Rogério Miranda Leitão*

 Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro – UNIRIO

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Resumo: Este artigo visa levantar algumas questões acerca do currículo nas universidades de música, questionando os parâmetros de ensino da música tradicional frente ao mercado de trabalho atual. Abordaremos aqui algumas situações que um músico recém formado em universidade de música tradicional poderá enfrentar no decorrer de sua vida, já que o currículo atual oferece ainda muitas lacunas quando confrontado com as necessidades profissionais e técnicas que o mercado musical nos apresenta. À medida que vamos expondo as diversas possibilidades de atuação profissional que o músico poderá desenvolver, podemos elaborar algumas propostas de disciplinas curriculares que poderiam ser criadas de forma a complementar a formação do músico.

Palavras chave: Música; ensino; currículo; tecnologia; mercado; violino; graduação

 

Abstract: This article aims to raise some questions about the music curriculum in universities, questioning the parameters of traditional music education outside the current job market. Cover here are some situations that a musician newly formed university in traditional music may face in the course of his life, since the current curriculum offers many gaps still when faced with the technical and professional needs that the market presents musical. As we expose the various possibilities of professional musician that can develop, we elaborate some proposals for curricular subjects that could be created to complement the formation of the musician.

Keywords: Music, teaching, curriculum, technology, market, violin; graduation

“Caindo na real”

O estudante de música, principalmente o instrumentista, geralmente conclui a graduação com todo o preparo teórico e prático para a execução do seu instrumento. Entretanto, ao se deparar com o mercado musical atual, o músico percebe que existe uma gama de serviços dos quais ele depende e com os quais terá que arcar, como locação de estúdios de ensaio e gravação, e contratação de operadores de som, roadies, afinadores, iluminadores, etc. A graduação em música não oferece noções do funcionamento estrutural de um evento musical e tampouco ensina tópicos como a elaboração de um rider (mapeamento dos equipamentos necessários à apresentação) de som ou de luz, posicionamento de microfones no palco, procedimentos de passagem de som, técnicas de mixagem e até mesmo os aspectos burocráticos envolvidos na produção de um evento (como preparação de contratos e sistemática de direitos autorais).

   O mercado musical de hoje não deixa muitas perspectivas de estabilidade profissional aos músicos práticos, daí a necessidade urgente de uma maior autonomia por parte dos mesmos para contratar serviços especializados e compreender todas as necessidades para

apresentações ao vivo e gravações. É muito comum hoje vermos técnicos de som e luz com empresas estabelecidas e em franca expansão enquanto músicos qualificados (ou não) continuam dependendo da boa vontade de contratantes ou do couvert de casas noturnas que sempre dividem o prejuízo com os músicos. Infelizmente muito poucos conseguirão se inserir no grande mercado musical, atuando com grandes artistas e recebendo cachês decentes ou mesmo salários. Ainda assim tal situação, por mais honrosa que seja, geralmente é temporária. A opção pela carreira acadêmica é atraente, porém nem todos podem ou querem dedicar tantos anos de estudo aprofundado aos aspectos teóricos da música, afastando-se invariavelmente de sua prática e convivendo uma boa dose de frustração pessoal. “O curso superior de música também pode ser buscado como requisito para a construção da carreira da docência superior e/ou de pesquisador, cuja legitimação social é mediada pela titulação e não diretamente pelo mercado de trabalho” (COLI, 2003, p. 220).

As dificuldades são inúmeras pois nem sempre a música é vista como trabalho para a sociedade.

“Em pleno século

XXI a humanidade ainda não aprendeu a pensar a

atividade musical como uma atividade profissional

que precisa ser respeitada, uma vez que exige do

profissional um aprendizado constante e eficiência

artística. A sociedade ainda relaciona a música

ao lazer e não lhe confere um atributo cognitivo

que integra a atividade musical ao elenco de

necessidades pertinentes à formação da

personalidade humana.”

