Política Nacional de Educação Especial, que tem como uma de suas diretrizes gerais: adotar mecanismos que oportunizem a participação efetiva da família no desenvolvimento global do aluno. È louvável a iniciativa do MEC, que instituiu a data de 24 de abril como o Dia Nacional da Família na Escola. Nesse dia, todas as escolas são estimuladas a convidar os familiares dos alunos para participar de suas atividades educativas, pois segundo declaração do ex-Ministro da Educação Paulo Renato Souza "quando os pais se envolvem na educação dos filhos, eles aprendem mais". A família deve, portanto, se esforçar em estar presente em todos os momentos da vida de seus filhos. Presença que implica envolvimento, comprometimento e colaboração. Deve estar atenta a dificuldades não só cognitivas, mas também comportamentais. Deve estar pronta para intervir da melhor maneira possível, visando sempre o bem de seus filhos, mesmo que isso signifique dizer sucessivos "nãos" às suas exigências. Em outros termos, a família deve ser o espaço indispensável para garantir a sobrevivência e a proteção integral dos filhos e demais membros, independentemente do arranjo familiar ou da forma como se vêm estruturando (KALOUSTIAN, 1988).
Ao possibilitar um maior convívio com a comunidade, através de projetos integrados, a escola estará garantindo condições de aprendizagem a todos os alunos, e esse espaço de aprendizagem se concretizará em um espaço mágico onde todos os saberes serão compartilhados.



CONSIDERAÇÕES FINAIS


Os muros que separam a escola e a família são muitas vezes, mais que uma barreira física. È visando quebrar essa barreira que é urgente e necessário que a escola abra suas portas para um trabalho integrado com a família. Ao primar o acesso dos alunos a esse mundo que lhes oferece a construção de novos saberes, a conexão entre escola e família promove não apenas uma ascensão intelectual, mais o despertar da leitura para a formação integral do cidadão consciente engajado na sociedade em que vive e na possibilidade de troca que ele pode manter com ela articulando melhores espaços fundamentais em uma ação educativa.
Os professores devem ser desafiados a desenvolverem posturas e instrumentos metodológicos que possibilite o aprimoramento do seu olhar sobre o aluno, de tal forma que se conheçam as dimensões culturais em que estão inseridos.
È possível mudar a situação do ensino atual. Uma nova mentalidade sobre a concepção de escola e família deve ser disseminada em nossas escolas. E, além disso, o que se pretende alcançar com êxito é a prática de iniciativas com desafios a superar os problemas existentes, pelas melhorias na educação. Logo, cabe a cada um assumir com responsabilidade e desenvolver melhor o seu papel dentro e fora da escola.
Consideramos o mundo da leitura maravilhoso e cabe a cada profissional de educação abrir as portas deste mundo aos alunos. E citando mais uma vez Lajolo (2007:7), que diz: "ninguém nasce sabendo ler, aprende-se a ler à medida que se vive".

REFERÊNCIAS:

LAJOLO, Marisa (2001) " Do mundo da leitura para a leitura do mundo" p. 07. 6º ed. Editora Ática ? São Paulo.
KALOUSTIAN, S. M. (org) Familia Brasileira, a base de tudo, São Paulo: Cortez; Brasília, DF: UNICEF, 1988.
CAVALCANTE, Joana (1999) "Em El mundo de La lectura: La lectura de mundo. Pp. 17 ? 18.
TEBEROSKY, Ana Debater e opinar estimulam a leitura e a escrita. Revista Nova Escola, Editora Abril, São Paulo, p. 24, novembro 2005.
Klein, Ligia Regina Fundamentos Teóricos da Língua Portuguesa: Fundação Biblioteca Nacional ? Curitiba ? PR.