Karl Marx, o ‘materialista’! Será?

Este Título trata de um rascunho do preâmbulo de uma monografia para um Curso que espero concluir em breve - exceto colchetes, notas (1, 2 e 3); e o final deste texto.

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(...) Há discussão acerca da tese marxiana2 sobre o processo do crescimento do Capital. Ou, os mecanismos pelos quais se faz ‘o aumento’ ou o ‘mais valor’.

As formulações de Marx pelas quais ele, tanto através de simbologias, quanto pela sua ‘argumentação’ se esforçou para ‘explicar3’ cientificamente ao Mundo de seu tempo o ‘fenômeno do Crescimento, que é a essência do Capitalismo, que até hoje ainda permeiam certas Disciplinas de Estudo!

Para uma ‘crítica especializada’ em fenômenos socioeconômicos de hoje as ‘formulações’ de Marx não expressam satisfatoriamente como se produz o ‘crescimento’ do dinheiro no Capitalismo.

Mais ainda hoje as questões levantadas por Marx sobre o fenômeno do Capital podem ser bem interessantes. Por exemplo, quando ele se afasta da qualidade puramente material do processo, e parte para o aspecto ‘intangível’ do social na explicação do ‘trabalho socialmente necessário’, explorando o lado ou aspecto ‘fantasmagórico’ ou ‘invisível’ da criação do ‘mais-valor’ a partir do ‘labor’ do trabalhador no processo de ‘transformação’ da matéria-prima em mercadoria, além da nova forma que a matéria tomou desses desse labor!

Acontece que apenas o conceito, envolvendo o “lado social do trabalho, que ele chamou ‘trabalho socialmente necessário’ como condição inerente à existência ou ‘a razão da própria existência humana” – sendo que isso deve deixar perplexo e muito decepcionado muitos que “andam procurando ‘quem’ teria inventado o trabalho, para ‘tirá-lo de cena” - por si só já se constitui uma tese complexa. [Imagino a confusão que esse conceito causou na cabeça de D. Ricardo que já antes havia formulado a teoria do ‘mais-valor’, a partir do ‘valor de uso das mercadorias após sua fabricação’. Muito óbvio. Ou, nenhuma novidade há no ‘valor de uso de utilidade dos produtos fabricados’. Se não tivessem valor de uso, para que então seriam fabricadas]?

Idem, o conceito de ‘fluidez’ do trabalho que tende a explicar o sentido de ‘necessidade social do trabalho’ para que seu resultado, a mercadoria, tenha ‘valor de uso’! E daí para frente...

Isso sem contar que Marx se opunha a certo sociólogo libertário francês do séc. XIX, FOURIER (François Marie Charles), que defendia a ideia de trabalho como ‘algo lúdico’; não laboral em sentido de ‘esforço humano’! [Curiosamente – eu até diria, lamentavelmente – no rastro da via crúcis de Marx, essas ideias de ‘trabalho como prazer, lúdico, (...), tendem a prevalecer em detrimento do conceito de trabalho marxiano, nos dias atuais. E, o resultado disso, na prática são serviços que causam milhares de reclamações de consumidores! Pois enquanto esses trabalhadores lúdicos – que eu os apelido de ‘pseudo-trabalhadores’ – se divertem no serviço, os consumidores têm que arcar com péssimos atendimentos, (...) – assunto este que já explorei em outros textos].

Mas, a complexidade dos postulados de Marx, especialmente na sua explicação do processo de mais-valor torna-se evidente a partir do momento que Marx leva a questão do ‘trabalho socialmente necessário’ para o lado ‘abstrato’, indo muito além do aspecto, óbvio, do valor de uso de uma mercadoria. Por exemplo, quando ele conjectura n’O Capital que ‘uma das causas’ da formação do ‘mais-valor’ ou da ‘mais-valia’ por conceitos abstratos! [Conceitos estes que chegam à totalidade na atribuição de valor em tipos de mercadorias cujos preços vem de conceituações simbólicas, por exemplo obras de arte, e afins, avaliadas por ‘sentimentos’, apreço, recordação, e tantos outros paradigmas de ‘valores sociopsicológicos’]!

