IMPORTÂNCIA DO ENSINO DE LITERATURA NA VISÃO DO ALUNO DE NÍVEL MÉDIO DE GROAÍRAS[1]

 

MOÉSIO MUNIZ LOPES[2]

 

RESUMO

O presente trabalho pauta-se na visão do aluno de ensino médio referente à ministração da disciplina de literatura da rede pública, no município de Groaíras, revelando o pouco caso que o alunado de um modo geral dá a essa disciplina. É visto que grande parte disso deve-se prioritariamente a forma como a grande maioria dos professores trabalha o estudo de literatura em sala de aula. Soma-se a isso, ainda, o fato dos alunos não gostarem muito de leitura. Essa junção, adicionando-se outros fatores é claro, parece ser a grande “barreira” que dia-a-dia vem acarretando cada vez mais o descaso pela literatura nesta cidade.

 

Palavras-chave: Descaso. Ensino de Literatura. Alunado groairense.

 

 

INTRODUÇÃO

 

Há atualmente uma grande preocupação quanto ao futuro incerto do ensino de Literatura em nossas escolas, tendo em vista cada vez mais observarmos a redução na carga horária da mesma nas grades curriculares das instituições de ensino.

Como se isso não bastasse, existe ainda o grande “x” da questão; como o educador deverá trabalhar a literatura em sala de forma que seu estudo fique atraente para o educando? A resposta para essa questão certamente acarretará a forma como o discente vê essa disciplina, ou seja, a importância que ele dá ao ensino de literatura! Observando-se a brusca redução que a literatura vem perdendo no meio escolar fica cada vez mais complicado para o professor desenvolver uma metodologia que aproxime aluno e literatura.

 

EMBASAMENTO TEÓRICO

 

            “É um saco! Só estudo para fazer a prova, quando posso dou um jeitinho e sempre pesco! De que me adianta saber da vida desse monte de autor? É muito chato! Pois exige muita paciência, porque é praticamente só decoração”. Esse é o grito, predominante, que ressoa entre os alunos de nível médio quando indagados sobre o que pensam da disciplina de literatura na rede pública da cidade de Groaíras.

            Observando-se os comentários de alguns alunos percebe-se logo que há algo de muito sério, polêmico e controverso. O que não está nos conformes, e possivelmente acarretando o pouco caso por parte do educando? É a própria literatura em si, ou será a maneira como ela está sendo trabalhada em sala de aula, nesse município? E literatura, conforme alguns pesquisados relatam, é decoração?! Concepção estarrecedora. Logo se vê que os alunos “odeiam” uma coisa que eles nem conhecem, uma vez que apresentam definição totalmente equivocada de literatura. 

            Diante dessa situação, é pertinente fazer um breve relato sobre o que seja de fato literatura. Não devemos, portanto, ser ingênuos a ponto de acreditar que essa indagação tenha um objetivo e fácil definição. Até mesmo os grandes teóricos literários divergem bastante sobre essa questão. Conforme Terry Eagleton:

 

 

A Literatura pede não uma definição, mas uma análise, até mesmo uma discussão sobre por que alguém poderia, afinal, se preocupar com ela. [...] as obras de literatura vêm em todos os formatos e tamanhos e a maioria delas parece ter mais em comum com obras que não são geralmente chamadas de literatura do que com algumas outras obras reconhecidas como literatura. (p. 28).

 

 

            Nesse contexto podemos apenas, humildemente, considerar que literatura não tem nada de íntimo com decoração. Pelo contrário, diz respeito ao estudo de uma leitura prazerosa, extremamente interpretativa e intertextualizada. Pode-se acrescentar, ainda, que sem sombra de dúvidas uma das grandes características da literatura, é a sua abertura semântica, ou seja, um mesmo texto literário lido para pessoas diferentes pode apresentar ponto de vista divergente: pois o verdadeiro significado literário é bem complexo, ultrapassando as barreiras linguísticas e atingindo diversos fatores externos; social, socioeconômico, ideológico, cultural... Portanto o estudo de literatura não tem, ou pelo menos não deveria ter muito em comum com a famosa “decoreba”. O próprio texto oficial da LDB deixa bem claro quanto ao estudo da leitura literária, onde conclui que: “A leitura do texto literário é um acontecimento que provoca reações, estímulos, experiências múltiplas e variadas”. (p. 62).

            Em contrapartida um reduzidíssimo número de discentes, aleluia! Ainda acreditam e gostam do ensino de literatura, mesmo se da forma que esteja sendo ministrado não seja a mais correta. Os mesmos mostraram-se, surpreendentemente, bem curiosos de como seria o ensino de literatura em uma universidade. E essa parcela, quase que insignificante da referida cidade, relata que por curiosidade e por conta própria sem que seja obrigação curricular da instituição de ensino, em certos momentos, entra no intimo do texto literário e acaba extraclasse, descobrindo o quanto é extraordinário quando se lê de “olhos abertos” para o mundo. 

            De antemão, a pequena fatia pró-literatura do alunado groairense, em conversas informais, revela que além da parte da decoração, insistem eles, há ainda pelo menos outros dois vilões; as tradicionais, e chatíssimas, fichas de leitura e o alto nível de vocabulário que os grandes autores utilizam em suas obras. A soma desses fatores está cada vez mais fazendo com que o aluno tenha um verdadeiro pavor de estudar literatura.

