José Carlos Prudêncio Júnior

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Instituto de Pesquisas Aplicadas e
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Artigo Original

Recebido em: dd/mm/yyyy

Avaliado em: dd/mm/yyyy

Publicação: dd de mmm de 2008



JUDÔ ADAPTADO PARA DEFICIENTES VISUAIS NA ESCOLA

Resumo

Atualmente, a escola seja pública, privada ou filantrópica, deve procurar oferecer aos alunos portadores de deficiência visual, oportunidades que contribuam para o seu desenvolvimento intelectual, cognitivo e social. Sendo assim, buscou-se com a elaboração deste estudo, através de uma revisão bibliográfica, verificar se é benéfica a prática de judô pelos alunos portadores de deficiência visual. Os resultados obtidos indicaram que a inserção de tal prática na escola pode contribuir para a melhoria de qualidade na percepção, no raciocínio, no desenvolvimento das habilidades motoras e sensoriais, assim como na prática de valores morais, tais como: caráter, honra, determinação, integridade, lealdade, respeito, bondade e desapego pela dor e sofrimento.

Palavras-Chave: Deficiente visual, Escola, Judô.

abstract

Nowadays, the school, be it pubic, private or philanthropic, must search to offer the students with visual impairment opportunities that contribute to their intellectual cognitive, and socialdevelopment. Thus, it was searched, with the elaboration of this study, through a bibliographic review, verify if the practice of judo is beneficial to the students with visual impairment. The results obtained indicate that the insertion of such practice in the school may contribute to the betterment of the quality of perception, reasoning, development of motor and sensorial skills, as well as in the practice of moral values, such as: character, honor, determination, integrity, loyalty, respect, kindness and detachment from pain and suffering.

Key Words: Visual Impairment, School, Judo



1.Introdução

Para garantir o direito de todas as crianças, conforme aponta o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), a escola vem se preocupando em oferecer um padrão satisfatório de atendimento aos alunos, principalmente aos portadores de deficiência visual, proporcionando-lhes um adequado desenvolvimento físico, intelectual, psicológico e social.

Parte-se, portanto da hipótese que é necessário oferecer às crianças e adolescentes, modalidades de práticas esportivas que beneficiemo desenvolvimento psicológico, intelectual, físico e social das mesmas, levando-nos a entender que a elaboração do estudo foi importante e viável, uma vez que abre espaço para tal reflexão.

Sabe-se que grandes esforços são despendidos no propósito de construção da cidadania. Mudanças constitucionais são realizadas constantemente, cujo processo implica mudanças nas leis e na política.

A tarefa primordial vem sendo resgatar o conceito de direito da criança para a sociedade brasileira e suas instituições. A elaboração da Constituição em vigor no país ofereceu uma oportunidade perfeita.

No entanto, observa-se que existe um longo caminho a ser percorrido até que as providências adotadas em favor dos direitos da criança no Brasil possam ser consideradas satisfatórias. Entretanto, as mudanças constitucionais e legais já realizadas são a base fundamental para o progresso. As instituições para crianças oferecem oportunidades para que as crianças possam ser assistidas da melhor forma possível. Quase todos os estados instalaram serviços telefônicos do tipo SOS, e as ONG's criaram, também, centros de defesa da criança e do adolescente, geralmente com funcionários voluntários. Os estados e municípios, na maioria, têm atualmente um conselho de direitos da criança, no qual as ONG's, com representação paritária do governo.

É disposto na Lei no. 8.069 de 13 de julho de 1990, o Estatuto da Criança e do Adolescente, sendo que o artigo 54 aponta que é dever do Estado assegurar à criança e ao adolescente, o atendimento educacional especializado aos portadores de deficiência, preferencialmente na rede regular de ensino (www.eca.org.br, 1994).

