"Intrigas de Estado" (State of play)


Tíquetes para ticar: gênero: crime, drama, suspense. Longa metragem. (127 min.) ? Ano Prod. ? 2009. Colorido.

Com alguns furos conceituais e um jeito de filmão, se você tapar um dos olhos, durante alguns segundos, nalgumas cenas, pode-se dizer que não perdeu nada e que ainda por cima assistiu um filmão.

Se você é macaco(a) velho(a) de cinema não vai caracterizar como furos e sim como elementos de trama desgastados pelo uso. Só isso. Sé é macaco(a) novo(a), vai se esbaldar.

Kevin Macdonald filma com capricho e ao longo do percurso o que se percebe são imagens bem captadas e enquadramentos de encher a vista. Kevin dirigiu "O Último Rei da Escócia" e "Desafio Vertical".

Russell Crowe é o jornalista que denota algo de anômalo no corriqueiro assassinato de um passador de crack nos arrabaldes de Washington D.C. e Ben Affleck, o congressista casado com fulana mas enamorado de sicrana. Sicrana sofre um acidente, que mais tarde ficará evidenciado como assassinato. Ben está sob os holofotes e assim na mira da mídia.

Russell e Ben foram colegas de universidade e o jornalismo do agora exposto no filme computa águas passadas. Ou seja ? querem Russell no caso e ainda não há suspeitas de que o congressista esteja sendo alvo de uma tramóia monumental.

Boas estrelas esquentam a trama: Helen Mirren, Jeff Daniels, Robin Wright Penn, Rachel McAdams, e outros, que deixam de ser nomes e tornam-se velhos conhecidos de aficionados.

Meandros de Washington, fotos, chantagens, traições, o suposto ? relevante e plausível ? debate entre a polícia e a cúpula do jornal Washington Globe, fazem sua parte no recheio.

Rachel McAdams, a novata que duela com o velha guarda Russel, ela é jovem e sua praia é o blog. Nalgum ponto terão de se unir, senão a história não sai.

Descontando o conceito esgarçado da mega empresa subornando príncipes e consortes para obtenção de favores via Congresso, o desenrolar das investigações de Russel, sua amizade fragilizada por eventos passados com Affleck, a chefe de Russel, Helen Mirren, editora com uma plaquinha sobre sua mesa "nunca confie num editor", e seu dilema na questão do lucro para venda de jornais a qualquer preço versus a consciência da responsabilidade da notícia, tudo isso e mais um pouco dão o azeite necessário para a moviola girar.

"Precisamos montar uma história alternativa plausível", são as palavras de Russel ao perceber que os boatos estão dissociados dos fatos, e por pouco não entram no rol das definições universais sobre comportamento jornalístico.

Ponto interessante desse roteiro é a mostra dos vários efeitos dominós sofridos pela imprensa, durante flagrantes expostos que não são causa, e sim efeito, como a própria narrativa irá mais tarde mastigar para o espectador.

"Essa é uma história real ? alerta o velha guarda para a parceira blogueira ? tem 2 cadáveres e um terceiro em coma. Não está aberta a interpretações e tampouco é necessário formar uma opinião".

A competência de Russel esmaece os clichês do jornalista engajado, com conexões em toda parte pelo tempo de profissão.

Nas considerações finais, só se pode filosofar que um bom filme desse gênero encontra respaldo na quantidade e qualidade de nuances que apresenta, fazendo com que o enredo se desenvolva naturalmente nos sensores do espectador. Encerrando, duas palavras e um artigo: vale o ingresso.