LABRE – ASSOCIAÇÃO DE RADIO AMADOREES

de Romano Dazzi

 

 

OI,

Então a LABRE ainda vive ?

Não foi coberta pelas areias do tempo e arrastada para o esquecimento, assim como foram meu radio galena, minha máquina de escrever, a calculadora Facit, o duplicador a álcool, o telex e finalmente meu poderoso PY , um Kenwood de santa memória, que tantas satisfações me trouxe?

Quanto mais difícil era se comunicar, mais empenho tínhamos e mais orgulho, mais alegria.

Hoje nem me lembro dos prefixos que usávamos, das abreviaturas que coloriam nossas conversas e que nos faziam parecer diferentes dos mortais comuns.

Em tempos em que se esperava uma hora inteira para falar por telefone com o Rio, a meia noite eu conseguia pegar cinco, seis japoneses nos 20 metros e papeava a vontade.

E a Labre estava aí, acompanhando, orientando, distribuindo os cartões que chegavam de todas as partes do Mundo; organizada, metódica, eficiente; era uma âncora, um porto seguro.  

Mas isso foi uns trinta,  quarenta anos atrás.

O tempo é implacável. Tudo cria e tudo destrói. E no fim, só resta a lembrança.

Hoje, reconheçam, não tem mais graça.

Falo com meu neto (por isso eu a chamo de Interneto) que está na Itália e ele me mostra no monitor o prato de macarrão que está chegando à mesa dele. 

Só faltam os cheiros; mas não me admiraria de descobrir, um dia destes,  que já  chegamos lá – e só eu ainda não sabia.....

Numa tele conferência, você vê o big boss em Nova York,  o gerente do escritório de Macau e o operador na  bolsa de São Petersburgo; todos ao mesmo tempo; e fala com eles, como se estivessem todos sentados em sua sala de visita.

Adeus privacidade!

Naqueles tempos, eu ficava no sótão, de pijama e chinelos, às vezes enrolado num cobertor, tiritando de frio.

Nessas condições, hoje, eu perderia o emprego em  dois tempos.

 

Por isto, Labre, eu  lhe agradeço muito a sua cartinha de aniversário.

Ela trouxe um bom perfume de primavera, para quem já está caminhando a passos largos para o inverno.

 

PY2-DRO agradece a lembrança, o sopro de saudade, vindo diretamente do Tatuapé.

E não há melhor maneira de agradecer, do que enxugar com a manga uma lágrima solitária, que teimou em ficar nos cílios.

 

Romano