Com relação às práticas esportivas, segundo a Lei 8.672 de 6 de julho de 1993, publicada no Diário Oficial da União em 7 de julho de 1993, o 2º. Artigo da Declaração de Salamanca dispõe que o desporto é direito individual, tendo como base os seguintes princípios:

III - democratização, garantido em condições de acesso às atividades desportivas sem distinções e quaisquer formas de discriminação;

IV - liberdade, expresso pela livre prática do desporto, de acordo com a capacidade e interesse de cada um, associando-se ou não a entidades do setor;

V - direito social caracterizado pelo dever do Estado de fomentar as práticas desportivas formais e não-formais;

VI - diferenciação, consubstanciado no tratamento específico dado ao desporto profissional e não profissional;

VIII - educação, voltado para o desenvolvimento integral do homem como ser autônomo e participante e fomentado através da prioridade dos recursos públicos ao desporto educacional;

IX - qualidade, assegurado pela valorização dos resultados desportivos, educativos e dos relacionados à cidadania e ao desenvolvimento físico e moral;

XI - segurança, propiciado ao praticante de qualquer modalidade desportiva, quanto a sua integridade física, mental ou sensorial.

O exposto demonstra que, torna-se necessário a escola oferecer oportunidades para que a criança ou o adolescente se desenvolva plenamente. No entanto, apesar do esforço por parte dos dirigentes, dos presidentes de ONG's, dos próprios educadores, encontram-se, em muitas escolas, obstáculos para que seja desenvolvido um trabalho adequado relacionado à prática de determinadas modalidades de esportes, evidenciando o problema que envolve a questão.

De acordo com a Constituição vigente, o deficiente visual, assim como todas as crianças, tem o direito a programas de práticas esportivas com o objetivo de potencializar suas potencialidades, e que a atividade física contribui para a educação do físico e do espírito.

Observa-se que várias modalidades de práticas esportivas não fazem parte do conteúdo a ser ministrado nas escolas, por meio da disciplina de Educação Física, assim como em centros comunitários, em especial, para as crianças portadoras de deficiência visual. O problema se resume, em alguns casos, na falta de espaço adequado, resistência e falta de motivação, fatores esses que impedem a adoção das práticas em questão. Nesse caso, o conteúdo oferecido nas aulas de Educação Física não busca o desenvolvimento integral do aluno. A prática da luta, por exemplo, em muitas escolas é excluída dos conteúdos da disciplina de Educação Física.

Muitos educadores deixam de utilizar tal conteúdo, proposto nos PCN's, preferindo utilizar a bola em suas aulas, não se importando com a inovação ou não experimentando novas formas de ministrar suas aulas, de acordo com Ferreira (2006).

O objetivo geral do estudo foi verificar se é benéfica para os alunos da educação infantil e ensino fundamental com deficiência visual, a prática de judô, cuja modalidade pode fazer parte do conteúdo das aulas de Educação Física. Os objetivos específicos foram refletir sobre questões relacionadas a convivência em grupo, a interação social dos alunos com deficiência visual, desenvolvimento pleno da criança, dentre outras.

2.DEFICIENTE VISUAL VERSUS PRÁTICA ESPORTIVA

O deficiente visual, segundo Veitzman (2000) é o indivíduo cuja acuidade visual é menor ou igual que 20/200 ou 20 graus após a melhor correção. A OMS classifica-a em categorias, ou seja, baixa visão LEVE está compreendida entre 20/60 a 20/80 pés; a MODERADA, entre 20/80 e 20/160 pés; a SEVERA, entre 20/200 a 20/400 pés; e a PROFUNDA entre 20/500 a 20/1000 pés. Para fins epidemiológicos, a cegueira, está compreendida na faixa de acuidade visual inferior a 20/400 pés.

De acordo com Mosquera (2000) existe um pouco de dificuldade arqueológica para se falar sobre cegos, uma vez que é difícil relatar fatos e acontecimentos à nível mundial e regional, relacionados à história dos mesmos.

No entanto, segundo a mesma fonte, na pré-história os homens e os animais lutaram pela sua sobrevivência, assim sobreviveram os mais fortes e os mais fracos eram eliminados, de acordo com a lei da natureza, ou seja, a maioria das mulheres, indivíduos deficientes, doentes, incapacitados eram eliminados.

Refere ainda que, em algumas tribos africanas, quando nascia uma criança cega (ou portadora de qualquer outra deficiência) era anunciado "carestia e fome", os costumes das tribos em questão permitiam que tais crianças fossem jogadas ou submergidas em rios, para que as tais tribos voltassem à normalidade. Também era costume abandonar os portadores de deficiência em lugares distantes para que morressem de fome e sede. Tal ação era acompanhada de rituais mágicos pela selva.

