A nova sensibilidade das religiões tradicionais ou clássicas devem ter hoje.

 

De acordo com o exposto no material de apoio, as religiões tradicionais ou clássicas foram duramente abaladas pelas tendências da sociedade moderna que impulsionam o indivíduo para o que há de mais interessante fora das igrejas. Algo que, ao mesmo tempo em se apresenta como mais “paupável”, não apresenta profundidade. O que vem muito de encontro com a carência imediatista do ser humano moderno, enquanto se afasta da Igreja procurando a verdade em respostas difusas, implícitas e flutuantes.

Um grande exemplo das novas tendências é utilizada com grande enfoque pelas novas igrejas neo-pentecostais, que utilizam a Bíblia de novas maneiras, fazendo com que o uso das mensagens nela contidas seja adaptada aos anseios dos fiéis, ou seja, a mensagem é utilizada não para ser lida de forma que a vontade de Deus esteja como centro da pregação, mas para que as necessidades do povo sejam respondidas por meio do uso habilidoso das escrituras.

Sem dúvida a secularização trouxe consigo muitas questões às quais as igrejas tradicionais não estavam prontas a responder, ou melhor, suas respostas já não serviam para uma sociedade que já sabia o que gostaria como resposta.

Assim, podemos observar que como a sociedade começa a seguir seu próprio caminho se distanciando dos antigos valores e costumes, de outro lado procura um referencial que possa justificar suas escolhas, tudo em pro do progresso e da liberdade da humanidade para trilhar seu próprio caminho.

No entanto existe um problema, qual o outro referencial? Seria a sociedade moderna capaz de substituir séculos de tradição e religião por outro que pudesse sanar as demandas dessa nova sociedade? Nesse sentido não faltam tentativas para se recuperar a criança que foi jogada fora junto com a água da banheira.

Assim como no ambiente predatório do capitalismo moderno observamos a mercantilizarão da fé. Fundou-se na sociedade um verdadeiro shopping da fé, onde se encontra uma variedade infindável de interpretações e respostas para a salvação pós vida, sem nos esquecermos da vida presente, é claro, que deve ser vivida da forma mais  convenientemente possível.

Qual é o seu anseio? Um carro? Vá procurar na igreja X que lá o Senhor te abençoará nesse sentido. Quer se livrar das drogas? Para isso é melhor a igreja Y. Gostaria de uma viagem astral? Quem sabe na igreja Z? E se o problema for um parceiro?  Talvez seja melhor mesmo um site de relacionamento.

A verdade é que a sociedade moderna com o desenvolvimento acelerado da tecnologia e da ciência não deixou margem de tempo para que as Igrejas históricas pudessem se adaptar às demandas desse período. O que dificilmente será corrigido, pois instituições demasiadamente grandes e tradicionais como a Igreja Católica, por exemplo, tem enorme dificuldades para mudanças radicais, mesmo porque a própria doutrina da qual é depositária a impede de reagir com esmerada prontidão.

Assim, enquanto a Igreja estava tentando se reconciliar com a modernidade da época da revolução francesa o mundo já nem mais se lembrava dela, pois a pós-modernidade já havia caminhado anos luz adiante dela.

As igrejas históricas devem perceber que estamos em um momento de suspensão, desprovidos dos grandes pilares que sustentavam as certezas humanas, e por isso vê-se um retorno cada vez maior ao misticismo, uma maneira de se alcançar as realidades do além sem intermediários, ou ao menos sem a necessária intermediação obrigatória. Por isso, cada vez mais surgem pseudoigrejas que tentam ser um prolongamento da secularização, tentando com isso angariar os desprovidos de igreja, que somam um contingente cada vez mais numeroso.

Com o advento do secularismo também houveram tentativas de fundamentalismo religioso por parte de várias seitas e vertentes religiosas que pregavam a aceitação irrefutável e incondicional aos preceitos bíblicos e doutrinários, mas ainda assim o resultado não foi o esperado. A secularismo continuou a se expandir e estas iniciativas hoje continuam em declínio, restritas a alguns focos espalhados pelo hemisfério. Por outro lado também não aconteceu o que os positivistas e marxistas profetizaram com a célebre frase “Deus está morto”, pois a “volta ao sagrado” desmentiu o total abandono da religião por parte do homem.

As Igrejas de tradição sabem muito bem que o ser humano dificilmente consegue viver desprovido de religião, mesmo que rechace a religião em seus antigos moldes, os quais já não vem de encontro às suas demandas. Por isso procura ele um novo misticismo muito mais personalizado, centrado no indivíduo, de maneira que se adeque à sua maneira de ser e agir. Uma religião ou religiosidade que não o reprima, mas que dê justificativa para seu próprio jeito de ser e para suas escolhas. Melhor, que lhe compre um Deus que não exija, mas que lhe seja conveniente. Por isso cada vez mais surgem propostas diversas como expressões orientalistas, movimentos fundamentalistas, tendências de nova era, cientologia, etc.

Diante disso acreditamos que a sensibilidade das formas antigas e tradicionais de religião deve estar voltada às novas formas de comunicação com a sociedade, desprovendo-se do que exista com empecilho para uma retomada mais acelerada, contanto que sua essência não seja afetada, pois isso significaria sua auto destruição, como vemos por exemplo no caso da Igreja Anglicana, que com sua abertura prematura e impensada ao projeto do secularismo viu-se abalada em suas estruturas, beirando sua destruição total. Isso porque seus próprios fiéis já não encontram nela a segurança das convicções antes pregadas por ela mesma. Daí o êxodo em massa de muitos deles para a Igreja Católica.

Nesse sentido acreditamos que haja sim uma necessidade pungente de mudança por parte das igrejas históricas, tanto na sua comunicação como na sua organização, sem que tal modernização, como dissemos, implique na total perca de identidade somente para que a sociedade possa se deitar em berço esplêndido às custas de uma doutrina de conveniência.

 

Qual seria a antiga sabedoria que os novos movimentos religiosos devem manter?

 

A sabedoria que os novos movimentos religiosos devem manter deve se pautar principalmente em um olhar sem preconceito e generoso para com toda a tradição de que de alguma forma são descendentes, de pela qual tentam cada qual à sua maneira encontrar uma identidade própria. Esse olhar despretensioso poderá lhes revelar valores perenes que foram trazidos e defendidos por estas instituições por séculos e séculos e pelos quais a própria sociedade configurou sua maneira de agir, seus costumes, suas leis, normas, formas de conduta, noções de respeito pelo próximo e pela natureza. São instituições que representam uma grande jornada da humanidade em busca de aperfeiçoamento, inclusive nos campos da ciência e do saber, que de maneira fundamental foi protagonizado em grande parte por estas instituições.

As novas religiões têm muito de aprender com a tradição que fez com que as igrejas históricas pudessem se adaptar com o decorrer dos anos a inúmeras mudanças na sociedade, de geração em geração, sempre sustentando o cultivo do fator humano e a construção da fraternidade, ainda que estas igrejas históricas também sofressem internamente com as mazelas da miséria humana, marcada pelo egoísmo, divisões de poder, supremacia, etc.

Mas o principal atributo que os novos movimentos devem almejar é o legado deixado pelas Igrejas históricas no que tange o respeito para com a própria humanidade e seu destino divino. Um destino que começa já entre iguais, na difusão da ética mundial, da justiça social para que enfim se alcance a tão sonhada paz verdadeira.

 

 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

DOMEZI, M. C. História das Religiões. Batatais: Claretiano, 2011, p. 165 a 196.