JOGOS MATEMÁTICOS

 

 

O ensino de Matemática promove o desenvolvimento do raciocínio lógico, bem como estimula o pensamento independente, a criatividade e a capacidade de resolver problemas. Como alternativa para motivar a aprendizagem, estimular a socialização e interação entre os alunos os educadores encontram nos jogos matemáticos a saída para este conflito.

            Os jogos educativos bem planejados e bem elaborados servem de recurso pedagógico para a construção do conhecimento matemático. O uso dos jogos desenvolve nos estudantes um gosto pela disciplina que até então é vista como um bicho papão.

A aprendizagem através dos jogos como dominó, palavras cruzadas, memória e outros permite que o estudante faça da aprendizagem um processo interessante e até divertido.

Verificamos três aspectos para justificar o uso dos jogos nas aulas: o caráter lúdico, o desenvolvimento de técnicas intelectuais e a formação de relações sociais.

Os jogos educativos com finalidades pedagógicas revelam a sua importância em situações de ensino-aprendizagem ao aumentar a construção do conhecimento, introduzindo propriedades do lúdico, do prazer, da capacidade de iniciação e ação ática e motivadora, possibilitando o acesso da criança a vários tipos de conhecimentos e habilidades. Para tal, o jogo deve propiciar diversão, prazer e até mesmo desprazer, quando escolhido voluntariamente, ensinando algo que complete o indivíduo no seu saber, nos seus conhecimentos e na sua percepção do mundo.

            Pela importância dos jogos em sala de aula, deve-se ocupar um horário dentro do planejamento, de maneira que o professor possa explorar todo o potencial dos jogos, processo de solução, registros e discussões sobre possíveis caminhos que poderão surgir, preparando o aluno para conteúdos mais aprofundados no intuído de aquisição de conceitos matemáticos de relevância.

Jogar não é estudar nem trabalhar, porque jogando, o aluno aprende, sobretudo, a conhecer e compreender o mundo social que o rodeia (Moura, 1996).

Partindo do princípio que as crianças pensam diferentes dos adultos e de que nosso objetivo não é ensinar a jogar, devemos acompanhar a maneira como as crianças jogam, sendo observadores atentos, interferindo na colocação de questões interessantes para auxiliá-las a construir regras e a pensar de modo que elas entendam.

Encontramos diversas vantagens na utilização dos jogos matemáticos em sala de aula, tendo em vista o aprendizado da Matemática, disciplina por vezes repudiada por muitos: detectar os alunos que estão com dificuldades reais; demonstrar se um assunto foi bem assimilado pelos alunos; o aluno torna-se mais crítico, alerta e confiante, expressando o que pensa, elaborando perguntas e tirando conclusões sem necessidade da interferência ou aprovação do professor; não existe o medo de errar, pois o erro é considerado um degrau necessário para se chegar a uma resposta correta; o aluno motiva-se com o clima de uma aula diferente, o que faz com que aprenda sem perceber. 

Analisando as possibilidades do jogo no ensino da Matemática, percebemos vários momentos em que crianças e jovens, de maneira geral, exercem atividades com jogos em seu dia-a-dia, fora das salas de aula. Muitos desses jogos culturais e espontâneos apresentam-se impregnados de noções matemáticas que são simplesmente vivenciadas durante sua ação no jogo.

Os Jogos Matemáticos podem ser classificados como: jogos quebra-cabeças, jogos combinatórios; jogos abstratos, jogos aritméticos e jogos geométricos. Cada um tem uma função específica e pode ser aproveitado para vários conteúdos da Matemática.

Dentre as várias concepções do desenvolvimento do conhecimento matemático, a de Caraça (2000) incorpora a dinâmica de criação e desenvolvimento histórico do conceito para a geração de uma nova ideia, privilegiando-se a compreensão dos fenômenos da realidade e o desenvolvimento do conceito como processo de aprendizagem. 

A utilização de jogos no ensino de Matemática, do ponto de vista da resolução de problema abordada, supõe o surgimento de situações-dilemáticas, em que a problematização surge “quando, das ideias antes postas de forma desorganizada, constrói–se um quadro de relações dilemáticas, isto é, ideias cujo conteúdo se dê segundo relações de correspondências simétricas, que dirão respeito a uma ação no sentido da conservação do estado problemático ou de sua superação” (MOISÉS, 1999, p.124).

