INFLUÊNCIA DO MEIO FAMILIAR NA APRENDIZAGEM DA CRIANÇA: PARA UMA CONTRTIBUIÇÃO PARA A PSICOPEDAGOGIA.

 

  Sueni Maria da Silva

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 “O que comanda a transferência na relação entre as pessoas, é a possibilidade do outro de se tornar o complemento, o continente da relação, pois é neste contexto de continência que os vínculos vão se formar”.

                                                                     Ivan Capelato   

RESUMO: Este artigo tem por meta apresentar um estudo reflexivo e teórico sobre o tema influência da família na aprendizagem da criança. Os pais podem de diversas maneiras, favorecer ou prejudicar o processo de aprendizagem de seus filhos. Ao ingressarem na escola, as crianças, muitas vezes, demonstram dificuldades de adaptação que podem ser conseqüência de conflitos e crises familiares. Apresentar-se-á também um breve relato da história da psicopedagogia, como instrumento necessário para superação do fracasso escolar, mostrando que o atendimento institucional e clínico pode colaborar com a escola e com a família.

PALAVRAS-CHAVE: Psicopedagogia. Ensino-aprendizagem. Criança.

ABSTRACT: This article has for goal to present a reflective and theoretical study on the subject: “Influence of the family in the learning of the child”. The parents can in diverse ways, to favor or to harm the process of learning of its children. When entering the school, the children, many times, demonstrate adaptation difficulties that can be consequence of conflicts and crises of an inefficient familiar system. This study a brief story of the history of the psicopedagogia Will also be presented, as necessary instrument for overcoming of the failure pertaining to school. Sample that the institutional and clinical attendance can collaborate with the school and the family.

KEYWORD: Psicopedagogia. Teach-learning. Child.

INTRODUÇÃO

No passado costumava-se atribuir à criança toda culpa por seu fracasso escolar.          Inicialmente, pode-se afirmar que nos dias atuais a escola não pode viver sem a família e a família não pode viver sem a escola, porém, já se reconhece que as dificuldades em aprendizagem não se dão no vazio, e sim em contexto, tanto situacionais, quanto interpessoais. Não se pode falar de dificuldades tendo somente a criança como ponto de referência, pois o "contexto" que ela se encontra precisa ser considerado. Dessa forma, procura-se evidenciar a importância da parceria instituição escolar com a família. Neste prisma, quer a família, quer a escola, podem ser grandes responsáveis pela determinação dos distúrbios de aprendizagem.

           O objetivo deste estudo é discutir até que ponto a influência da família pode determinar tais distúrbios. A importância da referida pesquisa justifica-se, visto que a família nuclear, constituída de pai, mãe e filhos, ainda são considerados como a menor unidade social, a célula que reunida às outras, formará o tecido social; o lar e a vida familiar podem proporcionar, através do seu ambiente físico e social, as condições necessárias ao desenvolvimento da personalidade da criança; as influências precoces são as mais duradouras.

Partindo desse pressuposto o caso J.P foi à mola propulsora da referida pesquisa. Esta, além de propiciar uma compreensão referente ao estágio, oferece embasamento para uma melhor compreensão sobre as ações dos psicopedagogos nas instituições e em clínica. Nela mostrará um pouco da história do sujeito o qual conferiu a oportunidade de aplicar conhecimentos sobre a psicopedagogia, realizou-se entrevistas com a família, com a professora e com o sujeito, aplicando alguns testes a fim de diagnosticar a dificuldade que o mesmo apresentava.

A análise do tema escolhido fez-se através de uma pesquisa campo e bibliográfica cujo resultado servirá de informação a pais e educadores, a mesma nos proporcionou aprofundar e apresentar as reflexões teóricas e metodológicas sobre os fundamentos básicos da psicopedagogia. Após as entrevistas e diagnósticos com a família, sujeito e a educadora; realizou - se os testes propostos de acordo com a psicopedagogia. Ao término dos diagnósticos

foi aplicado a devolutiva à família e à escola, com o desígnio de que se seguirem as orientações propostas tais dificuldades poderão vir a ser resolvidas ou abrandadas. Acreditamos numa aprendizagem que possibilita transformar, sair do lugar estagnado e reconstruir os diversos ângulos, os quais estão dispostos, com o auxílio do psicopedagogo e da família.

A PSICOPEDAGOGIA: um saber híbrido que possibilita perceber o sujeito que aprende como epicentro do seu contexto particular

 

 Ao fazer-se o recorte na teoria de Bossa (1994) percebe-se que, hoje o termo psicopedagogia é apresentado com uma característica especial. Para a mesma, o termo sugere tratar-se de uma aplicação da psicologia à pedagogia, porém faz-se saber que enquanto produção de conhecimento científico, a psicologia não se basta como mera aplicação da psicologia a pedagogia.

 Segundo Bossa (1994), a psicopedagogia surge no século XIX na Europa, no período industrial. Mais tarde, aparece na Argentina; e somente a partir da década de 1970 é que tem-se o início da psicopedagogia no Brasil. Assim sendo, fica explicitamente claro que a atividade prática iniciou-se antes da criação dos cursos nos dois países. Isto é, em ambos os países, a prática surgiu da necessidade de contribuir na questão do “fracasso escolar”. Também é válido ressaltar que no principio o exercício psicopedagógico apresentava um caráter reeducativo, assumindo ao longo do tempo um enfoque terapêutico.

 Segundo Bossa (1994, p. 58), “Esta atividade, tanto na Argentina como no Brasil foi crucial para amenizar os problemas acerca do tão falado ‘fracasso escolar’ que era diagnosticado até então como doença pelos médicos e psicólogos.”. Neste sentido, a atuação do Psicopedagogo passa a ser preventiva e não simplesmente curativa. Sabe-se que até pouco tempo o mito do não aprender era tido como que fatores orgânicos, ou seja, como uma disfunção neurológica que não era detectável em exame clínico ou Disfunção Cerebral Mínima.

