Márcia Sebastiani*

No nosso sistema escolar há rotinas cristalizadas. Se há algumas mais especiais, uma delas acontece no início do ano letivo: as conhecidas Semanas Pedagógicas. Ainda que essas atividades acadêmicas possam ter diferentes nomes, na essência, todas têm o mesmo objetivo: o de dar as boas-vindas aos professores e gestores das escolas, “energizando-os” para mais um ano de trabalho. Dedica-se esse período para planejar e organizar as atividades escolares e, fundamentalmente, para oferecer capacitação profissional.

Como professora, eu sei o quanto este rito faz sentido para o recomeço de uma atividade desafiadora que tem o dever de influenciar positivamente a vida dos alunos. Mas, será que esse momento tão especial, dedicado ao professor, está sendo devidamente aproveitado? Em particular, esses programas de capacitação têm sido avaliados e reavaliados com alguma periodicidade, visando a necessária relação com a efetividade no aprendizado dos alunos? Seria muito distante a conclusão de que os níveis sofríveis, em geral, da educação brasileira, possam também estar relacionados com essas recorrentes formas e conteúdos de capacitação do professor?

Ao final do ano passado, o Ministro da Educação, Aloízio Mercadante, em uma entrevista à imprensa, disse que “se formássemos nossos médicos como formamos nossos professores, os pacientes morreriam”. A declaração é alarmante. Focando tão somente no que acontece nas Semanas Pedagógicas, podemos identificar que, geralmente, são organizadas sem a atenção que merecem e sem qualquer avaliação dos resultados na aprendizagem dos alunos. Fica, pois, evidente o sentido da inércia: “fazer igual todos os anos, porque sempre foi assim”. Em qualquer atividade humana, a quebra da inércia, da rotina, que podemos num termo chamar de inovação, é fundamental para o seu aprimoramento e os necessários saltos de qualidade.

Parece exagero atribuir a um evento específico toda a possibilidade de avanços nos resultados educacionais que temos. Óbvio que há muitos outros passos a serem dados e tantos outros fatores a serem trabalhados. Porém, por que não pensarmos em utilizarmos melhor essa oportunidade para inovar e contribuir na reversão do atual quadro do ensino no Brasil?

Nesses eventos, podemos começar pela mudança na forma como são selecionados os temas e os palestrantes. Antes de buscarmos os assuntos “da moda” ou os profissionais que têm chamado a atenção nas mídias, devemos conhecer melhor os professores das nossas instituições, a quem dirigiremos as capacitações. Diagnósticos individualizados permitem aos diretores de escolas saber quais são as fragilidades e as potencialidades de cada um de seus professores. De posse desses dados, certamente ficará mais fácil pensar e criar propostas diferenciadas de cursos e oficinas focados nas reais necessidades, com grande probabilidade de influenciar a atuação diária do professor em sala de aula e, consequentemente, de melhorar a aprendizagem do aluno.

É possível também acompanhar os resultados pós-capacitação, em especial, verificar se o que está sendo aprendido tem relação e contribui com as demandas e desafios que os professores enfrentam no seu dia a dia nas salas de aula.

Não são propostas difíceis de serem realizadas, mas demandam vontade de fazer diferente, de olhar por novos ângulos, de perguntar sempre se não é possível fazer melhor.  Somos capazes. Então, por que não mudar já?

*Márcia Sebastiani é professora titular da Universidade Positivo e Diretora do Centro de Inovação Pedagógica da instituição.