RESUMO

   Este trabalho foi elaborado por meio de revisão bibliográfica após a leitura e estudos do conteúdo disponível na plataforma da Fatec. Tem por objetivo observar aspectos da história da filosofia e relacioná-los com a prática da psicanálise. Para tal, foi realizada leitura de material selecionado para o tema, interpretação e elaboração do trabalho para obtenção de nota na disciplina de Introdução à Filosofia do curso de Psicanálise Clínica (modalidade EAD) da instituição FATEC.

Palavras chave: Filosofia; Psicanálise.

INTRODUÇÃO

            Conforme a tradição histórica, a origem da palavra Filosofia é atribuída ao grego Pitágoras (570-490 ac). Certa vez, perguntado pelo príncipe Leonte sobre a natureza de sua sabedoria, Pitágoras disse “sou apenas um filósofo”. Com esta resposta desejava esclarecer que não tinha a posse do conhecimento. Assumia a posição de “amante do saber”, alguém que busca a sabedoria, que procura a verdade.

            Com o decorrer do tempo, entretanto, a palavra filosofia foi perdendo seu significado original. Ainda na Grécia antiga passou a designar não apenas o amor ou a procura à sabedoria, mas um tipo especial de sabedoria: aquela que nasce do uso da razão na busca do conhecimento.

 

INTRODUÇÃO À FILOSOFIA

            A origem da Filosofia como forma de estudo das inquietações humanas, surge no século VI a.C, na Grécia antiga, que é chamada de “o berço da Filosofia ocidental”.

Ela se distingue de outras vertentes de conhecimento como a mitologia e a religião, visto que tenta, por meio do pensamento racional, explicar os fenômenos e questões humanas (inquietações e problemas da existência humana, dos valores morais, estéticos, do conhecimento, etc.). Mas também não pode ser igualada, em termo de métodos, às ciências que têm a pesquisa empírica e experimentos práticos como fundamentos, uma vez que a Filosofia não se atém (não sendo descartada essa hipótese) a experimentos. Os métodos dos estudos filosóficos estão fundamentados na análise do pensamento, experiências práticas e da mente, na lógica e na análise conceitual. O método científico desenvolveu-se apenas posterioromente.

  1. TALES DE MILETO

Tales, da cidade de Mileto, foi considerado o primeiro filósofo da história, numa análise realizada por Aristóteles, da cidade de Estagira, por ser compreendido como o primeiro homem a buscar uma resposta racional, independente dos mitos, para questões relativas ao cosmos, o mundo físico.

Ainda na Grécia antiga é possível citar três outros grandes filósofos, cujas teorias são ainda hoje usadas em várias áreas da ciência: Sócrates, Platão e Aristóteles.

  1. SÓCRATES DE ATENAS

Sócrates (470-399 aC), creditado como um dos fundadores da filosofia ocidental, é até hoje uma figura enigmática pois não se encontrou nada que ele tivesse escrito, diretamente. Conhecido principalmente por meio dos relatos em obras de escritores que viveram mais tarde, especialmente dois de seus alunos, Platão e Xenofonte, bem como as peças teatrais de seu contemporâneo Aristófanes, onde era satirizado. Possivelmente os diálogos de Platão seriam o relato mais abrangente de Sócrates a ter perdurado da Antiguidade aos dias de hoje.

Sócrates iniciou um período da filosofia denominado antropológico. Antes dele, os estudos racionais buscavam explicar o mundo físico. Após sua intervenção, passou-se a estudar o ser humano e suas relações. Tornou-se renomado por sua contribuição no campo da ética, e é este Sócrates, descrito por Platão, que legou seu nome a conceitos como o método socrático, utilizado na busca pela sabedoria, dividido em Ironia e Maiêutica. Este permanece até hoje como uma ferramenta comumente utilizada numa ampla gama de discussões, e consiste de um tipo peculiar de pedagogia no qual uma série de questões são elaboradas, não apenas para obter respostas específicas, mas para encorajar também uma compreensão clara e fundamental do assunto sendo discutido. Assim, fez contribuições importantes e duradouras aos campos da epistemologia e da lógica, e a influência de suas ideias e de seu método continuam a ser importantes alicerces para boa parte dos filósofos ocidentais que se seguiram a ele até os nossos dias.