 Segundo Bossa (2007), os problemas relacionados com a aprendizagem do século XIX na Europa, eram tratados por profissionais da saúde.  A mesma afirma que dessa atitude, ainda existem resquícios, quando ainda é possível encontrar educadores e familiares no Brasil, recorrendo a médicos e psicólogos para tratar os problemas de aprendizagem. A autora afirma que a partir do ano de 1980, surge no Brasil uma nova teoria que aborda a questão do fracasso escolar, não como problema de aprendizagem escolar e sim, como problema de ensinagem.

Fagali (1993, p. 9), afirma que “A Psicopedagogia surgiu como necessidade de compreender os problemas de aprendizagem, refletindo sobre as questões relacionadas ao desenvolvimento cognitivo, psicomotor e afetivo, implícitas na situação de aprendizagem”.                                                                           Assim sendo, percebe-se que a Psicopedagogia Institucional pode e deve contribuir de forma significativa nas escolas, ajudando os alunos que apresentam dificuldades na aprendizagem.

 Na ótica de muitos estudiosos, a Psicopedagogia tem um caráter interdisciplinar. Reconhecer tal caráter significa admitir a sua especificidade enquanto área de estudos, uma vez que buscando conhecimentos em outros campos, cria o seu próprio objeto, condição essencial da interdisciplinaridade. Assim sendo, não se pode tratar a Psicopedagogia apenas como aplicação da psicologia à pedagogia.

Para Bossa (2002), a Psicopedagogia como área de aplicação, antecede o status de área de estudos. Partindo desse pressuposto, nota-se que a Psicopedagogia se ocupa da aprendizagem humana, que adveio de uma demanda problema de aprendizagem. Assim pode-se dizer que Psicopedagogia estuda as características da aprendizagem. Ela não veio curar tais dificuldades e sim, ajudar o homem superar suas dificuldades em relação à aprendizagem. Esse objeto de estudo, que é um sujeito a ser estudado por outro sujeito, adquire características específicas a depender do trabalho clínico ou preventivo.

Ainda neste mesmo prisma, faz-se saber que o trabalho clínico se dá na relação entre um sujeito com sua história pessoal de sua modalidade de aprendizagem, buscando compreender a mensagem de outro sujeito, implícita no não aprender. Nesse processo a própria alteração torna-se alvo e estudo da Psicopedagogia. O que se sabe é que no trabalho preventivo, a instituição enquanto espaço físico e psíquico da aprendizagem é objeto de estudo, uma vez que são avaliados os processos didático-metodológicos.

Por outro lado é válido ressaltar que,  muitos profissionais argentinos encontram-se em nosso país,  pós-graduado em Psicologia, Psicanálise e em  Psicopedagogia.  Nota-se com isso, grande influência de idéias e trabalhos argentinos, tanto na literatura quanto na prática brasileira. Pode-se verificar que a preocupação quanto à aprendizagem teve origem na Europa ainda no século XX, filósofos, médicos e educadores pensaram sobre o problema e influenciaram sobre a psicopedagogia na Argentina e por sua vez no Brasil.

Na ótica de  Scoz (1990), a Psicopedagogia no Brasil é área que lida com o processo de aprendizagem, englobando vários campos do conhecimento. O fato de a Psicopedagogia envolver diversificados profissionais acentua diferentemente o caráter interdisciplinar.  Brasil e Argentina assemelham-se em muitos pontos, visto que o referencial teórico está fortemente marcado por influência Argentina. A autora citada, afirma que, o que difere o curso é que no Brasil a Psicopedagogia é uma especialização, um curso de aperfeiçoamento, enquanto na Argentina o curso é de graduação.

   Conforme afirmam vários teóricos dedicados em estudos relacionados à Psicopedagogia, fica explicitamente claro que a mesma nasce de um trabalho na clínica, ampliando a sua área de atuação até a instituição escolar, indo da prioridade curativa à preventiva. Para Sisto (1996), a psicopedagogia é uma área de estudos que trata da aprendizagem escolar, quer seja no curso normal ou nas dificuldades. Campos (1996) considera que os problemas de aprendizagem constituem-se no campo da Psicopedagogia.

Segundo  Ferreiro  (1982, p. 142), “Psicopedagogia é o estudo da atividade psíquica da criança e dos princípios que daí decorre, para regular a ação educativa do indivíduo". Neste sentido Bossa (1995), considera que o termo Psicopedagogia parece deixar claro que se trata de uma aplicação da Psicologia à Pedagogia: por isso esta definição não reflete o verdadeiro significado do termo. 

De fato, a Psicopedagogia vai além da aplicação da Psicologia à Pedagogia, pois ela não pode ser vista sem o caráter interdisciplinar, afirmam Borges (1994) e Souza (1996), o qual implica na dependência da contribuição teórico prática de outras áreas de estudo para se constituir como tal. Por outro lado, observa-se que a Psicopedagogia não é "o estudo da atividade psíquica da criança e dos princípios que daí decorre,”, visto que ela não se limita à aprendizagem da criança, mas abrange todo processo de aprendizagem. Conseqüentemente, inclui quem está aprendendo, independente de ser criança, adolescente ou adulto.

 Assim, na ótica de Bossa e demais teóricos, pode se afirmar que a Psicopedagogia é uma área de atuação que engloba saúde e educação, não se esquecendo que a mesma limita o campo de atuação à cognição, deixando uma ressalva que esta  envolve os padrões normais e patológicos da aprendizagem, e enfatiza a influência do meio (família, escola e sociedade).  Bossa (2002, p. 01), afirma que “No momento, a validade da Psicopedagogia, como corpo teórico organizado, não lhe assegura a qualidade de saber cientifico, devendo-se fazer realmente ainda muito no sentido de ela sair da esfera empírica e poder vir a estruturar-se como tal". 

