Isso é Incrível! Quem de nós pode dizer que nunca soltou a exclamação de que: "isso é incrível!" Normalmente quem fala isso está querendo demonstrar uma enorme admiração a respeito de algo. Aquilo que é extremamente admirável é "incrível". E assim podemos dizer que incrível não é, necessariamente, algo maravilhoso pela sua beleza e exuberância, mas aquilo em que não podemos, não queremos, não devemos acreditar. Incrível é não crível, é algo em que não se crê. Portanto, quem diz, "isso é incrível" está dizendo que não acredita naquilo que está à sua frente. O motivo de não acreditar pode ser tanto a maravilha como o absurdo do fato. Diante de algo maravilhoso ou absurdo, justamente por ser maravilhoso ou absurdo, dizemos que não acreditamos. Não por incredulidade, mas pelo ineditismo do que se nos apresenta. Assim quando se nos apresenta algo que foge à normalidade, ao cotidiano, ao que estamos acostumados, algo que não se encaixa nos padrões, que foge às regras, que quebra as convenções, é que soltamos o brado de que "é incrível!". E ao dizer isso estamos como que dizendo "não posso crer no que estou vendo!" Essa incredulidade vem não da inveracidade do fato ? pois se é fato é verdade ? mas de sua inediticidade. O que é inédito, justamente por ser novidade, cria a sensação de inverossímil. Vale lembrar, ainda, que a exclamação: "isso é incrível" se assemelha à postura a partir da qual nasce a filosofia. Dizem os filósofos que a atitude originante da filosofia é o espanto. Algo que nos deixa espantados, nos convida a buscar sua explicação. Da mesma forma que alguém afirma ser algo "incrível", constata também, que essa realidade é espantosa. E se algo é espantoso e convida à busca pela sua explicação, é porque permanece sendo incrível, pois o crível ? aquilo em que se crê ? dispensa a explicação: ou por ser um fato já conhecido ou por não ser admirável nem novidade. A filosofia, portanto, nasce diante daquilo que exerce um fascínio especial, por ser incrível, inédito, absurdo, maravilhoso, espantoso. Mas aqui estamos querendo dar uma nova inflexão ao incrível. Pois o que temos visto, além de ser absurdo e espantoso, é inaceitável. Então vejamos: as ruas são feitas para o tráfego de veículos e pedestres. Isso ninguém discute. É fato. Por ser um espaço em que circulam muitas pessoas e para facilitar a vida de todos, fazem-se necessárias algumas normas. São as normas ou as leis de trânsito. Além disso, para explicitar a regulamentação dessas leis e normas, são criados alguns sinais: as placas de sinalização, as cores dos semáforos... E todos aqueles que circulam pelas vias baseiam-se nessa sinalização. Com isso podem-se evitar acidentes, prejuízos financeiros e humanos. Nossa cidade tem ruas, portanto, aqui deveriam se aplicar as leis e normas de trânsito. Mas isso não é um fato. Pelas ruas circulam tanto os que respeitam as normas como os que as burlam. E são justamente esses os que mais provocam acidentes. Infelizmente nem sempre são eles que morrem, pois se assim fosse, com o tempo ficaríamos livres dos infratores: logo morreriam todos. Mas eles matam aos inocentes. Como eles agridem aos inocentes ou aos que estão respeitando as normas, deveriam ser punidos. Mas por uma série de circunstâncias, isso não ocorre. Por quê? Porque o poder público, que tem a obrigação de fiscalizar o cumprimento das leis de transito, se omite... e mata. Não é só o infrator que mata; também o poder público, por ser omisso. Onde está a omissão? Na falta de sinalização nas ruas, na falta de fiscalização sobre os condutores de veículos, na falta de manutenção na sinalização existente, na falta de manutenção nos semáforos. Enquanto o poder público se omite na fiscalização e melhoria do transito, sorrateiramente se infiltra, feito larápio, pelas brechas e falhas da lei e nos faz outra agressão: um assalto na forma de imposto. O IPTU deixou de ser Imposto Predial e Territorial Urbano, para ser Imposto Provocando Transtornos pela USURA. O aumento abusivo e inexplicável é uma forma de usura, até pode ser legalizada, mas é ilegítima. Assaltam-nos em nome da lei. Extorquem à população dizendo que é para melhorias sociais. Mas o que vemos são ruas esburacadas, sem iluminação, trânsito caótico... Até parece uma paródia bíblica: e o caos se fez! Isso é incrível, não por ser inédito, pois a coisa vem de longe, mas por ser inaceitável. Inaceitável o que eles fazem... e inaceitável que nós permitamos que façam! Incrível! Neri de Paula Carneiro ? Mestre em Educação, Filósofo, Teólogo, Historiador. Leia mais: ; ; ; ;