CONCEITO DO LATIM VULGAR

JOÃO KLEBER DE SOUSA NOBRE
MARIA ELISANELMA DIAS FREIRE
OSMARINA ALCÂNTARA COELHO

RESUMO

"Latim vulgar" era o latim essencialmente falado pela grande massa popular menos favorecida e quase que inteiramente analfabeta do Império Romano. O latim é uma antiga língua indo-européia do ramo itálico originalmente falada no Lácio, a região do entorno de Roma. Foi uma língua propositalmente ignorada pelos gramáticos e escritores romanos, pois, era considerada indigna de consideração. No campo político Roma principiava longas conquistas externas e com isso levavam para os domínio conquistados os hábitos e costumes de vida e, sob o influxo de multíplos fatores, diversificou-se com o tempo nas chamadas línguas romanicas.

Palavras-chave: Latim vulgar. Massa popular. Indo-europeia. Roma.

ABSTRACT

"Vulgar" was essentially Latin spoken by the great mass of people less privileged and almost entirely illiterate of the Roman Empire. Latin is an ancient Indo-European branch italics originally spoken in Latium, the region immediately surrounding Rome. It was a language deliberately ignored by grammarians and Roman writers, it was considered unworthy of consideration. In the political field outside Rome was begnning longs reaches and thus led to the field won their custms and habits of life, and , and under the influence of multiple factors, diversified over time into so-called Romance languages.

Key words: Latin vulgar. Mass people. Indo-European. Rome.


INTRODUÇÃO

A princípio, o que existia era simplesmente o latim. Depois, o idioma dos romanos se estiliza, transformando-se num instrumento literário. Passa então a presentar dois aspectos, que com o correr do tempo se tornam cada vez mais distintos: o latim clássico e o vulgar. Não eram duas línguas diferentes, mas dois aspectos da mesma língua. Um surgiu do outro, como a árvore da semente.
Essa pesquisa será realizada mediante revisão bibliográfica, onde abordaremos com maior ênfase o latim vulgar, sua importancia e peculiaridades para que com isso o tema seja melhor compreendido tendo em vista sua importância no princípio da linguagem romanica e suas transformações no decorrer da história.
A prioi, o presente artigo será publicado na internet com o objetivo de divulgar o tema e com isso ampliar conhecimentos, contribuindo assim com o processo de construção e disseminação do conhecimento.

1 A ORIGEM DO LATIM

O latim era o idioma oficial do império romano. Como toda e qualquer lingua, compreendia uma modalidade clássica, falada e sobretudo escrita pelas classes sociais mais elevadas, bastante uniforme em função da influência estabilizante do ensino e da cultura. É uma modalidade popular, despreocupada e espontânea, chamada latim vulgar.Deste latim falado, sem pretensões literárias e muito diferente da forma clássica, derivam- se todas as línguas romanicas ou neolatinas.
Roma tinha a vocação inata de conquista e chegou a ocupar territórios em toda a Europa,, norte da África e Ásia. Esses territórios eram invadidos por soldados que falavam o latim vulgar. Após a conquista, comerciantes e colonos romanos instalavam-se nessas regiões e intensificavam o intercâmbio linguistico com os povos recém conquistados. Como afirma (OLIVEIRA 1994, p.22) "O latim era imposto e aceito com relativa facilidade não só porque era uma lingua mais evoluida que a dos povos vencidos, mas sobretudo por ser a lingua dos vencedores".
De acordo com Coutinho, 2005 p. 29 o latim apresenta dois aspectos que com o correr do tempo, se tornam cada vez mais distintos: o clássico e o vulgar. Chama-se latim vulgar o latim falado pelas classes inferiores da sociedade romana inicialmente e depois de todo o império Romano. Nessas classes estava compreendida a imensa multidão das pessoas incultas que eram de todos indiferentes às criações do espírito, que não tinham preocupações artísticas ou literárias, que encaravam a vida pelo lado prático, objetivamente. Como afirma COUTINHO(2005,p.30) a estas pertenciam.

os soldados (milites), os marinheiros (nautae), os artifices (fabri), os agricultores (agricotae), os barbeiros (tonsores), os sapateiros (sutores), os taverneiros (caupones), os artistas de circo (histriones), etc., homens livres e escravos, que se acotovelavam nas ruas, que se comprimiam nas praças que frequentavam o forum, que superlotavam os teatros, a negócio ou em busca de diversões, toda essa gente, em fim que se passara pela escola, dela só conservara os conhecimentos mais necessários ao exercicio da sua atividade.

