Com freqüência se tem a concepção de que a filosofia grega ficou estagnada na antiguidade, embora as qualidades das reflexões clássicas da civilização grega sejam evidentes, no entanto, ao longo de toda Idade Média e no período moderno há dignos representantes da filosofia grega.No final do século XIX houve um maior incremento das atividades filosóficas com um ideário comum: a perenidade do Helenismo e da Nação Helênica.

Tal concepção, chamada de Neo-helenismo, trouxe uma enorme renovação já na primeira metade do século XX com o chamado Grupo de Heidelberg que resgatará as questões e categorias filosóficas da Grécia antiga para refletir sobre a contemporaneidade. Essa tendência tirou a filosofia grega do ostracismo (que era o de se debruçar sobre apenas questões do passado histórico sem colocar qualquer relação com o presente) para trazer a filosofia helênica para refletir sobre todas as tendências filosóficas contemporâneas. Neste espírito, inaugurado pelo grupo de Heidelberg, a filosofia grega contemporânea reflete sobre: a Fenomenologia, a filosofia analítica, o existencialismo, e a hermenêutica.

E é nesta tendência de releitura das questões e categorias tradicionais na contemporaneidade que se situa Euangelous Moutsopoulos. Este autor observa na categoria tradicional de Kairós (instante propício) como a base não só de reflexão como de resolução das incompletudes da sociedade e da filosofia contemporânea. E o que se pode perguntar é quais as tendências filosóficas contemporâneas que o levou a assumir tal categoria antiga como método para a reflexão e resolução das mais distintas questões: da estética, passando pelas ciências, até as questões éticas e políticas.

A resposta está no novo enfoque que a questão da temporalidade ganha na filosofia contemporânea tanto com a Fenomenologia de Husserl, quanto com Bérgson, duas influências marcantes em suas reflexões, e que coincidem com alguns conceitos da civilização Helênica, formando assim o tripé principal de influências para a concepção do chamado, por Moutsopoulos, Método Kairico (baseado no termo supracitado kairós) como método relevante para nossos dias e sua aplicabilidade nos diversos campos de reflexão.

O termo grego "kairós" se referia ao instante propício da ação para que se vencesse uma batalha ou combate. Portanto, é a própria consciência ou percepção de quandoe onde se está, ou seja, sua localização no tempo e no espaço, e da ação instantânea, tudo unido ao mesmo tempo -de modo Imediato, que é a característica de uma intuição. O Que indica clara influência da fenomenologia de Husserl e do intuicionismo de Bérgson, ambos métodos baseados na intuição, mas de modos diferentes.

Do método fenomenológico de Husserl, Moutsopoulos, em primeiro lugar, faz ressalva ao fato deste método ter a sua origem numa concepção intuitiva e mítica dos neoplatônicos medievais, que buscavam ter um conhecimento absoluto ao se colocar entre parênteses a existência, e, assim destruíam a subjetividade. Como afirma o autor:

A concepção mítica do problema é que o absoluto não é conhecido, mas experimentado através da suspensão da existência, ou quando a existência é posta entre parênteses. De Schopenhauer a Husserl este sentido de suspensão da existência têm sido amplamente recomendado como o único sentido que leva ao absoluto conhecimento. (Moutsopoulos, 1991, p.6)

Deste modo se teria uma redução às coisas mesmas, aos fenômenos, pois a consciência é para Husserl intencional em relação ao objeto, ou seja, ela não pode ser separada do objeto, como queriam os cartesianos tradicionais que concebiam a consciência como uma substância autônoma. Assim, para Husserl, o sujeito não possui de fato um lugar privativo sendo então uma "consciência de...", ou seja, não se pode pensar a consciência a não ser como um processo, como um olhar para. Só se pode conceber uma consciência do Carro, consciência da Casa, etc. Não haveria assim uma existência separada do objeto, sendo por isso ao mesmo tempo objetiva e subjetiva em perfeito equilíbrio. Tal Teoria será, aliás, fundamental para o existencialismo sartreano, onde o sujeito será o "nada" imerso na imensidão dos fenômenos do mundo –um ser-sentenciado-à-liberdade. Moutsopoulos será um grande crítico de tal concepção pessimista ao denunciar na filosofia sartreana o primado da ação coletiva em relação à liberdade individual, que seria fruto da concepção fenomenológica de Husserl que reduz o sujeito e o objeto a uma coisa só. (Moutsopoulos, 1991, pp.99-104)

Embora denuncie tal redução da subjetividade no método fenomenológico de Husserl, Moutsopoulos irá utilizar um novo tipo de redução que chamará de redução kairica, dizendo que é uma intencionalidade da consciência no sentido kairico, que têm sido definida como oposta à intencionalidade definida pelo pensamento fenomenológico. (idem, 1991 p.9) Sendo uma profunda e radical reestruturação da usual concepção oposta aos termos da referência 'temporal' daconsciência aos seus objetos. (idem, 1991 p.11) Portanto, a crítica de Moutsopoulos a Husserl se refere à sua concepção temporal que faz com que a existência seja abandonada por não ter um lugar no tempo.

