JOGOS, APRENDIZAGEM E ENSINO

            A seguir abordaremos algumas significações de jogos, brinquedos, brincadeiras, aprendizagem e ensino em diferentes contextos sociais.Para conceituar jogos, Antunes (1998:11) afirma que: O jogo é uma arte, e, a criança sempre tem um dom natural para lidar com ele, basta ser bem cultivado que irá contribuir, no futuro, para a eficiência e o equilíbrio do adulto e será como um estímulo ao crescimento, como uma astúcia em direção ao desenvolvimento cognitivo e aos desafios do viver.  (Antunes ,1998,p.11)

            O jogo é mundialmente conhecido como “passatempo”, “divertimento”, “combinações”, etc. O jogo para apresentar efeito é necessário que seja organizado e monitorado de acordo com os objetivos que se pretende alcançar.

            Os jogos infantis despertam em nós o imaginário, a memória dos tempos passados. Ao ressaltar a importância do jogo, Piaget citado por Antunes (1998:28) diz que: “... a criança utiliza o jogo para satisfazer suas necessidades afetivas e intelectuais, assimilando o real à sua própria maneira, resultando daí um equilíbrio pessoal do mundo físico e social promovido pelos mais velhos.” Dessa forma, vimos que as crianças utilizam os jogos para dar mais significado e equilíbrio à sua própria vida.

            Para definir brincadeiras, ocorre uma dúvida “brincar” é o mesmo que “jogar”? Segundo Maluf (2004), essas palavras podem surtir os mesmos efeitos nas crianças, por serem duas palavras com o mesmo significado, pois são sinônimos de divertimentos.

            Toda e qualquer brincadeira exige regras, mesmo que estas não sejam explícitas e leva a uma interação com outras pessoas e com a realidade social como toda a criança observa condutas e apropria-se de valores e significados, compondo um repertório de regras que tecem os diversos papéis sociais.

            Quando falamos em brinquedos sempre lembramos criança, e, pensando em criança devemos sempre imaginar que o brinquedo estimula a representação da realidade e, segundo MALUF (2004:55), “Representar, é corresponder a alguma coisa e permitir sua evocação, mesmo em sua ausência.”

            Portanto, o brinquedo coloca a criança em contato com tudo o que existe à sua volta. Pode-se dizer que um dos objetivos do brinquedo é permitir com que a criança ao manipular o mesmo, perceba nele um substituto dos objetos reais. Por exemplo, ao manipular um carrinho ele se imagine um corredor de “fórmula um”, ao manipular uma boneca, a criança se vê como uma “mamãe”.

            Segundo Maluf (2004), o brinquedo ao contrário dos jogos que exigem certo desempenho de habilidades, é mais fácil de ser companheiro da criança. Ele estimula a representação, a expressão de imagens que dizem respeito à realidade da criança.

             Além disso, os brinquedos, podem também substituir no imaginário das crianças, desenhos animados, contos de fadas, estórias de índios, bandidos, etc. O brinquedo propõe um mundo imaginário a criança. Suaviza o impacto provocado pelo tamanho e pela força dos adultos, diminuindo o sentimento de impotência da criança. Ao ver um brinquedo, a criança é tocada pela sua proposta, reconhece umas coisas, descobrem outras, experimenta e reinventa, analisa compara e cria. Sua imaginação se desenvolve e suas habilidades também. E enriquecendo seu mundo interior, tem mais coisas a comunicar e pode, cada vez mais, participar do mundo que a cerca, ou seja, através da experimentação a criança aprende a controlar seus movimentos e a estabelecer ordem em seu mundo.

            O contato com diferentes brinquedos e diferentes situações estimula também a linguagem interna, a ampliação do vocabulário e o imaginário da criança.

            Particularmente penso que se dermos suporte e estímulo para a criança ela será sempre capaz de se desenvolver cada vez mais.

            Vygotski (1991) IN La Taille (1992), não hesitou em conceber a brincadeira como zona proximal, pois nela a criança supera a sua própria condição no presente, agindo como se fosse maior. A criança desafia seus próprios limites, ações e pensamentos.

            Para um melhor entendimento desses significados vamos descrever como o brincar que Froebel propunha foi visto pelas instituições infantis. Froebel foi um filósofo que introduziu o brincar como forma de educar e ajudar no desenvolvimento da criança. Ele foi responsável pela introdução de brinquedos e brincadeiras no jardim de infância. Entende também que essas brincadeiras devem ser orientadas para o desenvolvimento da criança e, para sua educação.

            Por volta de 1875, é que se criou no Brasil a exemplo da experiência americana os primeiros jardins de infância e instituições de atendimento infantil. E, somente estas instituições pareciam ter direito à proposta do brincar na escola.    

            Os estudos sobre o brincar mostram que houve várias alterações nos materiais destinados às brincadeiras. Os materiais froebelianos foram questionados por não atender a todas as necessidades das crianças, eles só contemplavam as atividades sedentárias e não desenvolviam os grandes músculos. E, via-se a necessidade de informar aos professores a importância de brincadeiras que contemplassem o desenvolvimento da linguagem, imaginação e iniciativa da criança.

            Com a expansão das creches a partir de 1970, a proposta do brincar livre recebe apoio do governo nos programas de educação, porém os brinquedos aparecem como uma mera decoração e não como suporte de desenvolvimento da criança.