A denominação latim vulgar, embora um tanto imprópria, tornou-se termo técnico da linguistica. Por ela devemos entender, de acordo com B.E.Vidos, citado por CUNHA e CINTRA (2008, P. 11) " a lingua falada por todas as camadas da população e em todos os períodos da latinidade".
Ainda sobre a expressão latim vulgar, embora geralmente admitida é imprópria para significar o que com ela se pretende. Por isso, tem-se procurado corrigir essa impropriedade, substituindo-as por outras. Convém citar a este respeito o que diz o Prof. Serafim da Silva Neto, por COUTINHO (2005, p.30) "Às variedades da língua falada chamaremos sermo usualis, latim corrente, latim coloquial _ fugindo a expressão latim vulgar, que é muito defeituosa".
O latim vulgar era mais simples em todos os níveis, mais expressivo, mais concreto e mais permeável a elementos estrangeiros, pois continuou se transformando ao longo dos séculos até que em mais ou menos 600 d.C. já constituía os primeiros "romances" (ou seja, as primeiras manifestações das línguas românicas, muito próximas ainda do latim vulgar) e depois, a partir do séc. IX, as línguas românicas.

O latim vulgar é, na verdade, um latim popular que existiu em todas as épocas da língua latina. Este latim pertencia a uma população que era muito pouco ou nada escolarizada e que, portanto, não poderia ter sido influenciada pelos modelos literários e pela escola (cf. Herman, 1967: 16).

Meillet (Esquisse, p. 239) fala sobre o latim vulgar como um conjunto de tendências que se manifestavam diferentemente conforme o maior ou menor grau de educação dos que o falavam, e segundo o tempo e os lugares onde era falado. Porém, é surpreendente que apesar da variabilidade cronológica, social e geográfica, o latim vulgar possuía uma homogeneidade suficientemente extensa para que fosse entendido em seu vasto território. Havia uma unidade no latim vulgar, que fazia dele uma espécie de koiné latin Quintiliano (Inst. Orat. 1, 5, 29) observou que a norma latina era relativamente simples, porque em latim não havia dialetos, o que não acontecia com o grego (Apud Väänänen: 1981 p. 20).
O latim vulgar tinha, desde a época de Plauto, e ainda mais, a partir de Cícero, peculiaridades gerais suficientes para dar-lhe um aspecto mais ou menos definido em oposição ao sermo urbanus e ao sermo litterarius. Segundo Maurer Jr. (1962), essas diferenças vinham de três fatores principais. O primeiro fator era por que o latim vulgar representava a língua do povo comum, da plebe romana, enquanto o latim clássico era um produto da sociedade aristocrática. A enorme oposição social entre essas duas classes se refletia na língua e que era capaz de explicar as diferenças no vocabulário e na sintaxe. O segundo é que o latim clássico, apesar de ter-se originado em um latim vivo e falado, é, em geral, mais conservador e arcaizante do que o latim vulgar. O terceiro fator deve-se ao fato de o latim vulgar ser fruto de uma população heterogênea, que empregava mal a língua latina, corrompendo-a. Sem esquecer que a criação da literatura é obra de estrangeiros, basta citar Lívio Andronico, Ênio, Plauto, Terêncio. O próprio Cícero (Apud Maurer Jr., 1962: 65 96) afirma que o falar da cidade, em seu tempo, era diferente do século anterior, no qual ainda se ouvia o bom latim, embora já assinale a existência de uma linguagem corrompida em muitas famílias do século II a.C. Ele atribui a deturpação do latim à invasão de estrangeiros que falavam mal a língua (Brutus, 210, 213, 258).
Diferenças entre o sermo plebeius e o sermo urbanus estão presentes na pronúncia, no vocabulário, na sintaxe, e na morfologia. A distância que separava o latim vulgar do latim culto era a princípio pequena, mas já podia ser vista a partir do séc. IV a.C. O vocabulário era, em boa parte o mesmo, sobretudo o que servia para o uso da vida cotidiana. O latim vulgar nunca se isolou completamente da língua literária, pois sempre houve um convívio constante entre todas as classes, através do teatro, às vezes pela escola e, mais tarde, pela Igreja. Portanto, existiu sempre uma contribuição limitada, porém contínua, da língua clássica para a popular. Como cita Cintra e Cunha (2008, p. 11).