Surpreende que Marx vê também uma forma de ‘mais-valor’ ou de ‘mais-valia’ – que ele apelidou de ‘fetichista’ - no processo de fabricação de mercadorias de uso! Ou seja, o Autor d’O Capital discerniu fatores abstratos de valoração onde até então outros socioeconomistas - também teóricos sobre o processo do crescimento do valor mercadológico - que, no final, forma o Capital Circulante, ‘Capital Financeiro; e outras formas de capital - não discerniam! Teria algo ‘sobrenatural’ no labor do trabalhador no processo de transformação da matéria–prima em mercadoria de utilidade circulante?!

[Digo aos senhores e senhoras que foi este ‘lado sobrenatural ou fantasmagórico – que para mim foi ‘surpreendente’ em Marx - um dos motivos que selecionei ‘O Processo da mais-valia no Capitalismo’ como um possível Título a defender em Tese. E eu digo ‘um dos motivos’ pois há ainda outros motivos].

Ocorreu-me um dia lendo ‘O Capital’, e deparei-me com termos que aludem a uma visão além da matéria pura em Marx! Isso para mim foi chocante. Percebi o quanto estive por muito tempo ‘pensando injustamente’ ou fazendo um juízo ‘não condizente à verdade’ sobre esse Autor.

Prossegui na leitura até o Capítulo IV, e não tive mais dúvidas! Disse para mim mesmo que se chegasse a final do Curso – devido às dificuldades externas que comentei diversas vezes entre colegas – um possível Tema para eu referir seria este!

Alguém, usando bom nível de seriedade, perguntaria: “te achas mesmo em condição de ‘lavar a alma’, redimir a Marx em algum ponto de suas ideias hoje em dia”?! Minha resposta é: ‘não vem ao caso se tenho competência, ou não. Apenas estou convicto de que resgatar boa parte de Marx, não somente é justo, bem como é dever’! Considero tratar-se de uma ‘dívida’ da História para com o Auto d’O Capital. Ouvi falarem tanto mal de Marx, que quando li ‘O Capital’ senti culpa na consciência por ter acreditado em gente que, se já leu Marx o fez de ‘ponta cabeça’! [E, é com este ponto de vista que trago aos senhores e senhoras este assunto].

Primeiro, porque Marx já foi “pregado” – as aspas aqui não são apenas um sinal gráfico a mais sobrando neste texto; mas tem significado de ‘prego’ como evocação à cruz – e, infelizmente, para ‘muitos que ainda não leram O Capital’, por tempos Marx ainda continuará sendo o ‘modelo de materialista maligno’! E justo, em verdade injustamente, entre os que ‘empunham’ a cruz, por exemplo ‘muitos cristãos’ que deveriam, normalmente, ‘não gostar da cruz’! Seria por causa de um ‘apego mórbido’ à cruz, ou devido à cultura – no caso ‘anti-cultura’ – de ‘pregar’ ou palrar, sem ler antes?! [Ou ainda algo como ‘desonestidade’! Não acredito que chegassem a tal nível de falta de hombridade].

Ocorre que o aspecto abstrato do trabalho do operário que ele considera uma das ‘razões no valor da mercadoria, o ‘fetichismo’, infere, mesmo se negarmos, uma crença em algo bem além do pragmatismo da intangibilidade!

Se Marx fosse um ferrenho ‘materialista’ como ouvi muitas vezes falarem, certamente ele evitaria termos de tão alto teor de imaterialidade que chegam às raias de ‘crença’! O que? Marx, crente?! O julgamento Final, por certo não pertence a mim! Mas, certo mesmo é que não vejo motivo por que, em justiça, no rótulo ‘materialista’ demoníaco em se tratando de Karl Marx!

