1. INTRODUÇÃO

Nos países ocidentais as causas mais comuns de óbito estão relacionadas ao sistema circulatório (STEVENS, 2000). No Brasil, cerca de 300 mil pessoas morrem, ao ano, por doenças cardiovasculares (ABRABI, 2002). Em 2002, segundo o Sistema de Informação de Mortalidade do Ministério da Saúde (SIM), o infarto agudo do miocárdio foi o responsável por mais de 27% de óbitos, sendo um total de 255.585 pessoas.

O IAM é uma área de necrose isquêmica, causada pela oclusão das artérias, onde ocorre à obstrução por placas de gordura, impedindo a circulação do sangue, e em conseqüência, a artéria coronariana perderá o suprimento necessário para o miocárdio, o que induz profundas conseqüências morfológicas e funcional ao coração (STEVENS, 2000). Segundo Pires, 2005 do ponto de vista patológico o infarto é a morte celular em decorrência da isquemia prolongada. Após algumas horas do infarto, o tecido morto se tornará amarelado, podendo o paciente evoluir a óbito ou não. Os óbitos por sua vez acontecem em até uma hora depois do início dos sintomas, não permitindo na maioria das vezes que o paciente chegue o hospital.

Segundo Viana, (2001) atualmente 20 a 30% dos pacientes que procuram o atendimento cardiológico são mulheres pós-menopausa, que variam entre 40 a 58 anos, sendo que na década de 90, o número de mulheres com problemas cardíacos dobrou em relação ao registrado nos anos 70.

De acordo com os dados do Sistema de Informação de Mortalidade no ano de 2004 houveram três óbitos por doença cardiovascular em mulheres entre 30 a 39 anos no município de Barreiras - Ba, sendo que no mesmo ano, na faixa etária de 70 a 79 anos houve um acréscimo de 50% no número de óbitos( BRASIL, 2004)

Segundo Andrade (2001), os hormônios estrogênios são responsáveis pela proteção da mulher antes da menopausa. Acredita-se que a diminuição desse hormônio seja o principal motivo para o desenvolvimento de doenças cardiovasculares, pois, baseado no mesmo autor, o estrogênio afeta a dilatação coronariana do endotélio e com isso, tem um efeito vasodilatador. Considerando-se a menopausa como um fator de risco, pela cessação na produção dos hormônios ovarianos e a conseqüente perda da proteção vascular.

O Artigo tem base informativa visto que, devido a amplitude do tema – Infarto Agudo de Miocárdio - é praticamente impossível fazer uma abordagem geral. Desse modo, o mesmo tem por objetivo apresentar e discutir o principal fator, para o desencadeamento do IAM em mulheres pós-menopausa, seus principais sinais e sintomas, bem como apresentar as formas de prevenção do mesmo enfatizando a relação entre a cardiopatia isquêmica e a terapia de reposição hormonal.

2.MÉTODO

Pesquisa de caráter informativo e qualitativo, elaborada a partir de uma revisão bibliográfica que relata sobre a síndrome clínica “Infarto Agudo do Miocárdio” em mulheres pós-menopausa, suas possíveis causas, manifestações, fatores de risco, tratamento e medidas preventivas. Considerando as bases fisiológicas, patológicas e ginecológicas, bem como a incidência de IAM em mulheres no Brasil, Região Nordeste e Estado da Bahia através de dados de sites como Instituto Nacional do Coração (INCOR-SP) e do Ministério da Saúde através do DATASUS.

3.DISCUSSÃO E RESULTADOS

3.1. ALTERAÇÕES DECORRENTES DO INFARTO AGUDO DO MIOCÁRDIO

A conseqüência da obstrução da artéria coronariana representa a falta do fornecimento de sangue necessário para o miocárdio, provocando profundas conseqüências morfológicas, bioquímicas e funcionais. A ruptura da artéria coronariana principal resulta em isquemia e potencialmente, morte celular em toda região irrigada por essa artéria, principalmente no subendocárdico. O resultado depende da intensidade, duração e da privação do fluxo (SCHOEN, 2000).

