Autores:
Eloana Conceição Cucolo da Matta
Maria de Socorro Tavares de Freitas
Roberto Moraes

INTRODUÇÃO
O brincar, as brincadeiras e os jogos infantis tem sido objeto, sobre tudo nos últimos anos, de estudos, pesquisas das mais diversas abordagens buscando analisar seu papel no desenvolvimento do indivíduo, tanto nos aspectos cognitivo, emocional e social.
A função da brincadeira no desenvolvimento infantil tem sido discutida também por antropólogos, historiadores, além de psicólogos, pedagogos e outros cientistas, após ter sido muito enfatizada no século passado e, especialmente, no primeiro momento deste século. Possivelmente uma série de fatores tem contribuído para tal destaque. Partiu-se do pressuposto de que as atividades lúdicas infantis, enquanto praticas sociais refletiriam os aspectos do contexto sócio-cultural e as representações da infância nelas contidas. As discussões teóricas sobre todos estes pontos deverão auxiliar na superação de equívocos, e na compreensão de conhecer a criança como um sujeito histórico.
A sociedade atual transformada e globalizada exige formação de pessoas criativas, se quisermos formar adultos que tenham pensamentos abertos á inovações. É necessário dar as crianças livre ação em suas brincadeiras e fantasias pessoais.
Pautado em conhecimentos sistematizados por alguns psicanalistas, pedagogos, sociólogos, o presente trabalho visa redimensionar o lugar que devem ocupar as brincadeiras infantis no processo de desenvolvimento psicológico. Nesta interação, a criança vai construindo significações que atribui a cada situação, abrindo-se para a construção de novos significados e modificando, ao mesmo tempo, sua forma de agir. Nesse processo, o desenvolvimento físico, sócio-afetivo, intelectual, moral e estético da criança constituem aspectos integrados.
As brincadeiras e os jogos infantis não só estimulam a imaginação e a fantasia como permite compreender a realidade e conhecer o mundo, principalmente o dos adultos. É fato que muitos pais e professores conferem valor e importância às brincadeiras no processo do desenvolvimento infantil, entretanto, temos dúvida se estão dando o devido destaque ao brincar "LIVRE" do dia-a-dia.
No espaço escolar é muito comum se falar em atividades lúdicas, mas o que se sabe é que estas quase sempre são carregadas de distorções que acabam por não contribuir com o desenvolvimento do educando. O espaço lúdico na escola deve ser propulsor do desenvolvimento de múltiplas habilidades e atitudes que podem contribuir com a sistematização dos aprendizados construídos.
Apresentamos este estudo acerca de perspectivas das aprendizagens infantis, em relação aos variados estímulos favorecidos pelo lúdico, que consiste na projeção qualitativa do desenvolvimento cognitivo. Apontando como se desenvolve o processo da ludicidade infantil, constatando suas conseqüentes implicações aos aprendizados e momentos de interação, tanto no contexto escolar quanto familiar.
O SIGNIFICADO DO BRINCAR PARA A CRIANÇA
Brincar é divertir, recrear-se, ou seja, mover-se com alegria como as crianças. Muito se aprende numa brincadeira, enquanto brinca a criança aprende sobre a relação espacial, aprende de que são feitas as coisas e como são usadas.
Quando a criança brinca muitas vezes, resistem ao sono, ao cansaço, renunciam ao alimento, recusam o banho porque querem brincar ou continuar brincando e com isso podemos constatar que as brincadeiras são para a criança o universo do prazer. Seber (1995, p.53), nos fala que "a criança se empenha durante o brincar da mesma maneira que se esforça para aprender a andar, a falar, a comer etc. esse esforço é tão intenso que às vezes ela fica concentrada na atividade e nem escuta quando alguém a chama".
O brincar é realmente uma das coisas mais importantes na vida da criança, e com a privação do brincar pode torná-la infeliz. É através do brincar que a criança se desenvolve e se constitui, é muito difícil encontrar uma criança que não brinca, se isso acontece dizemos que qualquer coisa estranha está acontecendo com ela.
