Este pode ser mais um texto que se encaixa na série: "Acho que meu colchão é um Studio de Hollywood".  Começa com um dos meus filhos reclamando por estar dirigindo o seu carro novinho por uma estrada, que nada tinha de estrada, só há buracos e pedriscos soltos. 

Para estacionar, e eu pergunto se é correto, se não vão multá-lo, ele usa a única superfície lisa que encontra nas proximidades, a calçada de um prédio em construção, coloca o carro em um ângulo de 40 ou 50 graus. Ele ia esquecendo-se de ligar o alarme do carro, o local é muito deserto, eu falo que é melhor não facilitar.

Após esta cena não volto a ver meu filho no sonho, então estou próximo de um barranco de terra, o céu está bem azul, apesar de eu ouvir se já seriam umas oito e meia da noite, não há nuvem sequer ou sinal de que começará escurecer. 

Olho para o lado e vejo algumas mulheres de meia idade, até bem arrumadas, com roupas coloridas, lamentando entre si que precisavam achar algum local para beberem e se divertirem, pois a noite prometia ser das mais bonitas.

Neste momento, chama a minha a atenção, mas parece que as tais mulheres nem viram, pois foram embora à procura talvez de algum bar, começam passar umas enormes nuvens bem negras e muito baixas. Elas são estranhas, parecem ter vida própria e passam separadamente, sobem e desce de maneira aleatória, tomando lugares no céu, como se movimentassem em um tabuleiro de xadrez, ou coisa parecida.

Passo a observar com mais atenção aquelas nuvens e noto que algumas começam a tomar forma de grandes bolas, como se fossem pequenos planetas ou outros astros e sobre alguns daqueles círculos erguem-se criaturas estranhas, com capuzes e mantos negros, que na hora me fizeram lembrar personagens de desenhos animados da minha infância ou dos vídeos games atuais da criançada.

Embora assustado, mantive minha observação, até que aqueles seres tomaram posição ameaçadora. Nas mãos, até então aparentemente vazias, formavam bolas menores e as lançavam contra o solo e elas vinham com rastro de fogo e explodiam ao tocar no chão, incendiando carros e provocando pânico e correria em quem estava por perto. 

Além disso, daquelas bolas maiores, alguns seres menores, que eram alados e muito magros, lançavam-se à Terra em perseguição de pessoas apavoradas.  Vejo um desses seres perseguindo uma criança que corre desesperada e entro em ação para salvar o menininho.

Pego o garoto pelo braço fininho e entro na primeira casa que vejo com a porta aberta, ele nem espera para ver o que mais ia acontecer, some pela casa e eu tento fechar a portar para conter o tal ser que vinha voando em velocidade espantosa. 

A porta fecha e prende um dos braços daquela criatura, uma mistura de gente e pássaro, sei lá, debatendo as asas, querendo escapar de qualquer maneira, eu o interrogando, querendo saber o que era e de onde veio e aquele ser, de braços muito finos e frios, só dá gritos muito agudos, que ficam mais assustadores com o forte bater de asas.

A criatura, apesar de magra, é forte e com a outra mão ou pata, sei lá, tenta quebrar o vidro da porta, eu não sabia se apenas para tentar se soltar ou para me pegar. 

O barulho chama atenção de pessoas, que acredito estarem em um quarto da casa, ouço vozes conhecidas, aparentemente de meus irmãos e outras pessoas que conheço, chamo desesperadamente para me ajudarem a conter a tal criatura, mas nada além  das famosas frases: “ o que está acontecendo?”, “espera aí já to terminando uma coisa e vou aí”, “nossa, que desespero, não tem paciência, não?”...

E nada de alguém aparecer para ao menos testemunhar o que estava acontecendo e principalmente para ajudar a capturar aquela coisa e quem sabe a gente entender o que se passava... 

Sem que ninguém apareça, eu mantenho o braço esquerdo daquela criatura preso sob o meu joelho direito e com a minha mão esquerda me esforço para evitar que o braço direito daquele ser ultrapasse o vidro, agora quebrado, da porta e alcance o meu pescoço. 

A luta é intensa, o barulho também e ouço uns resmungos: “mas o que está acontecendo?”, mas eu acordo do sonho sem que ninguém apareça sequer para ver o que ocorria, quanto mais para conter aquela criatura, que não aparentava ser do bem não...