Lednalva Oliveira Cordeiro Batista

Resumo

O presente Projeto de pesquisa psicopedagógica faz parte do pressuposto de que a ação da parceiria psicopedagógica e    fonoaudiológica  realizada na escola é determinada por diferentes perfis de atuação, dentre eles o que visa à promoção da saúde física e mental.Dessa forma,o  objetivo deste trabalho é verificar quais são  as ações realizadas pelos fonoaudiólogos, de modo a averiguar a relação (ou não) com a proposta de assessoria  escolar vinculada à idéia de promoção da aprendizagem dentro da abordagem da arteterapia. Para tanto, foram entrevistadas três fonoaudiólogas, e a análise de dados promoveu a verificação de diferentes ações atreladas a perfis distintos de atuação. Os resultados obtidos apontam para a existência de  várias propostas vinculadas  à noção de promoção da aprendizagem.

Palavras-chave: Fonoaudiologia; Psicopedagogia , arteterapia e aprendizagem.

This research project is part of the psychoeducational assumption that the actionof the partnership psychoeducational and speech in the school is determined by different modes of action, including that relating to the promotion of physical andmental.Dessa, the aim of this work is to see which actions are performed byaudiologists in order to ascertain the relationship (or not) with the proposedadvisory school linked to the idea of ​​promoting learning within the art therapyapproach. To this end, we interviewed three speech therapists, and data analysispromoted the verification of different actions tied to distinct profiles of action. The results obtained indicate the existence of several proposals related to the notion of promoting learning.
Keywords: Speech Therapy, Psychology, Art Therapy and learning.

 

Introdução.

O objetivo da pesquisa foi analisar a pertinência do uso da arteterapia no trabalho fonoaudiológico, com vistas à reabilitação comunicativa e ao resgate dos alunos como interlocutores capazes de circular por várias situações e contextos discursivos, sobretudo se ouvidos em suas necessidades e validados na condição de sujeitos.A arteterapia opera por meio da expressão estética como dispositivo para ajudar os sujeitos na elaboração, na expressão e no equacionamento de seus conflitos. Sua articulação com a fonoaudiologia, no manejo com dimensões relacionais e subjetivas, potencializou o trabalho com a linguagem e com a comunicação dos participantes da pesquisa, ampliando possibilidades dialógicas e interacionais.