Bettellheim (1988), afirma que: "Brincar é muito importante porque, enquanto estimula o desenvolvimento intelectual da criança, também ensina, sem que ela perca os hábitos necessários a esse crescimento".
A criança precisa brincar para aumentar suas capacidades criativas e imaginativas fundamentais para uma vida adulta mais produtiva e mais saudável. Quem brinca gosta da liberdade de sonhar, de inventar, e para isso precisa da liberdade de sua imaginação para manter e superar as incertezas, sem destruí-las, ele quer sentir, viver e fruir a liberdade de criação cujo único lugar para acontecer é no ato de brincar. Segundo Valle, In Santos (2000), "... através do brincar a criança desenvolve a linguagem, o pensamento, a socialização, a iniciativa e a auto-estima".
Portanto, ao brincar a criança tem a oportunidade de interagir com pessoas e objetos, liberar sua criatividade, explorar seus limites e adquirir repertórios comportamentais afetivos de forma prazerosa. Santin (2001) afirma que: "Para brincar não precisa de treinamento, de instruções, de iniciação. Brincar é simplesmente brincar".
Para a criança não importa o tipo de brinquedo, o que é significante para ela é brincar, não precisa existir o brinquedo para que o brincar aconteça. Ao contrário do que muitos pensam o ato de brincar não é uma simples recreação ou passatempo, mas as formas mais completas que a criança tem para se comunicar consigo mesmo e com o mundo. No brincar a criança procura imaginar, representar, imitar e comunicar desenvolvendo papéis da vida adulta e isso faz com que ela relacione entre o real e o imaginário.
Na brincadeira infantil a criança assume e exercita os vários papéis com os quais interage no cotidiano. Ela brinca de ser o pai, o cachorro, o motorista jogando estes papéis em situações variadas. Às vezes pode afastar-se de significados já estabelecidos e criar novas significações, novas formas de desempenhar os papéis que conhece ou novos papéis. (OLIVEIRA, 1992, p.57)

É brincando que a criança expressa suas verdadeiras fantasias, desejos, experiências, pois no mundo do faz-de-conta é possível destruir o que incomoda, sejam pessoas ou situações que causaram enorme alegria ou alguma ansiedade, medo ou raiva e reconstruí-los novamente.
Segundo Benjamim (1984), "... a resposta da criança se dá através do brincar, através do uso do brinquedo, que pode enveredar para uma correção ou mudanças de função".
Permitir a criança espaço para brincar é proporcionar interações que vêm realmente ao encontro do que ela é no sentido de compreendê-la efetivamente nessas atividades é dar-lhes mostra de respeito.
Froebel, In Kishimoto (1998:115), "? foi quem pela primeira vez viu o brincar como atividade responsável pelo desenvolvimento físico, moral, e cognitivo das crianças e pelo estabelecimento das relações entre os objetos culturais e a natureza".
Um aspecto interessante do ato de brincar no século XVII é o envolvimento de adultos e crianças nas brincadeiras, o que pode ser confirmado por Airès (1973), "Parece, portanto, que no início do século XVII não existia uma separação tão rigorosa como hoje entre as brincadeiras e os jogos dos adultos. Os mesmos jogos eram comuns a ambos".
Hoje em dia isso dificilmente acontece, os adultos estão sempre sobrecarregados de afazeres que não tem mais tempo para brincar, dizem que o brincar é coisa de criança e não de adulto. O adulto que volta a brincar não se torna criança como se costuma dizer, mas vivencia sensações de prazer até então adormecidas no tempo. Pelas idéias expostas, e principalmente por acreditar que brincar significa libertar-se enfatizo, para o adulto, a prática da brincadeira, pois brincar não é só coisa de criança é de adulto também.