(LIMA, Sonia Regina Albano de, ABEM, 2003)

 

Por isso, faz-se necessário nos dias de hoje discutir a criação de disciplinas curriculares focadas nas possibilidades que o músico moderno encontra à sua disposição. Atualmente, é preciso agregar conhecimento sobre algumas funções e necessidades técnicas relacionadas à profissão de músico e buscar uma maior autonomia e capacitação para lidar com funções que normalmente são delegadas a outros profissionais. Seria importante estender os conteúdos abordados pelas práticas de conjunto, por exemplo, para que o estudante conheça um pouco mais sobre um “outro lado” caracterizado pelos mecanismos e situações que se escondem nos bastidores do meio artístico e interferem diretamente no trabalho em cena.

Poderemos aqui, traçar um panorama sugestivo de um currículo mais abrangente que poderia ser adotado nas universidades e escolas de música em geral. Conteúdos que abarcassem temas como produção fonográfica, manipulação de programas computadorizados de edição de áudio e partituras, elaboração de projetos culturais, princípios da acústica e eletrônica no âmbito musical, noções de equipamentos específicos do ambiente de estúdio e concertos, música eletrônica, noções de sonorização em ambiente de estúdio e concertos, por exemplo, se fossem somados ao currículo do ensino de música atual, certamente agregariam maior conhecimento técnico aos músicos das próximas gerações.

“Em outras áreas de atuação assistimos a

implantação de um mercado de trabalho cada

vez mais exigente, que elege profissionais com

conhecimentos tecnológicos atualizados, com

habilidades gerais que transcendem a própria

especialidade, poder de decisão, iniciativa,

capacidade para o trabalho de equipe e eficiência

operacional. No mesmo indivíduo são contempladas

 a polivalência e a especificidade técni-

ca. Regras idênticas estendem-se ao profissional

de música, o que lhe permitirá melhor

 reconhecimento profissional e funcional”

(LIMA, Sonia Regina Albano de, ABEM, 2003)

 

Algumas possibilidades de trabalho para um  músico recém formado.

   Integrar o naipe de cordas de uma orquestra sinfônica pode ser uma possibilidade mais que interessante para um jovem músico recém formado. O ex-maestro da Osesp John Neschling costumava declarar que tocar na orquestra é tão difícil quanto ser presidente da República. Esse pensamento pode ser ilustrado com alguns dados. Entre 2008 e 2010, duas vagas do naipe de cordas da Osesp estiveram ociosas. O salário oferecido era de R$ 10.300,00 com direito a décimo-terceiro salário, plano de saúde e seis semanas de férias. Mas nenhum candidato fora aprovado durante esse período. Exige-se um nível técnico muito alto para aprovação. O estadunidense Matthew Thorpe, integrante da casa desde 1998 confessou que precisou de seis tentativas até ser promovido  assistente do chefe dos segundos-violinos.

-“A cobrança é altíssima e qualquer nervosismo pode arruinar a apresentação do candidato!”, diz ele, que hoje integra o comitê de seleção dos novos quadros da orquestra.

Consta que vinte dos trinta violinistas da Osesp são estrangeiros, o que deixa claro a falta de profissionais brasileiros qualificados para o posto.

 No caso mencionado da Osesp, o processo de seleção por si só já é intimidador.

Na primeira fase, além do currículo, o candidato precisa enviar um CD ou um DVD com o registro de alguma peça executada por ele. Se aprovado, terá que enfrentar duas audições diante do maestro e dos chefes de naipe. Ainda assim, se não convencer plenamente, poderá passar por um período de experiência de três meses. Como se não bastasse, os selecionados passam por um ano probatório durante o qual poderão ser demitidos se houver algum deslize.

Há muitos aspectos a se levar em consideração na hora de optar por esta carreira. Os atrativos são incontestes, principalmente a estabilidade, algo difícil de se conquistar no meio musical. Resta termos a certeza de que o atual currículo de ensino musical poderá preparar jovens músicos para tão árdua e competitiva empreitada.