Segundo a autora, a Psicopedagogia, ainda está construindo seu corpo teórico, portanto se constituindo como ciência. Assim sendo, a Psicopedagogia é uma área de estudos muito nova, portanto pode ser vista com desconfiança por alguns. Por outro lado, o fato de ser jovem, permite que se construa para atender os problemas enfrentados no processo ensino-aprendizagem.

São crescentes os problemas referentes às dificuldades de aprendizagem no Brasil. A Pedagogia embasada em teóricos conceituados como Piaget, Vygotsky, Freinet, Ferreiro, Teberosky e outros, tem sido insuficiente para prevenir ou intervir nas dificuldades de aprendizagem. Para tanto, a Psicopedagogia surge para auxiliar na intervenção e prevenção dos problemas de aprendizagem. 

Contudo, para entender os problemas de aprendizagem, realizar diagnósticos e intervenções, torna-se necessário considerar os fatores tanto internos quanto externos desse sujeito, não devendo ser ignoradas as causas exógenas e endógenas. Segundo Bossa (1998, p.8), "os psicopedagogos têm construído sua teoria a partir do estudo dos problemas de aprendizagem. E a clínica tem se constituído em eficiente laboratório da teoria". Tanto na clínica quanto na instituição, o psicopedagogo atua intervindo como mediador entre o sujeito e sua história traumática, ou seja, a história que lhe causou a dificuldade de aprender.

No entanto, o profissional não deve fazer parte do contexto do sujeito, já que ele está contido numa dinâmica familiar, escolar ou social da qual o profissional deve manter-se ciente do problema de aprendizagem, fazer a leitura e a intervenção no mesmo. Assim, com o auxílio do psicopedagogo, o sujeito pode reelaborar sua história de vida reconstruindo fatos que estavam fragmentados e retomar o percurso normal de sua aprendizagem.

Neste ângulo, o trabalho clínico do psicopedagogo se completa com a relação entre o sujeito, sua historia pessoal e a sua modalidade de aprendizagem. Já o trabalho preventivo objetiva "evitar" os problemas de aprendizagem, enfatizando a instituição escolar, os processos didáticos e metodológicos, a dinâmica institucional com todos os profissionais nela inseridos. 

Quanto ao nível preventivo, Bossa (1994), enfatiza que a Psicopedagogia é como que uma alavanca utilizável que procura e ao mesmo tempo tenta detectar as mais variáveis perturbações que acontecem no processo ensino-aprendizagem, para tanto é preciso, em primeiro lugar procurar conhecer a dinâmica da instituição educativa, e então, de maneira louvável, orientar a instituição quanto à metodologia de ensino utilizada.

Pode-se concluir que o campo de atuação do psicopedagogo é a aprendizagem, sua intervenção é preventiva e curativa, pois se dispõe a detectar problemas de aprendizagem e "resolvê-los", também preveni-los evitando que surjam outros. No enfoque preventivo, Bossa (1994), enfatiza que a função do psicopedagogo é detectar possíveis problemas no processo ensino-aprendizagem e então procurar participar da dinâmica das relações da comunidade educativa, objetivando favorecer processos de integração e trocas. Além disso, promover e realizar orientações metodológicas para o processo ensino-aprendizagem, considerando as características do indivíduo ou grupo; colocar em prática processo de orientação educacional, vocacional e ocupacional em grupo ou individual. 

Deste modo, não há razão para que o psicopedagogo faça uso de recursos específicos da Psicologia, uma vez que possui recursos diversificados. Se houver necessidade de uma avaliação do nível emocional ou inteligência, deve encaminhar a criança para um psicólogo, pois ele poderá realizar a avaliação e, se necessário uma intervenção nesses níveis. Os dois profissionais: psicopedagogo e psicólogo, poderão atuar juntos, até mesmo porque a Psicopedagogia é uma área de atuação multidisciplinar. Pellegrino Rosa (2009, p.24), conclui as ideias deste discurso, dizendo que “a aprendizagem tem diversos ângulos, o Psicopedagogo em seu cotidiano clínico tem como meta tentar compreender as diferentes facetas de vivência daquela criança que veio pedir ajuda.”.

 Em virtude do exposto, acredita-se que esta é missão do profissional comprometido com o desenvolvimento daquele ou daquela que necessita de ajuda, e a partir de então, conduzir este indivíduo a amplitude de seus horizontes, e através desta intervenção torná-los objetos humanizados e humanizadores. Na visão de Fagali (1993), para que isso aconteça, faz-se necessário que todo aquele que se diz educador busque um diálogo com as matrizes de aprendizagem, porém é preciso rever o seu próprio processo de aprender.

Por outro lado, é preciso abrir-se às novas construções, onde estejam presentes a integração cognitivo/afetivo e social, na certeza de que o novo é sempre novo e às vezes este nos traz insegurança e até mesmo desistência dos sonhos sonhados por muitos que diziam estar certos de seus objetivos.

 

 

INFLUÊNCIA DA FAMÍLIA NA APRENDIZAGEM DA CRIANÇA: uma análise da formação da personalidade, ajustamento emocional e desenvolvimento cognitivo

 

 

Atualmente torna-se cada vez maior a preocupação da família em acertar na educação dos filhos. Muitas vezes, estes se perguntam onde foi que erraram para que o filho tivesse a dificuldade que hoje tem. Bossa (1998), ressalta que mais do que responsáveis pela qualidade de vida, a família é construtora do aparelho psíquico dos seus filhos. Nascendo numa condição de total incompletude, o ser humano depende totalmente dos adultos que estão a sua volta, especialmente de seus pais ou daqueles que fazem função paterna e materna.

