Dizem que o tempo passa rápido, mas só fui me dar conta disso quando acordei assustada com minha mãe chacoalhando meu pé ? o jeito que eu mais detestava ser acordada e ela ainda assim, insistia!
"- Você vai se atrasar."
Ah, o plano era acordar mais cedo para disfarçar uma espinha na testa com corretivo, fazer escova na franja e prender a "juba indomável" em uma trança lateral para só depois tomar o café da manhã. Mas como havia perdido hora, preferi me arrumar e saí mastigando duas bolachas de água e sal. Como a escola era perto, fomos a pé ? minha vizinha que já estava no último ano, e eu.
A ansiedade era tão grande que tive medo de ficar com dor de barriga ou desmaiar na entrada. Pronto. Em frente à escola recém pintada de verde e rosa, rostos estranhos ? em todos os sentidos ? passavam por mim. Risadas, brincadeiras, mais ansiedade e nervosismo nos rostos de todos os "novatos" à procura de suas salas. Meu nome estava na lista do 1º A e fiquei ali, parada na porta da classe.
Foi quando algo chamou minha atenção. Uma jovem senhora de estatura mediana e quase magra. Seus cabelos curtíssimos eram de um vermelho-fogo impressionante. Ela vestia uma calça modelo "anos 60", cor cáqui, blusa azul turquesa e sandálias vermelhas ? creio eu que eram para combinar com o cabelo. Ela vinha em direção da minha sala, então entrei correndo, quase que atropelando as carteiras perfeitamente enfileiradas, e me sentei.
"? Bom Dia. Meu nome é Rosana. Sou a professora de inglês."
Ai, pronto! Minha matéria favorita "nas mãos" daquela estranha, brega; mas simpática criatura.
Claudemar era o professor de lógica. Eros o de programação. Eca!!! Cada matéria chata. Mas valia a pena pelos professores, afinal, este era um curso de "Técnico em Processamento de Dados" junto com o Ensino Médio.
Mas foi depois de algumas semanas, em uma troca de aulas, que minha vida começou a mudar. Estávamos conversando ? Talita, Bia e eu ? quando a professora Rosana, que não tinha aula conosco naquele dia, pediu silêncio porque precisava dar um recado importante. Aquela era minha chance, não podia deixar escapar.
"? Sim! Eu quero, pode por meu nome." Gritei enquanto imagens, planos se passavam em minha cabeça.
"- Então faremos o sorteio durante o intervalo, me esperem na sala dois." ? Avisou-nos a professora.
Voltei ao mundo real com alguns cutucões, chacoalhões da Talita.
"- Ooooooi, acordaaaaa, bateu o sinal para o intervalo."
Precisava correr, ir direto para a sala dois, mas a Michele, que estava na secretaria resolvendo uns problemas de papeladas, me parou na porta para perguntar aonde estávamos indo.
"- Estamos indo até a sala dois. A professora vai fazer um sorteio de bolsas de estudo para quem quer estudar inglês naquela escola de idiomas em que ela trabalha. Vamos?"
E lá fomos nós três, mas quando percebemos, a sala estava lotada. Mesmo assim eu não desistiria, todas as minhas energias estavam concentradas ali. Eu tinha uma chance e sabia: Havia chegado a minha hora.