Falado em tamanha área geográfica, por povos de raças tão diversas, o latim vulgar não poderia conservar a sua relativa unidade, já precária como a de toda língua que serve de meio de comunicação a vastas e variadas comunidades de analfabetos.

Não é possível supor que o sermo urbanus em contato permanente com o vulgares, não se deixasse penetrar de certos vulgarismos, como também não se pode negar que a língua do povo contivesse palavras ou expressões pertencentes à língua culta.
Finalmente, cabe citar o seguinte trecho de Maurer Jr., O problema do latim vulgar, p.69, onde a questão da diferença entre as duas formas de língua latina falada está tão bem colocada:

É perfeitamente razoável dizer (...) que a língua falada latina apresenta matizes diversos e uma gradação contínua desde a linguagem inculta dos plebeus proletários dos bairros pobres de Roma até o falar elegante das pessoas mais cultas da alta sociedade. Enquanto, porém, nessa forma elegante a língua falada divergia relativamente pouco da língua dos textos literários ? pelo menos na época de Cícero -, nas camadas inferiores da sociedade romana e, mais tarde, na população latinizada do Império, esse latim apresentava outro aspecto: admitia inovações revolucionárias (...).

O latim integra as línguas itálicas e seu alfabeto baseia-se no alfabeto itálico antigo, derivado do alfabeto grego. No século IX a.C. ou VIII a.C., o latim foi trazido para a península Itálica pelos migrantes latinos, que se fixaram numa região que recebeu o nome de Lácio, em torno do rio Tibre, onde a civilização romana viria a desenvolver-se. Naqueles primeiros anos, o latim sofreu a influência da língua etrusca. Embora o latim seja hoje uma língua morta, com poucos falantes fluentes e sem que ninguém o tenha por língua materna, ainda é empregado pela Igreja Católica. Exerceu enorme influência sobre diversas línguas vivas, ao servir de fonte vocabular para a ciência, o mundo acadêmico e o direito. O latim vulgar, um dialeto do latim, é o ancestral das línguas neolatinas (italiano, francês, espanhol, português, romeno, catalão, romanche e outros idiomas e dialetos regionais da área); muitas palavras adaptadas do latim foram adotadas por outras línguas Modernas.
O latim ainda é a língua oficial da Cidade do Vaticano e do Rito Romano da Igreja Católica. Foi a principal língua litúrgica até o Concílio Vaticano Segundo nos anos 1960. O latim clássico, a língua literária do final da República e do início do Império Romano, ainda hoje é ensinado em muitas escolas primárias e secundárias, embora seu papel se tenha reduzido desde o início do século XX. Como diz Bassetto (2005, p.17).

Inicialmente, o latim usado pela Igreja estava mais próximo da variedadevulgar, uma vez que os apóstolos, em sua maioria, não eram homens letrados,e o maior número dos que abraçavam a nova fé eram pessoas humildes e incultas. Posteriormente, a partir do século IV, o latim eclesiástico se aproxima da norma literária através dos escritos dos Padres e Doutores da Igreja, ainda que mantenha ponto de contato com a língua do povo, sobretudo nos primeiros séculos. (...) Enquanto o latim vulgar e, com ele, o latim cristão, se fragmentava em numerosos dialetos, durante a fase "romance" das línguas românicas, o latim, herdeiro da tradição literária romana, tornou-se a língua da Igreja.