Embora trazendo uma carga genética que também interfere no seu destino, o fator genético será menos influente, quanto mais influente for à educação. Weiss (2007, p. 64), informa que "A história do sujeito tem início no momento da concepção. Os estudos de Verny (1989), sobre a Psicologia pré-natal e perinatal vêm reforçar a importância desses momentos na vida do indivíduo e, de algum modo, nos aspectos inconscientes de aprendizagem".

Mediante o exposto por Verny (1989), acredita-se que os sentimentos contribuem para o desenvolvimento do conceito de si próprios (o autoconceito), o conceito do mundo e de seu lugar no mundo. O mesmo considera o autoconceito como base de toda aprendizagem, então, assim sendo fica explicitamente claro quando a criança julga-se capaz de aprender, ela com certeza aprenderá muito mais do que se nutrir sentimento de incapacidade. Mouly (1970), refere-se ao autoconceito como um processo lento, que se desenvolve a partir da reação da família e de outras pessoas ao comportamento inicial da criança.

Para Gokhale (1980), a família não é somente o berço da cultura e a base da sociedade futura, mas é também o centro da vida social. Partindo desse pressuposto pode-se afirmar que a educação bem-sucedida da criança na família é que vai servir de apoio à sua criatividade e ao seu comportamento produtivo quando for adulto.

 Partindo da idéia de que a família é a base para qualquer ser humano, alega-se que é através das relações familiares que os seres humanos tendem a tornarem-se mais afetivos e receptivos. Mas, para que essa adequação ocorra é preciso que haja referências positivas, responsáveis encarregados de mostrar os limites necessários ao desenvolvimento de uma personalidade com equilíbrio emocional e afetivo.

 Existem vários estudos que afirmam e comprovam que a família vista como  um porto seguro para seus filhos, aqueles que lhes transmitem segurança, ou seja, para as crianças as referências são expressas em palavras e gestos que irão proporcionar a formação da identidade desse indivíduo. Acredita-se que as crianças e jovens que estabelecem vínculos de harmonia com os seus entes queridos nos seus momentos de decepções, e recebe carinho, atenção e compreensão com certeza irão desenvolver uma identidade sadia, conseguindo suportar frustrações até o momento adequado para realizar seus desejos.

Cury (2003, p. 53), afirma que,

Vivemos tempos difíceis. As regras e os conselhos psicológicos parecem não ter mais eficácia. Pais do mundo todo se sentem perdidos, sem solo para andar, sem ferramentas para penetrar no mundo dos seus filhos. De fato conquistar o planeta psíquico dos seus filhos é tão ou mais complexo do que conquistar o planeta físico. Atuar no aparelho da inteligência é uma arte que poucos aprendem.

       

Partindo dessa afirmação, nota-se que realmente a convivência familiar está cada vez mais difícil, os filhos de hoje estão cada vez mais sem limites, não sabem ser contrariados, querem tudo, em tempo e hora, comportam como reis, cujos desejos têm de ser atendidos. E tudo isso, de acordo a psicologia são fatores que estão dificultando a harmonia familiar.

Ainda sob este mesmo patamar, nota-se que, às vezes falta ao educando/filho um ambiente familiar saudável e equilibrado, no qual ele convive com uma desestrutura familiar (ausência de pai, de mãe), ele se deixa levar pelo impulso em direção da irresponsabilidade ou inconsequência, gerando assim ações inadequadas e insensatas que irão desorganizar e prejudicar a formação do seu caráter e da sua personalidade. Como dizem Montandon e Perrenoud (1987, p. 7), "de uma maneira ou de outra, onipresente ou discreta, agradável ou ameaçadora, a escola faz parte da vida cotidiana de cada família".

          Ainda se tem a esperança de que no momento em que escola e família conseguirem estabelecer uma parceria na maneira como irão promover a educação de seus educandos/filhos, muitos dos conflitos hoje observados em sala de aula, serão aos poucos superados. Todavia, faz-se necessário saber que, para que isso possa vir a acontecer é preciso buscar um novo conceito do que é realmente ser uma família que busca uma participação assídua na vida escolar de seus filhos, que tenha comprometimento, e mais envolvimento com a escola, gerando assim, na criança/adolescente um sentimento de amor, fazendo sentir-se amparado e valorizado.

 Sintetizando o que foi visto, Weiss (2008, p. 27), afirma que “A idéia básica de aprendizagem como processo de construção que se dá na interação permanente do sujeito com o meio que o cerca. Meio esse expresso inicialmente na família, depois pelo acréscimo da escola, ambos permeados pela sociedade em que estão.”. Já Moreno & Cubero (1995), atribuem à família garantia de sobrevivência física de seus membros e ressaltam que é dentro dela que se realizam as experiências básicas que serão imprescindíveis para o desenvolvimento autônomo dentro da sociedade, com aprendizagem do sistema de valores, da linguagem, do controle de impulsividade, etc.

 Assim sendo, ambos consideram o poder da família, não absoluto, nem infinito, visto que quando a criança nasce, certas características podem ao menos estar parcialmente definidas, como sua saúde e temperamento infantil; observa-se também que em outros contextos socializadores, como escola e colegas, influem sobre a criança, paralelamente à ação dos pais, em maior ou menor grau; a família é influenciada por uma série de fatores determinantes de seu funcionamento, por exemplo, situação sócio-econômica dos pais.

Os referidos autores discorrem sobre diferentes estilos de comportamento dos pais e conseqüentes efeitos sobre o desenvolvimento social e da personalidade da criança. Classificam os pais como autoritários que manifestam altos níveis de controle e de exigências de amadurecimento, porém baixos níveis de comunicação e afeto explícito.

