Jogos Cooperativos na Infância

Bruna Regiane de Souza[*]

Sirlei Rodrigues**

Fabiano Weber da Silva***

 

Resumo

O método utilizado para produção deste artigo foi a Revisão Bibliográfica e Descritiva com abordagem qualitativa e intervenções práticas na Instituição Lar Fabiano de Cristo UPI Rodolpho Bosco com objetivo de Identificar a importância dos Jogos Cooperativos na Infância, nosso publico alvo foram 24 crianças de 7 a 8 anos. Nosso estudo teve alguns contra tempos, relacionados à disciplina do grupo, a participação, a competitividade, porém, as intervenções de forma geral surtiram um resultado positivo, pois de alguma maneira mesmo que não na totalidade houve participação e cooperação entre os colegas. Entendemos que os jogos são de extrema importância para desenvolvimento e aprendizado da criança, desta forma, podemos concluir que a inserção dos jogos cooperativos em um grupo extremamente competitivo é um desafio e que é necessário um trabalho há longo prazo, porém poderá ter um resultado prazeroso e gratificante.

Palavras-chaves: Jogos Competitivos; Jogos Cooperativos; Criança.

Introdução/Justificativa

A princípio nosso tema era sobre as brincadeiras musicais, quando decidimos sobre esse tema achamos que seria bem aceito e que seria um tema diferenciado pra trabalhar com as crianças, já que a música é algo que contagia as pessoas, e tratando se de crianças parecia ainda mais empolgante, porém, não foi bem isso que aconteceu, nossa primeira intervenção foi fracassada pela falta de interesse das crianças, além de outras limitações que ao longo das intervenções pudemos perceber como alunos indisciplinados, extremamente competitivos, horários reduzidos para realização das atividades, a carência de um professor como referencia para o grupo que já os acompanhasse diariamente. Enfim fizemos mais algumas tentativas que foram ainda mais frustrantes e então decidimos que era hora de mudar o tema.

Percebendo a necessidade de cooperação entre os amigos, decidimos trabalhar jogos cooperativos.

Nosso objetivo com esse estudo é identificar a importância dos jogos cooperativos na infância, já que vivemos em uma sociedade extremamente competitiva, onde competimos todo o tempo e em varias situações seja por um emprego, por alguém, ate mesmo por uma vaga de estacionamento há uma disputa, uma competição, sendo assim temos uma ilusória sensação de achar que não precisamos cooperar, porém há pesquisadores que afirmam que o ser humano em sua essência necessita do outro e que a cooperação traz uma convivência mais harmoniosa.

O ser humano é ao mesmo tempo único e múltiplo, e que por estas razões, necessitamos aprender a ser, viver, dividir e nos comunicarmos uns com os outros buscando compreender nossas semelhanças e diferenças. (AMARAL, 2009)

     Partindo dessa ideia, os jogos cooperativos entram justamente para desmistificar a ideia de competição que já nos é imposto desde a infância, trazer os jogos cooperativos com a finalidade de mudança talvez seja algo impossível, mas mostrar que a cooperação surge como um resultado mais prazeroso e que a brincadeira com o simples intuito de diversão é o que esta se levando em conta no momento.

            Nosso estudo tem como ponto de partida entender a diferença entre jogos cooperativos e competitivos, e como o resultado disso poderá influenciar no seu convívio social, mostrando a importância dos jogos cooperativos na infância em especifico na turma trabalhada.

Metodologia

 

           O método utilizado para a realização do presente artigo foi revisão bibliográfica e descritiva com abordagem qualitativa e intervenções práticas na Instituição Lar Fabiano de Cristo UPI Rodolpho Bosco, nosso publico alvo foram 24 crianças da oficina dois, com idade entre 7 e 8 anos na busca de conhecimentos específicos que possam nos ajudar a mostrar a importância dos jogos cooperativos na infância. 

            Foram 8 intervenções com duração de 4 horas.

Os Instrumentos utilizados para a avaliação foram a observação e fotos, que através dos quais eram avaliados os alunos com os seguintes critérios a Interação, a Participação e o Interesse.

 

Jogos Cooperativos X Jogos Competitivos

 

Entendemos que os jogos são de extrema importância para o desenvolvimento e aprendizado da criança, sendo assim Soler (2011, 29p) descreve os principais objetivos trabalhados pelo jogo como

[...]Função terapêutica, desenvolvimento de habilidades físicas, afetivas, sociais e intelectuais, desenvolve a criatividade, permiti a socialização, abre canais de comunicação, e permite a catarse.

