JBS: DISTRIBUI $ PARA POLÍTICA E PREJUIZO AO INVESTIDOR Nacir Sales¡ Uma empresa, quando abre o seu capital e capta recursos na BOVESPA, está dizendo para todos os investidores: "comprem ações da companhia que você terá lucro!" Na ótica do investidor o convite é este e apenas este. Para garantir que esta ótica será respeitada, o investidor observa a segurança jurídica do país, sente a presença vigilante da CVM, realiza suas análises econômicas e aceita ou não o convite. Se compra 1 ação, comprou a certeza de que a empresa funcionará dentro do quadrado da lei: quem lhe garante é a CVM e o Conselho Fiscal da Companhia, além da Auditoria dita "Independente". O investidor, agora Acionista, entrega, pois, o seu dinheiro e a sua confiança à Administração da Cia. E o Acionista segue a sua vida, vai trabalhar, vai descansar, vai estudar, vai? vai viver a sua vida normal, dormindo em paz porque o seu investimento conta com o aval da CVM, do Conselho Fiscal da Cia e da Auditoria "independente". No final do ano ele retorna à Cia para receber o que lhe foi prometido: dividendos. Se a Cia escolhida foi o JBS S/A, o acionista chega na boca do caixa e pergunta: "JBS, deu dividendos?" Os resultados publicados respondem: "este ano não, lucro não deu mas o JBS deu 10 milhões para a candidata se eleger Presidente" O acionista acrescenta mais uma pergunta: "não deu lucro, deu dinheiro para política, mas além de ficar com o meu dinheiro parado, ao menos prejuízo não deu, né?" A Cia responde: "Deu sim, deu prejuízo mas também deu R$ 300 mil para o Deputado se re-eleger." O acionista já em estado de choque: "Mas que deputado é este que ganha doação do JBS enquanto eu ganho prejuízo?" "Meu senhor ? responde o lógico que ocupa o encargo de responder ? não se trata de um deputado qualquer, trata-se do Deputado Leandro Vilela." Agora, o Acionista veio a saber que o tal deputado preside a sub-comissão da Comissão de Agricultura da Câmera de Deputados, que aprovou a fusão JBS/BERTIN: não é um deputado qualquer, mas justamente um que se fez impedido eticamente de se dizer isento e imparcial para presidir atos deputais de interesse do JBS. O Acionista então retruca: "mas junto com o meu dinheiro eu lhe dei procuração para escolher entre dar lucro ou dar dinheiro para a política?" Em crise de identidade, já não sabendo se consulta a sua carteira de ações ou seu título de eleitor o Acionista aciona: "Eu lhe dei procuração para eleger por mim entre a candidata X, o candidato Y, o deputado Z?" Não contente, o Acionista pergunta: A QUEM SERVE UMA EMPRESA DE CAPITAL ABERTO QUE DÁ VOTOS E NÃO DÁ LUCRO? Agora eu pergunto: a quem deve o Acionista dirigir esta pergunta? À CVM? Ao Conselho Fiscal do JBS? À BDO, Auditora Independente? Ou à KPMG, que comprou a BDO? Trata-se de uma pergunta retórica, vez que traz em si uma resposta. A resposta à pergunta feita pelo Próprio Presidente do JBS, quando formulou aos jornalistas a indagação do porquê das ações do JBS não subirem de valor. Creio, está respondido. Definitivamente, esta empresa entre dar lucro ao investidor e dar dinheiro para a política, escolhe dar dinheiro para a política. Assim, aquele investidor que quer delegar a terceiro o seu centavo, para que terceiro doe à política, que compre ações do JBS: esta empresa serve a isto. E, se já sabemos a que serve o JBS, necessário saber como servirá aos acionistas desta empresa a CVM, o Conselho Fiscal e a Auditoria Independente: serão observadores da cena ou serão instrumento de segurança do investidor? ___________________________________________________________ ¡Nacir Sales é advogado, especialista em direito societário pela FGV, escritor de 27 livros e prepara o lançamento de seu novo livro JBNDES: ainda não proibido