Jantar de família. Como todo jantar de família, todos estavam envoltos sobre a mesa, disputando quem ficaria com a sobrecoxa do frango assado, e eu, como sou ainda um mero aspirante a integrante familiar, não me habilitei a entrar nesse curioso combate e me conformei em deliciar um farto pedaço do peito que estava desprezado no canto da forma junto a uma batata e duas azeitonas.

Observei curioso a atitude da minha querida cunhada – livre docente em farmácia pela UNESP  –  e que desenvolve uma pesquisa de uma goma de mascar que combate as cáries, que ela me explicou como sendo os chamados alimentos funcionais.

No final do saboroso banquete, em vez de nos presentear com uma deliciosa torta de chocolate, mousse de maracujá, um pudim de leite condensado ou qualquer outra guloseima que fizesse elevar nossa diabetes as alturas, ela abriu uma caixa esterilizada, colocou uma luva cirúrgica e retirou cuidadosamente uma massa de gosma esbranquiçada de aspecto pouco agradável, que é objeto de seus estudos nos últimos três anos, a famosa goma de mascar.

De gosto idêntico ao do Trident, diferencia-se pelo aspecto crocante gerado pelos lactobacilos vivos que combatem as cáries, crocancia que lembra os chicletes que pintam a língua que  velhinho do carrinho de pipocas vendia em frente a escola que estudava quando criança.

Maravilhado com a explicação biológica sobre o alimento dada por ela, decidi experimentar sua pesquisa em uma quantidade única, que se equiparava a uns 15 ou 20 chicletes, mas que fizeram que eu mal conseguisse mastigar, e ocasionasse que a saliva escorresse pelos cantos da minha boca, o que fez com que alguns convidados olhassem com cara de nojo para mim.

Pensei estatelado qual seria o próximo avanço da medicina. Chocolates que nos fizessem emagrecer? Absorventes que diminuíssem os efeitos da TPM nas mulheres? Barrinhas de cereal que desvendassem os mistérios das provas de matemática? Água mineral rejuvenescedora? Paçoquinha de efeito semelhante ao Viagra? Cervejas anticoncepcionais?

A ideia do estudo dos alimentos funcionais é interessantíssima, por que ao mesmo tempo em que satisfaz uma necessidade primária, em outro viés combate outro problema não aparente ao primeiro instante.

Listei a ela algumas sugestões de produtos que adoraria que ela que desenvolvesse: queijo minas que tornasse os casais mais compreensivos entre si reduzindo o majestoso número dos divórcios, um refrigerante de açaí que inibisse a inveja e a falsidade, um chá de ferraguela que impossibilitasse as pessoas de realizarem qualquer espécie de calúnia e comentários maldosos tornando-as mais misericordiosas ou picolé que transformasse os políticos corruptos em honestos.

Ela, em tom jocoso, olhou nos meus olhos e me deu uma resposta desanimadora, porém honesta: “A ciência não evoluiu tanto assim.”