Ainda sob este mesmo foco observa-se que, a família permissiva com pouco controle e exigências de amadurecimento, mas muita comunicação e afeto; costumam consultar os filhos por ocasião de tomada de decisões que envolvem a família, porém não exigem dos filhos, responsabilidade e ordem; estes tendem a ter problemas no controle de impulsos, dificuldade no momento de assumir responsabilidade; são imaturos, têm baixa auto-estima, porém são mais alegres e vivos que os de pais autoritários.

 Pais democráticos com níveis altos tanto de comunicação e afeto, como de controle, exigência de amadurecimento, são pais afetuosos, reforçam com freqüência o comportamento da criança e tentam evitar o castigo; correspondem às solicitações de atenção da criança; esta tende a ter níveis altos de autocontrole e auto-estima, capacidade para enfrentar situações novas e persistência nas tarefas que iniciam; geralmente são interativos, independentes e carinhosos; costumam ser crianças com valores morais interiorizados (julgam os atos, não em função das conseqüências que advêm deles, mas sim, pelos propósitos que os inspiram).

 Mussen et al (1970), interpreta essas conclusões em termos de aprendizagem e generalização social: os lares tolerantes e democráticos encorajam e recompensam a curiosidade, a exploração e a experimentação, as tentativas para lidar com novos problemas e a expressão de ideias e sentimentos. Obviamente, uma vez aprendidas e fortalecidas em família, essas atividades se generalizam na escola.

Por outro lado, a criança que foi severamente controlada ou excessivamente protegida por seus familiares, não aprende esses tipos de reação, visto que foi desencorajada de atuar independentemente, de explorar e experimentar por conta própria. Adquire, então, reações tímidas, desgraciosas, apreensivas e de modo geral, conformistas, as quais também se generalizam na escola.

 Atualmente verifica-se que existem vários estudos clínicos circulando nos meios de comunicação sobre o relacionamento familiar. Tais estudos revelam que a atmosfera familiar também está relacionada com o ajustamento emocional. Se for intenção estudar os processos de interação familiar e sua influência sobre a criança, não é suficiente restringirmos à análise de uma díade; é necessário estabelecer o conjunto total de relações que se dá entre os diferentes membros da família (pai, mãe, irmãos).

 Sabe-se que a maioria dos atritos entre os pais provocam os chamados antecedentes dos desajustamentos emocionais nos filhos. As tensões paternas muitas vezes envolvem dificuldades sexuais, falta de consideração ou de cooperação, saúde frágil, conflitos sobre amigos ou parentes, e qualquer desses motivos podem impedir o estabelecimento de relações descontraídas e felizes entre pais e filhos. Faltando tais relações, torna-se difícil para a criança aprender reações emocionalmente maduras e adaptadas.

Drouet (1995), constata que o relacionamento entre pais e filhos depende muito do clima emocional. Para se obter um bom clima emocional é preciso que haja harmonia do casal e tratamento igual dispensado a todos os filhos. Além dos efeitos diretos que a atuação do pai e da mãe tem sobre a criança, é necessário considerar-se os efeitos de segunda ordem ou indiretos, processos através dos quais uma pessoa influi sobre a outra por intermédio de uma terceira; exemplificando: o pai pode afetar positiva ou negativamente a interação que a mãe tem com o seu filho e, conseqüentemente, o desenvolvimento deste, em função da relação emocional que mantém com sua mulher.

Para Mussen et al (1970), a influência do lar é sumamente importante para o crescimento emocional da criança, dada à importância das primeiras experiências. Se estas forem saudáveis, a criança terá segurança, fará uma avaliação realista do seu valor, de suas forças e de suas limitações. Aceitará a si mesma pelo que é, e estando livre de angústia, poderá empregar construtivamente suas energias a fim de solucionar problemas.

O autor supracitado relata que existem diferenças nítidas de personalidade, ligadas ao tratamento emocional recebido durante a primeira infância.  Ele acredita que o tratamento afetuoso dos nenês conduz ao desenvolvimento de uma personalidade desembaraçada, generosa e confiante, enquanto as crianças criadas na atmosfera fria de orfanatos são frequentemente frias e incapazes de ligações emocionais intensas. A importância da segurança emocional fez com que se desse grande atenção à posição do lar. Os desajustamentos emocionais nas crianças podem ter diversas causas.

Segundo os autores Sawrey & Telford (1969), quanto ao nascimento de um irmão, sem dúvida, significa para a criança uma mudança em sua vida. O ajuste da criança à nova situação e relação com o novo irmão, dependerão do caráter da criança, mas também da interação com os pais e de outras variáveis (idade, anos de diferença entre os irmãos, sexo). Moreno & Cubero (1995), ressaltam que as características de personalidade são o resultado do conjunto de experiências pelas quais os indivíduos passam ao longo de sua vida.

Celidônio (1998), constata que as tensões acumuladas na dinâmica das relações familiares certamente surgirão na escola (primeiro universo mais amplo que se segue às relações familiares) sob a forma de um problema de adaptação e ou aprendizagem na vida escolar.  Os progressos na aprendizagem ficam inibidos quando a tensão emocional é grande. A coordenação muscular é marcadamente enfraquecida por uma situação emocional bastante intensa. A eficiência da aprendizagem será menor, sobretudo se depender da habilidade de manipulação.

Mediante o exposto, pode-se afirmar que as emoções dos seres humanos desempenham importante papel sobre a aprendizagem escolar cuja função não é exclusivamente intelectual; as emoções agradáveis são tão favoráveis à aprendizagem, quanto as desagradáveis são prejudiciais; a criança precisa sentir que seu desempenho é respeitado e valorizado pelo grupo social a que pertence; caso contrário não adquirirá confiança em si mesma e verá em cada situação nova, não um desafio, e sim, mais uma nova oportunidade de provar sua incapacidade.