A expansão do Império Romano espalhou o latim por toda a Europa e o latim vulgar terminou por dialetar-se, com base no lugar em que se encontrava o falante. O latim vulgar evoluiu gradualmente de modo a tornar-se cada uma das distintas línguas românicas, um processo que continuou pelo menos até o século IX. Tais idiomas mantiveram-se por muitos séculos como línguas orais, apenas, pois o latim ainda era usado para escrever. Por exemplo, o latim foi a língua oficial de Portugal até 1296, quando foi substituído pelo português. Estas línguas derivadas, como o italiano, o francês, o espanhol, o português, o catalão e o romeno, floresceram e afastaram-se umas das outras com o tempo.
O latim vulgar evoluiu gradualmente de modo a tornar-se cada uma das distintas línguas românicas, um processo que continuou pelo menos até o século IX. Tais idiomas mantiveram-se por muitos séculos como línguas orais, apenas, pois o latim ainda era usado para escrever. Por exemplo, o latim foi a língua oficial de Portugal até 1296, quando foi substituído pelo português. Estas línguas derivadas, como o italiano, o francês, o espanhol, o português, o catalão e o romeno, floresceram e afastaram-se umas das outras com o tempo.
Como o contacto com o latim escrito se manteve ao longo dos tempos, mesmo muito depois de o latim deixar de ter falantes nativos, muitas palavras latinas foram sendo introduzidas em muitas línguas. Este fenómeno acentuou-se desde o Renascimento, altura em que a cultura clássica foi revalorizada. Sobretudo o inglês e as línguas românicas receberam (e continuam a receber) muitas palavras de origem latina, mas bastantes outras línguas também o fizeram. Em especial, muitos novos termos dos domínios técnicos e científicos têm na sua base palavras latinas.
Atualmente, a terminologia latina é amplamente usada nas áreas de filosofia, medicina, biologia e direito, dentre outras, em termos e abreviações como lato sensu, etc., i.e., inter alia e outros. As palavras latinas são empregadas isoladamente, como termos técnicos. Nos casos em que é importante empregar uma língua neutra, como em nomes científicos de organismos, costuma-se usar o latim. Alguns filmes, como A Paixão de Cristo, apresentam diálogos em latim.
Embora a literatura romana sobrevivente seja composta quase inteiramente de obras em latim clássico, a língua falada no Império Romano do Ocidente era o latim vulgar, que diferia do primeiro em sua gramática, vocabulário e pronúncia.
O latim manteve-se por muito tempo como a língua jurídica e governamental do Império Romano, mas com o tempo o grego passou a predominar entre a elite culta, já que grande parte da literatura e da filosofia estudada pela classe alta romana havia sido produzida por autores gregos, em geral atenienses. Na metade oriental do Império, que viria a tornar-se o Império Bizantino, o grego terminou por suplantar o latim como idioma governamental, e era a língua franca da maioria dos cidadãos orientais, de todas as classes.
Contido durante muito tempo, em suas expansões naturais, pela ação dos gramáticos, da literatura e da classe culta, o latim vulgar se expande livremente mais tarde, com a ruína do Império Romano e o avassalamento dos seus domínios pélas hordas barbaras, cuja consequencia foi, e não podia deixar de ser, o fechamento das escolas e o desaparecimento da aristocracia, onde se cultivavam as boas letras.
No estudo do latim vulgar, deve-se salientar a importância das obras dos escritores da decadência Romana, sobre tudo daqueles que, visando a um objetivo superior, escreviam com simplicidade, sem a preocupação da gramática e do estilo. Neste número, estão os escritores cristãos. Onde o latim apresenta variações conforme o período histórico que se examina:
 Pré-clássico, do século VII a.C. ao século II a.C.. As inscrições mais antigas procedem do século VII a.C. Nos séculos III e II a.C. a literatura faz sua aparição, sob influência grega (Plauto, Terêncio).
 Clássico, do século II a.C. ao século II d.C. A idade dourada da literatura latina.
 Latim vulgar, incluindo o período patrístico, do século II ao V, inclusive a Vulgata de São Jerônimo e as obras de Santo Agostinho.
 Período medieval, do século VI ao século XIV; surgem as línguas românicas.
 Período renascentista, do século XIV ao XVII.
 Neolatim (ou latim científico), do século XVII ao século XIX.
Após a sua transformação nas línguas românicas, o latim continuou a fornecer um repertório de termos para muitos campos semânticos, especialmente culturais e técnicos, para uma ampla variedade de línguas.
1.1 AS CARACTERÍSTICAS DO LATIM VULGAR CONFORME COUTINHO:

1.1.1 No vocabulário:

a. Pela preferência dada as palavras compostas, derivadas ou exoressões perifrásicas: accu?ist; (iste), depost (post), fortimente (fortiler);

1.1.1.1 Na fonética:

a) Pela redução dos ditongos e hiatos a simples vogais: plostrum(plaustrum), orum (aurum), preda (praeda).
b. Pela transformação ou queda de alguns fonemas: justicia (iustilia), cocere (coquere).
c. Pelo obscurecimento dos sons finais: es (est), dece (decem).
d. Pela tendencia a evitar palavras proparoxítonas: masclus (masculus), domnus (dominus).
e. pela tansposicãodo acento tônico, em circunstâncias especiais: cathédra (cáthedra), intégrum (íntegrum).
f. Pela confusão reinante entre i e e, sobretudo em hiato: famis (fames), nubis (nubes).
g. Pela desnasalização ou quedq do n no grupo ns ou nf: asa (ansa), iferi (inferi).
h. Pelas frequentes assimilações: isse (ipse), pessicum (persicum), dossum (dorsum), grunnio (grundio).
i. Pela prótese de um i nos grupos iniciaisst, sp, sc: istare (stare), ispiritus (ispiritus).

1.1.1.2.1 Na morfologia:

a. Pela redução das cinco declinações do latim clássico a três, proveniente da confusão da quinta com a primeira e da quarta com a segunda: dia, ae (dies, ei), glacia ae (glacies, ei);frctus, i (fructus, us),gemiotus, i (gemitus, us);
b. Pela redução dos casos, tendo-se conformado, em todas as declinações, o vocativo com o nominativo; o genitivo, dativo e ablativo, já desnecessários pelo emprego mais frequente das preposições, com o acusativo: cum filios (cum filiis),ex litteras (ex litteris), saturninus cum discentes(cum discentibus);
c. Pela tendência em tornar masculinos os nomes neutros quando no singular: vinus (vinum), falus (falum), templus (templum); e femininos, quando no plural: folia), (gen.foliae);
d. Pela substituição das formas sintéticas do comparativo e superlativo pelas analíticas: plus ou magis certus (certior), mullum justus (justíssimus);
e. Pelo uso do demonstrativo ille, illa, e do numeralunus, una,como artigo: ille homo, illa domus, unum templum;
f. Pela confusão nas conjuções: florire (florere), lucire (lucere), ridire (ridere), sapére (sápere) cadére (cádere).
g. Pela formação analógica de alguns infinitivos irregulares: essere (esse), polere (posse), rolere (relle);
h. Pela transformação dos verbos depoentes em ativos: sequo (sequor), mentio (mentior), irasco (irascor).
i. Pela substituição do futuro imperfeito do indicativo por uma perífrase em que entrava o infinitivo de um verbo e um o indicativo de habere: amare habeo (amabo), debere habeo (debedo), audire habeo (audiam);
j. Pelo emprego de uma perífrase verbal, contituida pelo infinitivo e o imperfeito do indicativo de habere, que deu origem ao nosso condicional: amare habebam, audire habebam;
k. Pelo uso do mais-que-perfeito do subjuntivo pelo imperfeito do mesmo modo: amassem (amarem), legissem (legerem), audissem (audirem);
l. Pelo emprego de perífrases, formadas pelo sum e particípio passado de outro verbo, em lugar ads formas passivas sintéticas: amatus sum (amor), captus sum (capior), auditus sum (audior);


