Gládis Perlin afirma que “a educação integrada pesa por ser depredatória da identidade surda. A educação do surdo tem de ser a educação específica com códigos da cultura surda”. No que se refere à história da educação do surdo, percebe-se a marca proposta por diversas correntes filosóficas distintas, as quais necessitam de compreensão a partir de seu ápice histórico para que possam complementar a construção de uma educação bilíngüe. A partir dessas cooperações, podemos chegar a um consenso acerca da importância de uma nova proposta educacional que permitirá às crianças surdas uma aquisição e aprendizado de duas línguas: a língua brasileira de sinais e a língua portuguesa. Nota-se que, essa proposta de bilínguismo traz uma grande contribuição para o desenvolvimento da criança surda ao reconhecer sua língua e cultura, com todo o potencial expressivo de uma língua oral. Entretanto, temos visto ao longo dos anos que a sociedade faz com que o surdo se adapte a uma modelo de escola que pertence ao grupo de ouvintes, onde lhe são passados conteúdos referentes à língua portuguesa, ignorando totalmente a língua de sinais. Fato este, derivado da imposição do ouvinte na sensação de um “falso poder” acaba subordinando os surdos a se adaptarem ao modelo imposto pela sociedade qual sejam o oralismo e o ouvintismo, onde todo o respeito que lhe deveria ser dado é totalmente ignorado. Desta forma, apesar da educação inclusiva ser imposta em muitos países, entre eles o Brasil, nota-se um grande fracasso na educação surda, porém, o grande marco desse problema é a forma com que o governo se porta diante de tal situação tratando o aluno surdo da mesma forma que trata os demais alunos. Strobel (2006) cita: “Em toda a história da humanidade os estereótipos que se referem ao povo surdo demonstram o domínio do ouvintismo, relativo a qualquer situação relacionada à vida social e educacional dos sujeitos surdos. Embora não sejam poucos estes registros de dominação, frente ao povo surdo, vemos que historicamente o povo ouvinte sempre decidiu como seria a educação de surdos”. Fica evidente que, a sociedade surda ao longo dos anos corresponde, encaixa e adapta com naturalidade a um modelo imposto pelas idéias dominantes dos últimos anos; práticas pelas quais buscam uma tentativa de correção, tanto por instituições de caridade ou pela cultura social. Entretanto, essa mudança não deve ser entendida como metodológica, pois na verdade o que está mudando são as concepções humanas sobre o surdo e as descrições em torno da sua língua. Da mesma forma acontece com as políticas educacionais e a relação dos saberes, porém, as limitações na organização de projetos políticos e demais projetos e as dificuldades no processo de reorganização e reconstrução pedagógica, ainda nos remete a percepção de uma problemática educacional não revelada totalmente, pois a pedagogia dos surdos se constrói ou implica a partir de oposições como normalidade/anormalidade entre outras, além de ser baseada em um modelo aplicado a ouvintes. Assim, deve se pensar na surdez não como uma questão de audiologia, mas sim a um nível epistemológico, devendo ser entendido como uma privação sensorial. Sendo assim, a educação de surdos atualmente encontra-se em uma encruzilhada, pois, por um lado tende-se a manter os paradigmas da educação e por outro, tende-se a aprofundar as práticas e estudos num novo campo conceitual. Ainda assim, até na década atual os surdos ainda se deparam com barreiras na educação especial, pois o estado ainda não fez questão de atingir o marco certo. Na realidade o que deparamos na educação de surdos atualmente não passa de um espaço onde produzem e reproduzem estratégias de naturalização dos surdos, ou seja, um local onde a surdez é disfarçada. Posto que, a diversidade cria um falso consenso, melhor dizendo, uma idéia de que a normalidade hospeda os diversos, porém, mascara normas etnocêntricas, já a diferença é como uma construção histórica social, advinda dos conflitos sociais, presa em práticas de significação. Entretanto, o ouvintismo e o oralismo, não podem ser pensados apenas como um conjunto de idéias e práticas simplesmente destinadas a fazer com que o surdo fale e seja como os ouvintes. Vale ressaltar que, os surdos estão atribuídos a um fracasso, porém, segundo Skliar (2005) a falta de compreensão, professores e ainda as limitações nos métodos de ensino são limitados. Mas, o que realmente fracassou a educação dos surdos foram as representações ouvintistas acerca do que é o sujeito surdo. Existe ainda, um conjunto de variáveis nos mecanismos históricos, políticos, regionais e culturais específicos que, intervém na construção de um projeto político pedagógico para os surdos, a partir daí é possível entender o fracasso da educação dos surdos. Diante disso, os surdos não são catalogados apenas como não ouvintes, mas com autistas, psicóticos, deficientes mentais, afásicos e esquizofrênicos, porém, estes estereótipos não podem ser considerados como inocentes, pois contêm formas opressivas, que permitem um controle social. Acredito que, essa responsabilidade não é apenas do governo, mas também dos pais que às vezes não aceitam a condição do filho e consequentemente acabam praticando os costumes ouvintistas ou não recebem orientações adequadas e indiretamente acabam impedindo o desenvolvimento do filho, vez que, eles são os principais intermediários da integração ou inclusão de seus filhos na comunidade. Outro fator é a pouca abordagem da mídia sobre o assunto e quando isso acontece é de maneira superficial e preconceituosa, onde em momento algum apresentam caminhos possíveis para a inclusão. Percebe-se também que, os governantes fazem um descaso a educação do país, achando que com a realização da copa do mundo poderiam sanar todos os problemas existentes, enquanto na verdade deveria estar preocupado com a criação de uma escola bilíngüe e também investir na capacitação profissional para tal. Mesmo diante dessa situação, algumas pessoas lutam em busca do direito do estudante surdo, entretanto, se deparam com inúmeras barreiras e os surdos continuam excluídos da sociedade, afinal estudam em uma escola de ouvintes com professores que na maior parte das vezes não tem domínio das línguas de sinais, enquanto na verdade o que eles precisam de uma educação diferenciada. Deixo evidente que, a partir do momento que esses alunos surdos começam a integrar como parte de uma escola ou instituição de ensino é uma grande vitória, mas vale ressaltar que, os surdos não buscam privilégios como uma escola bilíngue, afinal na concepção desse autor não passa de um direito. Digo ainda que, o modo com que os governantes se portam diante da situação não passa de um modo preconceituoso e mentiroso na tentativa de unificar as pessoas, fato que não acontece, pois sempre que vão discutir melhorias para a comunidade surda sempre os integrantes são ouvintes e não sabem nem do que estão falando. Na tentativa de ajudar alguns psicólogos e demais profissionais relacionados ao convívio da comunidade surda, acabam fortalecendo discursos de inclusão cultural, mas não tem noção dos prejuízos que suas atitudes podem causar devido ao fato de não saberem como se portar em relação à língua de sinais. Diante disso, percebe-se o abandono educacional em que vivem os alunos surdos, ficando presas as táticas de ensino ultrapassadas e desconexas. Digo mas, se os surdos tiverem uma educação bilíngüe, poderão se desenvolver melhor cognitivamente, além de ampliar seu pensamento criativo e senso crítico, entretanto como já foi relatado é um problema que envolve questões governamentais e não-governamentais, que integradas deverão buscar métodos e novas perspectivas de ensino em prol de um único objetivo: a melhoria educacional surda. Referências Bibliográficas KL, Strobel - Educação temática digital, 2006 - files.cacoifbavca.webnode.com QUADROS, Ronice Müller de. Ponto de Vista, Florianópolis, n.05, p. 81-111. 2003.