O presente trabalho tem como ponto de discussão a questão da fonoaudiolgia e da arteterapia  na escola, mediada pela psicopedagogia, atrelada à dimensão da promoção da saúde e da aprendizagem, visando possibilitar a parceria entre o fonoaudiólogo, o psicopedagogo e os educadores. A análise das publicações nesta área de atuação fonoaudiológica  possibilitou conferir a existência de diferentes perfis de ação.O estudo inaugural que pretende contemplar a discussão sobre a fonoaudiologia e arteterapia na escola é o apresentado por Pacheco e Caraça (1984), no qual  as autoras relatam as três principais funções que o fonoaudiólogo exerce no âmbito escolar, quais sejam: participação na equipe, triagem e terapia.A primeira função compreende os papéis de assessor e consultor. Como assessor, “sua função é a de transmitir os conhecimentos específicos de sua área para os demais elementos da equipe” (p. 202). Assumindo o papel de consultor, “fica o fonoaudiólogo responsável por esclarecer os profissionais, à medida que surjam problemas relativos à sua área,numa troca de informações constante” (p. 204).No que diz respeito à triagem, as autoras descrevem que(...) esta é uma área onde a atuação do fonoaudiólogo se faz quase que individualmente (...) uma  vez que tem como objetivo avaliar a comunicação oral,escrita e aspectos relacionados a elas. A triagem é composta por uma bateria de testes, elaborados pelo fonoaudiólogo, através dos quais se verifica a linguagem oral e/ou escrita da criança. (p. 205)Em relação à terapia, Pacheco e Caraça comentam que é um aspecto muito controverso quando relacionado ao ambiente escolar. Segundo elas,devem ser considerados “os exames médicos que uma criança com problemas na área de linguagem necessita fazer” (p. 206) e “o fato de como a criança se sentiria ao sair da sala de aula para ser atendida (...)” (p. 207). Sendo assim, as autoras acreditam que esse tipo de atendimento deve ser realizado fora do espaço escolar. Bitar (1991) relata o trabalho desenvolvido em três instituições, apresentando os objetivos traçados na atuação fonoaudiológica centrada nos pais,professores e alunos.Em relação às crianças, desenvolviam-se as seguintes ações: observação do aluno, triagem e grupo de estimulação através da arte.No que diz  respeito à atuação voltada aos pais, além das orientações e encaminhamentos, eram realizadas palestras oficinas e reuniões com intuito de abordar temas relacionados à linguagem. Com os professores, o trabalho realizado objetivou promover uma troca de informações, para que eles pudessem contribuir para o desenvolvimento da linguagem d e seus alunos, Coimbra et alii (1991) retratam uma experiência na área de Fonoaudiologia na escola, apresentando as possíveis ações a serem realizadas como:triagens, testes (“comunicação oral e escrita”),orientações e encaminhamentos aos pais e professores. Collaço (1991) apresenta um trabalho fonoaudiológico  desenvolvido em uma escola pública cujo pressuposto central é a valorização da figura do professor em sala de aula. A autora visa retratar a atuação fonoaudiológica desenvolvida em instituições de educação infantil e ensino fundamental, compreendendo o desenvolvimento da fala e a “comunicação pela escrita”.Quanto ao desenvolvimento da fala (aquisição fonêmica), o trabalho desenvolvido consistiu em orientar os professores da pré-escola em relação à observação da fala através da estimulação precoce. Em relação à “comunicação escrita”, o fonoaudiólogo e ocupava-se em oferecer ao professor subsídios para o trabalho com a ortografia, utilizando gravuras. Cavalheiro (1997) elucida as possibilidades da atuação do fonoaudiólogo dentro de uma instituição escolar, com uma trajetória a ser seguida para  que o trabalho fonoaudiológico na escola possa ser realizado. No que diz respeito à atuação em equipe, o fonoaudiólogo pode participar dos planejamentos,dos conselhos de classe, das reuniões de pais e professores e trabalhar com a preservação da audição e da voz, utilizando-se do lúdico, da arte.  Uma outra possibilidade de ação é a triagem, que  deve ser utilizada como ponto de partida para a realização de um trabalho preventivo. apresentando as possibilidades, em termos das atividades, na educação pré-escolar . A atuação fonoaudiológica iniciou-se, neste estudo, com o processo de triagem, e, com os dados obtidos, pôde-se elaborar as ações a serem  desenvolvidas: palestras de orientação aos pais, aos professores,oficinas e atendimento de apoio a grupos de crianças com dificuldades semelhantes. Paixão et alii (1997) desenvolveram um trabalho realizado em uma  escola de educação infantil a estratégia utilizada foi a execução de triagens fonoaudiológicas   que tiveram por objetivo analisar a “comunicação oral”,os aspectos cognitivos da linguagem, as funções neurovegetativas  e avaliação dos órgãos fonoarticulatórios e da voz. Os pais também recebiam atenção por parte do fonoaudiólogo quando havia a necessidade de encaminhamento, sendo direcionados para a Unidade de Saúde do Município.

