O livro A Sangue Frio, publicado em 1966, de autoria do jornalista americano Truman Capote, inaugurou, segundo o próprio autor, um novo gênero: o “romance de não-ficção”. Na prática, no entanto, trata-se de um romance de realidade mais ficção, em que as duas aparecem misturadas, configurando uma mescla de jornalismo e literatura que, se perde em objetividade na informação, sem dúvida ganha em interesse, do ponto de vista humano.

A obra conta a história da família Clutter e a dos dois autores do crime que culminou com a morte de seus integrantes: Perry Smith e Richard Eugene Rickock (apelidado de Dick). A história é real, contada a partir da investigação realizadas pelo jornalista, incluindo entrevistas com parentes das vítimas, policiais, bem como com Perry e Dick.

Capote conta as tristes histórias por trás dos jovens que se tornaram os assassinos da família Clutter, traçando um perfil psicológico deles, e acompanhando-os até o momento de sua condenação à pena capital. Há quem diga que a relação bastante próxima que o jornalista criou com Perry poderia ter interferido na objetividade da narrativa. Mas, de qualquer forma, objetividade não é realmente o forte de A Sangue Frio.

Pelo contrário: é seu caráter mais literário que lhe dá vida. Ao tornar o texto mais humano, e ao pesquisar a origem das personagens que compõem a história, Capote dá a seu novo gênero literário/jornalístico maior relevância social.

O livro A Sangue Frio é, enfim, a história minuciosa de um crime e seus autores. Consiste em um relato romanceado, a partir de fatos reais, mas não correspondente a eles com plena exatidão. Mesmo assim, retrata uma violência extremamente real, desumana, provinda de pessoas com distúrbios ou que cresceram sem conhecer o afeto e o amor, sem receber valores, sem compreender o respeito pela vida humana. A obra de Truman Capote pode ser entendida como um instrumento de reflexão sobre as causas de atitudes violentas em nossos dias, para que, talvez, após uma análise dos fatores que as geram, possa-se pensar em soluções que possibilitem a construção de uma sociedade mais humana.