Influência do Nominalismo em John Locke 

Maria do Livramento Rodrigues Soares Salgado[1]

Resumo

A abordagem de Locke a cerca do entendimento humano é mostrado através de sua teoria empírica, das influências vindas da Idade Média, onde se questiona o universal. Todo esse questionamento abrange a discussão sobre as ideias, qualidades, e essência. Estas discussões serão necessárias para compreendermos como se encontra o intelecto, desde quando se tem conhecimento e qual é o seu limite.

Palavras chave

Intelecto – Conhecimento – Experiência - Nominalismo – Universal

John Locke como empirista escreveu em sua obra: Ensaio Acerca do Entendimento Humano, sua primeira formulação paradigmática metodológica e criticamente consistente. Nesta procura introduzir um uso melhor e mais perfeito do intelecto. Examina o próprio intelecto humano, suas capacidades, suas funções e seus limites.

O que podemos perceber a respeito dessas analise é que Locke procura fazê-la de forma que todo o “corpo” do intelecto seja estudado, ou seja, estuda o que o ser humano é capaz de fazer, pensar, etc; suas funções e limitações, ou melhor, até onde seu conhecimento vai.

Sabe-se, segundo Locke, que nascemos com a capacidade (que é inata), e que o conhecimento (que adquirimos através da experiência) vem dela. Então, temos que, primeiramente, sermos capazes, para depois conhecermos.

Quando os empiristas dizem que todo o conhecimento humano advém da experiência, querem dizer que todas as ideias derivam de uma determinada “atividade” já realizada, que ainda não existia no intelecto, que só possa a fazer parte de sua memória depois de sua realização. Sendo assim a experiência o limite intransponível de todo conhecimento possível e a ideia a representação intelectual de uma determinada coisa.

Locke ao dizer que o conhecimento não é inato está refutando o inatismo. Segundo ele um ser nasce com seu intelecto em branco, sem nenhum conhecimento. Em seu desenvolvimento, começa a ter experiências que constituirão o seu intelecto. A partir de então o ser está dotado de conhecimento.

Há dois tipos de experiência: a externa e a interna. A primeira refere-se a ideias simples de sensação, como a cor, o som, o movimento e a segunda são as ideias simples de reflexão, como o prazer, a dor, ideias de percepção, etc. podemos dizer que são experiências distintas, porem envolvidas, pois os sentidos quando em relação com objetos particulares, levam diferentes percepções das coisas para a mente. Então recebemos a ideia de cor, gosto, ou seja, o que for sensível. E o que os sentidos levam para a mente é o que retiramos dos objetos externos para a mente que projetou estas percepções.

Uma combinação de ideias simples formam as ideias complexas, onde o entendimento é ativo, atuando de forma que as ideias simples se combinem e se relacionem. As ideias complexas se dividem em três classes: substâncias, de modos e de relações. Mas a que precisamos dar ênfase é a substância, pois são formadas de uma série de qualidades ou ideias simples, não a conhecemos, pois só conhecemos o que vem da experiência, que nos mostra um conjunto de qualidades sensíveis, ficando claro que o limite do conhecimento humano é a experiência.

Segundo Locke as qualidades primárias são as qualidades reais dos corpos, ou seja, aquilo que faz com que o objeto seja o que é, como sua forma, tamanho. Enquanto que as secundárias é uma combinação de qualidades primárias, o sabor, a cor, a dor, que são subjetivas e derivadas do encontro do objeto com o sujeito; quando o sujeito entra em contato com o objeto há essa combinação, havendo a formação de uma qualidade secundária.

Locke ao falar de essência real e nominal, mostra que a real refere-se aquilo pelo qual ela é o que é. Digamos que é o próprio ser de uma coisa e a nominal é o conjunto de qualidades que estabelecemos que uma coisa deva ter para ser chamado por determinado nome.

Para explicar melhor podemos exemplificar com a cadeira. Ela em sua essência real retrata algo que demonstra porque ela é cadeira. E a essência nominal seria demonstrada através de suas características.

A questão do universal também foi articulada por Locke, que refuta “que o que é, é”. Nesta afirmação a possibilidade de uma determinada coisa ser e não ser é impossibilitado. Ele faz uso do princípio de identidade da Lógica aristotélica para fazer sua crítica a cerca do universal. A esta proposição ele remete como exemplo uma criança e um idiota para mostrar que não são todas as pessoas que conhecem esta afirmação, dirá aceitá-la. No exemplo demonstra que até estes indivíduos absorverem a veracidade ou falsidade passarão por processos que pra se chegarem a eles necessitam de algumas demonstrações, ou seja, precisam experimentar. Mas os idealistas rebateriam dizendo que eles possuindo razão, são capazes de processar o que está impresso na memória. Porém, Locke afirmaria que não tem como um ser em tal fase/condição ter consciência do que está fazendo. Ela pode sim possuir a razão, mas ainda não sabe comparar.