A principal conseqüência bioquímica inicial da isquemia do miocárdio seria a ausência da glicose aeróbica dentro de poucos segundos, levando à produção de fosfato de alta energia e ao acúmulo de produtos de degeneração potencialmente nocivos como o ácido lático (ROBINS, 2000).

A função miocárdica é excessiva e sensível. Com a obstrução arterial em decorrência das placas arteroscleróticas o miocárdio perde sua contratilidade dentro de 60 segundos após o início da isquemia, podendo causar insuficiência cardíaca aguda. Quando ocorre a restauração do fluxo sanguíneo no miocárdio após um período mais curto de privação do mesmo (menor que 20 minutos) é comum não haver perda da função celular. Esses fatos fornecem uma fase para detecção precoce do infarto agudo de miocárdio, o que permite o tratamento precoce e recupera a maior quantidade possível de miocárdio isquêmico, porém não necrótico, e conseqüentemente minimiza a grandeza do infarto.

A circulação colateral pode fornecer a perfusão para as zonas isquêmicas de um ramo não obstruído da árvore coronariana, evitando assim, o ponto de obstrução e protegendo contra os efeitos de uma oclusão coronária aguda (SCHOEN, 2000).

3.2 MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS

Os pacientes com infarto agudo do miocárdio apresentam pulso rápido e fraco, e com freqüência diaforese. A dispnéia ocasionada pelo comprometimento da contratilidade do miocárdio isquêmico é comum e acompanhada de congestão e edema pulmonar. Eles podem apresentar pele fria, pálida e úmida. A freqüência cardíaca e respiratória pode ser mais rápida que o normal e apresentar dor precordial intensa. Esses sinais e sintomas, que são causados pela estimulação do sistema nervoso simpático, podem estar presentes apenas por um curto intervalo de tempo (ROBBINS 2000).

Estudos mostraram que 2% dos pacientes que foram diagnosticados com infarto agudo miocárdio receberam alta de maneira incorreta e foram mandados para casa pelo setor de emergência, sendo que em sua grande maioria, desenvolveram um infarto fulminante (POPE, et al 2000).

Segundo Smeltzer (2005), 63% das mulheres não apresentam sintomas prévios e a doença só é detectada mais tarde, através de alterações no ECG – Eletrocardiograma. Esse tipo de infarto silencioso acontece, particularmente, em pacientes com diabetes mellitus subjacentes, pós-menopausa, bem como em pacientes idosos. A avaliação é realizada através de uma pesquisa laboratorial, baseada na determinação da liberação de macromoléculas intracelulares na circulação, por exames como: CK, CKMB, LDA, trombonina I , TGO que extravasam das células miocárdica facilmente (SHOEN, 2000).

3.3 FATORES DE RISCO

Os fatores de risco para o infarto agudo do miocárdio são classificados em dois grupos: os fatores de risco imutáveis e fatores de rico mutáveis.

3.3.1 FATORTES DE RISCO IMUTÁVEIS

Quase 10% dos infartos agudos de miocárdio ocorrem em indivíduos com menos de 40 anos de idade, enquanto 45% são observados com mais de 65 anos. Com relação a etnia os negros e brancos são acometidos com igual freqüência (INCOR, 2000), descartando-se , a hipótese de que este seja um indicador de risco para o IAM.

Os homens apresentam um risco maior de infarto do que as mulheres, minimizando a diferença com o avanço da idade. De acordo com Shoen, 2000, há exceção daqueles homens que apresentam condição aterogência predisponente.

As mulheres são protegidas contra o IAM durante a vida reprodutiva, podendo ocorrer um rápido desenvolvimento da cardiopatia coronariana com a redução do estrogênio após a menopausa já que esse hormônio protege as mulheres contra esta doença, através de um ajuste favorável de fatores de risco de câncer de mama e do endométrio (SHOEN, 2000).

Dados do Estudo Framingham mostram que apesar da incidência de doenças cardiovasculares em homens, e mulheres antes da menopausa seja de 3:1 para cada 1.000 casos, ou seja, em idade reprodutiva, e em mulheres na faixa de 45 a 49 anos, essa taxa chega quase a se igualar para homens e mulheres, entre 75 a 79 anos, sendo 53:1. 000 e 50,4: 1.000 por ano respectivamente (LOBO, 2005).

