(by Lucia Czer)

A era moderna incentiva o individualismo e a falta de civilidade, fazendo com que os interesses individuais se sobreponham ao coletivo e assim o espaço público torna-se cada vez mais agressivo. Existem ações individuais, muito poucas, como as de grupos ativistas que procuram conter os exageros na destruição do meio ambiente e do equilíbrio ecológico, porém os interesses das grandes companhias econômicas sobrepujam a esses, fazendo com que seus esforços sejam minimizados ou até pouco significativos. Os cientistas da modernidade já evidenciaram a pouca sustentabilidade no modelo econômico que ignora o desmando sobre os recursos naturais. O assustador é perceber que no cotidiano de pessoas comuns como nós, sociedade, somos também responsáveis pelas tragédias ambientais, na medida em que nos habituamos ao consumismo exacerbado ignorando o que pequenos gestos podem causar. São garrafas PET, sacolas plásticas, baterias de celulares entre outros artigos que levarão décadas para a decomposição e que estarão formando detritos, contribuindo para a queda da qualidade de vida na terra. Esse fato é o resultado de um comportamento social coletivo. Todavia, de nada adianta mudar nossos atos do dia a dia se não houver uma ação ambiental coletiva correta.

Pensamentos individualistas são decorrência da transformação do indivíduo em pessoa. O liberalismo fortalece a noção do particular em detrimento da coletividade. É preciso que haja a noção de igualdade de direitos e as ações decorrentes dessa concepção só podem ser empreendidas pelo Estado, já que diz respeito aos interesses coletivos, ao compartilhamento de benefícios que exigem o esforço de todos. Por isso, sabemos que não basta ser cidadão, é preciso fazer-se uso das prerrogativas de cidadão, exigindo e participando ativamente da democracia no uso da sua cidadania.

A formação da sociedade brasileira teve um inicio de hierarquização muito forte, considerando os seus cidadãos de forma diferenciada, desigual. É ancorado nessa desigualdade que o espaço público não tem lugar, imiscui-se com o privado na apropriação de recursos públicos, no uso da máquina estatal, como se fosse normal, ou natural, usar-se o coletivo para fins privados. Quando o interesse privado sobrepõe-se, não existe sociedade civil organizada, ou uma participação efetiva, ou vida associativa essencial para o controle estatal, e este permanece sob o poder da elite e da força econômica de capital.

Também chama a atenção dos cientistas políticos um outro tipo de cidadania: a incompleta. São cidadãos que mesmo tendo consciência política, abstem-se de uma participação mais ativa, retirando-se da efetiva participação. Está em declínio a sociedade alicerçada no exercício da cidadania coletiva. Recebe também o nome de individualismo narcisista o produto da democracia tardia que é a exacerbação do uso da liberdade, onde o mundo social resume-se para esse individuo e seu destino, sua vida, seu mundo e seus interesses. Nesse modelo, o individuo só faz uso da coisa pública e usa os serviços do estado de bem-estar social visando os seus interesses particulares.

O que vemos é o espaço urbano transformado pelo homem, que, embora produtor de riquezas para possibilitar o bem estar das pessoas, destrói o meio ambiente e o espaço público. O necessário seria que as Instituições Públicas interferissem positivamente, construindo políticas públicas e modelos de controle social mais eficazes, a construção de medidas educacionais que propiciassem uma ética comunitária e uma democracia que assegure igualitariamente a representação dos interesses de todos os cidadãos. Dessa forma, teríamos, nós e as próximas gerações, um mundo melhor, mais saudável e mais digno.

Referencias:

FONTES, Breno Augusto Souto-Maior. A degradação do meio ambiente e da cidadania. In: Revista Sociologia: Ciência e Vida. São Paulo, Escala, ano I, nº 9, 2007