Seria muito menos incoerente alguém tentar pendurar essa ‘crachá’ em outros peitos, por exemplo, do próprio David Ricardo, e tantos outros que não referiram ao ‘lado abstrato-intangível’ do trabalho desse ponto de vista, ‘crente’! Ou, nenhum além de Marx se manifestou – se por falta de coragem, ou por ‘não ver’ mesmo, não sei - se manifestou sobre esse aspecto ‘do valor invisível’ do trabalho! Isso soa como uma grave ‘falta de foco’, esquizofrenia, e seria até inconsequente para um materialista o fato de ele ‘inferir’ que existe algo de ‘imaterial’ no valor da ‘simples matéria transformada (a mercadoria de uso comum)’! Enquanto os demais teóricos a respeito do crescimento do Capital foram até as questões intangíveis apenas objetivamente - pelo menos na ‘boa fé’, por exemplo ‘os Juros’ através de esquemas da matemática, o ‘acréscimo pelos juros’ do Capital Circulante (...) - Marx discerniu algo bem mais intangível e também difícil de expressar por recursos da inteligência pura, ou da objetividade puramente inteligível de modelos e fórmulas matemáticas da Economia! Ou seja, Marx explorou ‘o fetichismo’ ou o ‘aspecto não aparentemente causal’ do trabalho! Um materialista ferrenho se lesse Marx – ao invés de ‘pregá-lo ou crucificá-lo fria e cruelmente’ – poderia levar um susto: ‘ih! Marx cria em fantasmas’! Mas é isso? Marx acreditava que no momento que um trabalhador estava labutando sobre a matéria-prima na fábrica havia um ‘ser invisível’ que fazia a ‘incorporação’ do valor ao produto para que saísse da fábrica com ‘mais valor’ ou com a ‘mais-valia’?! Que coisa! Mas, não é tão simples assim.

Claro que essa parte final do período soa irônico. Ou, não havia, a priori, ‘fantasmas nas fábricas’! O que o Autor d’O Capital queria – e ainda quer hoje em dia, acredito, é ‘transmitir’ ao mundo que os ‘valores’ – desde a ‘simples troca’ de mercadorias ‘têm sua origem em fontes além dos esquemas racionais puramente objetivos’! Por exemplo, o ‘fetichismo’ ou aspecto fantasmagórico do labor do trabalhador sobre a matéria-prima, além do ‘valor óbvio de uso, de utilidade’ que elas, mercadorias, adquirem ao sair da fábrica após o processo industrial!

No ‘fetichismo’ das Mercadorias tratado por Marx, certamente já estavam conceitos de Marketing que – às vezes até nos enganamos de que seriam ‘conceitos novinhos do séc. XXI’, por exemplo as ‘qualificações psicográficas’ da mercadoria a partir de conceitos socioculturais do consumidor que ‘dá valor’ a uma produto! (...). Quando em verdade, Marx já havia estudado todas essas ‘variáveis’ da formação do preço-valor. Por essa e por outras razões, não acho nada difícil referir uma Obra tão ‘antiga’ para Referenciar uma pesquisa a respeito do ‘valor de troca de mercadorias e serviços’; e ainda outras questões mais complexas no Capital até nos dias atuais!

[Espero que esta contribua para a compreendermos a Administração do Capital, com ênfase na sua eterna busca pela sua própria multiplicação que é o ‘mais-valor’, em âmbito Macro, dentro do no nosso velho - agonizante (...) depois de tantas quedas cênicas - o Capitalismo].

 

(...) 1 A Matéria da Pesquisa, Referenciais,... não publicados aqui.