Trabalhar em palcos e estúdios de gravação envolve muitos aspectos técnicos e performáticos que contribuem para a qualidade final do trabalho. Além da indispensável proficiência na execução do instrumento, o músico deve ter conhecimento sobre a construção, captação, integração do canal do instrumento com o restante da banda, processamento e amplificação do som produzido.

 Ao optar por esses caminhos, o músico inevitavelmente precisará coletar informações técnicas que nunca se fizeram importantes em seu ambiente musical até então, pois na universidade ele não precisou lidar com essas questões. Bastava o som acústico natural do instrumento, e a única preocupação dizia respeito à execução. Mas nesse contexto de atuação em música popular, o artista terá que fazer seu instrumento soar em meio a uma banda eletrificada. Como se ouvir e se fazer ouvir em meio a tantos instrumentos amplificados? Como obter um som adequado do seu instrumento captado por um pequeno microfone ou um cabo, processado por amplificadores, efeitos e direcionado para os potentes alto-falantes dos quais sai toda a massa sonora?

   Sabemos que, salvo algumas exceções, o cenário musical que aguarda um iniciante pode apresentar uma precariedade estrutural que, se por um lado traz algum desânimo e desapontamento, também contribui para o desenvolvimento da criatividade do indivíduo, já que ele em muitos momentos  terá que superar muitos obstáculos. Sendo assim, um músico inexperiente neste cenário não terá outra possibilidade para adquirir experiência na música pop a não ser pelo método da tentativa-e-erro. Foi preparado para trabalhar com música de concerto durante seu curso de graduação e, com isso, nunca precisou se preocupar com outros aspectos que não a técnica de execução do instrumento. Neste momento observamos a utilidade que teria uma disciplina curricular voltada a esses aspectos técnicos que o músico normalmente terá que enfrentar em sua vivência. Obviamente, existem técnicos encarregados destas funções específicas, ou pelo menos é o que se espera. Mas o bom nível de conhecimento do músico acerca destas problemáticas poderá otimizar o trabalho de preparação e execução de concertos e gravações, entre outros.

   Em relação ao ambiente de gravações em estúdio, um mercado que costuma receber instrumentistas eruditos em alguns estilos musicais, alguns fatores que se apresentarão ao músico poderão se tornar obstáculos, já que neste meio é comum o conhecimento mínimo nas questões que envolvem tecnologia e eletrônica. Microfonar um instrumento, por exemplo, é uma ciência que requer cuidados especiais. O músico precisará executar as músicas com muito pouco ou nenhum movimento corporal para não sair do campo de atuação do microfone e não alterar o timbre captado com fidelidade. Deverá tomar cuidado com ruídos extras, inclusive a sua própria respiração. O posicionamento exato do microfone por si só já é uma tarefa delicada, pois há diversas possibilidades que devem ser testadas: o microfone pode ser posicionado a 60, 40 ou 30 centímetros acima do instrumento e apontado para o corpo ou para os orifícios da caixa de ressonância. Não há uma única regra: cada situação específica terá uma melhor configuração e esta só será encontrada através de testes e experiências no estúdio. Além do mais, gravação de um CD apresenta um caráter especial, diferentemente  da performance ao vivo; seu registro será um legado para a posteridade e poderá ser escutado por ouvintes distintos em lugares e épocas diferente. Esses fatores já compõem um argumento mais que suficiente para encarar a tarefa com todo o cuidado e responsabilidade possível.

         Existe ainda um outro meio de sobrevivência muito comum entre os músicos de toda ordem: dar aulas particulares. Neste caso, o músico deve tratar de rever todo o material didático possível e elaborar apostilas de forma a compor um método de ensino. Esta opção se mostra interessante já que, geralmente, o músico dispõe de algum tempo ocioso na semana, visto que as atividades profissionais costumam ser agendadas para a noite e em finais de semana.

   Neste tópico tivemos alguns exemplos de recursos modernos que o músico deve explorar, o uso de computadores, programas de gravação de áudio e internet para os mais variados fins de pesquisa são hoje ferramentas indispensáveis. Em relação à possibilidade de dar aulas, cabe aqui uma reflexão a respeito do nosso currículo em Licenciatura; estaria ele mais concentrado na formação de músicos ou de professores?

