Interpretação teológica da história

No conjunto dos escritos bíblicos aquilo que chamamos de “Livros Históricos” ocupam um lugar especial e amplo. São, ao mesmo tempo, uma interpretação histórica e teológica dos acontecimentos que teriam vivido o povo eleito e uma espécie de continuação do Pentateuco. Tanto que alguns estudiosos afirmam que a “história deuteronomista” continua no livro de Josué. É o que sugere a introdução aos livros históricos da “Bíblia de Jerusalém”, uma vez que se pode perceber uma continuidade temática e literária entre o livro do Deuteronômio e Josué. Dessa forma, devido a essa “uma unidade literária entre os dois conjuntos [pentateuco e históricos] e procurou-se a sequencia dos “documentos” ou das “fontes” de Pentateuco no livro de Josué, formando-se assim um Hexateuco” (Bíblia de Jerusalém. 1985. p. 328).

Aqui, entretanto, o que nos interessa é perceber que muito mais do que a história de um povo, o conjunto de escritos e narrativas históricas da instalação dos hebreus em Canaã corresponde à interpretação da história a partir da visão de Deus intervindo a favor de seu povo: mostrando a fidelidade de Deus que cobra fidelidade de seu povo quase sempre infiel.

Para falar sobre essa intervenção divina os hebreus produziram uma coleção de escritos incorporando fatos – e sua interpretação dos mesmos – desde a entrada em Canaã até o último século antes de Cristo. Trata-se, portanto, de mais de um milênio de história condensado em dezesseis livros ordenados (na Bíblia católica atual) da seguinte forma: Josué, Juízes, Rute, 1 e 2 Samuel, 1 e 2 Reis, 1 e 2 Crônicas, Esdras, Neemias, Tobias, Judite, Ester, 1 e 2 Macabeus. Alguns dos livros históricos as Igrejas da Reforma chamam de “deuterocanônicos”, portanto, não os consideram como integrantes do cânon revelado.

Entre os escritos que os católicos consideram inspirados e que não constam na versão usada pelos evangélicos estão: Tobias, Judite, 1 e 2 Macabeus. Entretanto, mesmo não os considerando canônicos, várias Igrejas protestantes os consideram leituras edificantes.

Entre os livros comuns para católicos e protestantes não há diferença. Portanto se pode usar um clichê afirmando que há mais a nos unir do que as divergencias históricas.

Neri de Paula Carneiro

Mestre em educação. filósofo, teólogo, historiador

Rolim de Moura - RO