O momento dilemático constitui um momento de fertilidade do pensamento, quando ideias emergem de uma forma desorganizada e até mesmo conflituosa, difusa e fragmentada, necessitando de elaboração, o que vai culminar na formulação de uma pergunta, ou seja, na problematização, que objetiva o entendimento da situação inesperada e sua superação.

Problematização que, segundo Moisés (1999), caracteriza-se como uma fase essencial no processo de aprendizagem, em que ocorre o surgimento de ideias e ações em diferentes direções, um momento em que o sujeito elabora e testa suas hipóteses no sentido de afirmá-las ou refutá-las; é quando ocorre o salto de qualidade no pensamento e a exposição da capacidade criativa do homem, inclusive a criação de conceitos. 

Moisés (1999) acrescenta ainda que o dilema se caracteriza como o momento em que o sujeito compreende os elementos em contradição. É o momento de análise das variáveis do problema e do estabelecimento de relações entre elas.

O autor indica ainda que “a problematização não se caracteriza pela presença ou não da resposta, pela falta ou excesso de dados, mas fundamentalmente por ser a forma racional que permite revelar, do fenômeno, sua essência” (p.113), entendida como o movimento do pensamento na problematização e que, ao ser formulada a pergunta, o sujeito consegue compreender a situação antes inesperada e chegar a uma conclusão. 

Nos momentos de resolução de problema, é preciso que estejamos atentos aos movimentos de pensamento matemático elaborados pelos alunos, atentando para a situação-dilemática em que todos podem estar envolvidos e não só para as etapas de solução do problema.

Entendemos que a utilização de jogos no ensino de Matemática, quando intencionalmente definidos, pode promover um contexto estimulador e desafiante para o movimento de formação do pensamento do ser humano, de sua capacidade de cooperação e um auxiliar didático na construção de conceitos matemáticos. Entendemos que o jogo é um facilitador da aprendizagem, pois mobiliza a dimensão lúdica para a resolução de problema, disponibilizando o aluno a aprender, mesmo que a formalização do conceito seja posterior ao jogo.

Os jogos trabalhados em sala de aula devem ter regras, esses são classificados em três tipos:

1. Jogos estratégicos, onde são trabalhadas as habilidades que compõem o raciocínio lógico. Com eles, os alunos lêem as regras e buscam caminhos para atingirem o objetivo final, utilizando estratégias para isso. O fator sorte não interfere no resultado.

2. Jogos de treinamento, os quais são utilizados quando o professor percebe que alguns alunos precisam de reforço num determinado conteúdo e quer substituir as cansativas listas de exercícios. Neles, quase sempre o fator sorte exerce um papel preponderante e interfere nos resultados finais, o que pode frustrar as ideias anteriormente colocadas.

3. Jogos geométricos, que têm como objetivo desenvolver a habilidade de observação e o pensamento lógico.

Com eles conseguimos trabalhar figuras geométricas, semelhança de figuras, ângulos e polígonos. Os jogos com regras são importantes para o desenvolvimento do pensamento lógico, pois a aplicação sistemática das mesmas encaminha a deduções. São mais adequados para o desenvolvimento de habilidades de pensamento do que para o trabalho com algum conteúdo específico. As regras e os procedimentos devem ser apresentados aos jogadores antes da partida e preestabelecer os limites e possibilidades de ação de cada jogador. A responsabilidade de cumprir normas e zelar pelo seu cumprimento encoraja o desenvolvimento da iniciativa, da mente alerta e da confiança em dizer honestamente o que pensa. Os jogos estão em correspondência direta com o pensamento matemático.

Em ambos temos regras, instruções, operações, definições, deduções, desenvolvimento, utilização de normas e novos conhecimentos (resultados).

