Introdução à Microeconomia

Autor: Augusto C. A. Dias da Rocha

Referências: Pindyck, Robert S. e Rubinfeld, Daniel L. – "Microeconomics" (cap.1) – 5ª ed.

Microeconomia X Macroeconomia

Todos os livros introdutórios de Economia começam sempre pela segmentação da Economia em dois grandes grupos. O grupo macroeconômico e o microeconômico. E importante entender tal diferenciação embora, os dois grupos estejam fortemente interligados.

O primeiro, diz respeito ao estudo da economia de maneira geral, coletiva. Ou seja, corresponde principalmente ao estudo de como os agentes econômicos agem de acordo com o mercado num aspecto abrangente. Assim, para a Macroeconomia, o campo a ser estudado se dedicará mais a questões como taxa de juros, desemprego e política entre outros.

O segundo grupo focará, por outro lado, nos agentes individuais do mercado – consumidores, empresas, governo etc. E, na maneira como esses agentes tomam suas decisões, pelo que são influenciados e os tradeoffs que enfrentam.

Economia de Mercado X Economia Planificada (ou Centralizada)

Atualmente existem dois modelos econômicos em utilização no mundo. O modelo econômico de economia de mercado e o de economia planificada.

Nas economias planificadas, o Estado é responsável pela "gerência" dos fatores de produção. Assim, fica a cargo do Estado denominar o quanto de cada bem é produzido e a maneira como este será dividido entre os diversos agentes na sociedade. Este modelo, em decadência atualmente, é ainda utilizado em países como Cuba, Coréia do Norte e, de maneira particular, na China.

As economias de mercado, por outro lado, dão por outro lado liberdade para que seus agentes decidam o que produzir e o que comprar de acordo com suas necessidades. Assim, embora haja leis e regulamentações a serem seguidas, os agentes tomam as próprias decisões com base em si mesmos e no que o mercado dita.Dessa maneira, buscam certo equilíbrio entre oferta e demanda dos bem existentes.

Mercado

A palavra mercado tem um sentido econômico de um grupo de vendedores e compradores que negociam um bem em questão. Tem origem nos conhecidos mercados físicos em que se negociam tais bens, mas seu sentido foi generalizado para todo ambiente econômico onde há vendedores e compradores de um bem.

Podemos também especificar o mercado a ser tratado como o mercado de automóveis, cosméticos etc., ou ainda um setor em particular como o de serviços de educação. Assim sendo, é necessário cuidado ao usar a palavra mercado, pois esta pode abraçar múltiplos sentidos (extensões de mercado).

Preços de Mercado

Por princípio, o preço de mercado é estabelecido pelo equilíbrio da oferta e da demanda por certo bem.Neste ponto, a quantidade demandada é igual à quantidade ofertada e há um output que será o preço.

É importante reconhecer que existe um desvio de informação quanto aos bens, seus preços e quantidades. Essa defasagem é corrigida pela "mão invisível" de Smith ao puxar os preços para cima ou para baixo – ainda assim haverá sempre uma defasagem temporal no acerto do ponto de equilíbrio.

Além da questão temporal, existem também políticas econômicas que podem influenciar os preços de mercado através de incentivos ou desincentivos. Essas políticas buscam alcançar resultados, em geral, sociais e estão estritamente relacionados às questões normativas que serão vistas adiante.

Mercados Competitivos X Mercados Não Competitivos

Mercados competitivos são aqueles que pelo enorme número de compradores e vendedores, o impacto de um agente isolado é pequeno. Evidentemente, este comprador ou vendedor seguirá as regras de mercado, pois o mesmo não possui poder de influenciar nem para mais e nem para menos o preço de qualquer bem.

Um mercado não competitivo representa exatamente o contrário. Existe no caso uma concentração de compradores ou de vendedores que passam a possuir um poder de barganha alto e tornam-se capazes de influenciar os preços do mercado. Um caso extremo disso seria o monopólio – empresa vendedora única, que por ser única consegue elevar o preço acima do que este seria caso houvesse concorrentes e, por conseqüência, consegue aumentar sua rentabilidade.

Embora ocorram casos como esses, é fundamental saber que para caracterizar um mercado de competitivo ou não, muitas variáveis entram em questão. Como a elasticidade das curvas de demanda e oferta; órgãos governamentais de regulamentação; e características particulares de cada setor.

Teorias e Modelos

Para o estudo econômico, assim como o estudo de qualquer outra ciência, será necessário a criação de teorias e modelos.

