Indígenas da Mesorregião do Sertão de Pernambuco


Os Pankararu

Esse povo, residente a seis quilômetros a sudoeste de Tacaratu, no local do antigo Brejo dos Padres de Tacaratu, constitui um dos grupos originários das margens do São Francisco, que não só subsistem como ainda reagem tentando preservar sua identidade. O histórico mais detalhado dessa população vale para a avaliação que se pode fazer sobre a mesclagem dos costumes indígenas ocorridos no médio São Francisco e a epopéia por traz dos eventos gerados por circunstâncias que não foram provocadas por quem foi obrigado a vivê - la. Os Pankararu -"Brancararus" do período colonial - estavam aldeados sob a direção dos jesuítas na ilha de Sorobabel no início do século XVIII. Embora não constem com essa denominação, na Declaração do Padre João Antonio Andreoni, Secretário da Província da Companhia de Jesus do Brasil, datada de 18 de junho de 1696, nem na do Padre Alexandre de Gusmão, Provincial da Companhia de Jesus no Brasil, lavrada a 17 de fevereiro de 1697, há registros oficiais de que ambas foram anexadas à Consulta da Junta das Missões enviada ao Conselho Ultramarino, no processo levantado na ocasião pelas proprietárias da Casa da Torre. As declarações defendiam a mudança de índios de uma aldeia para outra sob orientação de missionário, acrescentando-lhe uma légua quadrada, caso fosse necessário. Sob essa decisão, os índios procedentes da aldeia dos Cararu haviam sido transferidos para a missão da aldeia da ilha de Sorobabel, de cuja área, além dessa ilha, faziam parte mais duas ilhotas próximas, possuindo pequeno território sem possibilidade de abrigar novecentos índios aproximadamente. O super-povoamento dessa aldeia pedia a regulamentar anexação de uma légua em quadra, que foi demarcada do lado da Bahia em frente à ilha de Sorobabel, recebendo o nome da aldeia com o
qual permanece até hoje. Significativamente a margem pernambucana a leste da ilha de Sorobabel chama-se Caruru Velho, podendo-se inferir que Cararu e Caruru são um mesmo etnônimo que precedeu a Brancararu. A decisão acima referida fora tomada favorecendo não só a aldeia de Sorobabel como as duas outras envolvidas no levante indígena provocado pelos proprietários da Torre: a aldeia do Acará, formada pela ilha das Éguas, a maior, ocupada com a manada de eqüinos de Leonor Pereira Marinho e Catarina Fogaça, e mais cinco, muito pequenas, das quais só duas mereceram denominação: Uxacá Caburê e a aldeia da Rodela, à qual haviam se reunido os nativos da aldeia do Hererupõ ou Herenipó, totalizando quase setecentos índios. Composta de seis ou sete ilhas, sendo a maior chamada Setinã ou Jetinã, onde os índios faziam seus cultivos, as demais, Vacayu, Uerê, Veri Pequeno, da Pedra e Araticu (Araticum), de pequenas dimensões, só eram plantadas nas bordas do rio, provavelmente plantio de vazante.
O Pancararé, sendo um status mais elevado entre os praiá, aparentemente pertence a dialetos do Cariri, principalmente os terminados em có, icó ou icó e tó, bem como as partículas dó e bó (Pinto 1958b:38), marcas de formas lingüísticas, além de Itacuruba e Tacuruba (ilha vizinha a Sorobabel), Icó, Ibó, Orocó, Chorrochó, Tacaicó, Gitó, Cancalangó, são topônimos encontrados no submédio São Francisco. De outra ordem são os termos quaquiquá (cachimbo de barro grande), quaqui (cachimbo de barro pequeno), Jeripancó (gentílico), Paquiú (topônimo), especificamente pankararu, assim como tambaqui ou tamaquiú (gentílico, nome de peixe).
Atualmente, para os pesquisadores do assunto, o idioma Pankararu, praticamente extinto, constitui uma das muitas línguas isoladas da América do Sul. De acordo com o método lingüístico comparativo, seu "ponto de dispersão" estaria além de 4.000 ? 5.000 anos a. C., profundidade cronológica inferida exatamente do não relacionamento com nenhuma língua ou família lingüística, impedindo a identificação de sua filiação genética. Essa identificação é fundamentada no princípio de que "... a área geográfica na qual estão concentrados os membros mais divergentes de uma família é provavelmente a área de origem" e foco de dispersão de outras comunidades lingüísticas. Estendido aos idiomas isolados, esse princípio seria interpretado no sentido de que uma área de concentração de línguas de gênese desconhecida - caso do Nordeste - constituiria um ponto de dispersão, porém, não as avaliou, verificando-se contradições e, com isso, a impossibilidade de se utilizar boa parte delas, a não ser as isentas de dúvida, comprovadas por outras fontes. Sertão Novo que aparece como um núcleo urbano florescente relacionado a
dados importantes, não pôde ser identificado com nenhuma das sedes municipais ribeirinhas, nem mesmo com povoados da área (Pierson 1972 b:198). Na década de 80, pesquisadores do NEA-UFPE registraram manifestações religiosas cristãs, como "roda de S. Gonçalo" na fazenda Jatobá, e ritual indígena, como o toré, em propriedade de índio tuxá, em Itacuruba-PE, enquanto no município de Floresta-PE a prática do toré foi constatada na Reserva Atikum, como uma reaprendizagem, e nas proximidades da serra do Arapuá habitada por membros desse grupo, como uma prática quase corriqueira com dia certo na semana para sua realização.