Menciona que, assim sendo, em muitos casos, eram abandonados em cavernas, fazendo com que tais indivíduos fossem forçados a buscar sua própria comida e água. Diante disso, o autor questiona se não foi assim que surgiram as técnicas de orientação e mobilidade, assim como a experiência de uma vida mais independente.

Observa-se, portanto, que desde a pré-história, os cegos passam por dificuldades, até que surgiram novos paradigmas, fazendo com que no mundo todo, fossem elaboradas leis garantindo o direito de igualdade.

Hoje, segundo Ferreira (2006, p. 40), a inclusão das lutas na disciplina de Educação Física não é promover alunos-soldados ou prepará-los para a guerra, razão pela qual a modalidade em questão deve ser oferecida aos alunos com deficiência visual, pois o objetivo é proporcionar diversidade cultural e amplitude de atividades corporais. Aponta ainda que, as lutas podem ser trabalhadas de forma estimulante e desafiadora na aula de Educação Física. É possível promover pesquisas sobre o tema.

Conforme aponta Darido (2001), muitas vezes, a comunidade escolar não oferece respaldo para os professores trabalharem com a proposta que busque a importância da atividade física, dos seus benefícios, as melhores maneiras de realizá-la, as principais modificações ocorridas no ser humano em função da prática da atividade, além do conhecimento sobre o contexto das diferentes práticas corporais e conteúdos numa dimensão conceitual. Salienta ainda que, é preciso ensinar aos alunos a técnica dos movimentos, as habilidades básicas ou, mesmo, as capacidades físicas, isto é, ir além e ensinar o contexto em que se apresentam as habilidades ensinadas, integrando o aluno na esfera de sua cultura.Ressalta também que, a inclusão e a possibilidade das vivências das ginásticas, dos jogos, das brincadeiras, das lutas, das danças podem facilitar a adesão do aluno, uma vez que aumentam as chances de uma possível identificação, relatando ainda que, é importante que a Educação Física na escola inclua tanto quanto possível todos os alunos nos conteúdos que propõem adotando para isto estratégias adequadas.

A Educação Física pode incluir o judô de acordo com o que foi exposto, cujo direito deve ser garantido à todos, inclusive ao deficiente visual.

No Brasil, conforme mencionado anteriormente, a Constituição de 1988 assegurou-lhes o direito de viver com dignidade. A inclusão tecnológica e social, por exemplo, é um direito de todos, e a informática tem se destacado como auxiliar no processo de desenvolvimento do ser humano, principalmente dos portadores de algum tipo de deficiência.

Ou seja, nos últimos anos, são diversas as vitórias conquistadas em defesa das pessoas portadoras de deficiência, as quais são amparadas por lei ao direito de igualdade. Deficiência não é sinônimo de desigualdade, o que faz que as limitações dos indivíduos em questão sejam respeitadas para que eles possam desempenhar as mais variadas atividades.

Reportando-se às práticas esportivas, o que envolve o judô, cabe considerar que qualquer que seja a atividade um dos fatores primordiais é a convivência em grupo. Assim sendo, é preciso levar em conta que o grupo está na essência de cada ser humano e a individualidade precisa do grupo para desenvolver seu próprio conhecimento. Trata-se de uma entidade e não apenas a soma de seus componentes. Isto é, o grupo como unidade existente forma um campo grupal dinâmico, composto por vários fenômenos e elementos do psiquismo de seus componentes, em que é inevitável o emergir de fantasias, ansiedades, mecanismos de defesa, resistências, transferências, além do grande potencial energético psíquico do próprio grupo, que vai depender das forças saudáveis e não saudáveis, conforme aponta Zimerman (2000).

Uma das características mais relevantes sobre o campo grupal, ainda de acordo com a mesma fonte, é a transparência do desempenho de papéis por cada um dos seus componentes, e que estes também executam os mesmos papéis nas diversas áreasde sua vida, sendo a flexibilização dos papéis saudável, não só ao grupo mas também ao indivíduo.

Refere ainda que de acordo com o movimento do grupo funciona em dois planos, ou seja, o "grupo de trabalho" que opera no plano consciente, que consegue cumprir sua tarefa de maneira fluída e, subjacente a este, existe em estado latente o "grupo de pressupostos básicos", o qual está radicado no inconsciente, são resistências que fazem com que o grupo vá enroscando, ficando de difícil manejo no caminhar para a resolução da tarefa.

