Muito antes de ser conhecida a noção de “química”, já os homens da Antiguidade sabiam utilizar os princípios farmacológicos dos “simples” para se tratar. E o mesmo se deu com os sonhos, que muito cedo ficaram carregados de significações.

Tendo compreendido intuitivamente que existe uma relação entre o sonho e quem o sonha, os Antigos elaboraram sistemas interpretativos cujos vestígios podemos encontrar na mitologia, na Bíblia e nos escritos filósofos gregos, árabes e orientais dos primeiros séculos da nossa era.

Baseando-se na observação, na intuição, na experiência e no raciocínio, o significado dos sonhos dado pela interpretação tradicional caracterizava-se por atribuir uma dimensão essencialmente premonitória e por fazer do intérprete o depositário de um saber quase sobrenatural.

Com efeito, o sonho era então considerado como uma advertência dos deuses e a interpretação que se lhe dava, destinava-se a orientar as pessoas na sua vida quotidiana.

A adesão dos Antigos a esta teoria assentava, sem dúvida, na força sugestiva do sonho, no qual cada um procurava já reconhecer-se, movido por uma curiosidade que hoje é também a nossa.

Dois princípios fundamentais presidiam à interpretação:

  1. O primeiro considerava o sonho como um todo, cujo sentido oculto se tinha de descobrir. É conhecido um exemplo célebre, o do sonho do faraó do Egito cujas vacas magras passaram à posteridade.

    Este método de interpretação requeria uma grande subtileza e uma intuição muito desenvolvida, que elevavam os que o exerciam ao nível dos artistas, pois era realmente necessário talento para compreender que as vacas magras a devorar as gordas anunciavam anos de fome.
     
  2. O segundo princípio, mais “mecânico”, estabelecia que cada elemento do sonho corresponde a uma significação real, à maneira de uma linguagem secreta cujo código seria preciso conhecer para poder decifrá-la.

    Os intérpretes mais argutos, todavia, já levavam em linha de conta a personalidade da pessoa que sonhava, o seu meio ambiente e as circunstâncias dos sonhos que tinham de analisar, e só depois disso davam a sua interpretação.

    Este processo seria retomado, aperfeiçoado e refinado muitos séculos depois por um disciplina ignorada dos Antigos, a psicanálise, numa espantosa inversão de valores.

Realmente, mesmo quanto os deuses abandonaram os nossos sonhos, enquanto os profetas foram substituídos por filósofos e cientistas, como refutar a dimensão premonitória dos sonhos, uma vez que tantas pessoas recebem novas de alguém com quem sonharam na noite anterior?

Para terminar, existe um conjunto enorme de interpretações, ainda cheias de vida e constantemente reatualizadas que herdamos dos nossos Antepassados e que nos ajudam a decifrar qual o verdadeiro significado dos nossos sonhos.