  1. PLATÃO DE ATENAS

Importante filósofo grego nascido em Atenas, provavelmente em 427 a.C. e morreu em 347 a.C. É considerado um dos principais pensadores gregos, pois influenciou profundamente a filosofia ocidental. Suas ideias baseiam-se na diferenciação do mundo entre as coisas inteligíveis (mundo das ideias) e as coisas sensíveis (mundo sensível, físico).

Aos vinte anos, Platão travou relação com Sócrates - mais velho do que ele quarenta anos - e gozou por oito anos do ensinamento e da amizade do mestre. Quando discípulo de Sócrates e ainda depois, Platão estudou também os maiores pré-socráticos. Após a morte de seu preceptor, condenado à ingestão de Cicuta, Platão iniciou viagens para obtenção de mais conhecimentos e, ao retornar a Atenas, fundou sua escola, a Academia, onde ensinava filosofia.

Assim como Sócrates, defendeu que os homens devem fugir da ignorância e buscar o conhecimento racional, o “conhecimento verdadeiro”, o filosófico. Elaborou a Alegoria da Caverna para exemplificar este conceito, e esta alegoria é ainda hoje utilizada na filosofia e em outras áreas. Na Alegoria da Caverna, os homens viviam em uma caverna, acorrentados de costas para a entrada. Por meio de uma fresta podiam ver as sombras de outras pessoas que estavam do lado de fora, mas por nunca terem saído de lá, acreditavam que as sombras eram a realidade, quando na verdade tratava-se apenas de uma projeção da realidade. Essa alegoria é uma representação do comodismo do ser humano em relação à busca da verdade, que resulta em um aprisionamento em sua própria ignorância. A saída de um dos prisioneiros da Caverna simboliza a busca pelo conhecimento filosófico e pelo questionamento de costumes preestabelecidos.

Este homem que saísse da caverna (filósofo) seria capaz de governar uma cidade (sofocracia), ou seja, em seus estudos sobre política, Platão defendeu que o governante deve ter sabedoria, conhecimento.

  1. ARISTÓTELES DE ATENAS

Aristóteles (Estagira, 384 a.C. — Atenas, 322 a.C.) foi um filósofo grego, aluno de Platão e professor de Alexandre, o Grande. Seus escritos abrangem diversos assuntos, como a física, a metafísica, as leis da poesia e do drama, a música, a lógica, a retórica, o governo, a ética, a biologia e a zoologia. Juntamente com Platão e Sócrates, Aristóteles é visto como um dos fundadores da filosofia ocidental.

Foi aluno de Platão na Academia. Seu pai, médico na corte do rei da macedônia, o indicou para ser preceptor do príncipe. Em 343 a.C. torna-se tutor de Alexandre da Macedônia, na época com treze anos de idade, célebre conquistador do mundo antigo. Em 335 a.C. Alexandre assume o trono e Aristóteles volta para Atenas onde funda o Liceu, pois discordava de algumas teorias platônicas.

Os alunos de Aristóteles, no Liceu, estudavam uma grande quantidade de temas (botânica, biologia, lógica, música, matemática, astronomia, medicina, cosmologia, física, história da filosofia, metafísica, psicologia, ética, teologia, retórica, história política, do governo e da teoria política, retórica e as artes). Em todas essas áreas, o Liceu coletou manuscritos e assim, de acordo com alguns relatos antigos, se criou a primeira grande biblioteca da antiguidade.

Sua obra De Anima (Sobre a Alma) trata-se do primeiro objetivo em larga escala para estudar a psicologia. Muitas das questões que levantou continuam por responder até hoje, e ainda são objeto de exame. Aristóteles formulou teorias sobre desejos, apetites, dor e prazer, reações e sentimentos. Sua doutrina da catarse ensinava, por exemplo, que os temores podem ser transferidos ao heroi da tragédia - ideia que muito mais tarde veio formar uma das teses da psicanálise e da terapia do jogo.

Aristóteles seria, segundo Lacan, o primeiro teórico da Ética a falar do problema de difícil apreensão: o homem racional que sucumbe à intemperança.

