Quando você se foi

havia em cima da mesa um jarro

e dentro uma rosa branca que murchava.

 

E eu olhava a rosa

se despetalando a cada dia útil;

e me sentia inútil enquanto a rosa olhava.


Sobre aquela mesa,

de uma fórmica marrom cruel,

as pétalas caíram todas ao redor do vaso.


Apenas uma ficou,

presa a haste como um papel,

onde a vida não mais escreveria pelo atraso.


E em cada pétala caída

vi esvair-se um pouco de minha vida

num sonho que ia transformando-se em dor.


Já não o teria mais perto.

No leito, seu ser exaurindo-se desperto,

em olhos inquietos que ainda transmitiam calor.


Percebi que as pétalas

(largadas na mesa e ao vento)

eram lágrimas perfumadas do meu coração.


Até que a última - da haste

soltou-se - e trouxe naquele momento

a lágrima mais quente da triste separação.