2 O termo ‘marxiana/marxiano; e não marxista, enfim é melhor aplicado! E pode ser um nobre intento, ‘ainda que tardo’ de resgatar de forma justa a memória de Karl Marx que, ainda em vida chegou a declarar ‘sou Marx; não marxista. Passei a diferenciar essas palavras depois que li essa frase de Marx; e também um Autor que li (HARVEY, David – Para entender o Capital, 1935 – Trad. Rubens Enderle - S. Paulo-SP: Boitempo, 2013), que se vale desse termo nessa sua Obra. O que achei bom à Memória de Marx.

3 Até a algum tempo – a leitura de ‘O Capital’; e Obras afins, me ajudaram – passava longos minutos me perguntando: ‘como alguém consegue ter até torneiras de ouro em casa?!’. E, certo dia recentemente – já às voltas com meu 5º decênio de existência – vim a entender isso de uma forma surpreendente! Limpando uma aporta de madeira com óleo e tecido, rememorei a antiga pergunta ‘como pessoas conseguem’? E como eu conseguiria uma porta de ‘metal precioso’?! Então, do nada ou de ‘insight’ rememorar 10 (dez) anos quando eu ‘laborava’ sob chuva em uma área de meu quintal e pensava: ‘queria tanto um amplo pátio aqui nesta área’! Mas como, pensava, se não possuo os recursos para construir?! Então lembrei que hoje há naquela área há o pátio exatamente como eu pensava! Lembrei então que um dia disse a um amigo: ‘não foi eu; foi ‘Deus’ que construiu!

De novo, laborando minha porta de madeira, considerei e lembrei da Tese do “valor do trabalho, criador das coisas”! Me surpreendi com a ‘inusitada coincidência’! Mais ainda: nessas ‘interessantes paridades’ lembrei de um lugar “de folguedo, cabaré ou ‘casa de shows’’! E, tempos depois, já adulto passei novamente e havia ali um ‘urtigal’! Aí, fiz um rápido paralelo: se no lugar onde houve muito labor, nada de lúdico, agora há um pátio lindo! E onde havia ‘folguedo’, tornou-se um matagal de brejo, quem estaria certo? Fourier; ou Marx?! Ou melhor, ‘o que cria, gera valor: o ‘folguedo; ou o trabalho?

Segundo esse experimento próprio, agora sei que existe mesmo alguma coisa que ‘labora’ junto de um trabalho, gerando, de alguma forma um tanto ‘inexplicável’ um valor (recurso) que parecia, até aquele momento do trabalho, que não estava ali, ou estava ‘morto’, ou em estado de inércia’; mas que com o trabalho foi acrescentando ‘do nada’! Na minha própria experiência, parecia que aquele esforço não tinha nenhum sentido em si mesmo, pois eu não estava construindo um pátio. Estava ‘só tapando buracos do quintal’! Esse é – ou seria, no caso bem experimentado, explicado – um caso típico de ‘mais-valia’ dentro desse postulado de Marx!

(...)

O leitor que passar pelas notas (1 e 2) pode dizer: ‘isso é espiritual demais’! Ou, ‘parece até o ‘milagre da multiplicação dos pães’! Bem, no momento nada a dizer. Ora, há dez (10) anos eu não tinha recursos para o pátio, mas construí! E, agora também não! Mas se em 10 anos, eu tiver a preciosa porta, terão que me aturar – segundo frase análoga de certa figura emblemática do esporte brasileiro!

Ou, se o ‘valor do trabalho’ (como um ‘atrativo fetichista’, inferida n’O Capital de Karl Marx for mesmo o ‘segredo’ ou a ‘verdadeira galinha dos ovos de ouro’ do Capital, e o ‘valor’ do meu simples labor de ‘limpar porta’ se expressar numa ‘porta de ouro’, nesse caso, é só esperar – espero que nem tanto! - tratando da minha velha porta de madeira! Então, correndo ‘tudo bem’, ou melhor, conforme Marx previu, eu terei minha ‘porta de ouro’; e, obviamente escreverei um Artigo bem melhor sobre o Velho e bom Capital, o de Karl Marx, obviamente.