1. Referencia

BELLO, Ângela Alles. Introdução à fenomenologia/ Ângela Alles Bello: tradução Ir. Jacienta Turolo Garcia e Miguel Mahfoud. Bauru, SP: Edusc, 2006.

2. Credenciais da autora

Contemporânea na Faculdade de Filosofia da Pontifícia Università Lateranense, Roma, Itália. Dirige o Centro Italiano di Ricerche Fenomenologiche. Faz parte do corpo editorial de diversas revistas científicas italianas e estrangeiras, dentre as quais "Per la filosofia", "Segni e Comprensione", "Analecta Husserliana", "Phenomenological Inquiry"; collabora con "Recherches Husserliennes" e "Studien zur interkulturellen Philosophie". Contato: Pontificia Università Lateranense, Facoltà di Filosofia, Piazza San Giovanni in Laterano n.4, Città del Vaticano (00120).

3. Resumo

Nesta obra, Angela Alles Bello, de forma detalhada, expõe sobre a fenomenologia, pensada por Husserl, que criticava as ciências positivistas e propôs descrever o fenômeno, voltando-se para as coisas mesmas, ou seja, ao mundo da experiência, a partir da descrição e interrogação sobre o mesmo, correspondendo a um método nem dedutivo nem empírico, mas que consistia na reflexão sobre um dado fenômeno.
No primeiro capítulo, há um descrição acerca de fenômeno e fenomenologia, sob vias de conceptualizações. A autora inicia, então, apontando a fenomenologia como uma escola filosófica iniciada na Alemanha no fim do século XIX e primeira metade do século XX, tendo como precursor Edmund Husserl. Ao apresentar uma definição para fenomenologia, especifica que essa palavra tem sua formação constituída de duas partes de origem gregas: fenômeno, que significa "aquilo que se mostra" e "logia" que deriva de logos e pode significar pensamento. Nessa perspectiva, conceitua-se fenomenologia como reflexão (pensamento) sobre aquilo que se mostra.
O segundo capítulo possibilita a percepção da fenomenologia como método, já que para Husserl compreender fenômenos implica em definirmos um caminho e a palavra grega que designa caminho é método. Assim, conforme Husserl, a chegada à compreensão do sentido das coisas propõe duas etapas:
? A primeira consiste em buscar o sentido dos fenômenos - a redução eidética: corresponde à busca pela compreensão do sentido das coisas, embora nem todas sejam compressíveis. Porém, em consonância com a autora, "compreender o sentido das coisas é uma possibilidade humana" e para Husserl o importante não é compreender o fato, mas o sentido do mesmo, não bastando dizer que ele existe.
? A segunda consiste em identificar como é o sujeito que busca o sentido ? a redução transcendental: nesse momento faz-se a reflexão sobre o sujeito ? quem somos nós, na qual a analise do sujeito humano e o ponto de partida para a investigação.
Assim, a autora aponta que ter consciência dos nossos atos corresponde às vivências e, portanto, teríamos dois níveis de consciência: em um primeiro nível estão os atos perceptivos e em segundo os atos reflexivos. Alles afirma ainda, que os seres humanos percebem o que estão fazendo através da reflexão e, por isso, constitui-se como uma vivencia humana, e a consciência é a dimensão com a qual registramos os atos.
De acordo com a abordagem fenomenológica, a analise é de que a alma se constitua de duas partes: impulso psíquicos, que correspondem aos atos não queridos nem controlados por nós (pulsões, impulsos, instintos) e espirito que corresponde à parte que reflete, decide, avalia, estando ligada aos atos de compreensão, reflexão, decisão e do pensar. Dessa forma, identifica-se que os sujeitos realizam atos espirituais, psíquicos e corpóreos, sendo que "as coisas físicas são conhecidas através da corporeidade".
O capítulo três nos remete a reflexão sobre a consciência e estrutura universais, já que a "consciência" é uma novidade trazida pela fenomenologia e dotada de complexidade, explicitando ainda, tanto sobre a diferença existente entre a abordagem psicanalista (Freud) e a fenomenológica, que é a descrição da dimensão psíquica pré-consciente e depois inconsciente, quanto sobre o fato de entrarmos na consciência através da percepção. Estes aspectos correspondem a noções imprescindíveis para a compreensão do ser humano. Por um lado, Husserl considera que a vivencia psíquica (dimensão do inconsciente) é importante, mas o ser tem a dimensão espiritual e todos tem a possibilidade de ativar esta para intervir com controle e sentido. Por outro, para Freud tudo que acontece no nível consciente é um produto do que acontece no nível do inconsciente.