2 NA SINTAXE:

a. Pelas construções analíticas: credo quod terra est rotunda por credo terram esse rotundam;
b. Pela regência diferente de alguns verbos: persuadere aliquem, maledicere aliquem;
c. Pelo emprego mais frequente das preposições em vez dos casos: dedi ad patrem (dedi patri), liber de pedro (petri liber);
d. pela ordem direta.
Observa-se que no nível fonético, o latim vulgar caracteriza-se sobretudo pelo fato de evitar as palavras pronunciadas como proparoxítonas. No nível lexical, predomina o uso de vocabulários mais caracteristicamente populares e afetivos com sufixos diminutivos. Cícero empregara vários diminutivos(febrícula, nauseola, etc.), mas Catulo e Petrônio empregava mais abundante ainda (amiculus (amiguinho), basiolum (beijinho), etc. No nível morfológico, nota-se uma tendência natural para o uso de formas analíticas, que funcionam, em alguns casos, como marcas de expressividade. Já no nível sintático, manifesta tendência para o uso de formas analíticas, pela introdução de preposições, artigos, pronomes redução dos casos, e pela preferência na utilização das orações substantivas desenvolvidas. Igualmente característico da linguagem corrente é o gosto pelo concreto: mulier (mulher) em vez de uxor (esposa).

3 A TRANSFORMAÇÃO DO LATIM VULGAR EM DIALETO

Com a queda e fraguimentação do Império Romano sucede-se a supressão dos elementos unificadores do idioma. Isto é, o latim vulgar, já substancialmente modificado pela ação do substrato linguistico peninsular, perde progressivamente terreno e desenvolve-se diferentemente em cada região. Isto equivalerá dizer que o latim vulgar se dialetou, sobretudo devido à invasão bárbaro-germânica. Como afirma OLIVEIRA (1994, P.24).

O latim por influência do substrato e do superstrato, tornou-se cada vez mais dialetado e mais afastado da língua falada pelos conquistadores romanos. Houve então, um periodo intermediário da evolução das línguas românicas durante o qual a língua utilizada não era a latina, tampouco as neolatinas atuais, mas o latim vulgar modificado pelos diferentes substratos regionais e pelos superstratos dos conquistadores bárbaros.