O trabalho em grupo, assim como a prática de atividades esportivas é benéfica para todos os seres humanos, inclusive para o portador de deficiência visual, uma vez que dessa forma é promovida a interação social, capaz de desenvolver atitudes de cooperação.

Os centros comunitários, conforme aponta Tersis (2003) são instituições que sustentam e apóiam os cidadãos, atuando como agente de apropriação criativa e transformante, servindo de base para o atendimento às necessidades dos mesmos. Nesse espaço é possível criar programas envolvendo práticas esportivas que possam ser benéficas para os membros freqüentadores, cujo objetivo deve ser ampliar as potencialidades dos cidadãos, buscando o desenvolvimento dos mesmos através de ações sócio-educativas, culturais, esportivas e de lazer.

A escola, de acordo com Góes (2002) também é uma instituição, cabendo-lhe o papel de promover o conhecimento, buscando conhecer e respeitando a história de vida de cada criança e/ou adolescente. Portanto, compete a ela a responsabilidade pela eficiência em atingir os objetivos propostos. Deve ser a mediadora da integração da criança no mundo sistematizado, cultural e simbólico, cujos educadores devem intermediar essa integração.

Conforme menciona Santos (1998), a atividade lúdica, livre e criativa, é necessária para que a criança consiga atingir seu desenvolvimento pleno. Tal atividade também faz com que as aulas sejam divertidas, agradáveis, gerem satisfação e promovam um sentimento de realização tanto aos educandos quanto educadores.

De acordo com Tani et al (1988), até por volta dos 6 aos sete anos, a criança se caracteriza pela aquisição, estabilização e diversificação das habilidades básicas. Nos anos seguintes, isto é, por volta dos 10 aos 12 anos, ocorre o refinamento e diversificação na combinação dessas habilidades em padrões cada vez mais complexos, proporcionando desta forma, a possibilidade de serem adquiridos benefícios positivos com a prática de atividades físicas.

O judô é uma modalidade de prática esportiva que possui grande poder de fascinação por parte dos alunos. De acordo com Ferreira (2006), constata-se atualmente, que as lutas é um tema em moda, seja em desenhos animados, em filmes ou em academias, razão pela qual tal inclusão nas aulas de Educação Física ou em centros comunitários pode proporcionar inúmeros benefícios à criança.

Betti e Zuliani (2002) referem que a atividade corporal, entre o primeiro e quarto ano é de extrema importância, uma vez que gera estimulações psicomotoras, as quais serão relacionadas com o desenvolvimento cognitivo, afetivo e social. Nesse sentido, verifica-se que a prática do judô contribui para que tal objetivo seja atingido, ou seja, estimular o desenvolvimento cognitivo, afetivo e social.

Por outro lado, Gallahe e Ozmun (2001) mencionam que a sequência apropriada das atividades é fundamental para a determinação do sucesso ou do fracasso da criança. É importante também ter expectativas razoáveis quanto ao desempenho da criança, encorajar suas tentativas, para que a mesma se sinta segura quanto ao que é capaz de fazer, bem como da sua crescente competência, cujos princípios são válidos para a prática de judô.

Nesse contexto, cabe salientar que a prática adequada de uma atividade esportiva pode ser benéfica para o deficiente visual. Assim sendo, cabe a escola buscar modalidades que possam atender as necessidades de todos os educandos.

Em qualquer um dos espaços acima mencionados, podem ser formados grupos para a prática de diversas atividades esportivas, como o judô, por exemplo.

De acordo com Betti (1991 e 1999) existem princípios que devem ser considerados para inserir o aluno na Cultura Corporal de Movimentos, tais como: inclusão, (não-exclusão), diversidade, alteridade, equifinalidade e formação/informação plena.

O principio da inclusão ou da não-exclusão, propõe que nenhum aluno pode ser excluído de qualquer aula procura garantir o acesso de todos os alunos às atividades propostas e o principio da diversidade, indicando que a Educação Física deve envolver conteúdos diversificados, não privilegiando, por exemplo, nenhuma modalidade esportiva, segundo menciona Darido (2005).

Nesse caso, o professor de Educação Física deve levar em conta os princípios acima apresentados e considerar também os alunos portadores de necessidades especiais como, por exemplo, motoras, auditivas, visuais, respiratórias e etc., presentes no ambientes escolar, ainda de acordo com Darido (2005).

