JESUS  E  A  REENCARNAÇÃO

 

 

Na verdade, as crenças de uma única existência corporal, e da salvação ou perdição irremissível das almas num juízo definitivo, tornam-se coisas desarrazoadas e de difícil aceitação nos tempos modernos; e, sobretudo quando se tem em mira os postulados básicos da palingenesia e da evolução espiritual.

 

A tais crenças, não restam alternativas outras senão desaparecer dos sistemas religiosos que as abrigam na medida em que se assumem novas perspectivas e novos padrões de entendimento bíblico e cristão, impulsionados pelo irresistível progresso espiritual dos povos, das culturas, das idéias, enfim.

 

Com efeito, uma soma incalculável de problemas aparece quando se tem em mente crenças tão infantis e realmente desconectadas da realidade, de tantos estudos filosóficos e científicos da atualidade tais como os citados em outro artigo de minha autoria intitulado: “Ciência Detectando o Espírito”, onde pude citar os trabalhos mais ou menos recentes dos cientistas e pesquisadores:

 

-Ian Stevenson: “Vinte Casos Sugestivos de Reencarnação”;

-Hernani G. Andrade: “Reencarnação no Brasil”;

-Hamendras N. Banerjee: “Vida Pretérita e Futura”; e

-Hermínio Miranda: “A Memória e o Tempo”.

 

Mas, em face da teimosia e da insensatez dos materialistas e, me dirigindo mais especificamente aos fideístas religiosos bíblicos, seria o caso de se perguntar:

 

-Porque as almas das crianças são salvas se não tiveram tempo de praticar o bem e tampouco o mal?

 

Ora, elas não teriam o mérito e tampouco o demérito.

 

 

 

-E porque seriam salvas as almas que, embora seguissem certos princípios de religiosidade, levavam uma vida de contemplação e de ociosidade, se esquecendo de seus semelhantes, ao invés de se juntar a eles pela prática do bem, do amor e da caridade?

 

Ora, a contemplação sem obras, na ociosidade e no isolamento, é extremamente perigosa por não permitir o contato com o semelhante, de confortá-lo em seu ombro, pois que ali, junto ao próximo, é que se oferecem as oportunidades da verdadeira amizade, do perdão, da solidariedade cristã.

 

-E porque estariam condenados às penas eternas, os ateus descrentes e os materialistas que trabalharam e sofreram todas as agruras da vida para constituir uma família exemplar, se sacrificaram para educar seus filhos e encaminhá-los ao bem?

 

Na Parábola do Samaritano considerado herético, mas que agira com benevolência para com o seu semelhante, Jesus não o coloca acima do sacerdote que faltara com a caridade? (Vide: Lucas, Cap. 10, vv. 25 a 37). E, na expressão: “Nem todos os que dizem: Senhor, Senhor, entrarão no reino dos céus, mas somente aqueles que fazem a Vontade do meu Pai que está nos céus” (Vide: Mateus, Cap. 7, v. 21), Jesus não se referia exatamente aos religiosos que não cumprem com suas obrigações morais?

 

Por outro lado, pergunta-se ainda:

 

-Porque permitiria Deus viessem ao mundo indivíduos cheios de sabedoria, que apresentam precocemente geniais aptidões para as Artes, a Ciência, a Música, enquanto outros se apresentam parvos, com baixíssimo grau de inteligência, para não dizer: débeis mentais, e outros ainda, mesmo que psicologicamente normais, necessitam de anos e anos de estudo, de trabalho e de aplicação para no fim de toda uma existência não passarem de semi-analfabetos se comparados a um Newton, um Kepler, um Bethovem?

 

Por que não admitir, com bom senso e coerência, que tais gênios são Espíritos que fizeram grandes progressos espirituais e que, portanto, são mais crescidos pela Lei Palingenésica da Evolução?