ALGUNS ENFOQUES TEÓRICOS SOBRE OS JOGOS E SUA INFLUÊNCIA NA APRENDIZAGEM INFANTIL
No Brasil, os jogos têm origem na mistura de três raças: a índia, a branca e a negra. O jogo é um tópico de pesquisa crescente. Há várias teorias que procuram estudar alguns aspectos particulares do comportamento lúdico. Friedmann, 1996 apresenta sete grandes correntes teóricas sobre o jogo, as quais algumas podem ser vistas a seguir: No início do século XIX, a corrente teórica sobre os jogos era Estudos evolucionistas e desenvolvimentistas; o jogo infantil era interpretado como sobrevivência das atividades da sociedade adulta.
No começo do XX, se falava em corrente difusionista e particularmentista: preservação do jogo. Nesta época, percebeu-se a necessidade de preservar os costumes infantis e conservar as condições lúdicas. O jogo era considerado uma característica universal de vários povos, devido à difusão do pensamento humano e conservadorismo das crianças.
O jogo em sua peculiaridade trás características que levam a criança ao desenvolvimento integral, pois através dele a criança passa a se envolver com as exigências da sociedade, de forma divertida e prazerosa, sem ser impostas pela família, escola ou religião.
Segundo Huizinga (1971, p. 24), as características fundamentais do jogo são:
...ser uma atividade livre, ser ele próprio liberdade; não ser vida "corrente" nem vida "real", mas antes possibilitar uma evasão para uma esfera temporária de atividade com orientação própria; ser "jogado até o fim" dentro de certos limites de tempo e espaço, possuindo um caminho e um sentido próprios; criar ordem e ser a ordem, uma vez que quando há a menor desobediência a esta o jogo acaba. Todo jogador deve respeitar e observar as regras, caso contrário ele é excluído do jogo; permitir repetir tantas vezes quantas forem necessárias, dando assim oportunidade, em qualquer instante, de análise de resultados; possuir caráter permanentemente dinâmico.
Grandes educadores do passado já reconheciam o valor pedagógico do jogo, aproveitando-o como material educativo. O jogo enfatiza a relação social. É participando de jogos que a criança começa a ter formação de atitudes sociais: solidariedade, obediência às regras, respeito mútuo, cooperação, senso de responsabilidade, iniciativa pessoal e grupal. É quando aprende a valorizar o sentimento de vitória ou derrota.
Froebel lembrado por Rizzi (1987) adotava uma pedagogia de ação, particularmente a do jogo. No seu trabalho docente, pôs em prática a teoria do valor educativo do brinquedo e do jogo, elaborando um curriculum centrado em jogos para desenvolvimento da percepção sensorial, da expressão e para iniciação à matemática.
Seguindo uma orientação cognitiva Piaget analisa o jogo integrado a vida mental caracterizado por orientações do comportamento que denomina assimilação. Piaget (1971, p. 99) ressalta que a inteligência é definida pelo equilíbrio entre a assimilação e acomodação. Segundo o autor a maneira da criança ASSIMILAR é transformar o meio para que este se adapte às suas necessidades, enquanto o ACOMODAR é a maneira da criança mudar a si mesma para adaptar-se ao meio em que está inserida.
No período em que realiza o jogo com regras, a criança estabelece relações permitindo-lhes identifica-las. É neste momento que a criança incorpora suas próprias regras e avalia as regras de seus colegas.
Piaget assegura que o jogo na criança inicialmente é egocêntrico e espontâneo, tornando-se cada vez mais uma atividade socializadora. Portanto, ao brincar, a criança constrói conhecimento. Com isso uma das atribuições mais importantes do jogo é a confiança que a criança adquire. E, confiante, ela pode chegar às suas próprias conclusões, criar seus próprios valores morais e culturais, visando sua auto-estima, o auto-conhecimento, a cooperação conduzindo à imaginação, à fantasia, à criatividade, à criticidade e a algumas vantagens que facilitam suas vidas, sejam quando crianças ou como adultos.
Para Vygotsky in Bertoldo "o jogo traz oportunidade para o preenchimento de necessidades irrealizáveis e também a possibilidade para exercitar-se no domínio do simbolismo. Quando a criança é pequena, o jogo é o objeto que determina sua ação".
