JOSÉ EMANUEL E A MULATA DAS DORES OU DAS GRAÇAS...

Desembarcou, vindo de Portugal, como o nome já indica: José Emanuel. Viera em busca de descanso, a fim de desfrutar das belezas do além mar.
A principio tudo que havia ouvido e lido a respeito das terras brasileiras, atingia o superlativo. Encantou-se com a gentileza, o sorriso, a boa vontade, a natureza e em especial com as mulheres. Jamais havia encontrado uma mistura de tão perfeita. Sol, mar, comida, tranqüilidade e mulheres. Ah! Como em Portugal as mulheres são um tanto insonssas. Não têm aquela malevolência sadia que as mulheres brasileiras têm.

O visto de turista não lhe preocupava. A conta bancária a consultava diariamente, para ver a relação do Euro com o Real. Às vezes se preocupava com a relação do Euro e do Dólar. Os imóveis em Lisboa, herdado dos pais, lhe proporcionava uma tranqüilidade singular. Praticamente vivia só para administrar as locações. Algo que lhe tomava certo tempo e com o auxílio da InterNet, ficou tudo facilitado. E foi justamente através da rede mundial, que escolheu as praias brasileiras.

Cálculos feitos, refeitos e pronto.
Com os rendimentos dos aluguéis daria para viver no Brasil e com muita folga a ponto de permitir a aquisição de imóveis que era a sua especialidade.

Por motivos de precaução e com auxílio de alguns patrícios conseguiu alugar um apartamento, beira mar. Devidamente mobiliado e decorado, instalou-se confortavelmente e com segurança.

Como não era dado as lidas culinárias domésticas, todos os dias fazia a sua primeira refeição, na padaria do patrício Joaquim Almeida, natural de Tráz os Montes. Algo que deixava o padeiro Joaquim "p" da cara era chamá-lo de Portuga de "trais dos montes". Mas tudo era pura gozação.
Na realidade o café da manhã era muito concorrido. Pãozinho quentinho e crocante. Aqui experimentou pela primeira vez a famosa média de café com leite. Ficou simplesmente fascinado com a simplicidade deste tipo de apresentação. Lá em Portugal costumava tomar café em uma xícara e leite em outra. Coisa de português...
No primeiro dia ou na primeira manhã, não notou nada que lhe chamasse a atenção, provavelmente instigado pela nova forma de ingerir a primeira refeição do dia.
Aos poucos foi tomando pé da situação, notou que muito dos freqüentadores era compostos por casais jovens, com suas bermudas, sandálias, camisetas coloridas e suas pranchas.
E então algo lhe chamou a atenção. Uma das atendentes, morena, alta, esquia, pele aveludada, sorriso do tamanho da felicidade, dentes lindos que davam um destaque especial aos lábios. Os cabelos emoldurados por uma pequena touca branca, exigência do estabelecimento. As pernas. Ah! Que pernas. Imaginava então como seriam as coxas.
Já fez o seu pedido? Senhor. Por favor, já fez o seu pedido?
Ah! Pois, pois, podes me ver como aqui você apelidam de "mêdia"? O senhor quer dizer média? É. Isto como a rapariga está a dizeires. O senhor está me ofendendo. Por acaso ditei algum linguajar impróprio? Se o tal linguajar é ofensivo, o senhor me ofendeu.
Por favor, na minha terra rapariga quer dizer moça de pouca idade. E pela estampa da moçoila, posso falar assim, moçoila? És muito novinha. Vamos fazer o seguinte o senhor faz o seu pedido e me chama de Maria das Dores e das Graças. Mas gosto mais que me chamem de "das Graças". E então qual o pedido? O que aquele casal está a comer? Média de café com leite, pão quente com queijo e presunto. Então por favoire me sirva um destes. E então partir daquele momento o nosso amigo José Emanuel, descobriu a razão pela qual viera ao Brasil.
Mal se agüentava durante o dia para não ir à Padaria do patrício Joaquim.
A sua vida passou a ser um tormento. Pelas suas andanças pelas praias, olhava, admirava todo o tipo de mulher. Mas como a "das Graças", não tinha páreo. Apesar de nunca a ter visto em trajes de banho. Mas a sua imaginação era fértil. A imaginava de biquíni branco, daquele tipo ? fio dental -. Com os cabelos presos, tipo rabo de cavalo, ressaltando o seu pescoço, a sua nuca, as orelhas. Aquela cabeça anatomicamente perfeita, assim como todo o corpo o era. Uma tentação que o levava ao delírio só em pensar na morena Das Graças...