 

Como os jogos tem todos esses benefícios, e são bem aceitos pelas crianças, os jogos cooperativos podem ser colocados para promover uma postura participativa, e a importância do seu papel na sociedade, e seu questionamento referente ao mundo, estimular a pratica do senso crítico, com preocupação social

 

         Para compreendermos melhor é necessário entender o que alguns autores pesam sobre a competição e cooperação, suas influencias e como são importantes para a vida social e adulta da criança.

Brown (1994, apud, Soler, 2014, 34p) nos mostra algumas características sobre os jogos cooperativos e competitivos.

FORMA COMPETITIVA

FORMA COOPERATIVA

Individualista

Grupal

Participação Limitada

Todos participam

Desordem

Organização

Ganhador/Perdedor

Todos ganham

Desunião

União

Trapaça/Esperteza

Honestidade

Frustrante

Reconfortante

Limitante

Amplo

Repúdio

Acolhida/Confiança

Conformismo

Desafio Coletivo

“O jogo sou eu”

“O jogo somos nós”

A competição é o processo de interação social, cujos objetivos são mutuamente exclusivos, as ações são isoladas ou em oposição umas as outras e os benefícios são concentrados apenas para alguns. (BROTTO, 1999)

A competição é o ato de procurar ganhar o que a outra pessoa esta se esforçando para conseguir, ao mesmo tempo. Seu comportamento é individualista que consiste em o individuo alcançar seus próprios objetivos, sem se preocupar com os outros. (MEAD, Margaret, apud, Soler, 2007)

Claramente, percebe-se que a competição é algo de extrema individualidade, e que o importante é ganhar a qualquer custo, mesmo que não se envolva com o prazer da atividade, mas ganhando basta.

Jogos Cooperativos como atividades que requerem trabalho em equipe para alcançarem metas mutuamente aceitáveis não são necessários que os indivíduos que as cooperem tenham os mesmos objetivos, porém seu alcance deve proporcionar satisfação para todos os integrantes do grupo. (AMARAL, 2009)

Para Mead (apud, Soler, 2007) “a cooperação é o ato de trabalhar em conjunto com um único objetivo, se, e somente se, as outras com as quais ela estiver ligada conseguirem atingir seus objetivos”.

Vimos que através dos jogos cooperativos podemos trabalhar a coletividade objetivando o interesse do grupo, do todo, sendo assim, trabalha-se em conjunto com o outro, e respeitando o grupo e aceitando suas diferenças.

Cooperação é o processo de interação social, cujos objetivos são comuns, as ações são compartilhadas, e os benefícios são distribuídos para todos. (BROTTO, 1999)

          O fato dos jogos cooperativos terem como objetivo a aproximação, comunicação, interação, descontração e o prazer o resultado pode não ter um medialismo esperado, mas com trabalho e dedicação em longo prazo o resultado poderá ser positivo.

[...] Acredita que negar a competição é eliminar o esporte na educação física para ele é melhor reconhecer a importância do vencido e do vencedor e não necessariamente só competir.        Não estamos nos opondo a competição, mas não competir com intuito de dominação, de desigualdades sociais, de injustiças, competir faz e fará parte da vida humana, mas que isso não nos seja imposto desde a infância e tão marcado nas escolas, clubes. (FREIRE, 1999)

Oliveras (1998 apud Correia 2008) apresenta os jogos cooperativos como capazes de diminuir as manifestações de atitudes agressivas e capazes de aproximar as pessoas umas das outras e também da natureza, em função de suas características.

       Vivemos em uma sociedade marcada pela competitividade, e extremamente capitalista, o que gera a todo tempo esse dualismo de rico ou pobre, ganhar ou perder, branco ou negro, estamos competindo a todo tempo hora por vaga de emprego, para ingresso na universidade, por relacionamentos, até a vaga para estacionar um carro é motivo de disputa, percebemos o quanto há necessidade de cooperar mais, falamos mesmo de dar chance para o outro de trabalhar a favor do todo, e não agir individualmente.

Um grande desafio dos dias atuais é aceitar quem é diferente, é justamente respeitar o outro e conviver com suas limitações, e entender que as pessoas têm manias, formas de pensar, habilidades diferentes, que padrões impostos podem ser quebrados, neste contexto os jogos cooperativos podem ser uma maneira de a criança ser desafiada a esses paradigmas e assim, levar para sua vida cotidiana essa aceitação do outro, e das coisas.

Atualmente, por fatores como a modernidade, sociedade capitalista, na grande maioria das famílias as crianças começam a frequentar as escolas ainda muito jovens, este é um fator que pode ser visto com muitos olhares críticos, e que causa ate uma negatividade para seu desenvolvimento, porém o fato das escolas terem profissionais especializados e com isso possibilitar atividades de forma cooperativa, jogos cooperativos podem de certa maneira auxiliar para que essa criança entenda essa importância desde cedo, é claro que a escola neste caso precisa oferecer essas brincadeiras, incentivar a cooperação.

