A interpretação é uma arte que exige investigação do contexto, foco e, assim, da intenção deduzida de qualquer mensagem como um enunciado de uma prova qualquer. Um dia foi visto numa prova de história a questão "Resuma a segunda Guerra mundial" e um dos alunos escreveu assim, entre outras frases: "tá tá tá tá tá tá , granadaaaaaaaa...Bowwwwww, tá tá tá tá tá tá tá , sem munição comandante, Bowwww, tá tá tá tá tá tá tá ....".

Muitos comentaristas desse fato disse que esse garoto é um gênio. Porém o que me chamou a atenção foram alguns acharem que tudo "depende da interpretação individual". Isso é sério e grave! Muitos pensam que a interpretação depende de um ponto de vista de quem ler. Essa é uma das grandes mentiras que eu incansavelmente observei, investiguei e treinei, mesmo tendo um vasto caminho para trilhar. Enfim, o que acontece é que a "anarquia" do "tudo pode" parece ser uma característica particular de quem não interpreta o texto. Por quê?

Há uma forte diferença entre interpretar a leitura que se faz de um texto e a interpretação do texto que fazemos por meio dos elementos do próprio texto (ou do contexto em que a mensagem está inserida), dentro do seu valor (significado/sentido) intencional do enunciador. Se alguém está com dor de cabeça, por exemplo, muitos podem dizer rapidamente uma opinião de que isso seja câncer.. outros diriam diarreia, mas para isso acontecer temos que observar o contexto, porque dentro de um sentido mais imediatista do fato de alguém estar com dor de cabeça, um "mal estar" parece que vem antes de uma possível "dor de barriga" e muito antes de um possível estado de "câncer". Esse valor interpretativo inicialmente possui o bom senso. E isso faz parte do que chamo para efeito didático de "hipótese interpretativa". Não é qualquer hipótese. É a ideia que vem imediatamente ao que é possível e mais relevante (importante) da mensagem, e pode ainda ser comprovada ou transformada durante o contexto da mensagem, mas não por meio da opinião de quem ler ou entende o texto.

Em outras palavras, o que me motiva afirmar isso, fora outros fatores linguísticos, é que toda informação precisa ter um significado, e a compreensão do significado é o que gera o sentido do que se quer interpretar. Entender somente a informação, e pior, do nosso jeito, faz com que a essência da mensagem seja desestruturada e até anulada. É preciso ver o sentido do texto e não a ideia trazida pela nossa opinião sobre ele.

A busca da intenção do texto parece depender desse procedimento. É mais fácil, a priori, dizer que alguém está com "um mal estar" do que com "um câncer", por exemplo. A investigação interpretativa também parece ter em si esse bom senso... uma hipótese que vai se confirmando ao longo do contexto dele. Daí vem a característica de um fato entre nós: O ANALFABETO FUNCIONAL que ler mas não articula um raciocínio diante do que entende do (e no) texto. Veja, aqui estou ainda dizendo que o analfabeto funcional consegue até entender o que ler (fato negado por muitos observadores pedagógicos), mas não associa à interpretação da intenção da mensagem (fato investigado na óptica linguística).

É algo além do simples entender a informação. Seguir esse processo é sair do senso comum e entrar na arte rara da verdadeira interpretação de texto (Falado por muitos e praticado infelizmente por poucos) que é fruto de uma leitura investigativa, montando as "peças' da informação e chegando ao sentido do que o autor quer passar. Daí existirem as discussões sem argumento. Daí também o motivo pelo qual muitos alunos só repetem o que ler como se o texto fosse dele, baseado, claro, nas suas próprias opiniões. Mas não é assim que funciona. Interpretar uma mensagem textual não é uma anarquia (sem ordem) motivada pela opinião de cada um. Por isso a mensagem (seja verbal ou não verbal) deve não apenas ser entendida como também investigada para chegarmos na verdadeira interpretação. Falta isso para muitos que dão respostas evasivas como a que vimos aqui frente a questionamentos óbvios ou objetivos demais por exemplo.

Ler é para muitos, entender é para poucos, mas interpretar.... hummm! quase ninguém faz ou procura fazer. Reflitamos esse fato. Interpretação não é opinião de quem ler, mas a investigação do que foi escrito descobrindo a maravilha da sua intenção. Interpretar é, portanto, furto de INVESTIGAÇÃO e não de vagas percepções sem sentido focado. É um trabalho como se fosse CSI (investigação criminal)? Talvez. de uma forma ou de outra, interpretar é uma arte que vai muito além de uma imediata e simples opinião.