Outro grande fator é o histórico familiar para doenças coronarianas, pois, estudos revelam que quanto mais parentes portadores de cardiopatias, maior a chance de desenvolver as chamadas doenças do coração (SHOEN, 2000).

3.3.2 FATORES DE RISCO MUTÁVEIS

O infarto agudo miocárdio pode ocorrer em praticamente qualquer fase da vida, sendo mais freqüente com o aumento da idade e na presença de fatores predisponentes à aterosclerose, tais como, hipertensão, tabagismo, diabetes mellitus, hipercolesterolemia e outras causas. Esses fatores são imutáveis, porém, com a mudança no estilo de vida do indivíduo, pode-se diminuir as chances de se apresentar uma doença cardíaca.

Entre as mulheres, além da diminuição de estrogênio fator considerado mutável, pela possibilidade de reposição hormonal, outros fatores de risco embora em menor evidência, como mudanças no estilo de vida com a sua emancipação social, como o estresse, sedentarismo, obesidade, níveis pressóricos aumentados e alcoolismo, são, de certa forma preocupante, principalmente, se levar em conta a inter-relação entre os mesmos.

3.4 TRATAMENTO DO INFARTO AGUDO DO MIOCÁRDIO

Para reduzir os danos causados pela obstrução coronariana, podem ser adotados procedimentos cirúrgicos e não-cirúrgicos. Nas unidades emergenciais após o diagnóstico de IAM, deve-se iniciar estratégia de recanalização, dentre outros cuidados como, monitorização, punção de veia calibrosa e administração de diversas medicações: estreptoquinase, nitroglicerina, ß-bloqueadores, oxigênio, (ANDERSON, 2005).

Outras terapias poderão ser utilizadas tais como: angioplastia transluminal, angioplastia com laser, stent. As principais intervenções cirúrgicas são as anastomoses entre a aorta e as artérias coronárias através das pontes de safenas ou anastomoses das coronárias e a artéria mamária. (HIGUCHI, 2000). Apesar das novas tecnologias e dos avanços científicos, a utilização dessas terapias por vezes se mostram ineficazes, sendo necessário um transplante cardíaco.

3.5 MEDIDAS PREVENTIVAS

As medidas preventivas se dão através de uma mudança no estilo de vida das pessoas, considerando os principais fatores de risco para as mulheres pós-menopausa, bem como para a população de risco em geral. Sendo as principais intervenções: mudanças de hábito alimentar, realização de atividades físicas, controle da hipertensão arterial e diabetes e Terapia de reposição hormonal.

3.6 IAM E TERAPIA DE REPOSIÇAO HORMONAL

Considerando ser a diminuição do estrogênio um dos fatores de risco para o desenvolvimento do IAM nas mulheres pós-menopausa é de fundamental enfatizar entre as medidas preventivas a Terapia de Reposição Hormonal (TRH) que de acordo com Viana (2005) deverá ser realizada por todas as mulheres no climatério, desde que não haja contra-indicação.

Sabe–se que a incidência de doenças cardiovasculares aumenta significativamente após a menopausa. De acordo com Freitas et al (2006), na pré-menopausa a mulher possui uma relativa imunidade pela doença coronariana em relação ao homem o que diminui progressivamente após a menopausa.

A menopausa precoce (antes dos 40 anos) associa-se com um aumento de duas a três vezes no risco de IAM, e a ooforectomia bilateral antes dos 35 anos eleva esse risco em até sete vezes (FREITAS et al, 2006).

Ainda segundo Freitas et al (2006), mais de 30 estudos observacionais têm demonstrado que a TRE (terapia de reposição estrogênica) associa-se com um declínio do risco coronariano em mulheres pós-menopáusicas e que um ensaio clinico realizado com mulheres entre 45 e 65 anos, avaliando o efeito de vários tipos de Terapia Hormonal verificou-se a diminuição do colesterol LDL e do fibrinogênio e a elevação do colesterol HDL.