No particular é possível conhecer gradativamente, de acordo com a suficiência racional humana. Sendo assim, cada um perceberá a qual caminho seguir, em quem acreditar o que deve fazer e não deixar-se levar por algo que lhe foi imposto, acreditando que todos irão seguir, pois suas teorias enfatizam que nascemos com isso gravado.

Ao criticar o Idealismo[2], defende e conserva o que na Idade Média se conhecia como Nominalismo[3]. Dessa forma, podemos ver que Locke concorda que o universal não passa de ideias abstratas. E como só podemos conhecer o que experimentamos, o que é universal já não é seguro, pois como se pode confiar em algo que não é experimentável.

Nas discussões nominalistas, Guilherme de Ockham[4] insistia em que tudo é particular e que o discurso referente aos universais é metalinguístico. Não diferente Locke concorda que palavras representam ideias particulares, portanto o que é universal não possui a credibilidade de todos, apesar de voltar-se para o todo, não demonstra em seus argumentos, palavras que não sejam abstratas.

Existirá sempre uma dúvida no que é abstrato, pois não é palpável, sem possibilidade de ser tocado, não se pode analisá-lo, por isso que Locke e os demais nominalistas não acreditam na teoria dos universais.

Diante do que foi citado acima podemos ver o quanto Locke teve influência do nominalismo, pois ao tratar da essência origem e alcance do conhecimento humano é contra aos universais que dizem em suas teorias que as ideias são inatas.

Ao investigar a origem das ideias ele mostra que existe nas ideias, a sensação que se origina com mudança mental através dos sentidos e a reflexão que vem pela alma, através de tudo das coisas que ocorrem ao seu redor. E as ideias simples que nascem das sensações, das reflexões ou da combinação das duas, correspondem às ideias que correspondem a uma realidade que existe em si e por si.

Como o que causa as ideias simples é a qualidade dos objetos foi feito uma distinção entre as percepções como as qualidades primárias, que são a extensão, forma, movimento, etc; e as secundárias que são sabor, cor, cheiro, etc.

E ao criticar o idealismo diz que o conhecimento vem após a experiência sensível. Sem deixar de tratar do universal, não aceita sua teoria, pois através de um argumento querem provar a existência das ideias inatas, sendo que Locke fala que de início erram porque como algo pode ser universal e inato se uma criança e um idiota não conhecem este argumento. Através disso fica claro que John Locke não deixa o nominalismo sem credibilidade e sim o princípio de ideias inatas/universal.

REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA

CORDÓN, J. M.N; MARTÍNEZ, T. C. História da Filosofia: Do Renascimento à Idade Moderna. Lisboa/Portugal: edições 70, 1998. 172. Vol 2.

FERNANDES, F. Dicionário Brasileiro Globo. 39ed. São Paulo: Globo, 1995.

LOCKE, J. (tradução de AIEX, Anoar) Ensaio Acerca do Entendimento Humano. São Paulo: Nova Cultural, 1997. Vol 2.

LOUX, M.J. Nominalismo. Universidade Notre Dame, EUA. 2006. Disponível em: <http://criticanarede.com/met_nominalismo.html>. Acesso em: 02 de Abr. 2011.

PORTO, L.S. Filosofia da Educação. 1ed. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2006.72 Pág. Passo a Passo.



[1] Aluna do Curso de Filosofia da Universidade Estadual Vale do Acaraú.

[2] Por Idealismo entendemos a concepção segundo a qual o nosso conhecimento não está assentado na experiência sensível, que, por ser transitória, não fornece certeza alguma, e sim no acesso a uma realidade não sensível, composta por ideias.

[3] Sistema filosófico da idade Média segundo o qual as espécies, os gêneros e as entidades não são seres reais, mas sim abstratos.

[4] Guilherme de Ockham, em inglês William of Ockam (existem várias grafias para o nome deste franciscano: Ockham, Ockam, Occam, Auquam, Hotham e inclusive, Olram). (1285 em Ockham, Inglaterra — 9 de abril de 1347, Munique), criador da teoria da Navalha de Occam, foi um frade franciscano, filósofo, lógico e teólogoescolástico inglês, considerado como o representante mais eminente da escola nominalista, principal corrente oriunda do pensamento de Roscelino de Compiègne (1050-1120).