 

Ora, se não admitir-se citada Lei:

 

-Como explicar uma alma bondosa, muitíssimo elevada em sentimentos, em ética cristã, como a de um Francisco de Assis, um Chico Xavier, uma madre Teresa de Calcutá, um Ghandi que, pela excelência de seus princípios ganhou o codinome de apóstolo da não-violência?

 

-Pela unicidade (uma única vida) existencial, como pensar que Deus possa criar aquelas almas dotadas de tanta brandura, misericórdia e amor, e, ao mesmo tempo, criar almas inferiores, cruéis e animalizadas como as de um Calígula, um Hitler que autorizou o extermínio de milhões e milhões de seres humanos, seus irmãos em humanidade?

 

Dirão alguns que o homem é livre para semear o bem ou o mal, mas nada poderá explicar os sentimentos tão elevados dos primeiros e os tão baixos dos segundos senão pelo renascimento sucessivo, pois que Deus, sendo Justo, e se a Sua Lei é Reta, Equitativa e Inquebrantável, Ele não poderia legislar com parcialidade dotando uns de tão extremadas virtudes e outros de tão vil perversão moral.

 

Daí a razão das vidas sucessivas, expressando nestes e naqueles outros, suas reais condições evolutivas e morais perante a Soberana Lei. E, se Deus não quer que nenhum de seus filhos se desgarre e se perca na iniqüidade, isto significa dizer que todos os que não lhe seguem a Lei, os viciosos, os réprobos, os criminosos, todos, enfim, terão novos ensejos para o recomeço, com novas experiências, enfim, que os façam retomar o caminho da escalada evolutiva se arrependendo e se redimindo, pois que estão sujeitos, como tudo e todos, à determinística Lei da Progressão Espiritual.

 

Eis aí a força maior do Espiritismo, em cujo tripé doutrinário se coloca uma filosofia esclarecedora, que se dirige diretamente à razão do homem moderno, ao bom senso das criaturas que o procuram e nele encontram a solução para os mais graves problemas: do porquê da vida, de onde viemos, para onde vamos e a certeza inabalável de que o mal vigente no mundo é passageiro, haja visto que, nesta hora mesma, um Recenseamento Maior se faz separando as “ovelhas” dos “bodes”, sendo que estes, a seu turno, e por não se emendarem, serão constrangidos a amadurecer seus Espíritos noutras moradas do concerto universal, moradas também de Deus, mas inferiores a esta morada terrena em que perturbam a paz e o bom relacionamento dos povos.

 

Ora, sem a Lei de Causa e Efeito, traduzida pela reencarnação:

 

-Como encontrar explicação racional para as tantas disparidades do mundo?

 

-Como explicar a flagrante diferença entre o agora e o que já fora, entre o presente estado de coisas de nossa sociedade progressiva e o estado barbárico dos tempos primeiros da espécie humana?

 

Se as almas são criadas simultaneamente com o corpo, as almas que nascem hoje deveriam ser tão primitivas quanto as que viveram, por exemplo, há milhares de anos, tempos em que os dados disponíveis indicam tenham vivido os primeiros humanos de aspectos bem parecidos com os do homem moderno. E se isto não se verifica, Deus seria injusto e parcial por criar presentemente almas melhores, de instintos mais brandos, de mais ampla inteligência e compreensão, do que aquelas que deram origem à raça humana em tempos imemoriais. Porém, se admitirmos que as almas do presente já viveram outrora, habitaram outros corpos, e que, portanto, também elas já foram primitivas, mas evoluíram, trazendo, para cada novo ciclo de renascimento e morte, a experiência adquirida, e se terá uma explicação plausível da evolução da espécie e dos paulatinos surtos de progressão social.

 

Idéia grandiosa, muito mais justa e bela por nos ligar a todos pelos vínculos perenes da solidariedade universal contida no espaço infinito do tempo-evolução.