A esse período dá-se o nome de romance ou romanço. Pois alguns fatores históricos vieram contribuir para ativar o processo de dialetazação,como o edito de Caracala que estendera o direito de cidadania a todos os indivíduos livres do império, com o que Roma e Itália perderam a situação privilegiada que desfrutavam.
Diocleciano, que governou de 284 a 305, instituiu a obrigatoriedade do latim como língua da administração. Mas, contraditoriamente, anulou os efeitos dessa medida unificadora ao descentralizar política e administrativamente o Império em doze dioceses, caminho aberto para o aguçamento de nacionalismos regionais e locais. Nasce nesse momento, as nacionalidades modernas.
Em 330, Constatino, que se tornara defensor do cristianismo, transferiu a sede do Império para Binzâncio, a nova constatinopla.
Com a morte de Teodósio em 395, o vasto domínio foi dividido entre os seus dois filhos, cabendo a Honório o Ocidente, e a Arcádio o Oriente.
As forças linguisticas desagregadoras puderam então agir livremente, e de tal forma que, em fins do século V, os falares regionais já estariam mais próximos dos idiomas românicos do que do próprio latim. Começa então o periodo do romance ou romanço, denominação que se dá a língua vulgar nessa fase de transição que termina com o aparecimento de textos redigidos em cada uma das línguas românicas.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O latim vulgar, um dialeto do latim é o ancestral das línguas neolatinas (italiano, francês, espanhol, português, romeno, catalão, romanche e outros idiomas e dialetos regionais da área); muitas palavras adaptadas do latim foram adotadas por outras línguas modernas, como o inglês. O fato de haver sido a lingua franca do mundo ocidental por mais de mil anos é prova de sua influência.
Com isso, esperamos que este artigo tenha contribuído para divulgar a importância do latim vulgar no princípio da linguagem românica. Durante a pesquisa pudemos observar que o latim vulgar é disprovido de regras gramaticais, mas rica em concretude e em expressividade, que dará origem às línguas românicas. É a língua da massa popular que esteve sempre esquecida e completamente dissociada do latim literário, já que o que se vê, mais comumente, é o ensino do latim clássico como uma língua artificial, oposta à falada na variedade plebéia, porém, sem nenhum vínculo com a língua culta falada.
Fazia parte dessa classe pessoas incultas que eram de todas indiferente às criacões do espírito, que não tinham preocupações artísticas ou literárias, que encaravam a vida pelo lado prático e objetivo. A esta pertenciam os soldados, marinheiros, agricultores, barbeiros, sapateiros, camponeses, artistas de circo, homens livres e escravos.
Essas pessoas que utilizavam o latim vulgar, não objetivavam alcançar um nível culto e sim o seu trabalho em no seu dia-a-dia.não visavam portanto, as inovações clássicas.
O latim é a língua materna das civilizações ancestrais. Hoje é considerado como língua morta tendo portanto, pouco falante fluente. A igreja católica é uma das únicas instituições que ainda hoje usa o latim em sua contextualização.

REFERÊNCIAS

AUERBACH, Erich. Introdução aos estudos literários. Trad. de José Paulo Paes. São Paulo: Cultrix, 1972.

BASSETTO, Bruno Fregni. Elementos de filologia românica. São Paulo: Edusp, 2001.

BOLÉO, Manuel de Paiva. Introdução ao estudo da Filologia Portuguesa. Lisboa: Revista de Portugal, 1946.

COUTINHO, Ismael de Lima. Gramática Histórica. 19° ed. Rio de Janeiro: Ao Livro Técnico, 2005.

CUNHA, Celso; CINTRA, Luiz F. Lindley. Nova Gramática do Portugues Contemporâneo. 5° ed. Rio de Janeiro: Lexicon, 2008.

??????. Gramática do latim vulgar. Rio de Janeiro: Acadêmica, 1959.

HERMAN, József. Le latin vulgaire. Paris: Presses Universitaires de France, 1967.

JUNIOR MAURER, Theodoro Henrique. A unidade da România ocidental. USP/FFLCH, 1951.

MAROUZEAU, Jules. Traité de stylistique latine. Paris: Les Belles Lettres, 1946.

MARTINS, Maria Cristina. "Um confronto entre o latim das cartas de Cícero e das do "soldado tiberiano" e de "Rustius Barbarus": aspectos lingüísticos, filológicos e gramaticais". São Poulo: Bassetto, 2004.

??????. O problema do latim vulgar. Rio de Janeiro: Acadêmica, 1962.

OLIVEIRA, Ana Tereza P. Manual Compacto de Redação e Estilo: Teoria e pratica. 2° ed. São Paulo: Ridel, 1994.

MEILLET, Antoine. Les dialectes indo-européens. Paris: Klincksieck, 1908.

MEILLET, A.; VENDRYES, J. Traité de grammaire comparée des langues classiques. Paris: Ancienne Edouard Champion, 1928.
SAID ALI, M. Gramática Histórica da Língua Portuguesa. São Paulo: Melhoramentos, 1964.

SILVA NETO, Serafim. Manual de Filologia Portuguesa. Rio de Janeiro: Acadêmica, 1952.