Assim sendo, fica explicitamente claro que os objetivos da escola como também da família nos dias de hoje deverão procurar tornar a criança/adolescente apta a assumir responsabilidades, tomar decisões, aprender qualquer ofício, desenvolver suas habilidades, como também orientar o educando/filho na medida em que demonstre necessidade. A escola não deve apenas visar à construção do conhecimento, mas a formação de valores, atitudes e personalidade do aluno.

 

 

MATERIAIS E MÉTODOS

Segundo Bossa (2000), a Psicopedagogia nasce com o objetivo de atender a demanda - dificuldades de aprendizagem. Partindo desse pressuposto propusemos seguir algumas orientações de Bossa (2000) e Weiss (2007), para a realização do diagnóstico do sujeito, foram realizadas dez sessões de, em média 60 minutos na clínica experimental que funciona no prédio da Secretaria Municipal de Firminópolis-Goiás.

Aos cinco dias do mês de abril de dois mil e dez, foi realizado às 13:00 horas, a primeira sessão psicopedagógica com o sujeito J.P, que tem a queixa de  dificuldade de aprendizagem e comportamento agressivo  trazido  pela  mãe. Nesta sessão foi aplicada a E.F.E.S, que é a Entrevista Familiar Exploratória Situacional, segundo Weiss (1987), visa à compreensão da queixa nas dimensões da escola e da família, a captação das relações e expectativas familiares centradas na aprendizagem escolar, a expectativa em relação à atuação do terapeuta, a aceitação e o engajamento do paciente e de seus pais no processo diagnóstico, a realização do contrato e do enquadramento e o esclarecimento do que é um diagnóstico psicopedagógico. Realizamos a entrevista com a mãe e o próprio sujeito, pois o pai não se dispôs participar.

No dia seis do mês de abril de dois mil de dez, foi realizada a segunda sessão com o sujeito J.P,cujo momento aplicou-se o EOCA (entrevista operativa centrada na aprendizagem). J.P nasceu no dia seis de maio de dois e dois, está com 7 anos de idade,  cursando o 2º ano do Ensino Fundamental na escola M.P.C.R.D.A, da cidade de Firminópolis.Ele é  filho de A.P.G, cuja   profissão é de  empacotador e de P.S.S.G, profissão autônoma, tem uma irmã mais velha S.P.G a qual ele não sabe a idade, estuda no C.E.A.G.F, Residente na Rua J., porém não sabe o número da sua casa.

No dia oito de abril de dois mil e dez, visitamos a escola de J.P para uma entrevista com a professora dele a educadora, CKS, em busca de informações precisas para obter meios e descobertas relacionadas à agressividade manifesta pelo mesmo e sobre a dificuldade de aprendizagem apresentada.

Aos doze dias do mês de abril de dois mil e dez realizamos mais uma sessão, com objetivo de coletar dados referentes a sua história de vida no decorrer de sessenta minutos, para a realização desta investigação, prontificamos algumas atividades de acordo com seu contexto vivenciado. Para isso JP selecionou várias fotos as quais trouxera de casa, e a partir de então foi focalizado sua trajetória de vida, disse gostar da foto que ele está com o pai e a mãe. Porém, gosta mais da que ele está sozinho com a mãe.

No dia quinze de abril de dois mil dez realizamos a 5ª sessão com J.P cujo  objetivo foi verificar sua capacidade de relatar textos, e ao mesmo certificar o desempenho do mesmo, relacionada às produções de texto oral e escrita. Nesse sentido, conversamos com o sujeito sobre as histórias infantis de sua preferência. Apresentamos também um álbum seriado com figuras de animais. Em seguida apresentamos figuras de pessoas e de uma professora com alunos, ele se fechou e não quis comentar, depois contou as histórias de maneira superficial.

Aos dezenove dias do mês de abril de dois mil e dez, no decorrer de sessenta minutos realizamos a 6ª sessão com JP, tendo como principal objetivo verificar a bagagem trazida na sua mochila escolar, bem como a análise das metodologias e da parte pedagógica desenvolvida na escola.

Aos vinte dias do mês de abril de dois mil e dez, realizamos mais uma sessão com JP, tendo como proposta o teste do desenho ou prova projetiva “Eu e meus companheiros”, a fim de averiguarmos seu vínculo com os colegas de sala e também com a escola, e através desta atividade descobrir os sentimentos vivenciados por ele, frente o ambiente escolar. Para a realização desta sessão oferecemos os materiais como: chamex, tinta, lápis, massa de modelar e giz de cera. Pedimos para o sujeito desenhar, ele mesmo e colegas da turma. Ele recusou a proposta e optou pela massa de modelar e fez dois gols e uma bola (um campo sem jogadores), e uma cobra no meio do campo que ia de gol a gol. Em seguida pediu uma folha de chamex, disse que iria então desenhar ele sua professora e seus colegas, iniciou o desenho disse que havia errado, e se recusou dar continuidade.

            No dia vinte e dois de abril de dois mil e dez, realizamos o “Par educativo”, pedimos para J.P desenhar ele e a professora, realizou esta atividade com as personagens lado a lado, no entanto, ele maior que a professora e a escola pequena. JP iniciou o desenho e disse que havia errado, e passou a usar o verso da folha. 

