INTERFACES ENTRE A SATISFAÇÃO DOS TRABALHADORES E A GESTÃO DO TRABALHO NA ESTRATÉGIA SAÚDE DA FAMÍLIA EM SOBRAL-CE

RESUMO 

O trabalho em saúde é, de forma direta, inteiramente dependente da capacidade humana, da relação/implicação dos seus trabalhadores. Portanto, é importante conhecer qual o nível de satisfação no trabalho e quais as formas de gerir o trabalho do setor, tendo em vista a construção e defesa da saúde integral, a qual tem sido debatida por correntes democráticas contra-hegemônicas em oposição ao modelo biomédico implantado no Brasil. Nesse contexto, o encargo posto ao Estado pela Constituição de 1988, de promover a atenção integral à saúde por meio de intervenções no setor saúde, tem colocado para os trabalhadores e gestores da saúde pública a responsabilidade pela construção de um sistema de saúde que transcenda o conceito de saúde como ausência de doenças. Há consenso entre os que constroem tal sistema no Brasil de que ainda não se conseguiu implantar políticas de gestão do trabalho condizentes com as demandas do mesmo (MACHADO 2000). O município de Sobral tem sido reconhecido como referência em relação às políticas de atenção básica. Nessa pesquisa objetivou-se, portanto, analisar as interfaces entre a satisfação dos trabalhadores e a gestão do trabalho na Estratégia Saúde da Família (ESF) em Sobral-CE. Para tanto, realizamos uma pesquisa exploratório-descritiva utilizando a triangulação de métodos: quantitativo x qualitativo. Os sujeitos do estudo foram três gestores da gestão central da Secretaria de Saúde, além de uma amostra significativa dos trabalhadores da ESF da sede do município. Para coleta de dados, aplicamos com os profissionais, a Escala Satisfação no Trabalho do Occupational Stress Indicator, além de questionários, um com perguntas fechadas para o levantamento de dados sócio-demográficos e funcionais, e outro com perguntas abertas, para levantamento de material empírico para análise qualitativa. Para os gestores, aplicamos uma entrevista semi-estruturada. A análise dos dados quantitativos se deu através do estabelecimento contábil das variáveis: insatisfação, satisfação intermediária e satisfação. Já os dados qualitativos foram analisados por meio do método do discurso do sujeito coletivo (LEFÉVRE et al, 2007). Os resultados do estudo demonstraram que os aspectos do trabalho que atingiram melhores escores de satisfação dos servidores da ESF foram: “relacionamento com outras pessoas na empresa” e o “conteúdo do trabalho que realiza”. Já os aspectos com menor satisfação foram: “salário em relação à experiência e responsabilidade” e “a segurança no trabalho (relacionada aos vínculos)”. Os resultados quantitativos foram confirmados pelos qualitativos, exceto na diferença de expressividade do relacionamento com outras pessoas na empresa, obtido na aplicação da Escala, em relação ao que foi citado nos discursos dos trabalhadores. Fatores internos e externos foram citados pelos servidores como produtores de satisfação no trabalho. Os primeiros se relacionaram ao conteúdo subjetivo do trabalho, desatacando-se os espaços de educação permanente em saúde, e os externos, foram diversos como planos de cargos, carreiras e salários, melhores ambientes de trabalho, vínculos de trabalho estáveis, entre outros. Os gestores acenaram para a importância da gestão do trabalho, porém, seus discursos foram reveladores da ausência de prioridade e escassa organização sistemática das ações de valorização dos trabalhadores. As interfaces entre satisfação e gestão do trabalho na ESF foram importantes para a compreensão de que a satisfação é extremamente importante para a produção da saúde integral, e que novos arranjos sistematizados e processos de negociação devem fortalecer as possibilidades de valorização dos trabalhadores. Palavras-Chave: administração de recursos humanos em saúde, satisfação no emprego, programa saúde da família.