Talvez o que angustie o ser humano seja a  eterna espera pelo surpreendente, pelo que vai tirar os pés do chão, inebriando-o de intensa sensação de alegria e paz. Aquilo que vai transformá-lo em catalisador de amores, riquezas e admiração. E, para isso, não poupa esforços na busca pelo Nirvana e pela felicidade, disseminada a quatro cantos.

Talvez a felicidade venha junto com as roupas de marca, o corpo sarado, o cabelo bem lisinho, as unhas postiças, um carro bem cuidado, um perfil caprichado nas redes sociais. Talvez a felicidade esteja nos braços de vários amores; ou nas substâncias dos entorpecentes e das bebidas. Quem sabe, se esconda nos efeitos dos benzodiazepínicos, que embalam o sono e forçam a calma.

 Talvez a felicidade seja fartar-se num banquete de comidas, onde não há limite para a gula. Ou nas horas incessantes de trabalho, nas distrações passageiras. A felicidade pode também estar nas ilusões paralelas... São tantas as diretrizes que o senso comum sinaliza para o encontro com a ambicionada felicidade... Entretanto, mesmo seguindo todos esses caminhos, o homem continua insatisfeito; e tem consciência de que algo muito importante precisa ser preenchido.

 Então, será que a felicidade não seja simplesmente aceitar a realidade nua e crua que nos reveste e caminhar com ela, sem medo; sem angústias, mas também sem acomodação? A felicidade não será a rotina de cada dia, bem cuidada; os cafés, os almoços, as jantas, as pessoas comuns? Os bons dias da  trajetória diária, os sorrisos trocados com os conhecidos. O bate papo com os amigos, o corre-corre da casa ao trabalho; a chance de estudar, de conhecer novos lugares, de crescer como pessoa, de constituir uma família? Pode ser que a felicidade, de tão simples, ingênua, pura e cristalina, seja invisível aos olhos.