No dia vinte e três de abril de dois e dez, às 15:00 horas foi realizado  a nona  sessão com JP. Nesta sessão foi solicitado ao sujeito que fizesse um desenho, que é a prova projetiva que tem por objetivo um olhar amplo da psicopedagogia, podendo o sujeito escolher desenhar a escola ou a família, como já havia desenhado a escola ele realizou então o desenho da sua família a qual a psicpopedagogia denomina “familia educativa”, iniciou desenhando uma árvore e o sol não muito radiante em seguida uma nuvem pequena com chuva. Depois desenhou a mãe, ele, a irmã e por último o pai próximo a árvore. Não quis desenhar sua casa e sim só a família. Deixa transparecer que não gosta do seu lar.

No dia vinte e seis de abril de dois e dez as 13:00h foi  realizada  a 10ª sessão,  na qual foi aplicada  a prova pedagógica de português para ser feita, onde o sujeito demonstrou ter dificuldade e desatenção pelo fato de não conhecer as palavras (não foi alfabetizado). Em seguida, foi dada a prova pedagógica de matemática, com o objetivo de observar o conhecimento e o rendimento escolar do educando. Nesta sessão também foi realizada a prova do CAT com objetivo de analisar figuras de animais, onde o sujeito escolheu a gravura que tinha águia. Oferecemos uma caixa contendo vários tipos de quebra cabeça, e ele escolheu a do corpo humano. Foi realizado também o jogo de dominó.

ANÁLISE DOS DADOS

 

 

De acordo com o exposto pela professora sobre a dificuldade de aprendizagem, e desvio de conduta do sujeito e foi confirmado pela mãe o problema citado, o que levou à análise na clínica experimental, do problema de aprendizagem do sujeito JP. Para a realização da investigação psicopedagógica foram aplicados alguns instrumentos avaliativos embasados em Weiss, Pain, Bossa e outros.

A princípio levantou-se a hipótese de que J.P.S. G, tinha desvio de conduta, falta de limites, dificuldade e resistência à leitura por ainda não ter sido alfabetizado.

Ao longo das sessões, pode-se perceber que o sujeito não se adaptou ao método de ensino e à própria escola. Ele nos revelou que não gosta de estudar e sim de brincar e que gosta de ficar perto da sua mãe o tempo todo. Não gostava da professora do ano anterior (2009) e que agora gosta da atual, porém não muito.

O sujeito demonstrou em várias atividades, a carência afetiva paternal e excesso de cuidado por parte da mãe, sendo uma criança que necessita de uma atenção maior de todas as pessoas do seu convívio, especialmente da família e da professora. Precisa se adequar a normas de conduta tanto no ambiente familiar quanto no social pelo fato de revelar comportamentos agressivos com os colegas da escola. Ele apresenta boas condições físicas, e está aparentemente saudável, porém agressiva em sua fala, é uma criança dispersa que não consegue prestar atenção nas atividades que realiza.

Em relação à família, percebemos que ele estava orientado por um adulto pelo fato de querer fugir do assunto proposto (diálogo), ou seja, toda a atividade que necessitava trabalhar com a família, o sujeito mudava de assunto, evitando desenhar ou falar sobre a mesma, parecia omitir algo, quando era questionado tinha respostas prontas. As poucas vezes em que falava, alegava que não gostava de estudar, o pai também é muito ausente. Quanto à irmã fez pouca referência, disse que ela gosta de estudar. Quando ele fala da família diz gostar muito da mãe e do tio que mora em São Paulo pelo fato de levá-lo para passear. Outra colocação que o sujeito fez foi quanto à mãe disse que ela  não lhe da à atenção desejada e que sente falta do carinho  do pai.

Quanto à escola, disse não gostar, pelo fato de não gostar de estudar, disse que gosta só de brincar. Quanto aos colegas, o sujeito não apresenta ter boa relação, pois age com violência para com a maioria dos seus colegas e de sala, segundo a mãe o sujeito age diferente, tem boa relação com os vizinhos de sua casa. E no que se refere aos professores diz que neste ano letivo de 2010 está começando a gostar da professora, porém não gostava da do ano anterior, pois passava atividades difíceis e longas, e ele não conseguia copiar. Agora ele gosta da atual porque ela o incentiva, disse que os desenhos que faz são bonitos.

Portanto, a hipótese levantada sobre a resistência à leitura é porque o mesmo ainda não foi completamente alfabetizado com isso não reconhecia as letras e as sílabas, o sujeito é muito inteligente, porém não consegue concentrar nas atividades realizadas. Observamos que quando ele se esforça ele reconhece algumas letras e as sílabas mediante as metodologias variadas e instigantes realizadas nas sessões.

 Mediante ao exposto ficou explicitamente claro que na sua primeira experiência escolar houve certo bloqueio quanto à afetividade, a qual está lhe prejudicando. Isso indica que o sujeito atualmente sente-se carente de afetividade, tanto escolar quanto familiar. Diante do avaliado e das conclusões apresentadas sugerimos algumas atividades.

Quanto à professora sugerimos que a sala de aula seja um verdadeiro ambiente alfabetizador com bastante material concreto. E talvez desenvolver um projeto de poesias, valorizando a auto-estima, fazendo exposição das mesmas para toda a escola, procurando envolver o sujeito na elaboração dos mesmos. Sugerimos trabalhar com jogos que tenha como objetivo alfabetizar, formar palavras observando o nome dos desenhos, caça-palavras, trabalhando com letras do alfabeto, orientando o aluno através delas. Sugerimos o uso do computador, sites de jogos pedagógicos, visando despertar o raciocínio lógico e a concentração. Cabe a professora apenas planejar as aulas com a monitora do laboratório e depois aplicá-las, podendo ser realizada uma vez por semana.

Quanto à mãe e o pai sugerimos que ambos demonstrem mais interesse pelas atividades escolares, como verificar suas atividades diárias realizadas por ele na escola, encaminhá-lo a aula de reforço, ajudar em seus deveres de casa. E que fique claro ajudá-lo, e não incentivar à cópia, visto que tal atitude não contribui para com o crescimento do mesmo.

