I N D E P E N D Ê N C I A  D E  DE U S

         Partindo de remotas eras, mais precisamente desde a época adâmica, o homem vem laborando no sentido de safar-se da submissão ao Criador. Sem importar com as graves conseqüências que esse gesto representa, as derrocadas que se sucedem atestam que a mente mesclada pelo pecado tende a recusar as diretrizes do Eterno na vida do ser humano. Como resultado, o quadro que se descortina nos fornece exemplos, os mais fugazes, das investidas do feito à imagem, cuja “sapiência” é colocada acima da sabedoria divina.

         Reportando ao tempo em que o povo escolhido optou pela escolha de seu monarca, vemos quão rude utopia tiveram ao mirar em povos estranhos, cujos líderes norteavam-se pela obediência a deuses pagãos. Mesmo havendo Deus exortado sobre as obrigações que teriam com o rei, isso não foi suficiente para demovê-los de seu ideal. Assim, Saul foi escolhido como o diretor-mor da nação hebréia. Não precisamos ir longe para demonstrar o quão fatídica foi essa escolha. Tão obcecados estavam por essa idéia, que o Soberano chegou a emitir um reclame ao líder:  “Não é a ti que rejeitam, porém a mim”!  Com efeito, colocaram Deus de lado, para que em Seu lugar reinasse a figura de um monarca humano.

         Considerando que a insubordinação humana à direção divina não era marca registrada somente do povo aludido, ao longo de toda história Deus jamais gozou de Sua exclusividade.  Sempre o homem buscou em si próprio, e em expoentes estranhos, diretrizes que norteariam sua vida. Igualando-se ao povo hebreu, as gerações seguintes não se fizeram de rogadas. Adotaram comportamentos extremos, os quais não apenas descartavam a figura divina, mas criavam substitutos. Dos sumérios à época moderna, passando pelos impérios responsáveis pelas grandes civilizações, à medida em que o tempo passava o homem continuava - e continua - distanciando-se de Deus. Nessa marcha inexorável de afastamento, criou para si um universo de conceitos firmados apenas no aspecto humano.

         Porém, é no limiar da idade moderna que a criatura parece “ganhar” de seu Criador, como resultante de sua condição de rebelado. O Humanismo, um dos grandes movimentos literários – verdadeiro formador da opinião publica – atesta, de forma avassaladora, o quanto o homem enganosamente prescinde de Deus. Absorvido no seu antropocentrismo, não mediu o grau de responsabilidade pelas situações com as quais vem lutando através de séculos. Com efeito, o homem moderno sente que pode passar sem a direção divina, visto que cria e conserva seus próprios conceitos de direção. Estas concepções não apenas dificultam sobremaneira seu dia-a-dia, porém o lança num abismo sem fim.  

         Podemos destacar o aspecto racional, cujo teor suplanta qualquer forma de envolvimento com o transcendental. Com base no tremendo arsenal de concepções, a mente dita normas para, num determinado momento, dar o parecer favorável a que se sinta senhora da situação. Dessa maneira, de posse dessa fonte de “sabedoria”, hoje os frutos colhidos dessa árvore racional, atestam o quanto o homem perde e perderá por aderir às inversões de valores.

         Parece que é em parte na auto-suficiência humana que as profecias relativas aos finais dos tempos se cumprem. Tão verídico é este aspecto que Cristo não se eximiu em dar seu veredicto. Em conformidade com emanações divinas, os homens nos fins dos tempos seriam – e pode-se dizer que já são – amantes de si mesmos, enfatuados, egoístas, avarentos, cujo deus é o dinheiro...

         Ao lado desses adjetivos, podemos acrescentar tantos quantos perfazem o total das investidas do homem no campo destinado à direção divina. Um enorme paradoxo se estabelece entre o que diz respeito ao comando divino e a suposta direção humana.  Se o aspecto divino se apresenta pleno de caracteres análogos à pessoa do Altíssimo, o lado humano destitui as virtudes diretivas advindas do Criador. É por esse motivo que o homem não se acerta com seus semelhantes, originando dessa conduta insanas guerras e toda forma de violência.

        Resta ainda tratar de um outro aspecto, o qual se refere ao meio termo entre os valores humanos e o espirituais. Nesse contexto ver-se-á que Deus ainda sai "perdendo" para o que criou. Muito em voga em certos meios religiosos a busca em valores tidos como agraciados, quanto as dores de uma moléstia, ou mesmo na obtenção de um lugar ao sol celestial. Incontinentes, procuram nas figuras colocadas pela religião, espécie de pontes que supostamente levariam a Deus. Isso é feito porque,  inventores de doutrinas paralelas, não satisfeitos com a soberania divina, lançam elementos que preencham a lacuna do ser divino. Estes, por pertencerem também à classe das criaturas, nada mais são que uma vertente do próprio homem. Assim, tais figuras se destacam em paralelo com o próprio homem, no que tange aos valores espirituais. Seja de uma forma ou de outra, o conceito de Deus vem perdendo forças através dos tempos, culminando com uma espécie de esvaziamento de Deus nestes tempos modernos. O que resiste em matéria de reconhecimento do ser divino, está restrito a grupos que o têm apenas como um doador de benesses.