O trabalho com jogos matemáticos em sala de aula nos traz alguns benefícios:

  • conseguimos detectar os alunos que estão com dificuldades reais;
  • o aluno demonstra para seus colegas e professores se o assunto foi bem assimilado;
  • existe uma competição entre os jogadores e os adversários, pois almejam vencer e para isso aperfeiçoam-se e ultrapassam seus limites;
  • durante o desenrolar de um jogo, observamos que o aluno se torna mais crítico, alerta e confiante, expressando o que pensa, elaborando perguntas e tirando conclusões sem necessidade da interferência ou aprovação do professor;
  • não existe o medo de errar, pois o erro é considerado um degrau necessário para se chegar a uma resposta correta;
  • o aluno se empolga com o clima de uma aula diferente, o que faz com que aprenda sem perceber.

Mas devemos, também, ter alguns cuidados ao escolher os jogos a serem aplicados:

  • não tornar o jogo algo obrigatório;
  • escolher jogos em que o fator sorte não interfira nas jogadas, permitindo que vença aquele que descobrir as melhores estratégias;
  • utilizar atividades que envolvam dois ou mais alunos, para oportunizar a interação social;
  • estabelecer regras, que podem ou não ser modificadas no decorrer de uma rodada;
  • trabalhar a frustração pela derrota na criança, no sentido de minimizá-la;
  • estudar o jogo antes de aplicá-lo (o que só é possível, jogando).

Temos de formar a consciência de que os sujeitos, ao aprenderem, não o fazem como puros assimiladores de conhecimentos, mas sim que, nesse processo, existem determinados componentes internos que não podem deixar de ser ignorados pelos educadores. Não é necessário ressaltar a grande importância da solução de problemas, pois vivemos em um mundo o qual cada vez mais, exige que as pessoas pensem, questionem e se arrisquem propondo soluções aos vários desafios os quais surgem no trabalho ou na vida cotidiana.

Para a aprendizagem é necessário que o aprendiz tenha um determinado nível de desenvolvimento. As situações de jogo são consideradas parte das atividades pedagógicas, justamente por serem elementos estimuladores do desenvolvimento. É esse raciocínio de que os sujeitos aprendem através dos jogos que nos leva a utilizá-los em sala de aula. Muito ouvimos falar e falamos em vincular teoria à prática, mas quase não o fazemos. Utilizar jogos como recurso didático é uma chance que temos de fazê-lo.

Eles podem ser usados na classe como um prolongamento da prática habitual da aula.

São recursos interessantes e eficientes, que auxiliam os alunos. As atividades são problemas aritméticos disfarçados, baseadas no desenvolvimento de expressões matemáticas que levam a uma identidade ou igualdade algébrica a qual verificamos sempre, para qualquer valor da variável que contenha a expressão. A atividade a seguir reforça o cálculo mental a permite aplicar as propriedades dos números.

Entre os recursos didáticos citados nos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN) destacam-se os ''jogos''. Segundo os PCN, volume 3, não existe um caminho único e melhor para o ensino da Matemática, no entanto, conhecer diversas possibilidades de trabalho em sala de aula é fundamental para que o professor construa sua prática.

''Finalmente, um aspecto relevante nos jogos é o desafio genuíno que eles provocam no aluno, que gera interesse e prazer. Por isso, é importante que os jogos façam parte da cultura escolar, cabendo ao professor analisar e avaliar a potencialidade educativa dos diferentes jogos e o aspecto curricular que se deseja desenvolver'' (PCN, 1997,48-49). Entendemos, portanto, que a aprendizagem deve acontecer de forma interessante e prazerosa e um recurso que possibilita isso são os jogos.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

BIBLIOGRAFIA

 

CARAÇA, B. J. Conceitos fundamentais da matemática. 3 ed. Lisboa: Gradiva, 2000.

 

MEC - Ministério da Educação - Secretaria de Educação Fundamental -  PCN’s: Parâmetros Curriculares Nacionais. Brasília: MEC/SEF, 1997.

 

MOISÉS, R. P. A resolução de problemas na perspectiva histórico/lógica: o problema em movimento. Dissertação de Mestrado. Faculdade de Educação, USP, São Paulo, SP, 1999.

 

MOURA, M. O. A séria busca no jogo: do lúdico na matemática. In: KISHIMOTO, T. M. (org.). Jogo, brinquedo, brincadeira e a educação. São Paulo: Cortez, 1996.