“É certo que o interesse pelas artes na sociedade

contemporânea tem se ampliado substancialmente,

em razão do homem estar convivendo em

maior tempo com o lazer. O mercado de trabalho

musical tem aumentado consideravelmente. Cada

vez mais o estético está presente no mundo;

entretanto, quanto maior a produção artística, maior

a exigência de profissionais eficientes.”

(LIMA, Sonia Regina Albano de, ABEM, 2003)

 

Dominando as mídias digitais

      No atual cenário de relações virtuais através da internet, percebemos que a maioria absoluta dos músicos clama por atenção na grande rede, geralmente trazendo em suas mensagens um link onde se pode clicar e visitar sua página pessoal em  sites muito utilizados pelos músicos do mundo todo, como o MySpace e o  SoundCloud, por exemplo. Trata-se de uma página pessoal onde o indivíduo pode incorporar seu histórico, fotos, agenda de shows, localização no mapa-mundi e o mais interessante: disponibilizar suas músicas para que todos possam ouvir. O site ainda conta com os recursos comuns de troca de mensagens e chat. Com isso, pessoas de toda parte passaram a trocar informações entre si, trazendo novidades, conhecendo trabalhos, dando idéias, criticando, divulgando. Essas ferramentas digitais facilitam o trabalho na hora de se comunicar com possíveis contratantes, alunos, músicos entre outros.

“músico profissional não é só aquele que exerce atividades remuneradas,

mas também aquele cuja prática, independentemente da geração de renda,

se desenrola num determinado enquadramento de relações sociais

que a distingue da prática de estudo (na qual o músico é aluno),

de ensaio (que é preparatória da performance propriamente dita),

ou de passatempo (que dispensa público e uma situação de

 performance formalizada)”

(TRAVASSOS, 1999)

 

Possíveis rumos da indústria musical

   Antes dos anos 2000, os artistas que pleiteavam seu espaço no mercado seguiam um processo muito bem definido apesar de muito poucos obterem êxito. Gravavam fitas “demo” com suas músicas e saíam de porta em porta de gravadoras na esperança de que alguma delas se interessasse pelo trabalho, contratasse-o e gravasse e lançasse seu disco. De fato, era como uma loteria. Poucos conseguiam entrar neste mundo, mas alguns dos que entraram puderam gozar da “vida de sonho de um pop-star”. Aquele que tinha empresário, produtor, gravadora e não precisava se preocupar com nada além de compor coisas novas para os próximos trabalhos e cumprir com seus compromissos de shows, ações promocionais e gravações.

 No início do presente século, com a popularização dos meios digitais para adquirir músicas de graça pela internet, as gravadoras viram sua arrecadação minguar e frearam seus investimentos. O processo de produção musical precisou de maior autonomia por parte dos artistas, já que as gravadoras deixaram de investir como antes mas ainda tinham grande poder de distribuição e acesso à grande mídia. Sendo assim, o jeito seria arcar com o lançamento do próprio CD e ainda assim divulgá-lo de forma a angariar público fiel e quem sabe ainda o interesse de alguma gravadora de grande ou pequeno porte. Quem tinha capital para investir tratou de dar o pontapé inicial na carreira por conta própria.

   O primeiro passo seria submeter suas composições ao crivo de algum produtor musical de confiança. No caso de uma banda, seria necessário um tempo para realizar ensaios e retoques nos arranjos de modo a otimizar o trabalho em estúdio, que seria alugado por períodos de gravação. Ali, o produtor se encarregava de conduzir o trabalho com o artista da melhor maneira, na intenção de chegar a um resultado sonoro adequado. Com o término das gravações, partia-se para a mixagem das trilhas gravadas e depois para a masterização, onde o fonograma é finalizado.