E o tempo foi passando. Já se passaram quatro meses e cada vez mais sentia a necessidade de ficar por aqui. Resolvido. Conseguiu o Visto Permanente. Agora sim. Podia administrar melhor a sua vida e seus planos futuros, nos quais incluía a morena Das Graças.
Pesquisou. Resolvido comprou um restaurante. Não entendia da arte culinária, mas para administrar o negócio, contou com o auxílio de alguns amigos e patrícios.
O restaurante teria o nome: Restaurante José Emanuel. Procurou uma empresa para confeccionar a placa indicativa. Bom dia. A sua placa está pronta. Posso entregar?
Ora, pois, pois faça-me a gentileza. E a placa esperada chegou. E então ficou do seu agrado? Mas o gajo. A placa está errada. Como errada. O senhor não pediu assim?
Pedi: José Emanuel. E o senhor fez: José & Manuel. Mas e agora? Para pintar uma nova eu vou cobrar. Então-se, deixa como pronta está. E assim nasceu o Restaurante José & Manuel. Especializado em culinária portuguesa a base de peixes: Bacalhau decebolada a Alentejana;Sardinhas de Caldeirada;Filés de peixe com cogumelos;Pescada a Flamenga;Sardinha na brasa;Caçarola portuguesa. E então o restaurante começou a ganhar fama. E como sempre os gaiatos de plantão aparecem com as piadas. E então José? Cadê o Manuel? E já sabendo do espírito gozador, respondia. O José trabalha 2ª, 4ª, 6ª e domingo. Já o Manuel, trabalha 3ª, 5ª e sábado. E assim a vida ia sendo levada. Mas a Das Graças não lhe saia da cabeça. Contratou a morena. Quase que se estanha com o patrício da padaria.
Agora sim. Podia sentir o perfume, a presença, ouvir a sua fala, que mais parecia música, acompanhar seu requebrado, deslumbrar-se com o decote, imaginar aqueles seios tentadores e quando usava uma calça branca justa, viaja na imaginação tentadora da calcinha branca e minúscula.
E o tempo foi passando e o português cada dia enlouquecendo. Fora aconselhado pelos amigos e patrícios que onde se ganha o pão, não se come a carne....
O restaurante José & Manuel fechava quando o último freguês saia. Mas era normal fechar às 22,00. Nas sexta-feira, sábado fechava de madrugada. Ás 2ª feira não abria.
A função Das Graças, além de encantar a clientela e o portuga, era de atender a clientela. Mas tal fato começou a despertar ciúmes no fantasioso patrão. Promoveu Das Graças a gerente. Esta nova função permitia que se aproximasse mais da sua "idola".
Nunca se insinuo, pois temia perder a confiança e por certo a oportunidade de um dia, quem sabe um dia...
Das Graças morava em um apartamento, distante três quadras do restaurante. Herança dos pais. Bem decorado, três quartos, vista para o mar.
Todas as noites ao fechar o restaurante, José Emanuel acompanhava Das Graças até a portaria do prédio. Mais por precaução e cuidados, do que por outra coisa...
Levantara-se cedo, pretendia fazer algumas compras. Banho tomado e o velho hábito de tomar café na padaria do " trais dos montes", mas ao mal acabara de se vestir o telefone tocou. Alou. Que está a falaires? È Das Graças. Dá pra o senhor dar um pulo aqui no meu apartamento? Dar um pulo? Espera. Pronto já pulei. Não. Eu preciso que o senhor venha aqui, eu não estou me sentindo bem. Mas oh! Das Graças qual é o numeral da sua habitação particular? È no quarto andar, 400. Vou deixar a porta aberta é só o senhor entrar. Mas venha logo que eu não estou me sentindo bem. Mas, oh das Graças, como é sabes que não estaires a sentir-se bem? Já te sentiste mal? Saiu sem antes dar orientação aos funcionários. Distava tão somente três quadras. Mas aproveitou que por ali passava um táxi. Rápido, pois, pois. Ficas com o troco.