Brotto (1999) cita em seu livro um comentário de Maria Alice Setúbal (1998) socióloga e consultora da UNICEF que diz

“Estimular e difundir pratica de solidariedade e de cooperação, o exercício da cidadania plena e a garantia e a ampliação dos direitos básicos. Isso exige profunda mudança de atitudes e de valore, no lugar do individualismo, calcado no consumismo irrestrito, que não soluciona nossos problemas”.

Pode parecer utopia, há quem diga que não é possível, mas precisamos tentar ao menos num mundo tão individualista, pensar no coletivo, pensar junto com outro, estar com o outro e não contra o outro, tentar viver em harmonia, sem essa competitividade exagerada, que a cada dia parece mais forte, e é a única coisa que importa. Talvez isso precise de um trabalho árduo e muita dedicação, mas jogar a semente não basta, precisamos rega-la e cultiva-la, para que de frutos, e a partir desse fruto poderá ter uma colheita significante, e isso quem sabe um dia se perpetuará pelo planeta.

Fundamentada em todas essas questões, e tentando atender a uma necessidade do grupo escolhemos as brincadeiras que pudessem estabelecer esse dialogo entre a teoria e a pratica.

Criança

 

A Criança de sete anos entra em prolongados períodos de aquisição e de concentração em si mesma, durante os quais elabora repetidamente as suas impressões alheadas do mundo externo. (GESELL, 1998, pág. 114)

A cooperação está diretamente ligada com parceria, autoconfiança, motivação e autoestima, o fato das crianças chegarem à instituição com uma bagagem de medos, preocupações e frustrações que traziam do seu mundo lá fora, isso dificultava que estivessem abertas a novas experiências, os limitava a ter ânimo para participarem das atividades.

Gessel (1998) relata em seu livro A Criança de 5 aos 10 anos que a criança tanto em casa como na escola, tem comportamento sócio pessoal e que isso revela uma consciência cada vez maior em si mesma e com os outros.

“Os jogos de competição refletem tipicamente o seu nível geral de cooperação” (GESELL, 1998, pag. 118)

           

De acordo com isso, nesta fase a criança é extremamente individualista e só pensa em ganhar e a aceitação dos jogos cooperativos pode ser um tanto difícil. Por tanto a criança precisa ser cativada a longo prazo.

       

Analise de Dados

Como Estratégia dividimos nossas intervenções em duas unidades (Unidade I e Unidade II), na Unidade I foram propostos jogos de Aproximação e Conhecimento Mútuo, essa unidade foi realizada em 2 intervenções com duração de 4 horas cada.

Nos dias 23/04 e 07/05 foram vivenciados os seguintes jogos da Unidade I dos quais nem todos deram totalmente certo:

Toque mais não deixe ser tocado”, “Carrinho de Mão”. “Pega-Pega Cooperativo”, “Carga Elétrica”, “Massagem com Balão”, “Anjo da Guarda, “Jogo da Galinha” e “Telefone sem fio”.

Já na Unidade II foram escolhidos dois temas para serem trabalhados os Jogos Criativos e os Jogos de Habilidades, também realizados em 2 intervenções (Uma intervenção para cada tema proposto).

Freire (1989) Observa

[...] que por meio da transformação dos jogos as pessoas podem desenvolver sua criatividade, sua cognição e, principalmente, aprender a resolver problemas.

Nos Jogos Criativos realizados no do dia 14/05 foram vivenciados os seguintes jogos, como nesse dia os jogos propostos não estavam dando certo, pedimos para que eles nos propusessem um jogo no qual eles iriam participar e eles escolheram o Viúvo, uma grande parte do grupo participou:

Duas verdades e uma mentira”, “Assento” e “Viúvo”.

O segundo tema proposto para a unidade II foram os Jogos de Habilidades, realizado no dia 21/05 com as os seguintes jogos:

Amarelinha cooperativa”, “Balanço” e “Cada macaco no seu galho

Nos dias 30/04 e 28/05 não foram realizadas intervenções por causa da agenda da instituição, que realiza em toda última quarta-feira do mês a festa dos Aniversariantes, tiveram uma participação somente como plateia nesses dias.

Como existiram algumas atividades que foram elaboradas e na pratica foi impossível de executa-las percebemos que a escolha para esse grupo em especifico teria que ser mais criteriosas e mais dinâmicas, pois ao longo dos dias sentimos a necessidade que as crianças tinham de fazerem atividades na rua, já que no frequentavam a escola no contra turno, em contrapartida a indisciplinalidade do grupo não nos permitia fazer atividades que não fossem em sala, pelo fato de ficarem dispersos, e por questões de segurança, porém foram muitas as tentativas para que isso fosse possível.