As considerações presentes no capitulo quatro, nos remete à compreensão de que de acordo com Husserl existe um caminho anterior à percepção, e este se chama de síntese passiva, de forma que apresenta-nos a explicação de que em um nível passivo algumas operações se processam, tais como: continuidade e descontinuidade, homogeneidade e heterogeneidade. No capitulo seguinte, há uma explanação sobre entropatia: eu, o outro e o nós, apresentando inclusive a conceituação de entropatia como "ato da consciência que permite identificar um semelhante", e através desta entramos num mundo intersubjetivo; podemos, portanto, no nível psíquico estabelecer relação entropática com os animais, mas não e possível no nível espiritual. Quanto ao outro e nós, expõe que vivemos de forma individual, mas ligados a uma estrutura universal, a qual podemos denominar "nós".
O sexto capítulo propõe um pensar sobre a intersubjetividade, dando ênfase às modalidades de associação e a pessoa, e partindo do principio de que vivemos num contexto humano, busca-se discutir com se dá esse contexto e a relação entre as dimensões corpo, psique e espirito e as associações humanas. No decorrer do texto, especifica-se comunidade como uma associação em que todos os membros assumem responsabilidades reciprocas, além dos vínculos corporais, psíquicos e espirituais, podendo, por exemplo, a família ser considerada uma comunidade; quando não há vinculo psíquico e espiritual, mas apenas físico e corporal, pode-se chamar de sociedade. Alles Bello afirma que "o ser humano é um fenômeno, e assim, nesse é possível identificar atos que também são fenômenos e se manifestam e através deles podemos conhecer o fenômeno corpo, o psique e o espirito.
O capítulo sete reflete a importância das vivencias para fundamentar as ciências, ao considerar que é inviável fazer ciência sem saber ao certo o que é o ser humano, na fenomenologia, por exemplo, essa busca se da pela analise dos atos.
No capítulo oito, a autora se dispõe a fazer considerações sobre o método fenomenológico husserliano e o existencialismo, explicitando que a diferença existente entre essas duas abordagens é a ênfase dada à existência, pois a Husserl interessava compreender o sentido e não a existência como um fato, ou seja, seu trabalho volta-se para o significado das coisas. Contudo, Heidegger que é discípulo de Husserl, interessa-se pelo fenômeno da existência humana, assim como os fenomenôlogos franceses posteriores que admitem examinar a essência humana como fenômeno, mas sem examinar os atos. Husserl considera o interior, os atos, as vivencias, fazendo a análise do ponto de vista do espirito, enquanto os existencialistas permanecem fora, sem considerar a dimensão do espírito. O que discute em suma é como examinar o ser humano.
No último capítulo é feita uma abordagem sobre os atos específicos da busca religiosa. Segundo a autora, os atos intelectuais, racionais e morais estão ligados à vontade de espirituais, portanto, a vida espiritual esta ligada também aos atos religiosos que para Husserl são correntes de consciência. Essas correntes da consciência nos expedem a um principio absoluto, uma vez que não podemos sair da consciência, porém, todos os atos nos indica uma limitação.
Portanto, nossos atos são limitados, contudo existe algo que nos transcende, e o conhecimento dessa transcendência esta em nós. Logo a experiencia religiosa é uma experiencia de si e da experiencia de que existe algo superior a si. Anselmo D? Aosta afirma este pensamento de algo que supera é o pensamento mais forte que podemos ter. Neste sentido, Husserl aponta que essas correntes de consciência devem levar a um Absoluto que está fora, que é transcendente. Por outro lado, a marca do ilimitado, segundo Husserl é um núcleo profundo de todas as experiências religiosas quem podem ser pensadas filosoficamente.
Para fechar a discussão apresentada durante toda a obra focada no desenvolvimento humano, a autora afirma que a espécie humana é conduzida a se desenvolver por que existe um projeto, uma meta. Tal projeto deve ser conduzido por Deus, é essa a via objetiva e também subjetiva, que tem dupla validade: religiosa e filosófica, já discutidas por Santo Agostinho e Santo Anselmo durante a Idade Média. Em resumo, do ponto de vista fenomenológico, se compreende porque a corrente de consciência de tipo religioso, que constitui a nossa experiencia, pode ser objeto de uma reflexão de caráter racional, pois o ser humano pode refletir, portanto, racionalizar, trata-se de uma via subjetiva.

