O autor Roberto Gomes faz no inicio de seu texto uma pergunta que é de suma importância para a compreensão de toda sua argumentação seguinte. Questionando: se é possível uma razão tupiniquim? Pelo desenrolar literário e o argumentativo de Gomes, podemos crê que sim, mas que para encontrar-mos essa razão, devemos procurar na identidade (cultura) do povo brasileiro como: na arte, língua, dança, e música na mistura das raças, por exemplo. Enfim na cultura de modo geral como um todo.

O que pode significar razão tupiniquim? Podendo determinar um tema que jamais foi explicitado, portanto não tem trabalho igual, porque segundo o autor Roberto Gomes esta razão está adormecida entre nós.

Porque atualmente entre nós brasileiros não exista uma razão tupiniquim, ou melhor, não existe uma forma de fazer filosofia autenticamente nossa. A nossa inautenticídade na ora de produzirmos alguma filosofia, não temos atitude crítica para proferirmos uma reflexão filosófica.

O autor do questionamento afirma que o brasileiro foge de sua identidade ao procurar um pensamento autêntico fugindo de suas raízes ou realidade. Segundo Gomes (crítica da razão tupiniquim) "Assim, é necessário advertir que um pensamento brasileiro jamais esteve lá onde tem sido procurado". Procuramos o autentico pensamento filosófico brasileiro e sua essência em teses universitárias, cursos de graduação e pós-graduação e em correntes filosóficas gregas e européias, mas nós brasileiros copiamos modelos filosóficos, esquecendo de estabelecermos um pensamento, criando uma não autenticidade nossa.

O brasileiro, segundo Roberto Gomes foge de sua identidade na hora de produzir filosofia. Buscando em outras culturas apoio para elaborar um pensamento filosófico. E por isso, ainda não produziu filosofia. Assim, é necessário advertir que um pensamento brasileiro jamais esteve lá onde tem sido procurado: em teses universitárias, cursos de graduação e pós-graduação. No nosso pensamento oficial não se encontra qualquer sinal de uma atitude filosófica autentica, que seja unicamente nossa. Porque um pensamento brasileiro deverá brotar de uma realidade nossa e não européia. Uma razão não se faz com livros ou teses e sim com uma analise da realidade e uma crítica formada a partir dela.

Em relação a nossa cultura inicialmente é curioso notar que nada poderia estar tão distante dos valores idealmente apregoados pela tradição do pensamento ocidental, porque a seriedade européia está a serviço de uma máscara social, faltando-lhe criatividade.

Todo pensamento traz a marca de seu tempo, dando forma e consistência a este tempo e ao mesmo tempo apresentando uma visão crítica das questões de uma determinada época, sendo impessoal e imparcial, extraindo uma para si e não em si.

É na realidade de nosso povo (cultura) que se encontra a autenticidade na hora de criarmos um pensamento filosófico. A partir do momento que nós brasileiros conseguirmos pensar a nossa realidade iremos construir um pensamento autêntico. Segundo Gomes "A questão de um pensamento brasileiro deverá brotar de uma realidade brasileira". Sem contato com qualquer outra cultura. Segundo Gomes "uma razão não se faz com um livro". E sim com um contexto cultural que tem que ser levado em conta, isso pensado a partir da realidade. Não se deve criar uma identidade, mas buscar a autenticidade, propondo um modelo ou meio de buscar-mos.

O modo de produção filosófica brasileira vem sufocando e influenciando negativamente a produção filosófica como um todo, com uma falsa pregação de um modelo de investigação falha. Por uma falta de contato com a realidade da nossa cultura. Segundo Gomes "entre nós perdeu-se o contato com a realidade em torno". Gomes faz uma crítica a herança filosófica européia, que com sua seriedade, formalidade tirou a identidade e a capacidade de criação do brasileiro, simplicidade nas expressões e comunicações do homem brasileiro. O homem brasileiro na busca de se criar conteúdo filosófico autentico, não buscando referencias em outras culturas.

Não é capaz de pensar uma filosofia autentica porque os seus métodos de investigação não são capazes de lhe dar um conteúdo próprio (autentico) e por isso não é capaz de criar uma filosofia autentica.

O que possibilitou o surgimento de uma filosofia grega, segundo Gomes foi a leitura e expressão de uma cultura autentica, por determinados intelectuais. Descobrindo na realidade de um povo uma forma autentica de expressar um pensamento autêntico. Reconhecendo na sua realidade uma expressão intelectual como forma de propor alterações na realidade, na política, economia e outros. Todo pensamento autentico segundo Gomes depende do tempo e do espaço.

Toda construção filosófica depende, além da cultura ou momento histórico em que o filósofo se encontre. Toda construção filosófica depende do momento em que acontece (dos fatos, das crises reais). Um pensamento filosófico se constrói a partir da realidade. De fato podemos constatar que desde o inicio o pensamento filosófico brasileiro foi construído sobre uma plataforma européia, descaracterizando assim, uma autenticidade. Porque não formos buscar essa autenticidade, nos voltando para nós mesmo (é o para si) e não o (em si), para uma realidade e uma cultura que é só nossa.