   Muitos artistas conseguiram se estabelecer desta forma, chegando às gravadoras com trabalhos semi-prontos. Nesses casos, cabia à gravadora apenas produzir o material gráfico, cuidar da prensagem das cópias e principalmente realizar todas as ações de divulgação e distribuição. De certa forma, a parceria artista/gravadora persiste. Todavia, orientando-se por metas de retornos rápidos, a indústria tem focado seus investimentos nos segmentos mais populares da música, ou nos mais promissores. Atualmente, é raro ver campanhas na mídia anunciando o CD de algum artista consagrado da MPB ou do Jazz por exemplo, mas vê-se com freqüência até nos horários mais nobres da televisão anúncios de CDs e DVDs de duplas sertanejas, bandas de ‘forró universitário’ ou artistas voltados ao mercado religioso. É um regime excludente no qual a mídia acaba oferecendo ao público sempre ‘mais do mesmo’, privilegiando uma pequena elite de artistas populares em detrimento de uma imensa variedade de artistas legados à obscuridade, pelo simples fato de estarem produzindo alguma forma de arte fora dos padrões vigentes pelos modismos sazonais.

“Enquanto lazer, a música permanece à margem de uma indústria cultural que manipula ouvintes despreparados auditivamente e que permite espetáculos de qualidade duvidosa. Quando não,atividades musicais promovidas pela nossa sociedade são avidamente criticadas por uma elite auditiva acostumada aos bons espetáculos, excelentes gravações e ótimos concertos e que não sabe avaliar o trajeto que o profissional de música deve trilhar para obter uma formação de qualidade. Vícios de uma sociedade colonialista e periférica que convive com um mundo globalizado e privilegia sempre o melhor, o estrangeiro, o extramuros, não vivenciando o trajeto cultural do seu país e as implicações pedagógicas e sociais que envolvem uma formação profissional.”

(LIMA, Sonia Regina Albano de, ABEM, 2003)

   Outro segmento de artistas novatos e anônimos se situa à margem desse meio, mas não deixa de criar, produzir seus trabalhos e registrá-los em seus estúdios caseiros. São artistas de todos os cantos do mundo flutuando pelo ciber-espaço. Uma quantidade tão diversa, que a atenção humana é incapaz de acompanhar a variedade de nomes, estilos, sons e idéias que se propagam. Eles têm suas páginas pessoais no Orkut, Facebook, Twitter e MySpace, mantendo um intercâmbio entre estas redes, induzindo o seu público “virtual” a ouvir suas músicas, ver as fotos dos seus últimos shows e comparecer aos próximos eventos. É um movimento que ainda não garante uma sobrevivência de alto padrão para o músico, comparando-se a artistas consagrados por público e mídia, mas aponta para novas possibilidades de interação entre público e artista que ainda estão sendo delineadas para as próximas gerações.