Os jogos devem ter como objetivo principal estimular nas crianças, a construção de esquemas de raciocínio lógico-matemático, tornando a atividade escolar um momento alegre, participativo e enriquecedor.
A criança deve ter a oportunidade de construir seus esquemas lógicos, a partir de sua experiência anterior e da troca de experiências com o grupo. Os jogos em grupo propiciam a cooperação mútua e a reciprocidade, além de estimularem a criança a respeitar e considerar pontos de vista diferentes do seu.
As atividades motoras da criança estão presentes em seu cotidiano. O movimento, o brinquedo, os jogos tradicionais da cultura popular preenchem de alguma forma determinadas lacunas na rotina da sala de aula.
Mattos (2000, p. 176) trata da cultura do movimento:
O movimento é uma importante dimensão do desenvolvimento e da cultura humana. As crianças se movimentam desde que nascem, adquirindo um controle cada vez maior sobre seu próprio corpo e se apropriando cada vez mais das possibilidades de interação com o mundo. Engatinham, caminham. Manuseiam objetos, correm, saltam, brincam sozinhas ou em grupo, experimentando sempre novas maneiras de utilizar seu corpo e seu movimento. Mattos (2000, p. 176)
Para Le Boulch (1988) as crianças expressam sentimentos, emoções e pensamentos, ampliando as possibilidades do uso significativo de gestos e posturas corporais. O movimento humano é mais do que simples deslocamento do corpo no espaço: "constitui-se em sua linguagem que permite às crianças agirem sobre o meio físico e atuarem sobre o ambiente humano, mobilizando as pessoas por meio de seu teor expressivo".
Segundo o Referencial Nacional da Educação Infantil (2001) o trabalho com movimento contempla a multiplicidade de funções e manifestações do ato motor, propiciando um amplo desenvolvimento de aspectos específicos da motricidade das crianças, abrangendo uma reflexão acerca das posturas corporais implicadas nas atividades cotidianas, bem como atividades voltadas para a ampliação da cultura corporal de cada criança.
Os Parâmetros Curriculares Nacional de Educação Física (2001), entre as práticas da Cultura corporal do movimento, destacam o eixo de Jogos e Brincadeiras. Esse eixo de trabalho se justifica pelo próprio percurso histórico da área no desenvolvimento de atividades lúdicas, esportivas e "pré-desportivas", e pela imensa riqueza da nossa cultura popular, no que se referem os jogos, brincadeiras e brinquedos. Ainda que, historicamente, o universo de Jogos e Brincadeiras tenha sido tratado como um momento de descompromisso com a aprendizagem, o que se busca atualmente com a sua utilização é justamente o contrário, ou seja, perceber e localizar as possibilidades de ensino e aprendizagem e a sua inclusão no processo educativo de forma sistematizada.
A participação em situações de jogo permite e solicita a construção de inúmeros conhecimentos. Ou seja, ninguém nasce sabendo jogar, é preciso aprender. Mattos (2000, p. 181) acrescenta que "conhecer jogos e brincadeiras e refletir sobre os tipos de movimentos que envolvem é condição importante para ajudar as crianças a desenvolver uma motricidade harmoniosa".
O gesto carregado de sentido, significado e intenção assumirão então um papel fundamental no processo educativo, articulando em uma mesma proposta uma ação cognitiva, afetiva e motora. Podemos a partir desta realidade citar os objetivos pedagógicos advindos dos jogos e das brincadeiras no contexto escolar: trabalhar a ansiedade, rever os limites, reduzir a descrença na autocapacidade de realização, diminuir a dependência, desenvolver a autonomia, aprimorar a coordenação motora, desenvolver a organização espacial, melhorar o controle segmentar, aumentar a atenção e a concentração, desenvolver antecipação e estratégia, ampliar o raciocínio, desenvolvendo acima de tudo a criatividade e o trabalho dos jogos e das brincadeiras.
O educador deve acompanhar o processo de escolha, e interferir caso esta esteja sendo feita de forma inadequada, explicitando os equívocos para a criança que estiver realizando essa função.