Os quatro lances de escada, foram engolidos.
Oh! Das Graças. Onde estas? Aqui. Guio-se pela voz.
Ao entrar o quarto, simplesmente ficou travado. Parado como estatua da mulher de Jô. Petrificado. Pasmo. Abobalhado. Das Graças estava deitada, com uma camisola branca totalmente transparente. Sem nada por baixo. Só um tênue véu de seda finíssima cobria aquela escultura em forma de mulher.
O suor corria às bicas.
Acho que estou com febre. Tens um equipamento que se coloca embaixo das axilas e depois se lê a coluna de mercúrio, para ver a variação termostática? Não. Mas coloque a sua mão na minha testa. Se estiver quente é porque estou com febre. Sentou-se. Olhou de cima a baixo e baixo a cima. Era uma tentação, que se dizia enferma. Com a mão esquerda colocada na testa, tentou sentir alguma alteração. E então, para sua surpresa, Das Graças pegou a mão direita de José Emanuel e a colocou sobre o seio esquerdo. Era sonho em forma concreta. Era a ilusão se tornando real. Era o fim dos prazeres solitários manuais, com o pensamento voltado para a morena escultural. Aos poucos ela tirou a camisola e ficou totalmente nua. Era mulher demais para o pobre portuga. E então? Oh, minha linda gaja. Não sabes tu, o quanto esperei-te. Quanto tenho me contido. A paixão é maior do que tu pensas minha querida rapariga.
Já totalmente despido, aos beijos e abraços. Carícias como uma represa rompida, onde a intensidade contrastava com a suavidade necessária e a delicadeza exigia uma postura real e romântica. O momento era aquele. Por meses, quase um ano, desejara aquela mulher como nada no mundo. Ali deitada, maliciosa, sexi, insinuante, instigante e suplicando por amor, era tudo que José Emanuel um dia sonhara.
Aos poucos foi se acalmando, tomando pé da situação. Um beijo demorado. Molhado, mordido, sugado, delicado e suave. Não havia tempo para as palavras. As ações e os gestos falavam por si. A entrega total se tornara realidade, de forma inesperada para ele e calculada para ela.
Notara seus olhares, sua atenção e até um certo ar de malícia no modo de falar. Isto a deixava doida de desejos, a ponto de ficar totalmente molhada, chegando ao ponto de tocar-se, masturbar-se pensando no que poderia acontecer. Dava asas à imaginação.
E a imaginação tornou-se real. Dois corpos se amando. Um com desejos contidos e outro com contidos desejos, que agora extravasavam de forma incontrolável.
A manhã passou rápida e ao mesmo tempo vagarosa. Rápida, pois queriam muito mais. Vagarosa nos atos, nas carícias e nos beijos. Amaram-se como se aquele dia fosse o último. Doaram-se como se um dependesse do outro.
E então a realidade os chamou ao mundo dos vivos.
A azafama no restaurante era notória. Chegaram separados, para que não houvesse comentários maliciosos.
Os meses passaram. A união se tornou real. Amavam-se praticamente todos os dias, ora no apartamento dela ora no apartamento dele.
Mas o que mais os excitava era fazer amor, no salão de refeições sobre as mesas. Portas e janelas fechadas, luzes apagadas a não ser uma fraca lâmpada para dar um ar mais exótico e romântico. Quando a noite avançava na sua trajetória horária e lua parecia sentir-se só e esquecida, muitas vezes tinha a companhia dos amantes, que no arrebentar das ondas e na maciez da areia faziam amor de forma intensa e abusada.

O tempo passou. Continuavam a morar separados. E um dia então aconteceu o que normalmente acontece. Nasceram. Gêmeos. Alegria total e maior.
Os nomes?
Só podia ser: José e Manuel.