ENSAIO JUVENTUDE: O LEGADO ESTATAL (OPRESSOR) DE UMA CONSTRUÇÃO OU DESCONSTRUÇÃO EM PLENO VIGOR?

v  Leonardo Gomes de Souza.[1]

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Juventude: O Legado Estatal (Opressor) de uma Construção ou Desconstrução em Pleno Vigor?

   

“Constatar está preocupação implica, indiscutivelmente, reconhecer a desumanização, não apenas como viabilidade ontológica, mas como uma realidade histórica. É também, e talvez sobretudo, a partir desta dolorosa constatação que os homens se perguntam sobre a outra viabilidade – a de sua humanização. Ambas,  na raiz de sua inconclusão, os inscrevem num permanente movimento de busca. Humanização e desumanização, dentro da história, num contexto real, concreto, objetivo, são possibilidades dos homens como seres inconclusos e conscientes de sua inconclusão. ” (Freire, p. 30, 1987)

            Ao invocar as reflexões eternizadas do pensamento freiriano, penso que a possibilidade deste ensaio, assim como, a própria categorização do termo designado enquanto um dos modelos de trabalhos acadêmico considerado (pouco sério) traz uma conquista relevante no ponto de vista epistemológico ao final do século XVI, quando proposto pelos filósofos: Montaigne (1533) e o inglês Bacon (1597). Entretanto, contraditoriamente em 1666, o termo “Ensaio” torna-se significativo na produção do filósofo John Locke. Nesse sentido, tornar-se interessante analisar o discurso, fato proposto pelo Poeta inglês Abraham Cowley no mesmo período através da produção: Several Discousers by way of Essays (Vários Discursos à Maneira de Ensaios), publicado curiosamente em 1906.

            Partindo do pressuposto da variedade que permeia o discurso e a produção de caráter flexível ao qual comporta os ensaios. Este ensaio propõe uma reflexão entre os tipos variados de produções acadêmicas no que tange o tema juventude. Promovendo, através da dialógica flexível, inserir um debate entre os processos de construção e desconstrução ou, conforme Freire (1987) humanização e desumanização. Pensar nessa perspectiva, nos leva a analisar profundamente a raiz da discussão no âmbito de uma pedagogia formal e informal, no qual nos remete a uma investigação e contextualização da construção histórica para uma compreensão da juventude contemporânea.

            A priori lançamos os conceitos que permeiam a construção da juventude no âmbito acadêmico, encontrado e estudados nos textos compartilhados do módulo: Juventude, Instituições e Participação Política. Sob a docência dos professores: Elizabete Franco Cruz e Reinaldo Pacheco, designado na grade curricular do curso de Especialização em Psicologia Política, Políticas Públicas e Mov. Sociais da (EACH-USP) Escola de Artes, Ciências e Humanidades da Universidade de São Paulo - 2011.

            Adentrando nos processos de conceituação sobre juventude, observamos por meio de César (2008) algumas formas de conceituação no que tange o termo juventude, ao qual destacaremos alguns para explorar um debate flexível. Para Rasgo (1995), por exemplo, a questão epistemológica da adolescência não representa um ponto de partida, sim o término da investigação ou, o alvo da desconstrução. Salientando, o que prevalece não é a história da adolescência, mas a construção e constituição do sujeito através do discurso. Poderia o alvo da desconstrução, ser a construção de um novo discurso?

            Para César (2008) a ciência inventa; a adolescência é fruto do discurso das ciências médicas e psicopedagógicas ao final do século XVI. A reinvenção emerge da criação disciplinar em forma de ciências especificamente biológicas e humanas. No qual, o pensamento de Kant se estenderia à psicologia do desenvolvimento infantil como objeto de investigação imprescindível. Neste contexto, à necessidade de recriar e reformular as instituições para amparo e vigilância dos adolescentes. As escolas passam a ter um papel essencial no processo da estabilização do Estado e o desenvolvimento industrial, desencadeando por assim dizer: o germe da construção ou desconstrução?  Da humanização do capital ou, a desumanização do capital humano?

            Um fato interessante é que o termo “desconstrução” proposto pelo filósofo francês Jacques Darrida nos anos 60, tem o objetivo de tecer uma crítica em relação à metafísica ocidental, cuja tendência é o logocentrismo dos conceitos estanques. Portanto, a desconstrução é criada pelo estruturalismo e depois enquadrada no pós-estruturalismo nas décadas de 70 e 80 nos Estados Unidos.

            Para Foucault (2000)[2]  o Estado e seu processo de governamentalidade traz um arsenal repleto de medidas, normas, discursos e práticas que sustentam a moderna sociedade. Nesta perspectiva, entendo que a máquina estatal, ou seja, o Estado desempenha um papel crucial, apesar de, particularmente acreditar que essas ações exterminam as potencialidades que poderiam ser atrativas ao próprio Estado.

            No âmbito da juventude outro fator sedutor para o germe econômico é o sexo como produto, utilizado corriqueiramente no universo da comunicação, segundo a profª. Claudia Maria Ribeiro, no seu texto “adolescência e Participação Social” os meios de comunicação, principalmente a televisão, educam as crianças e determinam etapas, padrões de convivências e a internalização de estereótipos através de estigma da alienação política e passiva, introjetando “ sexo, drogas e rock in roll”. Tal identidade faz parte da trama construtiva do opressor, que torna a fase da juventude um senso comum para toda a sociedade, promovendo assim, uma naturalização. Este jogo de cartas marcadas revela o estruturalismo ou determinismo da humanização desumana que, constrói por meio do legado estatal (opressor) a desconstrução em pleno vigor. Para Fiori (1987) “A pedagogia do oprimido é [...], a verdade do opressor que reside na consciência do oprimido”.

            Para tanto, finalizando este ensaio, direciono a atenção para os processos de mudança social da atualidade. No qual a revolução tecnológica da comunicação, em específico a Internet, reserva grandes acontecimentos e um dinamismo que a juventude absorve com bastante propriedade. Acredito que as estruturas de construções ou desconstruções impostas pela máquina estatal, necessitam responder a altura, a dinamicidade do mediatismo, devido estarem fadadas ao processo obsoleto. Como agir perpetuando a construção (humanização do capital econômico) e a desconstrução (desumanização do capital humano)?                     

Referências Bibliográficas.

FREIRE, P. Pedagogia do oprimido. 17. ed. Rio de Janeiro: Paz & Terra, 1987.  

Texto: SILVA, Ricardo de Castro; CAMPOS, Maria Teresa Arruda; RIBEIRO, Cáudia Maria. Adolescências e participação social. (mimeo)

Texto: CÉSAR, Maria Rita de Assis. A invenção da adolescência no discurso psicopedagógico. São Paulo: UNESP, 2008.

http://pt.wikipedia.org/wiki/Ensaio (pesquisas realizadas entre os dias 22 e 23 /05 - 2011).

 http://www.juventude.sp.gov.br/sis/lenoticia.php?id=2711&c=31&t=81

http://www.mc.maricopa.edu/users/eberle/svcXIdec.htm

http://www.nyu.edu/classes/stephens/Jacques%20Derrida%20-%20LAT%20page.htm

http://130.179.92.25/Arnason_DE/Derrida.html

http://www.hydra.umn.edu/Derrida/onjdliv.html


[1]  Artista-Pedagogo Especialista em Psicologia Política, Políticas Públicas e Mov. Sociais da EACH/USP - 2011.

[2] Foucault (apud César, p. 40, 2008).