Inicialmente uma língua sintética, cujas características fundamentais são o uso de desinências específicas para expressão das funções sintáticas das palavras na frase e de uma ordem mais livre de colocação dos termos na oração, o latim transformou-se nas línguas românicas, entre elas o português, uma língua completamente analítica.

Em primeiro lugar, é preciso ressaltar que a língua que se desenvolveu a ponto de constituir um novo idioma, com características e formas de expressão distintas e próprias, não foi o latim literário, artificial, usado pelos grandes escritores, mas o latim popular ou vulgar, realmente falado pelo povo romano.

Como a língua falada está em constante evolução e tende sempre à simplificação das formas vocabulares, conforme atesta a fonética histórica com o estudo das leis que regem a evolução dos vocábulos, torna-se compreensível o porquê de mudanças tão profundas sofridas pelo idioma do Lácio. Essas alterações fônicas foram os principais fatores que contribuíram para simplificar a morfologia latina, sobretudo a perda do traço de quantidade da vogal, que funcionava como traço distintivo principalmente de nomes e verbos latinos, e o enfraquecimento das consoantes finais.

O sistema de casos do latim logo se simplificou devido à confusão entre as declinações dos nomes em geral, pois a sistematização dos nomes em cinco grupos paradigmáticos era artificial e a linguagem do povo sentia-se confusa diante da semelhança de desinências casuais e da possibilidade de declinar palavras em um ou outro dos grupos estabelecidos.

Caído o sistema casual, a nova língua deveria criar artifícios para expressar as relações das palavras na frase, que teria uma ordem mais rígida e direta, e intensificar o uso das preposições. Essa simplificação também ocorreria com os verbos por causa da semelhança entre as conjugações e do uso restrito ou do número limitado de verbos de algumas conjugações, como a quarta por exemplo.

No geral, o português inovou em muitos aspectos com relação à língua materna, por causa de sua característica analítica. Entre essas inovações, podem ser citados: criação do artigo definido, inexistente em latim; criação do pronome pessoal de terceira pessoa, que levaria afirmar uma distinção formal entre o acusativo e o dativo com a oposição entre o e lhe; desenvolvimento de uma partícula afirmativa sim, em oposição à partícula negativa; comparativo de inferioridade sem correspondente no padrão flexional latino; relevância no uso das preposições na regência verbal e nominal; formação do feminino em geral em - a e do plural em – s; um padrão impessoal com o verbo haver e mecanismos de colocação, que era livre em latim.

BIBLIOGRAFIA

CAMARA JR, J. Mattoso. História e estrutura da língua portuguesa. 2ed., Rio de Janeiro: Padrão, 1979.