            Uma radiografia revelada pelos discentes em discussão mostra um sério problema no ensino de literatura desta cidade; as conhecidas fichas de leitura. Esse tipo de estudo acaba fazendo cada vez mais o aluno não gostar de leitura, pois normalmente são leituras de obras ou textos obrigatórios onde ele tem que procurar ao final uma série de informações específicas, ocasionando consequentemente uma leitura “forçada” e não prazerosa. Nesse contexto de retirar apenas respostas prontas e acabadas dentro de uma obra literária e não instigar o estudante a refletí-la, Aracy Alves (2006) argumenta que:  

 

 

Na verdade, importante seria, na leitura literária, a tentativa de não se negligenciar o pacto funcional que o jogo da linguagem e do imaginário tenta estabelecer com os leitores e que somente estes serão capazes de instaurar (...) seu comportamento participativo. Importante seria não tratar como informativo ou instrucional, cobrando respostas objetivas e fechadas, textos essencialmente subjetivos e abertos como os literários. (p. 28).

 

 

            Desta forma, como vimos acima, a autora condena este tipo de metodologia utilizada por uma grande parte dos docentes de literatura. Fato que se evidencia não apenas no ensino groairense, mas, infelizmente, em grande parte do território nacional, uma vez que se trata do método próprio de cada professor ministrar suas aulas. E isso é bem variável, numa mesma cidade podemos ter um ensino que condiz ou não com o pensamento de Aracy. Depende muito da formação intelectual do professor.      

            Outro fator que distancia ainda mais a relação de convivência entre aluno e literatura, é, segundo eles, o alto nível de linguagem que os literatos deixam transparecer em suas obras. Estes buscam através de suas publicações, temas que abordem um modo geral a sociedade como um todo, no entanto não utilizam uma “linguística povão”, ou seja, um palavreado do dia-a-dia do estudante. Isso acarreta nos mais “preguiçosos” um desinteresse cada vez mais pelo estudo de literatura.    

            A literatura é cara? Terá ela o seu preço? Se analisarmos por certo ângulo, claro que sim! Como o aluno da rede pública pode adquirir livros que muita vezes não são oferecidos pela instituição de ensino aos seus discentes? Essa pergunta também ressoa na mente do estudante groairense. A falta de livros de literatura não justifica, no entanto, talvez contribua para o modo como a disciplina literatura vem sendo ministrada em sala de aula: estudam-se as escolas literárias, fazem-se exercícios; estuda-se a vida do autor, faz-ser exercícios; e quando se lê alguma obra, também se faz exercícios:

 

 

Com a expansão do ensino [...] o acesso aos livros passou por relativa democratização, porém não se registrou uma melhoria, na qualidade do aprendizado compatível com esse incremento, como demonstram as avaliações dos concluintes do ensino médio. (LINS, 2001).         

 

 

            Se olharmos pelo ponto de vista de Lins, a questão do acesso fácil aos livros literários não resolveria o problema. Uma vez já ter-se observado que as facilidades dos livros didáticos gratuitos não facilitarem substancialmente o processo de aprendizagem há algum tempo atrás. Porém, não se pode negar que seria um “senhor” estímulo.

            Evidencia-se então, diante dessa situação a pouca atração que os estudos literários estão de um modo geral exercendo hoje sobre o alunado de ensino médio. E nesse aspecto se sobressai às situações práticas de sala de aula.   

 

CONSIDERAÇÕES FINAIS

 

            Conclui-se que o alunado groairense de um modo geral não gosta, e, portanto não dá a devida importância ao ensino de literatura. Ao mesmo tempo percebe-se que essa desvalorização não é por acaso, deve-se a um “vício” que vem se arrastando ao longo dos tempos; a forma como esta disciplina vem sendo ministrada em sala de aula. Quase sempre o educador preenche todo o quadro com todas as informações possíveis da vida de algum autor famoso, e em seguida faz associações a sua escola literária pertencente. Porém, não sabe ele, ou pelo menos finge não saber, que essa metodologia é totalmente equivocada e cansativa. Vê-se que muitos educadores fazem “vista grossa” para o ensino de literatura, não o conduzindo para o seu verdadeiro fim, que é o de formar cidadãos críticos capazes de formular pensamentos próprios sobre as mazelas da sociedade.  

            Em contrapartida, felizmente, ainda existem aqueles alunos que gostam de literatura, mesmos “aos trancos e barrancos” defendem o ensino desta disciplina em sala de aula. “É bom porque não tem cálculos. Eu gosto porque é fácil”, afirmam alguns alunos. Pobres, anda não conhecem o verdadeiro espírito da Literatura!

            Como tentativa de reverter esse caso de aversão do aluno a literatura, é preciso que a instituição escolar desmistifique a ministração desta disciplina, passando a trabalhar mais em sala, a leitura da literatura em detrimento do ensino da literatura, que é o que mais se evidencia atualmente. “É preciso que a escola amplie mais suas atividades, visando à leitura da literatura como atividade lúdica de constrição e reconstrução de sentidos”. (IVANDA MARTINS). Só assim, talvez, o aluno possa valorizar um pouco mais essa preciosa disciplina que é a Literatura.

 

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

 

BUNZEN, Clécio; MENDONÇA, Márcia (org). Português no ensino médio e a formação do professor. São Paulo: Parábola, 2006.  

 

EAGLETON, Terry. Teoria da Literatura: uma introdução. 6ª ed. São Paulo: Martins Fontes, 2006.

 

LINS, Osman. Do ideal e da glória. Problemas inculturais brasileiros. São Paulo: Summus, 1977.

 

MARTINS, Aracy Alves. A leitura literária nos livros didáticos. CARVALHO, Maria Angélica Freire de; MENDONÇA, Rosa Helena. (org) Práticas de leitura e escrita. Brasília: ministério da educação. 2006.



[1] Este artigo foi produzido como atividade final da Disciplina de Ensino de Literatura, ministrada pela Professora Cileya Neves.

[2] Estudante do 5º período do Curso de Letras na Universidade Estadual Vale do Acaraú – Sobral – Ceará. Email: [email protected].