Considerações finais

   O objetivo deste artigo é mostrar outras possibilidades de aprendizado no ensino de música, preparando o músico para as situações que ele pode vir a enfrentar no mercado de trabalho. São assuntos que ainda não constam no currículo escolar, que ainda se atém às idéias e práticas fundadas nos períodos clássicos da música européia. Não apresento aqui nenhuma novidade para quem já atua no mundo prático musical. Como estudante de licenciatura em música, percebo no ambiente universitário o quão desconhecidos são muitos destes assuntos abordados aqui por parte de muitos alunos. O currículo da licenciatura atualmente se apresenta um tanto voltado à formação do músico tradicional, dando forte ênfase a matérias como Percepção Musical, Harmonia e Arranjo, por exemplo, deixando um pouco a desejar no sentido de formar professores realmente. A Resolução do CNE/CP 2 (Conselho Nacional de Educação, 2002b), de 19 de fevereiro de 2002, estabelece a carga horária dos cursos de licenciatura, de graduação plena, de formação de professores da educação básica em nível superior, efetiva o mínimo de 2800 horas distribuídas em: 400 horas de prática, 400 horas de estágio curricular supervisionado, 1800 horas de aulas para os conteúdos curriculares de natureza científico-cultural e 200 horas para outras atividades acadêmico-científico-culturais. Os cursos de Bacharelado, por sua vez, se aprofundam nas questões de execução e técnica instrumental. Diante deste quadro, verificamos a necessidade da inclusão de tópicos destinados à tecnologia no currículo de música, visando complementar as disciplinas práticas e pedagógicas em licenciatura e bacharelado, como ferramenta essencial para o músico recém formado enfrentar o atual cenário artístico que se desenvolve a largos passos, tornando novas tecnologias obsoletas em poucos meses. Devemos também atentar para as várias formas produção, divulgação e interação da arte que temos ao nosso alcance atualmente. O músico moderno, mesmo não sabendo exatamente onde pode chegar, torna-se dono de sua obra, produzindo e gerindo sua criação principalmente através do mundo virtual e suas inúmeras ferramentas de relacionamento social. Tudo se manifestando de forma veloz, obrigando o indivíduo a manter-se atualizado ou, se possível, se antecipando às tendências e conquistando lugar de destaque. De certa forma, este texto pode servir como um manual de carreira para novos músicos que se encontram na transição do mundo teórico para o prático, ou mesmo tendo que se adequar a um ambiente diferente de sua formação - erudito para o popular, por exemplo. Devemos ter em mente que este texto, elaborado no início da segunda década dos anos 2000, certamente perderá muito de seu teor em breve, devido ao fato de o cenário tecnológico se transformar de forma dinâmica, nos fazendo rever todo o conceito profissional e mercadológico constantemente. É possível que em uma década o quadro já se tenha transformado ou retrocedido.

   Enquanto isso, voltando à educação musical, espera-se que no futuro próximo possam ser implementadas disciplinas exclusivamente voltadas a estas questões de mercado e tecnologia, com a finalidade de contribuir para uma formação que transcenda a relação do músico com seu instrumento e seu estilo musical, preparando-o ou pelo menos iniciando-o para lidar com o meio profissional cada vez mais intuitivo e autônomo que constitui o fazer musical do século XXI.

“A presença da música popular nas universidades e faculdades,

 em nível de graduação e pós-graduação,

não significa, entretanto, que o músico popular tenha

tido o eixo principal de sua formação modificado.

Esses cursos ainda tendem a ser organizados

segundo critérios analíticos da música clássica

de tradição européia.”

(RECÔVA, 2006, p. 31).

 

Referências:

Blogmax – o blog oficial da Mundo Max – Descobrindo o violino – Thiago Rodrigues – 28/08/2009

 COLI, Juliana Marília . “Vissi D’Arte” Por Amor a uma Profissão: um estudo sobre as relações de trabalho e a atividade do cantor no teatro lírico. 2003. 359f. Tese (Doutorado), Instituto de Filosofia e Ciências Humanas da Universidade Estadual de Campinas/UNICAMP, Campinas, 2003.

 CUNHA,  Leonardo Oliveira da – A captação do som do violino – Aspectos acústicos e estéticos – Mestrado em performance musical – UFMG – Belo Horizonte 2006

LIMA, Sonia Regina Albano de. A resolução CNE/CEB 04/99 e os cursos técnicos de música na cidade de São Paulo. Revista da ABEM, Porto Alegre, V. 8, 81-83, mar. 2003.

 MATEIRO, Teresa. - Uma análise de projetos pedagógicos de licenciatura em música. Revista da ABEM, Porto Alegre, V. 22, 57-66, set. 2009.

MORATO, Cíntia Thaís – Estudar e trabalhar durante a graduação em música; Construindo sentidos sobre a formação profissional do músico e do professor de música. – Tese de Doutorado – Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, 2009.

RECÔVA, Simone Lacorte. Aprendizagem do músico popular : um processo de percepção através dos sentidos? 2006. 158 f. Dissertação (Mestrado), Programa de Pós-Graduação em Educação, Universidade Católica de Brasília, 2006.

Revista Backstage – Fevereiro – 2002 – coluna Home Studio

 
 

Revista Áudio, Música e Tecnologia – Janeiro – 2009 / Outubro – 2001 – colunas Informática Musical e Lugar da Verdade

Revista Veja SP – Edição 2151  - 2010