 

E assim, o passado torna-se solidário com o presente e o futuro, explicando, se acrescente ainda, as origens mais remotas e a cósmica destinação do Espírito humano. Noutras palavras: se tem a mais nítida e profunda impressão de que somos verdadeiramente irmãos desde longas eras, irmãos viajores do tempo-evolução, da infinidade do espaço que não comporta começo nem fim.

 

Nisto se verá, ao demais, a Justeza e a Imparcialidade das Leis de Deus, e não o oposto como ensinam e mantêm na ignorância aqueles que adotam o falso princípio de que alma é criada junto com o corpo e que basta, para mim, para você e para todos os humanos uma única e tão amesquinhada existência biológica e material.

 

Sabemos que Deus é sinônimo de Sabedoria, de Bondade e Amor, por ser, como verdadeiramente o É, Sabedoria, Bondade e Amor. Ele nos deu a vida e está sempre perdoando nossas faltas, mas usa de mecanismos de Sua Soberana Lei para nos corrigir como um pai corrige seu filho, para que não continuemos no caos, na desarmonia de nós mesmos, violando Suas Leis. Ora, pelo dogma insustentável de uma única existência humana:

 

-Como explicar os cegos, os paralíticos, os cretinos e deficientes mentais congênitos que já nasceram com tais distonias, sejam elas físicas ou psicológicas, ou de ambas as categorias, que traduzem extrema desarmonia congênita em que o nascituro denota, pois, um mapa existencial tão complexo e doloroso?

 

A equação espiritista, portanto, dá uma explicação justa e plausível para os casos em questão, e não justificativas obscuras e pouco aceitáveis ao exigente critério de apreciação das coisas em nosso tempo.

 

 

Para Emmanuel, um dos mais esclarecidos instrutores espirituais:

 

“Os que se envenenaram, conforme os tóxicos de que se valeram, renascem trazendo as afecções valvulares, os achaques do aparelho digestivo, as doenças do sangue e as dificuldades endocrínicas, tanto quanto outros males de etiologia obscura; os que incendiaram a própria carne amargam as agruras da ictiose ou do pênfigo; os que se asfixiaram, seja no leito das águas ou nas correntes de gás, exibem os processos mórbidos das vias respiratórias, como no caso do enfisema ou dos cistos pulmonares; os que se enforcaram carreiam consigo os dolorosos distúrbios do sistema nervoso, como sejam as neoplasias diversas e a paralisia cerebral infantil; o que estilhaçaram o crânio ou deitaram a própria cabeça sob rodas destruidoras, experimentam desarmonias da mesma espécie, notadamente as que se relacionam com o cretinismo, e os que se atiraram de grande altura reaparecem portando os padecimentos da distrofia muscular progressiva ou da osteíte difusa. Segundo o tipo de suicídio, direto ou indireto, surgem as distonias orgânicas derivadas, que correspondem a diversas calamidades congênitas, inclusive a mutilação e o câncer, a surdez e a mudez, a cegueira e a loucura, a representarem terapêutica providencial na cura da alma”. (Vide: “Religião dos Espíritos” – Psicografia de Chico Xavier – Feb).

 

Assim sendo, observa-se que tais problemas, estados patológicos os mais diversos da humanidade terrena, refletem uma desordem interior, surgem de dentro para fora, pois que estão sediados na genética espiritual que é causa da genética biológica e material. Esta, então, não passa de um efeito, de um reflexo instalado na profundidade consciencial, não abarcável, pois, pela análise de superfície, que vê apenas o exterior e não considera a base espiritual em que se assenta o indivíduo que renasce, que é detentor de uma pré-existência, de experiências vividas e transpostas, boas ou más, equilibradas ou não.

 

 

 

 

O homem, pois, é sempre o herdeiro de si mesmo, de seus bons ou maus atos, o que é justo e pertence à Lei.