 

Considerações finais

 

Entendemos que os jogos são de extrema importância para desenvolvimento e aprendizado da criança, desta forma, podemos concluir que a inserção dos jogos cooperativos em um grupo extremamente competitivo é um desafio, já que a competição nos é mostrada logo na primeira infância.

Os jogos cooperativos têm a finalidade de trabalho em equipe, de ajuda mutua entre os participantes, pode, porém não surtir um resultado esperado por todos do grupo, e ser frustrante se esse grupo for muito competitivo, por isso a importância de inserir aos poucos e trabalhar jogos cooperativos e competitivos mostrando formas de vivenciar a brincadeira pura e simplesmente pelo seu ato, e não com simples propósito de ter um vencedor.

Como profissionais de Educação Física que é exatamente onde mais se trabalha a competição, mesmo que não propositalmente, mas gerando quase sempre a exclusão dos “ruins” e inclusão dos “bons” podemos contribuir para mudar esse paradigma e aceitar sim as diferenças nos desempenhos de alguns e habilidade em outros, de forma harmoniosa e tratar os jogos um prazer pelo simples fato do ato e não necessariamente almejando o resultado final. 

Para Mariotti (2000, apud, Soler, 2011) “Entende ser a competitividade uma radicalização da competição e todos que a ela são expostos se tornam perdedores de alguma forma”.

Através do material pesquisado e da pratica executada, entendemos que cooperação esta diretamente ligada com parceria, autoconfiança, motivação, autoestima, enfim as crianças chegavam à instituição com certa bagagem de medos, preocupações, frustrações que traziam do seu mundo lá fora, isso dificultava que estivessem abertas a novas experiências, os limitava a ter ânimo para participarem das atividades. Hoje analisando, percebemos que talvez esse fosse nosso real limitador porque as outras limitações eram consequência desse fato.

Desde o principio do nosso estudo não tentamos simplesmente fazer o possível para que desse certo e o resultado fosse positivo, fizemos o melhor para que independente do resultado final pudéssemos sugerir, indicar e repensar o que poderia ter sido diferente. Afinal as limitações durante o processo podem ser o causador do resultado, porém não necessariamente um limitador.

Sugerimos para futuros estudos que se trabalhe com jogos competitivos e cooperativos simultaneamente, mostrando o quanto os jogos cooperativos poderão surtir um resultado mais positivo para o grupo.

 

Referências

 

  • BROTTO, F.O. Jogos cooperativos: o Jogo e o Esporte como Exercicio de Convivencia. Santos, SP: Projeto Cooperação, 2001.

 

  • FREIRE, J. B. O Jogo: entre o riso e o choro, Campinas, SP: Autores Associados, 2002.

 

  • ORLICK, T, (Tradução de Fernando José Guimarães Martins). Vencendo a Competição.  São Paulo: Círculo do Livro, 1989.

 

  • SOLER, Reinaldo – Esporte cooperativo. Uma proposta para alem das quadras, campos e pátios. Rio de Janeiro: Edition, 2009. 38p.

 

  • SOLER, Reinaldo. Jogos Cooperativos. Rio de Janeiro: 3ª edição: Sprint, 2006.

 

  • AMARAL, Jader Denicol. Jogos Cooperativos, São Paulo: 4ª edição ampliada e revisada, 2009.

 

  • SOLER, Reinaldo. 202 Jogos para Desenvolver a Confiança, Rio de Janeiro: Sprint, 2009, 144p.

 

  • SOLER, Reinaldo. 100 Jogos de Apresentação: jogando e recriando um novo mundo, Rio de Janeiro: Sprint, 2009, 80p.

 

  • SOLER, Reinaldo. Brincando e Aprendendo com os Jogos Cooperativos, Rio de Janeiro: 3ª edição: Sprint, 2011, 315p.

 

  • CIVITATI, Héctor. 505 jogos Cooperativos e Competitivos. Rio de Janeiro: 3ª edição: Sprint, 2008, 231p.
  • CORREIA, Marcos Miranda. Trabalhando com jogos cooperativos: Em busca de novos paradigmas na educação física, Campinas, SP: Papirus, 2006
  • GESELL, Arnold. A Criança dos 5 aos 10 anos. São Paulo, 3° edição : Martins Fontes, 1998, 403p.


[*] *Acadêmica de Educação Física Bacharelado – Universidade do Vale do Itajaí - UNIVALI

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**Acadêmica de Educação Física Bacharelado – Universidade do Vale do Itajaí - UNIVALI

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*** Professor e Orientador da Disciplina de Estágio Supervisionado em Educação Física na Universidade do Vale do Itajaí

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