É uma angústia comum aos pais o futuro intelectual dos filhos, visto que implica na conquista dos melhores lugares em universidades, dos melhores empregos, de um futuro tranquilo. Desde muito pequenos, é costume dos pais verificar se as crianças aprendem adequadamente, se têm dificuldades, ou comportam-se bem.

Esse futuro intelectual é medido pelo que nós chamamos de “cognição”. Avalia-se o desenvolvimento cognitivo desde criança para verificar e corrigir eventuais dificuldades. Cognição é o ato ou processo de conhecer, que envolve atenção, percepção, memória, raciocínio, juízo, imaginação, pensamento e linguagem. A palavra tem origem nos escritos de Platão e Aristóteles.

Considero a cognição fruto de dois processos: biológico e moral. O processo biológico tem início na gestação e não apresenta fim, considerando-se que alguns cuidados são úteis, mesmo depois de adultos, para a manutenção do aporte intelectual. Já o processo que denomino moral constitui-se os estímulos ambientais recebidos desde a infância até, principalmente, os 7 anos de idade. Crianças com mais de sete anos, se estimulados adequadamente, obterão melhora cognitiva significativa, entretanto julgo os estímulos antes dos 7 anos de idade primordiais.

Até os sete anos a criança está em formação acelerada biológica e psicologicamente, o que assegura melhor percepção dos novos aprendizados.

a)     O processo biológico:

Desde a segunda semana de gestação começa a se formar o tubo neural (estrutura que dará origem ao cérebro). Para que o processo de formação seja concluído adequadamente é importante que o organismo materno disponha de quantidade adequada de ácido fólico (vitamina B). Por esse motivo é receitada suplementação neste estágio.

Na quinta semana de gestação formam-se as cavidades que darão origem às primeiras estruturas cerebrais: prosencéfalo, mesencéfalo e cerebelo. Então forma-se o suporte para o processamento cognitivo.

No segundo trimestre da gestação, em especial a partir da décima semana, são registradas as primeiras ondas cerebrais.

As ondas cerebrais podem ser diferenciadas com mais precisão. Ao mesmo tempo ocorre uma aceleração do crescimento das células nervosas (250 mil por minuto). Para que estas se mantenham vivas, é necessário estimulá-las, por isso recomenda-se que os pais interajam com o feto (conversas, músicas, histórias, etc.). Já existe ali um cérebro que depende do meio para se aprimorar.

Após a 20ª semana as células nervosas desenvolvem os dendritos, projeções que permitem a comunicação entre as células nervosas, e a bainha de mielina, substância que garante a qualidade dessas comunicações. As células nervosas que não atingem este estágio são descartadas pelo organismo em formação.

O cérebro, até então liso, começa a se emaranhar, formando ondulações com o objetivo de ampliar sua superfície. Desta forma, surge espaço para desenvolvimento de mais neurônios e melhor processamento de informações.

Na 30ª semana o cérebro já está formado, com 100 bilhões de neurônios. Quando adulto, este número cai para 86 bilhões. Neste estágio, é importante a ingestão de gorduras (ômega 3) que contribuam para a formação cerebral. A melhor fonte de gorduras são os peixes de água fria.

Os neurônios começam a se conectar rapidamente. Ao nascimento, cada célula nervosa faz cerca de 2,5 mil sinapses. Aos 3 anos de idade esse número pode chegar a 15 mil.

Uma das primeiras capacidades desenvolvidas pela criança é a visual. Também inicia-se atividade motora, pensamentos e percepções.

O desenvolvimento emocional é iniciado. O bebê passa a perceber emoções opostas (tensão x relaxamento, tristeza x alegria, etc). A identificação do estado de humor do bebê pelos pais e atendimento e suas necessidades emocionais será importante no desenvolvimento das funções intelectuais superiores.

