Investimentos em energia: limites e alternativas

O Brasil finalmente está em uma fase de crescimento econômico, depois de décadas de quase estagnação e falta de investimentos. Os principais fatores que nos últimos oito anos, contribuíram para a boa fase econômica que o país vive atualmente, foram: controle da inflação, que teve início no Plano Real, ainda na década de 1990; aumento crescente das exportações, principalmente commodities para a China; crescimento do mercado consumidor interno, como efeito retardado da estabilização econômica e dos programas de distribuição de renda, entre outros. A tendência, no entanto, é que este crescimento não poderá ser mantido por muito tempo, devido às limitações da nossa infraestrutura e da falta de oferta de mão de obra qualificada.

Especificamente com relação à infraestrutura, temos na geração de energia (eletricidade e combustível) um dos fatores que poderiam limitar o crescimento da economia. Paradoxalmente, o grande problema do Brasil não é a falta, mas o excesso de recursos naturais. Se a previsão do pré-sal se confirmar, seremos o quinto maior produtor mundial de petróleo e uma dos maiores de gás natural. Temos grandes recursos hídricos e somos um dos quatro países com tecnologia para processar o yellow cake, combustível à base de urânio (do qual também dispomos em grande quantidade), essencial para os reatores nucleares. Além disso, somos o segundo maior produtor mundial de etanol, depois dos Estados Unidos.

O grande problema é que usando nossos recursos sem parcimônia, podemos botar tudo a perder. Os rendimentos do petróleo se mal aplicados, nos levarão a uma dependência cada vez maior do recurso, sem que tenhamos realizado investimentos em desenvolvimento tecnológico, educação e meio ambiente. As grandes hidrelétricas, caso se espalhem na Amazônia, levarão a um gradual desmembramento dos diversos ecossistemas, fazendo com que os espaços sejam ocupados por uma agricultura e pecuária predatórias (já que o solo amazônico é relativamente pobre sem a cobertura florestal). O mesmo se aplica à cultura da cana, que pode não servir mais para nada, caso os países desenvolvidos inventem uma solução tecnológica mais barata e eficiente (etanol celulósico, célula de combustível segura e eficiente ou motores híbridos mais competitivos).

Precisamos continuar investindo nas fontes energéticas convencionais. Não podemos nos iludir, achando que poderemos manter o crescimento econômico sem expandir a geração de energia e combustível. Mas, precisamos fazê-lo incorporando novas tecnologias. Não é por acaso que os países desenvolvidos investem cada vez mais na descentralização da geração, coisa que poderíamos fazer alocando recursos na cogeração a partir de biomassa e biogás, energia eólica, fotovoltaica; o potencial do Brasil é muito grande. Precisamos investir também na eficiência energética, já que o potencial de redução do uso de energia só na indústria é de quase 40% - isso sem contar o setor de construção, transportes e produtos de consumo. Nestas duas áreas, energia renovável (excetuando-se a hidroenergia) e eficiência energética, o Brasil ainda tem muito que fazer. No caso da energia nuclear é desejável que se construam mais uma ou duas usinas, principalmente para que as novas gerações de pesquisadores, engenheiros e técnicos continuem a dominar o processo de construção e operação de tais usinas. Todavia, não há necessidade de construirmos um grande numero de geradores nucleares, já que dispomos de uma série de outras fontes energéticas.

Além de continuar investindo na geração, o Brasil precisa descentralizar sua geração, investindo ao mesmo tempo em novos tipos de geração de energia e de tecnologias de menor consumo (eficiência). Também precisa democratizar as decisões, impedindo que a geração de energia ainda seja decidida por burocratas de gabinete, onde os diversos grupos de pressão (construtoras, fornecedores de equipamentos) ainda têm forte influência. Do mesmo modo, os setores de alto consumo de energia (alumínio, papel, aço, químico) ? muitas vezes gerando poucos empregos e muitos impactos ambientais ? precisarão melhorar sua performance energética cada vez mais ou se mudarem para outros países, como o fizeram ao vir para o Brasil.


Ricardo Ernesto Rose
Jornalista, Licenciado em Filosofia, Pós-Graduado em Gestão Ambiental