5. FILOSOFIA MEDIEVAL

Ocorreu do século VIII dC ao século XIV dC, principalmente na Europa e Norte da África. Neste período histórico iniciaram-se os movimentos da Patrística e Escolástica. Os filósofos desta fase questionavam a validade da Razão X Teologia (cristãos); os judeus estudavam medicina e leis e os muçulmanos as letras. A principal escola da época era o Ceticismo (descrença na obtenção parcial ou absoluta do conhecimento) e os principais filósofos deste período foram: Cristãos: São Tomás, Santo Agostinho e Guilherme de Ockhan. Muçulmanos: Avicenas, Averroes e Al-Farabi, Judeus: Maimonides, Gabirol.

Estudos sobre a psique humana foram transferidos para os ensinamentos religiosos (cristãos), assim, qualquer desordem na personalidade era atribuída a possessões demoníacas.

  1. RENÉ DESCARTES

Considerado o fundador da filosofia moderna. Elaborou a teoria da Dúvida Metódica, na qual, por meio da dúvida absoluta poderia se chegar a uma informação que não fosse passível de refutação (criticando o criticismo medieval)

            Ele dividia o homem em res cogitans (consciência, mente) e res extensa (matéria), dualismo este ainda estudado pela psicologia e pela psicanálise.

  1. HEGEL E MARX

Georg Wilhelm Friedrich Hegel (Stuttgart, 27 de agosto de 1770 — Berlim, 14 de novembro de 1831) foi um filósofo alemão. Recebeu sua formação no Tübinger Stift, (seminário da Igreja Protestante, em Württemberg). Foi um dos criadores do idealismo alemão, que defendia que a natureza da realidade é fundamentalmente mental. Os limites de tal doutrina não estão traçados de forma definitiva: a concepção cristã tradicional de que Deus é uma causa subjacente, mais real que a criação, pode ainda ser classificada como uma forma de idealismo.

O idealismo opõe-se à crença naturalista (cartesiana) de que a própria mente pode ser integralmente compreendida como um produto de processos naturais.

Hegel construiu sua teoria dialética (o pensamento é construído por tese, antítese e síntese, sucessivamente) e pode assim atribuir à história um caráter racional, que livraria o homem do determinismo, pois, só o homem tem história, por que somente ele tem agir moral. Com o darwinismo, considerou-se que todos os animais têm uma história (mesmo que biológica), mas só o homem pode sair do determinismo da natureza. Justifica-se aqui a autonomia moral humana.

Karl Heinrich Marx (Tréveris, 5 de maio de 1818 — Londres, 14 de março de 1883), opôs-se ao idealismo hegeliano ao elaborar sua teoria do Materialismo Histórico Dialético. Enquanto que, para Hegel, da realidade se faz filosofia, para Marx a filosofia precisa incidir sobre a realidade. Para transformar o mundo é necessário vincular o pensamento à prática revolucionária, união conceitualizada como práxis: união entre teoria e prática. Defendia, portanto, a existência da realidade material, que pode ser moldada segundo a união dos homens em determinada sociedade. Esta é a base do marxismo, que originou o socialismo.

Apesar das divergências teóricas, a mente humana é, para Hegel e para Marx, capaz de atribuir juízos.

  1. KANT

Immanuel Kant (Königsberg, 22 de abril de 1724 — Königsberg, 12 de fevereiro de 1804) foi um filósofo prussiano, geralmente considerado como o último grande filósofo da era moderna. Em sua epistemologia sintetizou as teorias do empirismo de Locke e o racionalismo cartesiano, afirmando existirem duas categorias de conhecimento (a priori e a posteriori), sendo a experiência o limiar entre ambas.

No estudo da mente e conhecimento, Kant escreveu a “crítica da razão prática” (problematizando a moral), a “crítica da razão pura” (epistemologia) e “O que é o esclarecimento?”, onde defendeu que por meio do conhecimento pode ocorrer a saída do homem de sua menoridade, entendida como incapacidade de tomar decisões por si próprio. Segundo esse pensador, o homem é responsável por sua saída da menoridade.