Após o sexto mês de vida o cérebro tem capacidade para ligar palavras a objetos (conexão entre regiões e visão e linguagem). Os primeiros movimentos o bebê planejados beneficiam o desenvolvimento cerebral.

A partir de 1 ano, o hipocampo (área envolvida no processamento da memória) começa a amadurecer, ficando completo por volta de 1 ano e 6 meses. A criança reconhece cheiros e tem noção de rotinas. Sabe, por exemplo, a hora em que é alimentado e o que vai acontecer após isso.

Depois de 1 ano e 6 meses a criança é capaz de compreender ordens mais complexas, como a de que guarde os brinquedos.

De 2 a 3 anos a criança é capaz de compreender sentimentos abstratos (amor, confiança) e de que maneira suas ações interferem no relacionamento com outras pessoas. Assim, passa a prever consequências e suas atitudes.

Entre 3 e 4 anos o envolvimento com outras crianças e pessoas de fora do círculo familiar é importante para desenvolver bom senso, necessário para as tomadas de decisões futuras.

Por volta dos 6 anos a criança está habilitada a começar a ler. Até os 10 anos sua capacidade de agregar novas informações é impressionante. Estímulos, como aprender um novo idioma, são recomendáveis nesta fase.

Desta forma, sugiro aos pais:

Suplementação de iodo e vitamina D (sob prescrição médica); aumento da ingestão de proteínas e Ômega 3 (sob recomendação ne nutricionista ou nutrólogo, durante a gestação e a infância); controle de peso durante a gestação (realizado pelo acompanhamento adequado no pré-natal);  prática atividades físicas durante a gestação e estimular as atividades físicas nas crianças; brincar muito.

b)    O processo moral

Este processo do crescimento e desenvolvimento das crianças é resultado das interações sociais e afetivas vivenciadas pela criança.

Desde o Iluminismo (”conhecer é poder”) a sociedade priorizou o aspecto quantitativo do conhecimento. Tal evento levou ao que conhecemos por “educação bancária”, tradicional, impessoal.

Desde a segunda metade do século XX percebeu-se a necessidade de voltar a atenção ao aspecto afetivo do desenvolvimento da criança. Ao ponto de chegarmos ao extremo de pensar: “somente o afetivo importa”.

Na verdade, entende-se que a criança é um ser completo, em que a parte afetiva não pode separar-se das demais. Então, o afeto é importante, mas é necessário que entenda também as regas. Sem a compreensão das regras, a criança cresce incompleta.  E essa falta será percebida, principalmente, no ambiente escolar, permeado por regas necessárias para boa convivência das crianças.

Outra forma de cuidar da inteligência de uma criança é controlando seu sono e repouso. Crianças precisam descansar para processar as informações colhidas durante o dia. Quando o sono é inadequado, há possibilidade de que apresente sintomas do Transtorno do Déficit de Atenção e Hiperatividade.

Deixe à disposição livros e revistas. Desde muito pequenos, deixe livros e revistas pela casa, e mostre à criança que você também lê. Ela entenderá que a leitura é um prazer, não uma obrigação.

Converse com a criança sobre o dia na escola. Lembre-se de que a aprendizagem é um ato social. Se a criança passa por problemas de relacionamento, seu desenvolvimento cognitivo será alterado.

Ofereça brinquedos educativos. As tecnologias permitem maior facilidade para diversão e entretenimento. Mas as crianças desenvolvem muitas habilidades cognitivas com atividades consideradas antigas: pular corda, amarelinha, bolas de gude, peteca. Desenvolvem socialização, resiliência e a aprendizagem, em si.

Estimule o contato com animais de estimação e outras crianças. Assim haverá melhor desenvolvimento motor e de habilidades como a empatia.

Caso a criança apresente dificuldades na escola, procure um profissional especialista habilitado na detecção e intervenção sobre a dificuldade. Um psicopedagogo clínico poderá realizar um diagnóstico adequado sobre a dificuldade apresentada e propor estratégias de resolução do caso.