INTRODUÇÃO À ARTE RUPESTRE DE SANTA CATARINA, BRASIL

 

Willian Carboni Viana – Licenciado e Bacharel em Geografia – Universidade do Extremo Sul Catarinense – Unesc/ Criciúma, Brasil. Mestrando em Arqueologia Pré-Histórica e Arte Rupestre - Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro – Utad/IPT – Portugal.

 

 

 1.            INTRODUÇÃO AO GRAFISMO RUPESTRE

 

A Arte Rupestre são rastros da atividade humana pretérita, e representada através de imagens gravadas ou pintadas sobre superfícies rochosas (CELIS E CONTRERAS, 2004). Essas manifestações artísticas podem ser representações de animais, plantas, objetos, cenas da vida cotidiana, signos, figuras geométricas, e outras aqui não citadas (AGUIRRE et al, 2005). Existem várias interpretações desses grafismos, como, por exemplo, Leroi-Gourham,  Celis e Contreras colocam a Arte Rupestre como representações do cotidiano, e que os motivos pintados ou gravados é a representação da própria vida do homem. As interpretações desses grafismos representam um gigantesco mundo simbólico através de ''figuras''.

Conforme Aguirre et al (2005) duas questões são pertinentes quando se estuda a Arte Rupestre: qual a origem verdadeira da arte; e porque o homem sentiu necessidade de produzir obras artísticas. Entretanto existam várias hipóteses em resposta, ainda se está longe da compreensão como um todo. O fato é que, o homem deixou em covas, pedras e paredes rochosas (e em outros locais) essas representações. Trata-se (grosso modo) de uma maneira de passar algo adiante.

A Arte Rupestre está presente no mundo todo, e no Brasil não houve de ser diferente, o detalhe é que aparece em tempos diferentes de acordo com início da ocupação (referindo-se a cronologia) e do modelo de ocupação em cada localidade/ região do planeta. 

 

2.            UM RESUMO DA ARTE RUPESTER NO ESTADO DE SANTA CATARINA, BRASIL

 

No que se refere a representações rupestres o estado de Santa Catarina detém de um alto potencial, possuindo idade estimada entre 3 e 10 mil anos (VERAS, 1997 apud DE ASSIS, 1997). As maiores concentrações dos sítios rupestres do estado estão situadas em duas zonas: nos campos de Lages; e no litoral central do estado (COMERLATO, 2005) (figura 1). Cabe ressaltar que existem em outras localidades do estado, mas com menor ocorrência, como por exemplo, os sítios registrados pelo Arqueólogo e Padre João Alfredo Rohr no Município de Caxambu do Sul (oeste de Santa Catarina), e o sítio Caverna do Alemão, no Município de Porto União (planalto norte de Santa Catarina) (LANGER e SANTOS, 2003 apud COMERLATO, 2005). No litoral há pelo menos 30 sítios rupestres registrados, 9 deles está na ilha do Campeche; No interior do estado há pelo menos 8 sítios de representações rupestres (COMERLATO, 2005), salienta-se que os dados do cadastro nacional de sítios Arqueológicos estão desatualizados pelo IPHAN – Instituto do Patrimônio Artístico Nacional – órgão responsável pelo cadastramento dos registrado pelos arqueólogos.

Conforme Carmelato (2005) e Lucas (1996) a maioria dos sítios de Arte Rupestre do litoral central estão localizados em ilhas, nos costões que são suportes para as gravuras. As gravuras podem ocorrer de forma isolada, ou em conjuntos gráficos. Quanto às temáticas, as técnicas e as superfícies em que estão gravadas Comerlato (2005) faz referência:

 

Os sítios estão em diques de diabásio, geralmente em falésia composta, plataforma de abrasão, fenda ou pontal rochoso. A única exceção é o sítio mais setentrional, na Ilha de Porto Belo. A temática é geométrica, além de representações humanas esquemáticas. A técnica de confecção predominante é o polimento.

 

No planalto do estado as representações ocorrem em grutas, em abrigos sobre rocha e ao ar livre (ROHR, 1971; COMERLATO, 2005). As gravuras são em Arenito da formação Botucatu (arenito avermelhado proveniente de um antigo deserto - contornando a escarpa basáltica da Serra Geral), as técnicas são por incisão (secção em V) e picoteamento. Os sulcos possuem no máximo 4 milímetros de profundidade, em alguns sítios há vestígios de pigmentação de coloração preta (ROHR, 1971).  As representações do planalto estão dispostas em humanas, traços indeterminados e figuras geométricas (COMERLATO, 2005).

 

3. ASPECTO GERAL SOBRE OS RISCOS AO PATRIMÔNIO ARQUEOLÓGICO CATARINENSE: POLÍTICAS E SOCIEDADE

 

O ritmo acelerado do crescimento econômico e da expansão urbana o estado de Santa Catarina vem pondo em risco o seu patrimônio arqueológico. É comum ao andar principalmente pela costeira do estado e ver ‘’construções sobre construções’’, edifícios, novas empresas, esse ritmo na maioria das vezes ocorrem de maneira desordenada, sem controle, e ainda, o que é pior, depredação pela própria sociedade. A arqueologia preventiva hoje é um meio de tentar salvar parte do passado, embora seja criticada pela própria sociedade. A Educação Patrimonial é ótima no Brasil, é um programa bem completo, a empresa que faz o levantamento arqueológico, faz a Educação Patrimonial (existem leis que garantem isso) tanto em escolas do entorno, quanto com a população inserida nos locais próximos a sítios arqueológicos, e mesmo não havendo sítios, entra-se em conversação sobre a importância da preservação do Patrimônio Arqueológico. Por experiência própria, em grande parte das vezes, a população encara os bens arqueológicos como um entrave para o desenvolvimento do estado de Santa Catarina.