Deste modo, a noção de intencionalidade da consciência é depurada deste empecilho e assim ele leva a intencionalidade da consciência que é, de fato, a intencionalidade da existência a assegurar uma experiência atual do que parece estar além do ser.(idem, 1991 p.11).

Outro aspecto da questão da temporalidade na filosofia contemporânea que é de grande influência para o método kairico de Moutsopoulos é a concepção de Bergson sobre o tempo. Moutsopoulos afirma que Bergson depura a filosofia da intrusão da noção do tempo no campo do pensamento filosófico (idem, 1991 p.7) com o seu método intuitivo. O problema é que esta intrusão do conceito de tempo, criado para a física, e que pode ser dividido em várias partes, ou seja, quantificado, não existe na realidade. O que haveria seria a duração que é apenas a inegável realidade e o primeiríssimo dado da consciência (idem, 1991 p 7). A apreensão deste dado se daria por isso sem o método racional, pois tal seria incompleto para apreender a realidade inteira, ou seja: a Duração. Moutsopoulos enxerga aqui mais uma contribuição fundamental ao seu método kairico, embora também faça restrições ao método intuitivo de Bergson por ser totalmente subjetivo e ter certa pretensão objetiva.

Com posse destas duas contribuições depuradas: a da intencionalidade da consciência e o da duração de Bergson é que Moutsopoulos irá construir o método kairico que pode ser definido como um método de atualização do que é remoto.(Idem, 1991 p.8)

Derivado, como foi citado anteriormente, do termo kairós, ele se refere ao instante presente, à duração atual, e os limites externos de tal duração são o "não ainda" e o "nunca mais". Assim substitui a dimensão do tempo (passado, presente, futuro) para entrar na dimensão kairica (do instante propício), libertando o investigador e o indivíduo da noção de temporalidade. Deste modo, se têm uma visão imediata ao mesmo tempo Ontológica, epistemológica e axiológicamente livres desta concepção apenas forjada metafísica e tecnicamente de temporalidade para uma dimensão humana e, portanto, livre.

Quanto à aplicabilidade de tal libertação, ela se concretiza na adesão de Moutsopoulos ao Humanismo, e a uma liberdade da qual o Homem naturalmente tenderia, sendo uma necessidade quanto uma lei orgânica dos seres. Por isso o direito à liberdade não pode ser uma falácia, mas uma indubitável e genuína concretude (idem, 1991 p.104).

Socialmente e politicamente o método kairico, segundo Moutsopoulos no seu artigo: Humanismo e Desenvolvimento, dá a verdadeira dimensão do desenvolvimento de uma sociedade, pois a liberta dos valores técnicos para trazer os valores verdadeiramente humanos. Deste modo, se o método kairico fosse levado em consideração na realização de políticas de desenvolvimento, as sociedades tecnicamente mais desenvolvidas não seriam postas como parâmetro (o que cairia na ditadura ou do "não ainda", ou do "nunca mais"), ou seja, não se importaria modelos, mas sim os parâmetros humanos já existentes nestas sociedades (instante propício), tanto culturais, quanto de vocação econômica local.

Do ponto de vista epistemológico e científico Moutsopoulos, no artigo: Ideologia e Ciência, exorta aos cientistas que adotem o que ele chama de "abnegação", no sentido de ter coragem de criticar as suas próprias convicções ideológicas e sua adesão a uma comunidade científica, ou grupo científico, citando o exemplo de Galileu, que teve a coragem de se defrontar com a sua própria comunidade pela sua liberdade de pensamento. Neste sentido diz o autor: a apreciação crítica de um trabalho do cientista por ele mesmo é a melhor garantia de sua independência ideológica (idem, 1991 p.97). Sendo, portanto, esta "abnegação"básica para garantir"o valor de seu trabalho"(idem. 1991, p.97).

Assim sendo, a finalidade principal do método kairico é a libertação da Humanidade da tecnicidade em todos os campos sociais, científicos e Éticos, gerado na sua raiz pela falsa dimensão da temporalidade imposta aos homens enquanto sistema.

Referências Bibliográficas

CESAR, Constança M, Evanghelos Moutsopoulos e a Filosofia Neo-helênica: 2004.

MOUTSOPOULOS, Evangelos, The Reality of Creation, Nova Iorque, Paragon, 1991.