Sugere-se que a família na medida do possível adquira o hábito de leitura com a participação de todos da família; escrever nomes dos objetos da casa identificando e sempre que estiver fazendo compras solicitar que o mesmo leia o nome dos produtos, e até mesmo contar historinhas antes de dormir. Além disso, é válido ressaltar que seria extremamente louvável que o pai procure controlar o seu tempo de trabalho, dedicando o máximo possível do seu tempo ao seu filho em casa, principalmente nos finais de semana, diminuindo a carência afetiva do filho.

Quanto à irmã, que auxilie seu irmão nas resoluções das atividades de casa, contar uma historinha conhecida para seu irmão e depois ilustrá-la, com figuras representativas; ou seja, ajudá-lo na alfabetização do irmão não deixar apenas a cargo da mãe, pois já cursa o Ensino Médio.

Em relação ao sujeito J.P, fica a sugestão para que continue a  aproveitar o gosto pelos desenhos e a partir de então comece a desenvolver a coordenação motora, observar mais as histórias ilustradas  nos livros e então passar  fazer a leitura utilizando a imaginação. Explorar os jogos pedagógicos nos sites oferecidos pela internet.

            Na escola, seria bom que se trabalhasse a auto-estima e os valores diariamente com sujeito e demais colegas, sempre que possível, envolvê-lo nas apresentações realizadas na escola, como nas festividades, datas comemorativas, aumentando sua auto-estima; proporcionar brincadeiras que estimule regras e limites de boa convivência em grupo, na hora do recreio; incentivar os colegas a elogiá-lo, seria bom que um adulto procurasse conduzi-lo durante o recreio apresentando o mesmo aos colegas  dizendo que a partir de então ele   terá um comportamento diferente, procurar elogiá-lo para os colegas, não deixá-lo isolado.

Acredita-se que o acompanhamento psicopedagógico será de extrema importância para o aluno J.P, pois possibilitará um trabalho individualizado, mediante suas dificuldades apresentadas, com ações diversificadas, e planejadas exclusivamente para atender suas necessidades, resgatando o gosto pela aprendizagem. Cabe lembrar que a Psicopedagogia não dá receitas, apenas aponta caminhos visando amenizar e quiçá, sanar as dificuldades de aprendizagem do ser humano.

 

CONSIDERAÇÕES

Mediante o estudo realizado entende-se que com base nos teóricos renomados da psicopedagogia a qual proporcionou um espaço de resignificação, e a partir de então, ajudar o sujeito a redirecionar a si mesmo, para o chamado exercício de suas potencialidades. No decorrer das análises, foi percebido que a partir dessa ferramenta psicopedagógica ficou bem mais fácil compreender as dificuldades e fatores que estão levando o aluno a ter dificuldade no seu processo de aprendizagem. Ao defrontar com tais situações, aparecem várias justificativas, entretanto, cabe ao educador, abrir-se em busca de soluções, é nesse momento em que o psicopedagogo será solicitado para então descobrir quais os motivos da então dificuldade de aprendizagem. Uma vez detectando o problema, o mesmo procurará meios para ajudar os necessitados.

Ao término das avaliações psicopedagógicas e os estudos realizados, pode-se afirmar que este foi e continuará sendo de suma importância para com o crescimento profissional, e que a qualidade do ensino ministrado na escola M.P.C.R.A, já não será o mesmo. Além do mais, ressaltamos com carinho que a partir do momento em que a família de J.P nos oportunizou estudar o caso do mesmo, acabamos nos envolvendo com todos, e as experiências com o sujeito contribui de maneira louvável nos dando a oportunidade de aplicar os testes e nossos conhecimentos. Assim, chegou-se à conclusão de que este estudo põe em relevo o caráter interdisciplinar e preventivo da psicopedagogia, estendendo ao alcance de sua ajuda para além do conforto das clínicas e das escolas particulares onde serve apenas uma classe social, para incluir todos os seguimentos sociais em sua ação integradora.

 De acordo com Fagali (1993), Fernão Gaivota estava sempre ao lado de seus discípulos, sugerindo, demonstrando, instigando, orientando, o educador deverá fazer o mesmo, andar sempre ao lado de seus alunos e num ato de amor dizer-lhes como Fernão afirma a autora “você é livre de ser você mesmo, de ser seu próprio eu, aqui e agora, e não há nada que possa interpor-se no seu caminho”. O professor deve ver o aluno como uma gaivota aprendiz e se ver com humildade para mostrar a cada um de seus educandos, que os mesmos podem participar e construir o seu próprio conhecimento. Deve mostrar-lhe que não há limites para a aprendizagem. A psicopedagogia por sua vez, atua não só no interior do aluno como também busca sensibiliza-lo para a construção do conhecimento, levando em consideração os desejos do aluno, oferecendo recursos os quais auxilia e ao mesmo tempo interfere positivamente no processo de aprendizagem.

No diagnóstico final chega-se à conclusão que o aluno J.P por apresentar desvio de conduta além de carência afetiva paterna e amor exagerado pela mãe, seria bom rever a convivência familiar, encaminhando toda a família para um atendimento psicológico. O sujeito tem potencial, porém precisa de um acompanhamento para sanar o bloqueio, o qual demonstrou durante as sessões realizadas.  Contudo, almeja-se que os problemas apresentados referente ao sujeito possam ser resolvidos o mais rápido possível.

 

 

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Fonte na internet: refletindo as principais questões: - Por que certas crianças não aprendem, http://www.Cefac..br/library/.../ab197be20bb61cc49ca2e591c0171417

 



****** Graduada em Pedagogia pela UEG em 2007.