4. Crítica dos resenhistas

A presente obra é uma fonte riquíssima de reflexão que nos possibilita compreender o ser humano a partir da fenomenologia, ou ciência da essência do conhecimento, também chamada de Fenomenologia Transcendental, proposta por Husserl.
A autora Angela Alles Bello, fez uma analise detalhada das ideias propostas por Husserl, utilizando uma linguagem simples, fazendo suas inferências pessoais, porém, mantendo a originalidade das teses do filosofo, especificamente a do método fenomenológico que influenciou os importantes movimentos de pensamento do século XX.
A preocupação da autora no contexto de introdução da Fenomenologia Husserliana foi explicitar a distinção entre fenômeno e Fenomenologia enquanto ciência do conhecimento e Fenomenologia enquanto método. Neste sentido, a o objetivo da fenomenologia enquanto método não esta preocupada com a existência dos fenômenos, mas na busca do sentido dos mesmos e na compreensão do sujeito que busca sentido, portanto, no primeiro momento, temos a redução eidética e no segundo a redução transcendental.
Cabe ressaltar, que neste contexto ao analisarmos as ideias discutidas por Alles Bello percebemos uma aproximação entre a Fenomenologia de Husserl e a Filosofia Transcendental de Kant, quando Husserl afirma que a fenomenologia é um método, ou "caminho" da crítica do conhecimento universal das essências. Suas ideias também se cruzam no ponto em que a fenomenologia transcendental proposta por Husserl é fenomenologia da consciência constituinte. Não há grandes diferenças entre os fenomenológicos uma vez que Husserl fundamenta a Crítica da Razão inspirada no modelo Kantiano do conhecimento puro, a priori.
De modo geral, toda a discussão da fenomenologia esta centrada na compreensão do fenômeno seja ele físico ou abstrato, tomando como base a obra analisada, destaca-se o ser humano enquanto fenômeno. Buscou-se explicar não apenas a estrutura humana numa linguagem intersubjetiva: corpo, psique e espirito, mas as relações que este ser no mundo estabelece com o outro na comunidade, compreendida aqui em diferentes níveis: Estado, sociedade, família, religião e povo.
Em suma, a fenomenologia entendida como método nos direciona a reflexão ou a crítica da razão pura, guiando-nos a filosofia transcendental. Enquanto projeto a fenomenologia nos conduz a mudança, pois é uma importante ferramenta de transformação do processo humano. Neste sentido, a obra nos deixa um ponto para reflexão: o que diferencia o ser do aparecer? E a essência da aparência?

5. Referencias complementares

GALEFFI, Dante Augusto. O Que É Isto ? A Fenomenologia De Husserl? Disponivel em: http://www.uefs.br/nef/dante5.pdf Acesso em março de 2011.