  1. NIETZSCHE

Friedrich Wilhelm Nietzsche (Röcken, 15 de outubro de 1844 — Weimar, 25 de agosto de 1900) foi um filósofo alemão que escreveu acerca da mente humana, dominada pelos costumes preestabelecidos pela sociedade. Este homem submisso à moral estaria preso no que o autor denominou “moral de senhores e escravos”, a disseminação da ideia de que todos devemos obedecer aos costumes. As pessoas que se libertassem desta obrigação seriam denominados “super-homens”, e isso se daria pela transvaloração, ou seja, a habilidade para ultrapassar os valores predeterminados, a liberdade moral absoluta. Descreveu este processo em seu livro ‘A genealogia da moral”.

  1. FOUCAULT

Michel Foucault (Poitiers, 15 de outubro de 1926 — Paris, 25 de junho de 1984), filósofo francês que escreveu sobre a domesticação dos corpos pelas instituições modernas. Estudou hospitais psiquiátricos e presídios, onde verificou que as pessoas são “formadas”, “enquadradas” para que, sendo semelhantes, pudessem ser mais facilmente dominadas. Esta domesticação ocorreria por meio do controle do tempo e controle das gêneses, processos estes descritos em seu livro “Vigiar e punir”.

Segundo Foucault, as pessoas são vigiadas constantemente e aquelas que não se adequam às normas impostas pela sociedade são punidas. Desta forma, pode-se dominar mais facilmente toda a sociedade, as pessoas obedecem por medo de punição, não por escolhas morais.

10. HUSSERL

Edmund Gustav Albrecht Husserl (Proßnitz, 8 de abril de 1859 — Friburgo em Brisgóvia, 26 de abril de 1938), filósofo alemão que elaborou a teoria da fenomenologia. De acordo com esta teoria, os fenômenos da consciência devem ser estudados em si mesmos – tudo que podemos saber do mundo resume-se a esses fenômenos, a esses objetos ideais que existem na mente. Os objetos da Fenomenologia são dados absolutos apreendidos em intuição pura, com o propósito de descobrir estruturas essenciais dos atos e as entidades objetivas que correspondem a elas.

O pensamento fenomenológico teve importante influência na psicologia, na qual Franz Brentano e o alemão Carl Stumpf haviam preparado o terreno, e na qual o psicólogo americano William James, a escola de Würzburg, e os psicólogos da Gestalt haviam trabalhado ao longo de linhas paralelas. Este método, e suas adaptações, têm sido usados para estudar diferentes emoções, patologias, assuntos como separação, solidão, solidariedade, as experiências artística e religiosa, o silêncio e a fala, percepção e o comportamento, e assim por diante.

A psicanálise e a fenomenologia tiveram muito provavelmente um tutor comum. Freud e Husserl tiveram como professor Brentano, e compartilharam os ensinamentos desse professor sobre Aristóteles.

 

CONCLUSÃO

A filosofia constitui-se de uma forma de conhecimento, surgida na Grécia antiga (filosofia ocidental), que tinha por base a busca de explicações racionais para, a princípio, problemas da natureza (físicos) e, posteriormente, problemas relacionados ao homem (antropológicos).

Apesar do surgimento de outras formas de conhecimento, como o religioso na Idade Média e o científico na Idade Moderna, não perdeu sua utilidade e ainda influencia as diversas áreas dos saberes humanos, inclusive a área da psique (ou mente).

No decorrer da história da filosofia pode-se verificar o questionamento constante sobre a essência do homem, sua capacidade para adquirir conhecimento e suas relações com a sociedade na qual está inserido, assuntos estes relevantes na prática psicanalítica.

 

REFERÊNCIAS

 

ARANHA, M.L.A. Filosofando. 3.ed. São Paulo: Moderna, 2003

BLACKBURN, S. Dicionário Oxford de Filosofia. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 1997.

CABRAL, C. A. Filosofia. São Paulo, Ed. Pillares, 2006.

CHAUI, M. Convite à Filosofia. 12. ed. São Paulo: Ed. Ática, 2002.

ROUDINESCO, E; PLON, M. Dicionário de Psicanálise. Trad. Vera Ribeiro e Lucy Magalhães. Rio de Janeiro: Zahar, 1998.

ZIMERMAN, DE. Fundamentos Psicanalíticos: teoria, técnica e clínica. Porto Alegre: Artmed, 1999. (Reimpressão 2010).