2.1.Judô nas aulas de Educação Física

Conforme vem sendo relatado, os conteúdos ministrados na aula de Educação Física devem buscar atender ao desenvolvimento integral do aluno, incluindo os portadores de deficiência visual.

Sendo assim, os conteúdos de judô, na escola, os conteúdos a serem trabalhados são apresentados a seguir:

SÉRIE/OU IDADE

CONTEÚDO

METODOLOGIA

AUTOR

1ª . 2ª do ensino fundamental, idade de 06 a 07 anos.

Atividades Lúdicas, fundamentos do Rolamento.

Utilizando a atividade lúdica, livre e criativa, é necessária para que a criança consiga atingir seu desenvolvimento pleno. Tal atividade também faz com que as aulas sejam divertidas, agradáveis, gerem satisfação e promovam um sentimento de realização tanto aos educandos quanto educadores.

Santos (1998),

3ª .4ª serie do ensino fundamental, idade 08 a 09 anos.

Habilidades Básicas do Judô.

até por volta dos 6 aos sete anos, a criança se caracteriza pela aquisição, estabilização e diversificação das habilidades básicas. Nos anos seguintes, isto é, por volta dos 10 aos 12 anos, ocorre o refinamento e diversificação na combinação dessas habilidades em padrões cada vez mais complexos, proporcionando desta forma, a possibilidade de serem adquiridos benefícios positivos com a prática de atividades físicas.

Tani (1988)

3.JUDÔ

Observa-se que atualmente existe a necessidade e preocupação de pais e educadores no que se refere à prática de um esporte saudável e disciplinado, por meio do qual as crianças possam desenvolver-se plenamente. Através do esporte é possível capacitá-la para o exercício da cidadania.

Dentre as várias modalidades de esporte, encontra-se o judô que de acordo Villamón (1999) é conhecido como "Caminho da suavidade e da flexibilidade". Jigoro Kano foi o responsável pela criação desta arte marcial, mais conhecida no Japão.

Kano (1994) afirma que estudou jujutsu não somente porque o achou interessante, e sim também porque compreendeu que seria o meio mais eficaz para a educação do físico e do espírito. Diz ainda que, no entanto, era necessário aprimorar o velho jujutsu, para torná-lo acessível a todos, modificar seus objetivos que não eram voltados para a educação física ou para a moral, nem muito menos para a cultura intelectual. Por outro lado, como as escolas de jujutsu apesar de suas qualidades tinham muitos defeitos, acabou concluindo que era necessário reformular o jujutsu mesmo como arte de combate, o qual estava caindo em descrédito quando começou a ensinar. Aponta que alguns mestres desta arte ganhavam a vida organizando espetáculos entre seus alunos, por meio de lutas, cobrando daqueles que quisessem assistir. Outros se prestavam a ser artistas da luta junto com profissionais de sumo. Tais práticas degradantes prostituíam uma arte marcial e isso lhe era repugnante, razão pela qual evitou o termo jujutsu, adotando o termojudô. E para distinguí-lo da academia Jikishin Ryu, que também empregava o termo judô, denominou a sua escola de Judô Kodokan apesar de soar um pouco longo.

Desta forma, em 1982, Kano funda a Kodokan, escola que, até hoje, segue os verdadeiros princípios do judô, segundo o seu criador e dentre as modalidades praticadas encontram-se:

SEIRYOKU – ZEN – YO: MÁXIMA EFICIÊNCIA COM O MÍNINO DEESFORÇO

JITA – KYOEI: BEM ESTAR E BENEFÍCIOS MÚTUO

Segundo a Federação Paulista de Judô (1999) a primeira qualidade, condição física, é obtida pela prática do esporte que exige esforço físico extenuante, de forma ordenada e metódica para proporcionar um corpo forte e saudável. Pois todas as funções corporais tornam-se melhor adaptada pela atividade que promove aumento de força muscular geral, da resistência, da coordenação, da agilidade e do equilíbrio. Devido ao treinamento rigoroso, também, o indivíduo tende a tomar mais cuidado com a sua saúde, prevenindo doenças e condicionando a reagir reflexivamente para evitar acidentes.