A atitude crítica da filosofia determina o caminhar ideológico da humanidade. A filosofia tem uma contribuição enorme na análise da realidade. Determina em que contexto cultural se enquadra os valores e as ações do homem. Se fizermos uma análise detalhada de nossa realidade podemos construir um pensamento crítico, podemos atacar falsos valores, excessos de ideologias.

Toda filosofia tem por obrigação que voltar seu olhar para a atitude critica da realidade e deixar de lado o comodismo acadêmico de suas teses inservíveis do ponto de vista construtor de um saber. Algumas teses filosóficas se convergem em desinteresses crítico por pura inocência, ignorância ou por ser mal intencionada.

A filosofia tem por obrigação saber que só irá sobreviver se tiver o seu olhar voltado para a crítica. Mas a filosofia brasileira até então vem sendo pensada de forma errada, pensando uma realidade que não é nossa. Não consegue fazer uma leitura de sua realidade, além do mais, acha que coisa que se pense é filosofia.

Desta forma toda filosofia só fala o que as pessoas querem ouvir, não vai de encontro com as tradições, valores e pensamentos. A filosofia é construída dentro de um processo histórico, desde que faça uso de seu olhar altamente crítico sobre a realidade, é fato constante nossa tendência a evitar o choque de idéias e as tomadas de posição.

Os grandes momentos do pensamento surgem no auge de uma curva, dando consistência e definição a um momento do processo histórico. Poderíamos construir toda uma história da filosofia, que se recusasse a ser mero arsenal ilustrativo de dados históricos, mostrando que qualquer momento criador foi, na origem, uma negação. Isto não envolve, advirto, a idéia de uma necessária sucessão linear que conduzisse a um progresso continuo para algo melhor—pensar envolve momentos legítimos de um processo que, embora produto humano, nos escapa em seu sentido global.

Qualquer conhecimento inicia sendo negação, ou seja: como essencialmente crítico. A crítica é algo a ser assumido, é uma posição do espírito. A filosofia é a cultura lida, explicita de forma direta, sem arrodeios, e sem mascaras. Uma leitura da realidade com um olhar altamente crítico. Mas quando a filosofia cria meio-termos podemos classificá-la de imediato como medíocre. E é o que podemos enquadrar o pensamento brasileiro, não faz uma leitura (crítica) da realidade cultural para produzir um pensamento autêntico.

Roberto Gomes fala de uma corrente filosófica que pode ser confundida como autêntica filosofia brasileira. A corrente eclética representa o primeiro movimento filosófico plenamente estruturado no Brasil. As sementes lançadas sob o manto da autoridade de Cousin, filósofo oficial na França de Luis Filipe, encontram terreno fértil. Se não chega a estruturar-se numa autêntica corrente filosófica, a doutrina configura plenamente o espírito da elite dirigente constituída durante este período histórico. O ecletismo além de ingênuo é impossível, uma filosofia não filosofada, eis a estranha coisa—numa estranha expressão—que se tem praticado no Brasil. Nosso sono dogmático consiste em assumirmos uma posição que é, ao mesmo tempo, ingênua e contraditória.

A ausência de critérios críticos, além de absurda e caótica, não pode ser confundida com abertura intelectual e menos ainda com esclarecimento. Então lembremos que assumir uma posição não é fechar-se ao real, mas condição de realidade. O fator histórico é determinante para uma construção filosófica sólida desde que seja feita e pensada de modo correto, usando como análise a partir dos dados históricos disponíveis, mas Roberto Gomes alerta: o tempo não é experiência. Pode ser esclerose. Não devemos nos tornamos escravos do passado e sim interpreta-lo para construirmos um presente melhor, fazendo uso da memória.

No final do capitulo V Gomes afirma que: Entre-nós, portanto, a pobreza filosófica de um país não apenas jovem, mas, sobretudo imaturo. Que ainda não conseguiu levar-se a sério, preso a modelos de seriedade providenciados estranhamente. E afirma que o mito da imparcialidade impera no modelo de filosofia do Brasil. Desta forma não sabemos o dizer, como vamos e para onde vamos. Devemos assumir uma posição crítica de qualquer maneira e parar de suplicarmos reconhecimento dos europeus por nossas riquezas tanto culturais quanto filosófica.

No capitulo VI Gomes fala do não conformismo de um tipo autêntico do povo brasileiro que para todos os males tem um jeito a imparcialidade. Com o elemento constitutivo da não-radicalização, porque o homem que se exalta (cria um pensamento crítico) perde a capacidade de dar um jeito. Nascendo assim o espírito conciliador e não estão aí para serem levados a sério. Quanto à filosofia, é grave que entre-nós tenha se recusado a cumprir a missão que lhe seria própria e única: ser o centro de consciência crítica, de negação de nossas falsificações existenciais. A inexpressividade da filosofia no Brasil se deve ao fato de ocorrer, sem revolta, ao nível da repressão difusa no todo social, criando impessoal a nós mesmo. Portanto devemos realizar entre-nós a conquista da cidadania crítica, radicalizando nossa posição se quisermos do emaranhado acadêmico e universitário.