A terapia hormonal (TH) contra a patologia isquêmica coronariana é melhor atingida a partir de seu uso desde um período próximo à menopausa e segundo estudos realizados o esquema de TH não seria indicado para mulheres com doença coronariana já instalada, mas as que já estivessem em uso deveria continuá-lo (FREITAS et al, 2006).

3. CONCLUSÃO

Sabe-se que a qualidade de vida da população, em sua grande parte depende das condições em que se vive, seja por fatores sócio-econômicos, sedentarismo e alimentação saudável. Além disso, mudanças fisiológicas que ocorrem na mulher como, por exemplo, a cessação dos hormônios estrogênio, também elevam o número de pacientes com doença cardiovascular.

Diante do que foi exposto, considera-se a doença cardiovascular, especificamente o IAM, como sendo um problema de saúde da mulher no Brasil, visto que, é a principal causa de morte entre mulheres no período pós-menopáusico, sendo responsável por um número de mortes superior a de todas as outras causas somadas. Portanto faz-se necessária à realização de novas pesquisas e de medidas intervencionistas preventivas com a adesão da terapia de reposição hormonal, já que, pesquisas sugerem essa terapêutica como forma principal de evitar as doenças do coração, devido a grande importância do estrogênio na defesa fisiológica e bom funcionamento vascular da mulher.

Outra medida de grande importância para prevenção de doenças coronarianas é a educação continuada relacionada aos fatores de risco. Esta atividade deverá ser realizada pelos profissionais da saúde, visando proporcionar a melhoria da qualidade de vida da comunidade, bem como reduzir os índices de morbidade e mortalidade da população feminina brasileira nas próximas décadas.

6. REFERÊNCIAS BIBLOGRÁFICAS

ANDRADE, Emilio M. Cardiopatia Isquêmica e Terapia de Reposição Hormonal. In: VIANA, Luis C., MARTINS, Madalena & GEBER, Selmo (orgs.). Ginecologia. : Rio de Janeiro, Medicina e Cientifica Ltda, 2001.Pág 639 a 648.

ANDERSON, Jefferey L. Infarto Agudo do Miocárdio com Elevação do Segmento ST e complicações do Infarto do Miocárdio. In: GOLDEMAN, Lei & AUSIELLO, Denis (orgs.). Tratado de Medicina Interna. 22 ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2005.Pág 472 a 489.

BRUNNER E SUDDARTH -Tratado de enfermagem médico-cirúrgica. Volume I, 10º edição. Rio de Janeiro. Guanabara Koogan, 2005.

FILHO, Geraldo Brasileiro. Patologia. Rio de Janeiro. Guanabara Koogan, 2000.

FREITAS, Fernando, et al. Rotinas em Ginecologia Porto Alegre. Artmed, 2006

GUYTON, Artur C - Fisiologia humana. Rio de Janeiro. Guanabara Koogan, 2000.

GOLDMAN, Lei & AUSIELLO, Denis. Tratado de Medicina Interna. 22 ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2005.

MACHADO, Carlos Alberto. Obesidade e sedentarismo. Disponível em: htt// www.abeso.org.br. Acessado em: 29/03/2007

PIRES, Marcos T. B., et al. Manual de Urgência em Pronto Socorro. 8 ed. Rio de Janeiro, Guanabara Koogan, 2005.

LOBO, Rogério. Menopausa. In: GOLDMAN, Lei & AUSIELO, Denis. (orgs.). Tratado de Medicina Interna. 22ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2005.

BRASIL, SISTEMA de INFORMAÇÃO do MINISTÉRIO da SAÚDE. Disponível em: http://www.datasus.gov.br. Acessado em: 02/06/2007.

SCHOEN, Robbins Frederick J. Patologia estrutural e funcional. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2000.

STEVENS, Alan e LOWE, James: Patologia. São Paulo: Manole, 2000.

VIANA, Luis Carlos, et. al. Climatério. In: VIANA, Luis C., Martins, Madalena & Geber, Selmo. Ginecologia. Rio de Janeiro: Medicina e cientifica Ltda, 2001. Pág. 597 a 609.