A segunda qualidade, espírito de luta significa que pela prática das técnicas do Judô e pela incorporação dos princípios filosóficos durante os treinamentos, o indivíduo se torna mentalmente, condicionado a proteger seu próprio corpo em circunstâncias difíceis, defendendo-se quando ameaçado perigosamente. Com o treinamento, adquire autoconfiança e autocontrole, não para fugir do perigo, mas para adotar medidas e iniciativas em qualquer situação. Em outras palavras, o Judô é uma arte para a auto-proteção total.

Por último, aponta a atitude moral autêntica, a qual é concebida através do rigor do treinamento, que induz a humildade social, a perseverança, a tolerância, a cooperação, a generosidade, o respeito, a coragem, a compostura e a cortesia. As experiências obtidas durante o treinamento, por tentativa e erro e pela aplicação das regras de luta, impõem mudanças de atitudes, elevando o poder mental da imaginação, redobrando a atenção e a observação e firmando a determinação. Quanto às falhas do conhecimento social e de moralidade constituem-se em problemas, um método de ensinar a cortesia entre as pessoas e melhorar a atitude social torna-se importante e, por isso, o Judô, desempenha papel relevante nesse contexto, como instrumento de formar e lapidar os verdadeiros caracteres morais do ser humano, visando o bem estar e benefícios tanto para seus praticantes como para as comunidades com as quais eles se relacionam.

Cabe ressaltar que caso a prática do judô seja levada para um ambiente escolar, como por exemplo, uma escola, o contexto exige que, primeiramente sejam levados em consideração os recursos pedagógicos oferecidos pela instituição, bem como os objetivos educacionais pretendidos em relação a essa modalidade esportiva. Torna-se necessário não esquecer que nos referidos ambientes, seja público, particular ou filantrópico, hoje, abriga alunos com necessidades especiais que se encontram no direito de igualdade quando se fala em práticas sociais, educacionais e porque não dizer, esportivas também.

Na verdade, a prática de qualquer atividade esportiva exige conscientização tanto por parte do educador quanto dos educandos. Hoje, existem várias modalidades de esporte, e qualquer que seja a escolha, os benefícios podem ser positivos ou negativos.

A obtenção de benefícios positivos requer consideração em torno de várias questões. Por exemplo, no caso da modalidade escolhida ser o judô, e o praticante for deficiente visual, além das considerações expostas, é preciso que o educador busque construir uma relação capaz de proporcionar a sua inclusão social adequadamente, que verifique se ele está possui os requisitos necessários para tal prática, pois existem algumas restrições, como por exemplo, não importa a classificação visual, mas as categorias são divididas por peso. Portanto, um atleta B1 (cego) pode lutar com outros atletas B2 ou B3 (baixa visão), desde que pertençam à mesma categoria de peso.

Conforme apontam Vieira e Souza Jr. (2006) para os deficientes visuais existe uma classificação para fins educacionais envolvendo os portadores de cegueira e os portadores de visão subnormal.

Referem ainda que, na educação do deficiente visual, é importante que dois fatores sejam observados, ou seja, a idade na qual ocorreu a deficiência e a maneira pela qual ocorreu.

Também é preciso que o educador leve em conta que o desenvolvimento motor de uma criança cega é inferior ao da criança com visão normal. Sendo assim, frequentemente verifica-se medo de situações não conhecidas, insegurança em relação às suas possibilidades, dependência, isolamento social, apatia, o que requer conhecimento por parte do educador para que tais barreiras sejam vencidas.

Enfim, cabe ao educador buscar conhecimentos e aprimorar-se para que possa conduzir as aulas adequadamente e proporcionar resultados positivos aos educandos portadores de deficiência visual.

4.CONSIDERAÇÕES FINAIS

Levando-se em conta que o objetivo do estudo foi verificar se é benéfica a prática de judô pelos alunos portadores de deficiência visual, conclui-se por meio do que foi exposto no decorrer do estudo que tais alunos podem ser beneficiados com a adesão à prática esportiva em questão.

No entanto, é preciso que ambos, aluno e educador, se conscientizem de que os resultados podem benéficos desde que sejam respeitadas algumas questões relacionadas à adaptação, como e o que ensinar, enfim alguns devem ser levados em consideração. Enfim, são vários os aspectos que devem ser levados em conta, para que tais crianças possam praticar a referida modalidade de esporte.

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