 Giroto (1999) afirma que o fonoaudiólogo que atua em escolas tem se empenhado na construção de sua identidade como profissional voltado à promoção da saúde, a fim de legitimar sua atuação na equipe escolar. As propostas que vêm obtendo sucesso são aquelas que buscam a integração do fonoaudiólogo com os profissionais da escola, por meio de uma reflexão conjunta a respeito da natureza dos distúrbios da “comunicação”.Penteado (2002) apresenta possibilidades de ações  consonantes à proposta de Escolas Promotoras de Saúde caracterizada como “(...) aquela que permite às pessoas vivenciar um ambiente saudável, empático e solidário que favoreça experiências novas e positivas, bem como expressão de sentimentos de felicidade”. As ações realizadas nesta proposta, organizadas na forma de atividades grupais, baseou-se na participação ativa da comunidade escolar (pessoal docente, discente, administrativo, funcionários e equipe de apoio, familiares, profissionais de saúde, entre outros), desde a fase de identificação das necessidades de intervenção até as fases de planejamento, implementação e avaliação de ações fonoaudiológicas .  As propostas grupais envolvem também práticas educativas, intervenções fonoaudiológicas em salas de aula, encontros e reuniões com familiares  do aluno e representantes da comunidade na qual a escola está localizada.

Para que a proposta seja concretizada, apresentou-se  um conjunto de sugestões que teve  por objetivos permitir o acesso e a permanência do fonoaudiólogo na instituição escolar, sendo elas: perfis de conhecimento teórico e prático do profissional; organização de um projeto para ingresso na escola; conhecimento da realidade institucional; elaboração de projetos específicos.Considerando os estudos apresentados, parece-nos significativo salientar que houve mudanças relativas ao dizer e ao fazer do fonoaudiólogo na escola, essencialmente pautados pela busca da ressignificação do olhar para o professor, para o  fonoaudiólogo e para a instituição escolar. A maior contribuição das pesquisas aqui contempladas parece estar situada na consideração da dimensão da proposta em promoção da saúde, ainda que pensada por diferentes configurações.Entendemos que essa dimensão promoverá certamente novas e esclarecedoras afirmações paraa construção da relação estabelecida entre Psicopedagogia Fonoaudiologia e Educação.Desta forma, o objetivo deste trabalho é caracterizar as ações realizadas pelas fonoaudiólogas nas escolas, buscando retratar a assessoria escolar, identificando quais são as ações desenvolvidas e de que forma elas se articulam (ou não) à promoção da saúde.

Material e Métodos

Primeiro, foi elaborado um projeto e encaminhado para o Colegiado do curso de Fonoaudiologia para a aprovação.Para a realização deste trabalho de conclusão de curso, foram desenvolvidas entrevistas com três fonoaudiólogas que atuam na escola, a fim de coletar dados a respeito das ações contempladas em seu trabalho. As entrevistas foram realizadas em local e horário definidos com as fonoaudiólogas, com duração aproximada de uma hora.O trabalho se desenvolveu em duas etapas. No primeiro contato com as profissionais, foi realizada uma entrevista oral, registrada por meio de um MP4; no segundo encontro, para complementação dos dados da primeira entrevista, realizou-se uma  entrevista escrita. As entrevistas orais foram transcritas e enviadas (por e-mail) para as fonoaudiólogas, juntamente com as questões escritas  para que lessem e fizessem as correções necessárias. As questões abordadas durante a primeira entrevista foram:

1. Quanto tempo você atua na fonoaudiologia escolar? Em quais instituições?

2. Quais as ações desenvolvidas no início do trabalho e a que público se destina?

3. Como são realizadas essas  ações?

4. No decorrer de suas atividades, essas ações sofreram (ou sofrem) alguma mudança? Qual (is)?Por quê?

5. Como você caracterizaria o seu trabalho?

6. Em sua atuação existe algum trabalho voltado para as relações entre letramento e alfabetização e arteterapia? Comente.

7. Quais as principais dificuldades encontradas no processo?

8. Como você avalia a atuação do fonoaudiólogo na escola?

9. Existe alguma sugestão a ser feita neste aspecto?

10.Qual o principal enfoque de  sua atuação?.

11.Como você encara a importancia da  parceria com o Psicopedagogo?