            E, não é esta a proposta de se usar o brinquedo e a brincadeira dentro da escola, a proposta é se utilizar desse meio para desenvolver a autonomia da criança. E, esses brinquedos jamais devem estar em cantos ou salas fixas, pois para se desenvolver a autonomia é necessário que seu uso seja livre, até para que as crianças os aproveitem nas dramatizações. Nas brincadeiras que envolvem significados dos objetos, contribuindo claramente para o desenvolvimento da criança.

            Sendo assim, a promoção de atividades que favoreçam o envolvimento da criança em brincadeiras e jogos, principalmente aquelas que promovem a criação de situações imaginárias, têm nítida função pedagógica. A escola, poderia se utilizar deliberadamente desse tipo de situação para atuar no processo de desenvolvimento das crianças.

            Complementando, VYGOTSKY (1976) mostra que não há jogo sem regras. E é exatamente o jogo com suas regras que torna possível com que a capacidade imaginativa da criança aumente.

            A idéia de WALLON citado por La Taille (1992), é que o ambiente e a criança influenciam-se reciprocamente e que cada criança estabelece um sistema próprio de relação com o meio, a cada momento. Isto pode ser observado nas atividades em que ela se envolve na forma como interage com os demais, no tempo que dedica a cada atividade, no significado que atribui a aspectos da situação, nos locais e objetos que seleciona para brincar. Cada meio ambiente estabelece determinadas condições (meios) de desenvolvimento para a criança e esta vai selecionar, dentre os elementos nele disponíveis, aqueles que seriam condições para a realização de seus objetivos. Também ao jogar ela se comporta assim.

            Ainda falando sobre WALLON, é válido lembrar que foi ele, que batizou de jogos todos os comportamentos de descoberta da criança, porque, ao tentar descobrir coisas novas, ela está jogando.

            Para Piaget citado por Antunes (2002), o jogo na escola só tem importância quando revestido de seu significado funcional. Ele não deve ser visto só como uma atividade de descanso ou apenas o desgaste de um excesso de energia.

            Piaget concebe o jogo como um exercício preparatório, desenvolvendo na criança suas percepções, sua inteligência, suas experimentações, seus instintos sociais, etc. Diz também que por meio da atividade lúdica, a criança assimila ou interpreta a realidade a si própria, atribuindo então, ao jogo um valor educacional muito grande. Por ser o jogo, considerado como uma atividade importante a ser empregada na educação das crianças é que PIAGET (1978) IN La Taille (1992), destaca a influência efetiva do jogo espontâneo como instrumento incentivador e motivador no processo de aprendizagem, já que este proporciona à criança uma reação própria que faz exercer de maneira significativa sua inteligência e sua necessidade de investigação.

            Já KAMII (1991, p.15), parte da afirmação de Piaget: “que o jogo é um tipo de atividade particularmente poderosa para o exercício da vida social e da atividade construtiva da criança.”

            Assim, Kamii pontua em seus trabalhos, os jogos em grupo como fator de importância para o desenvolvimento da capacidade cognitiva e interpessoal, sendo mais eficiente e prazeroso do que meras folhas de exercícios e atividades similares. E acrescenta: “A crescente capacidade de jogar em grupo é uma conquista cognitiva e social de grande importância que deve ser encorajada antes dos cinco anos e estimulada depois dessa idade.”

            Complementando Kamii (1999,p.19) afirma que: “... vê a autonomia como finalidade da educação. E, os jogos como início do desenvolvimento dessa autonomia.”

            Em seu livro “A Criança e o Número” (1984) Kamii propõe jogos de regra como meio para o aluno estabelecer relações e quantificar objetos e, procura mostrar que a criança aprende por meio desses jogos e que o professor pode intervir de modo a fazer com que a aprendizagem se torne mais significativa. Esses jogos são caracterizados por uma atividade que propõe ao jogador uma situação problema (objetivo do jogo), um resultado em função desse objetivo e um conjunto de regras.

            A importância desse tipo de jogo no contexto pedagógico é a de permitir, uma aproximação do mundo mental da criança, pela análise dos meios e dos procedimentos utilizados ou construídos durante eles. Os jogos são importantes na educação das crianças, uma vez que permite o desenvolvimento afetivo, motor, cognitivo, social e moral e a aprendizagem de conceitos, pois jogando, a criança experimenta, descobre, inventa, exercita e confere suas habilidades, estimulando a curiosidade, a iniciativa e a autoconfiança, proporcionando aprendizagem, desenvolvimento da linguagem, do pensamento e da concentração, sendo indispensável à saúde física, emocional e intelectual da criança.

REFERENCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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ANTUNES, Celso. Jogos para a estimulação das múltiplas inteligências. 12ª ed. Petrópolis. RJ: Vozes. 1998.

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BRENELLI, Rosely Palermo. O jogo como espaço para pensar: A construção de noções Lógicas e  Aritimédicas . Campinas, São Paulo: Papiros, 1996. P. 19-29.

CENTURIÓN, Marília, ET al. Jogos, projetos e oficinas para a educação infantil. São Paulo: FTD. 2004. 

FERREIRO, Emília. A Psicogênese  da Língua Escrita. Porto Alegre: ARTMED. 1995.

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_____A Criança e o Número. 1984. Sid.

(LÜDKE E ANDRÉ, 1986, p. 25).