 

Mas, para contestar a infundada teoria de uma única existência, outras perquirições de ordem moral poderiam ser levantadas:

 

-Por que uns nascem em berço de ouro, na opulência, e outros na mais deplorável miséria? Por que uma tão covarde e injusta distinção, tendo uns: tudo, possuindo outros: nada? Que Lei é esta que distingue os homens, que faz uns melhores que outros, que os contempla ou os pune severamente?

 

-Que Deus seria este ao permitir tantas injustiças, a distribuir, desigualmente, alegrias e tristezas, saúde e enfermidades, beleza e deformações que contradizentes dogmas teológicos querem impor, explicar não explicando, defendendo sem defender?

 

Ora, o homem já está apto a saber que tem diante de si uma Lei Infalível, e que aquele que a observa e cumpre seus mandamentos se livra sem tropeços de uma série de inconvenientes , de situações dolorosas, forçadas pelo recomeço da tarefa pelo que se conhece como palingenesia ou reencarnação.

 

E Jesus, o nosso Mestre Maior, veio também pregar a idéia transmigratória da alma. Não se o vê, em tempo algum, condená-la ou combatê-la. O que vemos, pelo contrário, é a sua plena e absoluta confirmação, fato que denuncia o erro das religiões ditas cristãs que, afinal, interpretam com equívoco tais passagens, de resto, muito explícitas dos relatos bíblicos, do Velho e do Novo Testamento.

 

O profeta Malaquias, Cap. 3, vv. 22 e finais, afirma taxativamente, sem alegorias ou figuras, que o Senhor Javé vai mandar de volta o profeta Elias. E, se recorrermos, agora, a Mateus, Cap. 12, vv. 7 a 14, veremos que Jesus comenta com seus patrícios sobre o ministério de João Batista, e esclarece que João é um profeta, ou, melhor dizendo, mais que um profeta.

 

Nas passagens seguintes, Jesus vai garantir categoricamente que:

 

“É de João que a escritura (de Malaquias, é evidente) faz referência”. (Opus Cit.).

 

E, para que não paire dúvidas a respeito, o Mestre ratifica que João é a reencarnação de Elias, ao afirmar:

 

“Se quereis compreender o que vos disse, João é o Elias que deve vir”. (Opus Cit.).

 

E se recorrermos, ainda, ao Evangelho de João, Cap. 3, vv. 1 a 12, encontraremos outras passagem ainda mais inconfundível do referido fenômeno palingenésico, onde o senador Nicodemos, falando ao nosso Senhor de sua missão de vir nos instruir, veremos que Jesus vai replicar:

 

“Em verdade, em verdade, vos digo: ninguém pode ver o Reino de Deus se não nascer de novo”. (Opus Cit.).

 

Obviamente que não se trata de nascer de novo pelo batismo, como interpretam seculares e arcaicas crenças escolásticas. Ora, em nenhum momento vemos o sábio Messias confundir as duas coisas. E, logo mais adiante, naquela passagem mesma, Jesus acrescenta ao senador que, em também ele ignorando a Lei dos Renascimentos sucessivos:

 

“Não vos espanteis de que eu vos disse que é preciso que nasçais de novo”. (Opus Cit.).

 

E como a reencarnação é ainda tão rejeitada pela curta mentalidade das religiões ditas cristãs, vemos, assim, que só muito vagarosamente o Evangelho vai sendo compreendido e assimilado pelos humanos, e cada qual só irá apreendê-lo e praticá-lo consoante o nível de despertamento evolutivo a que chegou.

 

 

 

Um dia seus princípios éticos, e, sobretudo filosóficos, haverão de ser praticados e compreendidos por todos, indistintamente, pois que eles, na correta previsão de Jesus, e constante de Mateus, Cap. 24, v. 14, serão espalhados por todas as nações da Terra, pois, frisando bem e, para que não haja dúvidas:

 

“Estas boas novas do Reino serão pregadas em toda a Terra habitada, em testemunho a todas as nações”. (Opus Cit.).

 

 

Articulista: Fernando Rosemberg Patrocínio

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