A interferência do professor, presente na própria proposta de atividade com objetivos definidos, deve se dar no espaço, no tempo da atividade, na escolha de objetos, na determinação das regras, na distribuição de grupos, e, finalmente, na quantidade e qualidade dos movimentos que cada estrutura de jogo ou brincadeira contempla.
Conforme Rocha (2000, p.163), "... o brincar é apontado ora como uma atividade que, competindo com outras, impede as aprendizagens propostas pela professora, ora como uma atividade a partir da qual não se aprende nada". A ação lúdica no espaço escolar, não "atrapalha" como é colocado por muitos professores, já que se aprende muito através da mesma, tanto quanto os demais elementos curriculares a serem desenvolvidos.
Toda produção de conhecimento se dá por intermédio de um desenvolvimento anterior da criança, numa base mais alicerçada para que, no futuro, possa fazer ligações, desenvolver o seu raciocínio, usando suas atividades mentais com o intuito de proporcionar melhores condições de aprendizado (Piaget, 1971).
A criança amplia o seu conhecimento através da ludicidade, o que auxiliará como instrumento de imaginação, criatividade e raciocínio. O lúdico é um meio de expressão para a criança; o seu meio de expressão fundamental; expressão simbólica de expectativas e desejos. Na construção do conhecimento, em que a criança perpassa os seus desejos e a condição ao novo, para poder agregar outros pensamentos e idéias modificadoras do seu estado de aprendiz, é fundamental o reconhecimento de que a ação lúdica pode interferir construtivamente nesse processo. Quanto mais a criança estiver suscetível a aprender brincando, maior será o seu desenvolvimento cognitivo, pois poderá satisfazer, ou não, suas vontades.
Acredita-se que as habilidades cognitivas desempenhem um papel muito importante em muitos tipos de atividades cognitivas, incluindo a comunicação oral, a compreensão oral, a compreensão da leitura, a escrita, a aquisição da linguagem, a percepção, a memória, a solução de problemas, o raciocínio lógico, a cognição social e várias formas de auto - instrução e autocontrole (Flavel et. alli, 1999, p. 126).
Toda a estrutura que envolve a aquisição do conhecimento infantil sugere que a criança precisa de um incentivo para poder desenvolver-se. E é através do lúdico, que se pode viabilizar essa interligação, como instrumento que beneficie, simultaneamente, as ações do brincar, a construção do conhecimento e as aprendizagens infantis.
Vygotsky (1971) ressalta que as atividades lúdicas têm cada vez mais, o seu lugar garantido no processo de ensino-aprendizagem, pois estas aliam o lazer ao desafio, operando com todos os tipos de inteligência: inteligência lógico-matemática: interesse por problemas que envolvam seqüências e ordenação; inteligência lingüística: facilidade do uso da linguagem oral e escrita; inteligência espacial: interesse em quebras cabeças (formas de figuras planas e sólidas); inteligência intra-pessoal e interpessoal: habilidade de relacionar-se no grupo; inteligência musical: domínio de sons, alturas e tonalidades; inteligência corporal cinestésica: capacidade de apreensão de grandes e pequenos movimentos.
É por meio da ludicidade que a criança exterioriza seus anseios e imita o mundo dos adultos. Oliveira e Bossa (1999, p. 31) apontam que "ao fazer de conta que uma vareta é um carrinho, e movimentá-la pelo chão, imitando o barulho do motor", pode-se dizer que desta, e de outras maneiras, é que ela vai desenvolver a sua imaginação, inspirando-se para viver o seu mundo real, ao criar situações que ela mesma possa resolver.
Os estudos recentes têm mostrado também que as atividades lúdicas são ferramentas indispensáveis no desenvolvimento infantil, porque para a criança não há atividade mais completa do que BRINCAR. Pela brincadeira, ela é introduzida no meio sociocultural do adulto, constituindo-se num modo de assimilação e recriação da realidade (Santos, 1999, p.7).