Diante dos resultados apresentados, parece-nos  possível afirmar que se verifica a existência de aspectos de diferenciação nas entrevistas que se tornam relevantes para o trabalho fonoaudiológico.Tais questões denunciam e evidenciam diferentes perfis de atuação em escolas associados a diversas ações, quer preventivas e curativas, quer referentes à promoção da saúde. Esse fato pode ser explicitado e exemplificado pela observação de três aspectos, a seguir enunciados. Como destacado nas entrevistas, observamos,como primeiro aspecto, as diversas possibilidades de atuação na escola. A entrevistada um, relata desenvolver as seguintes ações: conhecimento sobre a realidade educacional, levantamento do material didático, elaboração e realização do projeto. Também comenta que seu trabalho é realizado somente com os professores, com o intuito de promover uma melhor qualidade de ensino para as crianças.Verifica-se que esse perfil de atuação é consonante ao trabalho desenvolvido por Calheta (2005),uma vez que enfoca o letramento. A autora acredita que as ações realizadas devem ser desenvolvidas pela parceria entre o fonoaudiólogo, psicopedagogo e os educadores, entendendo-os como “agentes potencializadores de aprendizagem”. A entrevistada dois realiza os seguintes trabalhos:palestras para pais.Tais ações são retratadas pelos seguintes autores: Pacheco e Caraça (1984), Bitar(1991), Coimbra et al (1991), Cavalheiro (1997),Kyrillos et alii (1997), Oliveira et alii (2002).Vale ressaltar que a entrevistada também citou como possibilidade de atuação a realização de oficinas de linguagem, utilizando rimas. Em apenas uma publicação consultada, verificamos a proposta de atuação com crianças em grupo de atendimento (Kyrillos et alii,1997), apontando para uma relação com o desenvolvimento de oficinas.Por fim, a entrevistada tres desenvolveu triagens,palestras e reuniões, concordando com tais autores: Pacheco e Caraça (1984), Bitar (1991), Coimbra et al (1991); Cavalheiro (1997), Kyrillos et ala(1997), Oliveira et alii (2002).Reflexões sobre assessoria fonoaudiológica na escola.

Conclusões:

Diante dos resultados das pesquisas em Fonoaudiologia na área escolar e das entrevistas, concluímos  que, apesar da sucinta amostra, os depoimentos colhidos estabeleceram uma relação de consonância aos estudos já publicados na área, comprovando o que inicialmente foi dito a respeito dos diferentes perfis que compõem a atuação fonoaudiológica em escolas.Vale ressaltar que a própria história de constituição de nossa área de conhecimento já instaura a possibilidade de uma atuação fundamentada nas questões referentes ao universo clínico/preventivo,fato que corrobora a ação do profissional na reedição de dizeres clínicos na escola.Quanto à relação das ações realizadas com a idéia de assessoria escolar, somente uma entrevista ,  faz  referência às ações em promoção da saúde, justificando nossos achados, quando da revisão da literatura, em que a maior parte das publicações se  refere ao fazer vinculado à idéia de prevenção.

Desta forma, acreditamos ser imprescindível a busca por uma ressignificação  da atuação fonoaudiológica nas escolas, de modo a potencializar sentidos significativos e eficazes na construção do conhecimento para todos os sujeitos inseridos na relação entre Fonoaudiologia, Psicopedagogia, arteterapia e Educação 

Referências:

Bittar ML. Fonoaudiologia escolar: relato de experiência. In: Ferreira LP, organizadora. O fonoaudiólogo e a escola. São Paulo: Summus; 1991. p.75-80.

Calheta PP. Fonoaudiologia e educação: sentidos do trabalho de assessoria a escolas públicas. In: César CPHRA, Calheta PP. Assessoria e fonoaudiologia: perspectivas de ação. Rio de Janeiro: Revinter; 2005. p.103-15.

Cavalheiro MTP. Trajetória e possibilidades de atuação fonoaudiológica na escola. In: Lagrotta MGM, César CPHAR. A fonoaudiologia nas instituições. São Paulo: Lovise; 1997. p.81-8.

Coimbra LMV, Luque MCMF, Machado SAF. Fonoaudiologia escolar: um campo de trabalho em desenvolvimento. In: Ferreira LP, organizadora. O fonoaudiólogo e a escola. São Paulo: Summus; 1991. p.61-5.