Teoria são proposições sobre como funciona e se comporta, no caso, a economia. Partem de um modelo científico de criação de hipóteses, testes e confirmação ou negação das proposições feitas. A verdade é que toda teoria é testada todos os dias, onde muitas vezes poderá ocorrer dela ser refutada. É um processo de evolução e confirmações das tais proposições. E, não importa por quanto tempo foi aceita tal teoria, ela está sempre sujeita a revisões e aprimoramentos.

Os modelos são simplificações da realidade para viabilização do estudo de algo que seja muito complexo. Por isso, tomam-se as questões e variáveis mais importantes e impactantes, e através delas, tenta-se projetar como a realidade se comporta. São exemplos de modelos, projetos arquitetônicos (plantas e maquetes que simulam como um prédio qualquer seria ao concluir obras), modelos físicos (ao desconsiderar, por exemplo, a resistência do ar no estudo de queda de objetos) etc.

Análises Positivistas X Análises Normativas

Muitas vezes no dia a dia, enfrentamos questões que nos impulsionam a vislumbrar como algo deveria ser. É isso que é tratado ao falar de análises normativas. Ou seja, tais análises são, na verdade, nossas idéias de como o mundo deveria se comportar. Temos como exemplo a questão do salário mínimo. Ao perguntar a um grupo de pessoas o quanto o salário mínimo deveria ser, encontraremos diversas respostas. Essas respostas são características da crença e visão das pessoas quanto ao mundo e a si mesmas. Assim, é possível que encontrássemos quem dissesse que não deveria haver salário mínimo como também encontrássemos alguém que pensasse que o salário mínimo deveria ser de R$ 20.000,00.

Já uma análise positivista tratará de algo factual. Como as conseqüências de se estabelecer um piso salarial e do valor de tal piso. Assim, economicamente falando, poderíamos analisar o impacto que um piso salarial causa na taxa de desemprego ou no mercado informal de trabalho.

É importante que se diferencie os dois tipos de análise já que uma vislumbra de pareceres pessoais e intrínsecos ao ser humano, e outras dizem respeito a fatos da realidade. Não é por coincidência que um enorme número de economistas está geralmente de acordo quanto a questões positivistas, mas ao tratar de questões normativas, possuam opiniões extremamente divergentes.

Tradeoffs

Tradeoffs são possibilidades enfrentadas. De acordo com a teoria básica da economia, os recursos existentes são limitados e, portanto, essa escassez cria tradeoffs entre os bens a serem consumidos. É o famoso ditado que diz que não se pode ter tudo. O melhor exemplo para tal questão é o tempo. Você pode dedicar-se a uma faculdade e um trabalho, mas é evidente que se gastar uma hora a mais na faculdade terá uma hora a menos para trabalho ou para qualquer outra atividade.

Dessa maneira, pode-se pensar nos benefícios que uma ou outra ação trará para que se possa tomar uma decisão. Ir à faculdade custa tempo, dinheiro e esforços de aprendizagem, mas pode compensar ao ponto que no futuro você terá uma maior qualificação e provavelmente uma renda maior. Por outro lado, ao decidir pelo trabalho, você estará sendo remunerado no presente, um benefício que não necessita de mais comentários. E são esses tradeoffs que as pessoas enfrentam todos os dias, inclusive para coisas simples como decidir por almoçar frango ou carne.

Preços Reais X Preços Nominais

Ao tratar de preços encontramos um empecilho: a inflação. A inflação fica definida como um aumento geral dos preços que ocorre ao longo de certo tempo. Pode ainda, ocorrer uma deflação – ao contrário da inflação, uma deflação implica numa diminuição geral dos preços. Isso ocorre devido à alteração do poder de compra de uma moeda. É isso que faz com que um lápis há dez anos custasse, talvez, dez vezes menos.

O problema é que a defasagem explicitada não pode ser comprovada sem que tenhamos os valores de lápis hoje, e há dez anos, em preços reais ("Constant dollar" price). Pois é possível que esse aumento de preços tenha ocorrido somente em função da inflação, ou seja, alterações do poder de compra da moeda.

Ao comparar o preço antigo com o novo, em essência, estamos tratando de preços nominais ("current dollar" price). E assim, perdemos a objetividade para concluir se o lápis ficou de fato mais caro. Ao fazer um processo de trazer o preço atual para o preço de dez anos atrás, ou, levar o preço de dez anos atrás para o do dia de hoje, teremos uma comparação justa entre ambos. Para fazer isso, existem órgãos educacionais, governamentais e outros, que estão sempre a relatar taxas de inflação período a período. Resta-nos então aplicar tais taxas aos antigos bens, ou, deflacionar o bem atual. São exemplos de tais taxas, no Brasil, o IGP-M gerado pela Fundação Getúlio Vargas, e o IPCA produzido pelo IBGE (taxa oficial de inflação nacional).