Da mesma forma que o aprendizado é importante ao desenvolvimento intelectual da criança, o lúdico é "peça" fundamental para tal, pois as novidades do dia-dia são cada vez mais mutáveis e velozes, nas diversificadas maneiras de desvendar as curiosidades das crianças.
Toda criança precisa ter um espaço lúdico, onde possa desenvolver suas habilidades e, também, a sua criatividade. Para que isso ocorra, de modo significativo e pleno, é necessário que ela perceba que esse desenvolvimento é realmente importante ao seu crescimento, e que os próprios pais se constituem como apoiadores, nesse processo.
Mas, no menor apartamento, os adultos podem ser coniventes com as brincadeiras, arrumando o espaço disponível para criança, de maneira propícia (...) Que a criança possa ter lugar reservado para ela, mesmo que seja um canto ou umas gavetas; que seus brinquedos estejam a seu alcance para poder, desde cedo, optar pelo que deseja fazer (Machado, 1994, p.38).
Por meio do desenvolvimento lúdico, que envolve plenamente a criança no conjunto corpo e mente, é que se percebe uma integração absolutamente estreita, já que o corpo não pára e a mente tampouco, trabalhando para realizar as ações previstas e/ou criadas, a fim de que os dois entrem em sintonia.
A ludicidade auxilia consideravelmente no conhecimento e no desenvolvimento cognitivo da criança, pela busca da interação do mundo adulto e do mundo infantil. Aproxima a relação de interesse da criança pelo cultivo de suas amizades e desenvolvimento de novas situações, que exijam raciocínio, convívio com as diferentes pessoas que a cercam, bem como entre as mais diversas situações apresentadas, no decorrer da própria vida, a cada instante.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A partir deste estudo e tudo o que foi esclarecido sobre os jogos e as brincadeiras, pode-se perceber que eles estão presentes em todas as dimensões da existência do ser humano e, muito especialmente, na vida das crianças. Portanto podemos afirmar que realmente "BRINCAR" é viver, e as crianças brincam porque esta é uma necessidade básica, assim como a alimentação, a saúde e a educação.
É preciso que se diferenciem esses dois aspectos do brincar: o brincar no âmbito da escola e o brincar em outro lugar, pois esta atividade deverá ser bem planejada, sendo utilizados critérios para um momento avaliativo adequado, detectando progressos ou falhas no desenvolvimento dessas crianças.
Os profissionais da educação devem estar cientes do ensino através do lúdico, mas é preciso que obtenham mais informações e subsídios para poderem melhorar suas práticas. Estas informações e subsídios poderão ser encontrados através de textos sobre o tema: brinquedos e jogos; oficinas oferecidas por instituições adequadas; obras de autores que preocupados com o aprendizado livre, expõem seus pensamentos através de métodos e regras, proporcionando um momento de aprender mais satisfatório para essas crianças.
A utilização da ação lúdica no contexto escolar apresenta-se como uma alternativa para repensar as relações ensino-aprendizagem e com os conteúdos escolares, instaurando uma nova ordem pedagógica onde a aprendizagem pelo brincar inclui lidar com os limites que são testados, ultrapassados, estabelecidos e exigidos. No desenvolvimento do jogo ou da brincadeira, o educando desenvolve iniciativa, imaginação, raciocínio, memória, atenção, curiosidade, e interesse, concentrando-se por um longo tempo em uma atividade.
Cultiva o senso de responsabilidade individual e coletivo, em situações que requerem cooperação e coloca-se na perspectiva do outro. Enfim, a atividade lúdica ensina os educandos a viverem numa ordem social e num mundo culturalmente simbólico. Obtivemos a certeza que os jogos e as brincadeiras aplicados no processo ensino-aprendizagem significam a possibilidade de auxiliar o educador na tarefa de ensinar, dando-lhe condições de trabalho para ampliação do conhecimento da criança de forma lúdica, prazerosa, agindo e interagindo com o objeto de conhecimento e com o outro, tomando iniciativa, sendo capaz de rever ações e desenvolver-se em todos os aspectos.
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