Adans et al (2012) no programa de política de Preservação do Patrimônio Cultural de Florianópolis, financiado pelo SEPHAN - Serviço do Patrimônio Histórico, Artístico e Natural do Município do Município de Florianópolis faz uma crítica que de fato resume toda a realidade enfrentada pelo Município, e aponta alguns dos fatores que levam a depredação, o que chama atenção é a falta de manutenção/ intervenções adequadas, em interface ‘’a perda da identidade cultural’’:

Ressalta-se que parte dos problemas diagnosticados no acervo protegido decorrem da falta de manutenção, de intervenções inadequadas, dos avanços tecnológicos, da globalização, que interfere no comportamento social e consequentemente na mudança de valores. Estes fatores transformam o processo de urbanização das cidades e consequentemente, sua paisagem cultural. A padronização de valores e uniformização da paisagem provoca a perda da identidade local. Este fator é considerado danoso a um município que tem como uma de suas bases econômicas o turismo.

As temáticas das representações rupestres no litoral são utilizadas como logomarca por empresas (Complexo Turístico Costão do Santinho, Cezarium Residence Club, editora da Universidade Federal do Estado de Santa Catarina, Rotary Club dos Ingleses, Tribal Vídeo Club, Restaurante Rupestre, Núcleo de Estudos Interdisciplinares em Sociedade e Ambiental – NEISA, Monitores da ilha do Campeche, Itararé Ecoturismo, entre outras). Em Florianópolis (capital do estado) infelizmente o que se vê é uma forma de vender as representações de Arte Rupestre da cidade como um simples produto exótico, sem uma gestão (integrada) o que acabou fornecendo a lacuna de ‘’Ilha da Magia’’ (mitologias das representações rupestres) (MARTINS, 1995 apud CAMERLATO, 2005).

 

4.            REFERÊNCIAS

ADANS, M. B.; NUNES, M. A.; ARAÚJO, S. A. (2012). Florianópolis: política de preservação do Patrimônio Cultural. SEPHAN - Serviço do Patrimônio Histórico, Artístico e Natural do Município do Município de Florianópolis. Florianópolis, SC. (revisão: agosto de 2012). Pdf.

AGUIRRE, K. F.; ALMIRAL ARNAL, E.; ALSINA CLOTA, J. (2005). História Universal 1: a Pré-História. Vol. 1. Editorial Salvat, S. L.: Espanha.

CELIS, D. M.; CONTRERAS, Á. B. (2004). Introducción al Arte Rupestre: Adaptación del texto y gráficas originales del Manual de arte rupestre de Cundinamarca. Gobernación de Cundinamarca-ICANH, Bogotá.

CORMELATO, F. (2005). As representações rupestres do estado de Santa Catarina. In: REVISTA OHUN – Revista eletrônica do Programa de Pós-Graduação em Artes Visuais da Escola de Belas Artes da UFBA.  Ano 2, nº 2, outubro 2005. Pdf.

DE ASSIS, L. (1997). Texto adaptado de Dauro Veras: No litoral de Santa Catarina, inscrições e monumentos deixados por nossos ancestrais pré-históricos desafiam a imaginação.

Disponível em: <www.santacatarinaturismo.com.br/destinos_relatos.php?id=31&idpai=>. Acessado em: 09/02/2013.

FUNARI, P. P. (2003). Arqueologia. São Paulo: Contexto.

Guia Floripa. (2012). Disponível em: <http://www.guiafloripa.com.br/turismo/ilhas/icampeche.php3>. Acessado em: 28/ 12/ 2012. 

IBGE. Atlas geográfico escolar. (2004). 2. Ed. Rio de Janeiro: IBGE. 305 p. 

IBGE, censo demográfico. (2010). Disponível em:<http://www.ibge.gov.br/cidadesat/topwindow.htm?1>. Acessado em: 28/ 12/ 2012

LAGES, V. (2001). Litoral catarinense esconde tesouros arqueológicos e rara beleza. Disponível em:

<http://www.sescsp.org.br/sesc/revistas_sesc/pb/artigo.cfm?Edicao_Id=115&Artigo_ID=1319&IDCategoria=1432&reftype=1>. Acessado em 07/02/2013.

LUCAS, K. (1994). A Arte Rupestre do Município de Florianópolis. Florianópolis: Rupestre.

LUCAS, K. (1996). Arte Rupestre em Santa Catarina. Florianópolis: Rupestre.

ROHR, J. A. (1971). Os sítios arqueológicos no Planalto Catarinense, Brasil. Pesquisas número 24. São Leopoldo: Instituto Anchietano de Pesquisas.